O documentário “Geraldinos” (2015), em termos existenciais,
faz lembrar a produção norte-americana “A grande aposta” (2015) na leitura do
subtexto de suas respectivas tramas, no sentido de que ambas trazem à tona a
seguinte indagação: o que realmente move a sociedade contemporânea? A comparação
pode soar um tanto esdruxula, no sentido de que o filme brasileiro tem como
tema a paixão pelo futebol enquanto o trabalho dirigido por Adam McKay foca o
ambiente da especulação financeira e imobiliária. Mas na conclusão das duas
obras fica evidenciado que a verdadeira religião no mundo atual é o
capitalismo, pois é ele que motiva tanto que uma ala popular (e barata) do
Maracanã que abarcava milhares de torcedores humildes fosse destruída em nome
do lucro de algumas poucas corporações como a derrocada econômica de milhões de
trabalhadores para que alguns especuladores e rentistas faturassem alguns
milhões de dólares a mais. Esse discurso melancólico e raivoso de “Geraldinos”
é embalado por uma eficiente síntese formal que preserva a forte emotividade
inerente ao assunto e lhe dá uma dinâmica narrativa envolvente na sua
combinação de depoimentos (de torcedores, jornalistas, políticos e tecnocratas),
imagens de arquivos antológicas e mesmo uma “encenação” espontânea e vibrante
da rotina de personagens anônimos e folclóricos do mundo do futebol brasileiro,
com direito, inclusive, a uma sequência particularmente memorável: aquela que
mostra o ritual de preparação, de ida para o estádio e do ato de torcer de
torcedores “geraldinos” do Fluminense e do Flamengo no dia do último Fla-Flu
disputado no Maracanã antes da demolição da geral, tudo isso ao som de
afro-funk endiabrado do grupo Bixiga 70.
Um comentário:
Os documentários brasileiros estão em alta esse ano. Mal posso esperar para assistir Menino 23.
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