A história do escritor fake JT Leroy já é fascinante por si
só em todas as suas circunstâncias que envolvem questões artísticas e
picaretagens editoriais. Nesse sentido, o documentário “O culto a JT Leroy”
(2014) impressiona pela quantidade de informações e cenas de arquivo que focam
toda a saga de ascensão, apogeu e queda do seu protagonista, com a diretora
Marjorie Sturm conseguindo conciliar tais elementos em uma narrativa tensa,
sombria e algo irônica. Trata-se de uma obra que também tem o mérito de
conseguir captar muito bem o espírito de uma época no que diz respeito a uma
síntese perturbadora de vazio existencial, culto a celebridades e a visão
romantizada da decadência. Além disso, Sturm consegue construir um sofisticado
subtexto a partir de sutis nuances narrativas – é de se reparar que a trama se
estrutura por vezes quase como uma trama policial ou detetivesca, realçando a
revolta de artistas e fãs com os desdobramentos da farsa que envolvia Leroy,
mas em pequenos detalhes fica evidente uma exposição crua e impiedosa de um
meio editorial marcado pelo machismo e elitismo que propicia toda uma teia de
mentiras e enganos.
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