sexta-feira, agosto 18, 2017

O estranho que nós amamos, de Sofia Coppola **1/2

Em seus dois primeiros filmes, “Virgens suicidas” (1999) e “Encontros e desencontros” (2003), a diretora norte-americana Sofia Coppola delineou uma assinatura artística de sutileza autoral, em que um certo classicismo de filmar se aliava a discretos elementos modernizantes – nesse último aspecto, pode-se dizer que havia a utilização de aspectos de uma cultura indie, partindo de um olhar existencial de caráter feminino e se aproveitando de signos pop contemporâneos, principalmente na forma com que se utilizava de canções da trindade rock-pop-eletrônico. Posteriormente, essa receita narrativa se diluiu e banalizou de maneira considerável, ainda que a cineasta tenha mostrado um amadurecimento no acabamento formal de seus filmes (ainda que isso implicasse na perda da espontaneidade criativa de suas duas mencionadas obras iniciais). “O estranho que nós amamos” (2017) se encaixa justamente no caso de seus trabalhos mais recentes. Pode-se perceber uma sofisticação em sua arquitetura estética, além de sua abordagem emocional mostrar uma considerável sobriedade. E é claro que ela tinha todo o direito de oferecer uma nova perspectiva criativa para a obra literária original que também serviu de base para o filme de 1971 de Don Siegel. O problema, no entanto, é que no inevitável embate de comparação entre os dois trabalhos a balança pende de maneira ostensiva para o clássico setentista. Falta para a produção recente o vigor narrativo e a irônica atmosfera de ambiguidade que tornaram “O estranho que nós amamos” de Siegel uma produção referencial. Assim, a nova visão de Coppola acaba soando irrelevante por não acrescentar algo de novo para uma história que em sua versão cinematográfica anterior já havia recebido um tratamento artístico definitivo.

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