A profusão de séries, documentários, reportagens e afins,
aliado a um distanciamento temporal, faz com que se crie uma espécie de febre
de atração pela figura do mega traficante Pablo Escobar. Dessa maneira, nada mais
natural que apareça mais uma produção cinematográfica a ter a sua figura como
dos principais focos temáticos. Em “Conexão Escobar” (2016), ele praticamente
não dá as caras, com a trama tendo como personagens mais presentes policiais
que o investigavam e traficantes que giravam em torno de sua figura. O roteiro
tem como protagonista o oficial de alfândega Robert Mazur (Bryan Cranston), que
se infiltrou na organização de Escobar como um falso “lavador” de dinheiro sujo
visando desvendar a teia econômica-criminosa de tráfico de drogas arquitetada
pelo chefão e seus cúmplices. O artesanato narrativo engedrado pelo diretor
Brad Furman é competente, por vezes até evocando narrativas semelhantes que
apresentam aquela atmosfera ambígua de atração e repulsa pelo ambiente do crime
que é típica de algumas das melhores obras de Martin Scorsese (“Caminhos
perigosos”, “Bons companheiros”, “Cassino”, “Infiltrados”). Mas essa pretensão
artística de Furman acaba não se justificando, principalmente pelo fato dele
estar longe de ter a genialidade estética/existencial de Scorsese. Mesmo alguns
truques formais aparentemente ousados como planos-sequência soam apenas como
mero artificio decorativo em meio a uma abordagem artística convencional e que
por várias vezes resvala num moralismo conservador, além de apresentar
personagens unidimensionais em excesso e que chegam até a resvalar na burrice. Nesse
sentido, a absurda sequência final do falso casamento de Mazur é um primor de
cretinice – é até difícil acreditar que o roteiro tenha se baseado em fatos
reais.
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