A fórmula narrativa que o diretor francês Stéphane Brizé
costuma apresentar em seus filmes está longe de ser especialmente original, mas
de certa forma acaba até se mostrando por vezes ousada e com algo de uma pegada
autoral pela forma elegante com que conduz seu conceito artístico – são tramas
que se vinculam a uma estrutura típica de melodrama, mas que acabam recebendo
um tratamento formal-existencial marcado pela sobriedade e rigor. Em “A vida de
uma mulher” (2016) tal concepção de cinema fica bem evidenciada em suas nuances
estéticas e na sua atmosfera sombria e melancólica. O roteiro é baseado em um
original literário de Guy de Maupassant e se pode perceber que Brizé busca
valorizar a força dos diálogos e os desdobramentos relevantes da trama. Dentro
dessa abordagem, há uma impressão de distanciamento emocional, com o cineasta
dispensando recursos óbvios que fatalmente fariam tudo descambar para o sentimentalismo.
Tal orientação faz com que o processo de amadurecimento da protagonista Jeanne
(Judith Chemia) seja mostrado sem concessões e com uma endurecida coerência
filosófica-moral. Dessa maneira, a narrativa não é marcada por um arrebatamento
sensorial, mas sim por uma espécie de lenta construção perturbadora de
situações e personagens que revela o seu efetivo impacto para o espectador em
sua conclusão. Ou seja, “A vida de uma mulher” se configura como um atemporal
conto moral a dissecar com um misto de crueza, ironia e alguma doçura os típicos
valores hipócritas e obscurantistas da sociedade francesa do século XIX (e que
na realidade se estendem até hoje na sociedade ocidental contemporânea).
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