Os responsáveis pela distribuição no Brasil da produção
italiana “Loucas de alegria” (2016) deveriam se cuidar, pois a forma a forma
escolhida para divulgar o filme em questão é pura propaganda enganosa. O cartaz
e o título brasileiro sugerem uma comédia agridoce, repleta de edificantes
lições de vida, daquelas que senhoras na terceira idade adoram para animar suas
tardes. É bem provável que as velhinhas levem um belo susto quando assistirem
de fato à obra do diretor Paolo Virzi. A trama até guarda uma estrutura típica
de melodrama, resvalando por vezes no sentimentalismo. O que prevalece na maior
parte do tempo da narrativa, entretanto, é uma encenação vigorosa e uma
caracterização bastante crua e perturbadora de situações e personagens. Por
trás do viés cômico, há um misto de sutileza e contundência ao retratar o
comportamento humano tanto por parte das duas protagonistas com distúrbio
mental quanto nos valores hipócritas daqueles que são envolvidos em suas
confusões e desventuras. O registro formal concebido por Virzi tem um certo
grau de perversidade, em que a direção de fotografia em determinados momentos
privilegia um estilo cartão-postal de enquadramentos e iluminação, para logo em
seguida enveredar em sequências de atmosfera entre o sujo e o sórdido. As
atrizes que interpretam as personagens principais também representam outro
ponto alto do filme – enquanto Valeria Bruni Tedeschi é pura exuberância
alucinada, Micaela Ramazzotti cativa na sua síntese de doçura e violência, com
a interação entre ambas apresentando uma dinâmica complexa, divertida e por
vezes até assustadora, demonstrando notável sintonia com as próprias concepções
artísticas de Virzi.
Um comentário:
Ainda não pude assistir mas quero muito ver essa obra. Acompanhe no meu blog o mais novo especial com relação aos cursos de cinema que estou participando.
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