É interessante observar que nos últimos episódios das
franquias cinematográficas “Jornada nas estrelas” e “Guerra nas estrelas” as
diferenças existenciais entre as duas ficam bastante evidenciadas. Enquanto a
saga criada por George Lucas é uma síntese de escolas diferentes no gênero
melodrama de aventura (histórias de capa e espada, faroestes, mitologias
diversas) cuja trama se desenvolve dentro de um ambiente de espaço sideral e
planetas alienígenas, as produções derivadas do conceito original de Gene
Roddenberry apresentam uma ligação mais aprofundada com as questões pertinentes
ao gênero ficção-científica. Ainda que de forma sutil, pode-se perceber no
roteiro de “Sem fronteiras” (2016) situações que envolvem elementos que sempre
estiveram rondando os filmes e seriados de “Jornada nas estrelas”: o conflito
entre crenças pessoais e místicas com o raciocínio científico, a necessidade do
ser humano expandir seus horizontes físicos e culturais através das viagens intergalácticas
e o contato com outras civilizações, a busca da concretização da utopia de
harmonia entre diferentes raças (no filme em questão, sintetizado na figura do
planeta-nave que agrega seres humanos e diversos povos alienígenas, além do
fato de se mostrar com naturalidade a homossexualidade do Sr. Sulu). É grande mérito
do diretor Justin Lin conseguir conciliar esse subtexto humanista dentro de uma
estrutura de narrativa de ação. Os dilemas da trama básica são até simples e
seu desenvolvimento traz algumas obviedades, mas a fluência da encenação e os
efeitos digitais de visual criativo e expressivo apresentam um resultado
envolvente. No conjunto geral, talvez esse seja o filme da retomada concebida
por J.J. Abrams que mais se aproxima do espírito característico da série
clássica, sem que com isso se caia no mero revivalismo oportunista (ao
contrário da simples nostalgia mofada de “O despertar da força”).
Nenhum comentário:
Postar um comentário