sexta-feira, agosto 11, 2017

O ninho, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon **1/2

Em termos conceituais, a produção gaúcha “O ninho” (2016) se mostra bastante inquietante. Sua abordagem da temática LGBT foge bastante de estereótipos e obviedades – é claro que no roteiro perpassa a questão do preconceito, mas os diretores Filipe Matzembacher e Márcio Reolon buscam também um enfoque contundente que sintetiza uma narrativa de ritmo sereno e sequências pontuais de violência catártica. Ou seja, é uma obra de caráter desafiador tanto pelo lado formal quanto pelo aspecto existencial. Nesse sentido, talvez o grande acerto artístico seja a forma como os diretores conduzem as intepretações de seu elenco, principalmente a ala “não profissional” dos garotos que formam um grupo “anarco-queer”. São atuações espontâneas, vigorosas, e que aliadas a uma caracterização visual de forte presença cênica acabam rendendo algumas das sequências mais memoráveis da produção. Outro destaque positivo é a forma como Porto Alegre é retratada: nesse conjunto de hotéis e apartamentos algo decrépitos, de desolado cenários externos noturnos e de hedonistas e obscuras boates gays, é como se despontasse uma capital gaúcha de um perturbador e atraente universo paralelo. O problema de “O ninho” é que todas essas boas ideias e sacadas estéticas-temáticas, por vezes, não encontram uma narrativa equilibrada e envolvente. É como se seus realizadores se perdessem em alguns momentos no seu fascínio por esse universo e privilegiassem um olhar excessivamente fetichista.

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