Em seus dois primeiros filmes, “Virgens suicidas” (1999) e “Encontros
e desencontros” (2003), a diretora norte-americana Sofia Coppola delineou uma
assinatura artística de sutileza autoral, em que um certo classicismo de filmar
se aliava a discretos elementos modernizantes – nesse último aspecto, pode-se
dizer que havia a utilização de aspectos de uma cultura indie, partindo de um
olhar existencial de caráter feminino e se aproveitando de signos pop
contemporâneos, principalmente na forma com que se utilizava de canções da
trindade rock-pop-eletrônico. Posteriormente, essa receita narrativa se diluiu
e banalizou de maneira considerável, ainda que a cineasta tenha mostrado um
amadurecimento no acabamento formal de seus filmes (ainda que isso implicasse
na perda da espontaneidade criativa de suas duas mencionadas obras iniciais). “O
estranho que nós amamos” (2017) se encaixa justamente no caso de seus trabalhos
mais recentes. Pode-se perceber uma sofisticação em sua arquitetura estética,
além de sua abordagem emocional mostrar uma considerável sobriedade. E é claro
que ela tinha todo o direito de oferecer uma nova perspectiva criativa para a
obra literária original que também serviu de base para o filme de 1971 de Don
Siegel. O problema, no entanto, é que no inevitável embate de comparação entre
os dois trabalhos a balança pende de maneira ostensiva para o clássico
setentista. Falta para a produção recente o vigor narrativo e a irônica
atmosfera de ambiguidade que tornaram “O estranho que nós amamos” de Siegel uma
produção referencial. Assim, a nova visão de Coppola acaba soando irrelevante
por não acrescentar algo de novo para uma história que em sua versão
cinematográfica anterior já havia recebido um tratamento artístico definitivo.
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