sexta-feira, setembro 09, 2016

Jornada nas estrelas: Sem fronteiras, de Justin Lin ***

É interessante observar que nos últimos episódios das franquias cinematográficas “Jornada nas estrelas” e “Guerra nas estrelas” as diferenças existenciais entre as duas ficam bastante evidenciadas. Enquanto a saga criada por George Lucas é uma síntese de escolas diferentes no gênero melodrama de aventura (histórias de capa e espada, faroestes, mitologias diversas) cuja trama se desenvolve dentro de um ambiente de espaço sideral e planetas alienígenas, as produções derivadas do conceito original de Gene Roddenberry apresentam uma ligação mais aprofundada com as questões pertinentes ao gênero ficção-científica. Ainda que de forma sutil, pode-se perceber no roteiro de “Sem fronteiras” (2016) situações que envolvem elementos que sempre estiveram rondando os filmes e seriados de “Jornada nas estrelas”: o conflito entre crenças pessoais e místicas com o raciocínio científico, a necessidade do ser humano expandir seus horizontes físicos e culturais através das viagens intergalácticas e o contato com outras civilizações, a busca da concretização da utopia de harmonia entre diferentes raças (no filme em questão, sintetizado na figura do planeta-nave que agrega seres humanos e diversos povos alienígenas, além do fato de se mostrar com naturalidade a homossexualidade do Sr. Sulu). É grande mérito do diretor Justin Lin conseguir conciliar esse subtexto humanista dentro de uma estrutura de narrativa de ação. Os dilemas da trama básica são até simples e seu desenvolvimento traz algumas obviedades, mas a fluência da encenação e os efeitos digitais de visual criativo e expressivo apresentam um resultado envolvente. No conjunto geral, talvez esse seja o filme da retomada concebida por J.J. Abrams que mais se aproxima do espírito característico da série clássica, sem que com isso se caia no mero revivalismo oportunista (ao contrário da simples nostalgia mofada de “O despertar da força”).

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