quarta-feira, agosto 23, 2017

Valerian e a cidade dos mil planetas, de Luc Besson ***

Depois de enveredar pela ficção-científica pós-moderna metida à besta de “Lucy” (2014), o diretor francês Luc Besson muda o seu foco artístico e busca uma concepção mais clássica do mesmo gênero em “Valerian e a cidade dos mil planetas” (2017). Tanto que o roteiro se baseia numa série de HQs dos anos 60. O resultado final é bem divertido e, por vezes, até ousado na sua estética que combina atmosfera retrô e trucagens digitais na linha estabelecida por “Avatar” (2009). Alguns cânones temáticos da ficção científicas são ordenados com coerência e sensibilidade por Besson, principalmente no confronto que se estabelece dos princípios idealizados de uma sociedade futurista avançada na sua síntese de tecnologia de ponta e princípios humanistas com a realidade de uma distopia marcada pela injustiça social e pela violência. É claro que tal visão existencial se estabelece como sutil subtexto em meio a uma típica narrativa de aventura que por vezes beira o frenético, mas também é o mote que dá a convincente tensão dramática para a obra. Os efeitos especiais não chegam a ser algo tão chamativo em termos de originalidade. Em conjunto, entretanto, com o criativo trabalho de direção de arte acabam gerando uma concepção imagética memorável. Besson também mostra um forte domínio da ação cinematográfica, fazendo lembrar aquele cineasta que nos legou o antológico policial casca-grossa “O profissional” (1994). Nesse sentido, estão entre os melhores momentos de “Valerian” a sequência em que o protagonista (Dane DeHaan) e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) entram numa perseguição alucinada em meio a um mercado que oscila entre os planos dimensionais real e virtual e aquela em que o personagem principal corre alucinado pela tal cidade dos mil planetas atravessando paredes, pulando prédios e outras demências.

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