sexta-feira, setembro 02, 2016

Código das ruas, de Spike Lee **

No papel, “Código das ruas” (2004) tinha tudo para ser uma obra memorável. A trama remete a estrutura clássica dos filmes policiais que narram a ascensão de gângsteres, mas também se relacionando com a questão dos conflitos de classes e etnias bastante presente na sociedade norte-americana contemporânea. Como condutor da narrativa, está Spike Lee, já bastante calejado na temática racial e um dos diretores contemporâneos de linguagem formal mais apurada. É só lembrar, por exemplo, que é o cineasta responsável pela explosiva cinebiografia “Malcolm X” (1992), obra que já apresentava uma extraordinária síntese dos elementos acima mencionados. Ocorre, entretanto, que em “Código das ruas” as coisas não se acertam como o esperado... O problema não é tanto o roteiro esquemático e previsível – o grande incômodo é a direção sem brilho e derivativa de Spike Lee. Não há aquela encenação vibrante de “Faça a coisa certa” (1989), a ironia madura de “Febre da selva” (1991), as sutilezas narrativas de “Crooklyn” (1994), a dramaticidade à flor-da-pele de “A última noite” (2002), a ação lapidada à perfeição de “O plano perfeito” (2006), a atmosfera operística e sórdida de “O verão de Sam” (1999), a tensão perturbadora de “Irmãos de sangue” (1996). O que se tem é um produto genérico e sem graça, que parece feito por um tarefeiro qualquer, não se podendo perceber em qualquer instante o traço autoral característico de Spike Lee.

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