O extraordinário drama policial francês “Inimigo público nº 1”
(2008) fez com que o nome do diretor Jean-François Richet se tornasse um dos
mais promissores para o gênero. Quando saiu a notícia de que sua próxima
realização para um estúdio norte-americano traria como protagonista Mel Gibson,
um dos grandes ícones de filmes de ação nos anos 80 e 90 (vide as franquias “Mad
Max” e “Máquina Mortífera”), as expectativas se tornaram altas. “Herança de
sangue” (2016), o resultado desse encontro de titãs, não é tão bom quanto se
poderia esperar, principalmente pelo fato de que Richet teve de se enquadrar
dentro de algumas convenções formais e temáticas mais comportadas típica do
cinema norte-americano comercial. Ainda assim, o saldo final é positivo e
memorável. O cineasta francês não é adepto da escola contemporânea de ação de
câmeras tremidas e edição super-picotada – sua narrativa tem um talhe clássico,
contando ainda com uma encenação que valoriza muito a composição visual e a
clareza de movimentos. Tal noção cênica realça ainda mais a figura carismática e
sagaz de Gibson no papel do protagonista John Link, cuja interpretação tem uma
combinação notável entre serenidade e resignação trágica. Apesar de uma certa
previsibilidade do roteiro, há uma ambiguidade inquietante na caracterização de
situações e personagens, em que o passado obscuro de determinadas figuras da
trama é evocado de maneira sutil e incômoda. Todas essas particularidades fazem
de “Herança de sangue” uma relevante obra no estilo “policial casca grossa”,
coisa rara no gênero nos dias de hoje.
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