sexta-feira, setembro 16, 2016

Herança de sangue, de Jean-François Richet ***1/2

O extraordinário drama policial francês “Inimigo público nº 1” (2008) fez com que o nome do diretor Jean-François Richet se tornasse um dos mais promissores para o gênero. Quando saiu a notícia de que sua próxima realização para um estúdio norte-americano traria como protagonista Mel Gibson, um dos grandes ícones de filmes de ação nos anos 80 e 90 (vide as franquias “Mad Max” e “Máquina Mortífera”), as expectativas se tornaram altas. “Herança de sangue” (2016), o resultado desse encontro de titãs, não é tão bom quanto se poderia esperar, principalmente pelo fato de que Richet teve de se enquadrar dentro de algumas convenções formais e temáticas mais comportadas típica do cinema norte-americano comercial. Ainda assim, o saldo final é positivo e memorável. O cineasta francês não é adepto da escola contemporânea de ação de câmeras tremidas e edição super-picotada – sua narrativa tem um talhe clássico, contando ainda com uma encenação que valoriza muito a composição visual e a clareza de movimentos. Tal noção cênica realça ainda mais a figura carismática e sagaz de Gibson no papel do protagonista John Link, cuja interpretação tem uma combinação notável entre serenidade e resignação trágica. Apesar de uma certa previsibilidade do roteiro, há uma ambiguidade inquietante na caracterização de situações e personagens, em que o passado obscuro de determinadas figuras da trama é evocado de maneira sutil e incômoda. Todas essas particularidades fazem de “Herança de sangue” uma relevante obra no estilo “policial casca grossa”, coisa rara no gênero nos dias de hoje.

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