O diretor italiano Ermanno Olmi atinge um feito memorável na
produção “Os campos voltarão” (2014) ao obter uma síntese insólita e pungente
entre poesia e brutalidade. O retrato que oferece de uma frente de batalha na I
Guerra Mundial em um primeiro momento impressiona pela sua crueza realista em
termos de recriação imagética – fotografia e direção de arte valorizam uma
composição visual marcada pela sujeira e por uma atmosfera sombria, ainda que
por vezes faça um contraste perturbador com a beleza das paisagens interioranas
onde o conflito se desenvolve. Aliás, esse pendor para ressaltar nuances de um
ambiente agrário remete diretamente ao grande clássico da filmografia de Olmi, “A
árvore dos tamancos” (1978), de onde também se assemelha em um certo teor de
beatitude de algumas passagens do roteiro. Nesse ponto, reside o grande ponto
de transcendência artística do filme, onde a perspectiva principal da narrativa
se encontra na rotina melancólica e desesperada de um grupo de soldados italianos
em uma trincheira violentamente acossada pelos inimigos germânicos. A obra
capta com sensibilidade detalhes existenciais contundentes, como a resignação
fatalista de soldados e praças oriundos das camadas mais pobres da sociedade
até a alienação e perplexidade de seus oficiais. Olmi consegue conciliar com
maestria essa profunda abordagem intimista a uma dinâmica de ação típica do
gênero filme de guerra. Nesse sentido, os ataques finais dos morteiros alemães
impressionam pelo sensorialismo devastador de sua encenação.
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