No papel, “Código das ruas” (2004) tinha tudo para ser uma
obra memorável. A trama remete a estrutura clássica dos filmes policiais que narram
a ascensão de gângsteres, mas também se relacionando com a questão dos
conflitos de classes e etnias bastante presente na sociedade norte-americana
contemporânea. Como condutor da narrativa, está Spike Lee, já bastante calejado
na temática racial e um dos diretores contemporâneos de linguagem formal mais
apurada. É só lembrar, por exemplo, que é o cineasta responsável pela explosiva
cinebiografia “Malcolm X” (1992), obra que já apresentava uma extraordinária
síntese dos elementos acima mencionados. Ocorre, entretanto, que em “Código das
ruas” as coisas não se acertam como o esperado... O problema não é tanto o
roteiro esquemático e previsível – o grande incômodo é a direção sem brilho e
derivativa de Spike Lee. Não há aquela encenação vibrante de “Faça a coisa
certa” (1989), a ironia madura de “Febre da selva” (1991), as sutilezas
narrativas de “Crooklyn” (1994), a dramaticidade à flor-da-pele de “A última
noite” (2002), a ação lapidada à perfeição de “O plano perfeito” (2006), a
atmosfera operística e sórdida de “O verão de Sam” (1999), a tensão
perturbadora de “Irmãos de sangue” (1996). O que se tem é um produto genérico e
sem graça, que parece feito por um tarefeiro qualquer, não se podendo perceber
em qualquer instante o traço autoral característico de Spike Lee.
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