Imagine que Renato Aragão em sua fase menos inspirada
resolvesse fazer uma comédia a satirizar o funcionalismo público no Brasil. De
certa forma, até não chega a ser um grande exercício de imaginação, pois a
grande onda atual no humor brasileiro é se mostrar como um transgressor de
direita... Mas se a hipótese de um Didi Mocó burocrata não parece tão absurda,
então dá para se ter uma ideia do que representa a produção italiana “Funcionário
do mês” (2016). A trama com o protagonista Checco (Checco Zalone), um
funcionário público obcecado por não perder a estabilidade, até guarda algumas
boas piadas. E é interessante a proposta do diretor Gennaro Nunziante de
enquadrar uma temática de forte caráter social dentro de uma formatação de
comédia escrachada. O problema é que a encenação é tão caricata que com o tempo
acaba se tornando enfadonha, além da visão existencial da obra sobre questões
complexas como reformas administrativas e desemprego cair em reducionismos
preconceituosos e vazios. É consenso que o humor no geral tenha uma função de
contestação dos valores morais e sociais do status quo vigente, mas “Funcionário
do mês” apenas se limita a propagar um discurso que na verdade é a ladainha
favorita de grandes corporações e da mídia oficial e dos políticos que as
defendem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário