terça-feira, setembro 27, 2016

Marguerite, de Xavier Giannoli ***

Ainda que sua estrutura narrativa se baseie em uma linguagem bastante acadêmica, a produção francesa “Marguerite” (2015) consegue causar algum impacto para o espectador pela sobriedade do seu formalismo e pela maturidade humanista da sua abordagem temática. Há todo o requinte visual esperado dentro de um filme de época de grande orçamento, mas tal cuidado não implica necessariamente numa assepsia estética. O diretor Xavier Giannoli faz com que a bela fotografia de paisagens interioranas, interiores suntuosos e prédios de arquitetura sofisticada tenha o contraponto de uma atmosfera sombria e melancólica, com direito inclusive a algo de sordidez e mesmo bizarro (as figuras do serviçal exótico e sorumbático e a da mulher barbada são interessantes achados dramáticos). O roteiro apresenta um subtexto intimista e social sutil e contundente, ao refletir sobre as hipocrisias e preconceitos de uma nobreza em decadência na França da primeira metade do século XX e mostrar como o conflito de classes se manifestava mesmo dentro de uma relação matrimonial (a burguesia deslumbrada versus a aristocracia parasita). O filme de Giannoli também aproveita com sensibilidade o fato de sua trama se desenvolver nos âmbitos da música e do teatro, tendo uma bela trilha sonora que se insere de maneira precisa na narrativa e números operísticos que trazem uma ambiguidade na sua encenação, entre o decadentismo e o encanto. Diante de tais acertos estéticos e textuais, “Marguerite” acaba se revelando bastante superior a “Florence” (2016), produção norte-americana que baseia nos mesmos fatos reais que inspiraram a obra de Giannoli.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Recomendo esse filme