Dentro da temática das atribulações da adolescência, a
produção espanhola “El Bola” (2000) até surpreende em alguns momentos por um
certo vigor na encenação e pelo fato do roteiro apresentar algumas sutilezas.
Num contexto geral, a trama apresenta uma visão crítica sobre a violência e
intolerância inerentes ao patriarcalismo da sociedade ocidental. Nesse aspecto,
o fato do jovem protagonista Pablo (Juan José Ballesta), constantemente
brutalizado pelo próprio pai, só encontrar alento na família mais liberal do
amigo Alfredo (Pablo Galán) não deixa de ter um caráter simbólico, remetendo a
um aspecto existencial que há décadas aparece de forma recorrente no cinema
espanhol – o conflito entre os valores repressores da sociedade tradicional
herdeira do franquismo e o humanismo e irreverência que marca parte do país
após a queda do ditador. É claro que o diretor Achero Mañas não apresenta o
mesmo grau de ousadia e excelência artística para abordar tal assunto de um
Pedro Almodovar (é só lembrar o que esse aprontou no extraordinário “A má
educação”) e sua estética bem comportada não chega a ser muito memorável, mas
ainda assim “El Bola” não deixa de causar uma certa perturbação para o
espectador.
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