Seria fácil enquadrar “A morte de J.P. Cuenca” (2014) como
uma pretensiosa e desagradável egotrip de seu diretor/roteirista/principal ator
João Paulo Cuenca. Não se trata especialmente de uma obra que traga cenas de
grande apuro estético, e por vezes a aridez de seu formalismo pode até causar um
certo enfado. Na sua mistura de elementos de encenações ficcionais e
documentais, a produção parece buscar uma brecha dimensional específica, quase como
se fosse um pesadelo se materializando de forma crua na realidade. Nessa
particular concepção artística, a crise que envolve a identidade do autor, a do
anônimo morto que tomou a sua identidade, tanto se aprofunda como uma
perturbadora crise existencial como por uma espécie de radiografia social da
degradação moral da cidade do Rio de Janeiro, cada vez mais gentrificada por
desumanos condomínios de luxo que sugerem um apartheid social. Morbidez e
ambiguidade são constantes na atmosfera do filme, fazendo com que a recriação
do real vá se dissolvendo de forma progressiva e o elemento do delírio se torne
cada vez mais presente, culminando no rito final de sexo e morte. Ainda que
esse coquetel não seja dos mais palatáveis, é inegável também a capacidade de
inquietar o espectador por parte de “A morte de J.P. Cuenca”.
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