Na função de diretor, Selton Mello se mostrou um nome
promissor em seus dois primeiros longas-metragens, “Feliz natal” (2008) e “O
palhaço” (2011), obras que, ainda que mostrassem alguns tropeços em suas
respectivas narrativas, evidenciavam um vigor admirável na reciclagem de
clichês formais e temáticos inerentes aos gêneros melodrama e comédia, na
encenação equilibrada entre o sutil e o rascante e no belo trabalho de direção
de elenco. Dentro desse contexto pregresso, a produção mais recente de Mello
como cineasta, “O filme da minha vida” (2017), é uma expressiva decepção
artística. Se nos mencionados filmes anteriores se podia perceber um
considerável caráter desafiador no conjunto estético-existencial, agora Mello
se mostra de maneira escancarada com a intenção de se adequar a moldes mofados
e despersonalizados de concepção narrativa, como se procurasse uma linguagem
mais “acessível” para buscar a aceitação comercial de um público maior. Na
busca de tal intento, articulou uma fórmula medíocre e sem graça de “contar uma
história”, algo como a assepsia audiovisual de uma minissérie global somada ao sentimentalismo
óbvio e barato de produções “de qualidade” como “Cinema Paradiso” (1988) e “O
carteiro e o poeta” (1994) – não é à toa que o roteiro se baseou na obra
literária original de Antonio Skarmeta, mesmo escritor de “O carteiro e o poeta”.
Diante de tais escolhas artísticas, não adianta contar com Walter Carvalho como
diretor de fotografia se enquadramentos e iluminação vão emular um traço
imagético de cartão postal ou ter alguns nomes interessantes no elenco se todos
eles vão afundar com a mãe pesada de Mello na encenação. Isso sem falar no
constrangedor caráter machista de algumas passagens do roteiro que vêm
travestidas de humanismo e sensibilidade. Há de se convir, entretanto, que “O
filme da minha vida” acaba traduzindo com fidelidade o espírito do nosso tempo
nesse reacionário Brasil pós-golpe em que vivemos – seu mercantilismo
conservador disfarçado de “qualidade artística” é sintomático da hipocrisia e
moralismo obtusos que grassam em nossa sociedade.
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