É um fato curioso que a produção argentina “Samurai” (2012)
tenha sido exibida dentro de uma mostra chamada Ciclo de Cinema Gauchesco,
evento esse decorrente das comemorações da semana farroupilha. Isso porque essa
última tem por escopo existencial a celebração hipócrita de valores
reacionários e sexistas baseado na exploração da mão-de-obra barata de peões
por parte de grandes estancieiros e na submissão da mulher, enquanto o filme do
diretor Gaspar Scheuer propõe um olhar revisionista crítico de tal contexto
histórico e comportamental. Para isso, a trama do filme traz como foco
principal um aspecto insólito, a de imigrantes japoneses que se fixam nos
pampas no final do século XIX, fugindo de perseguições políticas em seu país de
origem, e acabam sendo oprimidos na terra estrangeira para onde se refugiaram.
Num primeiro momento, a família do protagonista Takeo entra num dilema existencial,
em que a herança cultural do avô samurai se mostra ameaçada diante da nova
realidade em que se encontram. Com o desenvolvimento da história, entretanto,
essa mesma tradição nativa começa a se revelar opressora no sentido de impedir
uma visão mais ampla por parte dos indivíduos diante de uma situação
sócio-econômica nova e conturbada. Acaba sendo estabelecida uma correlação
entre as tradições nipônicas e gaúchas, mostrando de maneira sutil e
contundente como o discurso oficial de valoração da bravura e de uma virilidade
“macha” na realidade esconde um panorama de exploração e opressão social.
Dentro dessa visão sombria e melancólica, Scheuer incorpora uma estética que
revela um certo teor oriental na forma contemplativa com que articula sua
narrativa, tanto em termos de atmosfera quanto em concepção visual.
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