Ainda que sua estrutura narrativa se baseie em uma linguagem
bastante acadêmica, a produção francesa “Marguerite” (2015) consegue causar
algum impacto para o espectador pela sobriedade do seu formalismo e pela
maturidade humanista da sua abordagem temática. Há todo o requinte visual esperado
dentro de um filme de época de grande orçamento, mas tal cuidado não implica
necessariamente numa assepsia estética. O diretor Xavier Giannoli faz com que a
bela fotografia de paisagens interioranas, interiores suntuosos e prédios de
arquitetura sofisticada tenha o contraponto de uma atmosfera sombria e
melancólica, com direito inclusive a algo de sordidez e mesmo bizarro (as
figuras do serviçal exótico e sorumbático e a da mulher barbada são
interessantes achados dramáticos). O roteiro apresenta um subtexto intimista e social
sutil e contundente, ao refletir sobre as hipocrisias e preconceitos de uma nobreza
em decadência na França da primeira metade do século XX e mostrar como o
conflito de classes se manifestava mesmo dentro de uma relação matrimonial (a
burguesia deslumbrada versus a aristocracia parasita). O filme de Giannoli
também aproveita com sensibilidade o fato de sua trama se desenvolver nos
âmbitos da música e do teatro, tendo uma bela trilha sonora que se insere de
maneira precisa na narrativa e números operísticos que trazem uma ambiguidade
na sua encenação, entre o decadentismo e o encanto. Diante de tais acertos
estéticos e textuais, “Marguerite” acaba se revelando bastante superior a “Florence”
(2016), produção norte-americana que baseia nos mesmos fatos reais que
inspiraram a obra de Giannoli.
Um comentário:
Recomendo esse filme
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