Depois de enveredar pela ficção-científica pós-moderna
metida à besta de “Lucy” (2014), o diretor francês Luc Besson muda o seu foco
artístico e busca uma concepção mais clássica do mesmo gênero em “Valerian e a
cidade dos mil planetas” (2017). Tanto que o roteiro se baseia numa série de
HQs dos anos 60. O resultado final é bem divertido e, por vezes, até ousado na
sua estética que combina atmosfera retrô e trucagens digitais na linha estabelecida
por “Avatar” (2009). Alguns cânones temáticos da ficção científicas são
ordenados com coerência e sensibilidade por Besson, principalmente no confronto
que se estabelece dos princípios idealizados de uma sociedade futurista
avançada na sua síntese de tecnologia de ponta e princípios humanistas com a
realidade de uma distopia marcada pela injustiça social e pela violência. É
claro que tal visão existencial se estabelece como sutil subtexto em meio a uma
típica narrativa de aventura que por vezes beira o frenético, mas também é o
mote que dá a convincente tensão dramática para a obra. Os efeitos especiais
não chegam a ser algo tão chamativo em termos de originalidade. Em conjunto, entretanto,
com o criativo trabalho de direção de arte acabam gerando uma concepção
imagética memorável. Besson também mostra um forte domínio da ação
cinematográfica, fazendo lembrar aquele cineasta que nos legou o antológico
policial casca-grossa “O profissional” (1994). Nesse sentido, estão entre os
melhores momentos de “Valerian” a sequência em que o protagonista (Dane DeHaan)
e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) entram numa perseguição alucinada em
meio a um mercado que oscila entre os planos dimensionais real e virtual e
aquela em que o personagem principal corre alucinado pela tal cidade dos mil
planetas atravessando paredes, pulando prédios e outras demências.
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