É difícil não lembrar de “Cenas de um casamento” (1973) ao
se assistir a “Monsieur & Madame Adelman” (2017). Em ambos os filmes,
roteiro e estrutura narrativa se baseiam na exposição dos fatos mais relevantes
e emblemáticos na história de um casamento, passando por uma gama considerável
de situações, sentimentos e sensações inerentes a esse tipo de relacionamento
amoroso. Nas duas obras há também o desejo de se afastar das idealizações
romantizadas que geralmente produções no gênero costumam cair, com enfoques,
dessa maneira, que buscam uma certa crueza realista em sua abordagem
artística-existencial. Outro ponto em comum é que nas produções mencionadas há
o questionamento do papel da mulher dentro do matrimônio diante de um contexto
sócio-cultural ocidental que ainda guarda fortes traços machistas e
patriarcais. Feitas essas aproximações, cabe deixar uma coisa bem clara – por mais
que se simpatize com algumas escolhas criativas da produção francesa dirigida
por Nicolas Bedos, ela ainda se encontra a milhas de distância da obra-prima
concebida por Ingmar Bergman. Algumas passagens do roteiro até surpreendem pela
sua síntese de ironia divertida e nuances dramáticas inquietantes, mas a
encenação por vezes previsível, o didatismo primário na caracterização do
ambiente histórico e a queda excessiva para o convencionalismo formal atenuam
muito o impacto sensorial de “Monsieur & madame Adelman”, ao contrário do
rigor estético e da cruel (e muito humana) dissecação filosófica-emocional de
um casamento arquitetados no perturbador filme de Bergman.
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