Em termos conceituais, a produção gaúcha “O ninho” (2016) se
mostra bastante inquietante. Sua abordagem da temática LGBT foge bastante de
estereótipos e obviedades – é claro que no roteiro perpassa a questão do
preconceito, mas os diretores Filipe Matzembacher e Márcio Reolon buscam também
um enfoque contundente que sintetiza uma narrativa de ritmo sereno e sequências
pontuais de violência catártica. Ou seja, é uma obra de caráter desafiador
tanto pelo lado formal quanto pelo aspecto existencial. Nesse sentido, talvez o
grande acerto artístico seja a forma como os diretores conduzem as
intepretações de seu elenco, principalmente a ala “não profissional” dos
garotos que formam um grupo “anarco-queer”. São atuações espontâneas,
vigorosas, e que aliadas a uma caracterização visual de forte presença cênica
acabam rendendo algumas das sequências mais memoráveis da produção. Outro
destaque positivo é a forma como Porto Alegre é retratada: nesse conjunto de
hotéis e apartamentos algo decrépitos, de desolado cenários externos noturnos e
de hedonistas e obscuras boates gays, é como se despontasse uma capital gaúcha
de um perturbador e atraente universo paralelo. O problema de “O ninho” é que
todas essas boas ideias e sacadas estéticas-temáticas, por vezes, não encontram
uma narrativa equilibrada e envolvente. É como se seus realizadores se
perdessem em alguns momentos no seu fascínio por esse universo e privilegiassem
um olhar excessivamente fetichista.
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