A franquia “Invocação do mal” e os filmes derivados com a
boneca Anabelle têm uma certa coerência artística e temática, propondo-se a uma
atualização dos principais clichês narrativos do gênero horror, principalmente
dentro de uma fórmula acessível para o grande público em que o roteiro evoca no
seu âmago a proteção dos valores familiares diante de ameaças satânicas e o formalismo
se baseia em uma concepção mais limpa em termos visuais – claro que há os
momentos de violências e trucagens explícitas de monstros e efeitos
sobrenaturais, mas nada também que ofenda ou traumatize o gosto das plateias. O
fato das tramas se passarem em um determinado período entre os anos 60 e 70 faz
também com que a estética das produções se aventure dentro de uma discreta
abordagem retrô. Dentro de tal abordagem do gênero, o ponto alto foi
"Invocação do mal 2” (2016), onde todos esses elementos adquiriam uma
harmonia narrativa mais coesa e eficiente. Em “Anabelle 2 – A criação do mal”
(2017), a fórmula já começa a apresentar alguns desgastes. Há alguns aspectos
que se mostram promissores, principalmente na questão do roteiro centralizar
boa parte das ações dentro de um grupos de garotas órfãs, que oscilam de idade
entre a infância e a adolescência, fazendo com que o subtexto da história
guarde algumas sacadas interessantes relativas a ritos de passagem e sexualidade
feminina. Tais pontos existenciais, entretanto, são apenas tangenciados diante
da necessidade comercial de se atender aos preceitos mais previsíveis do
gênero. O mecanismo de sustos do filme por vezes consegue criar alguma tensão e
impacto para o espectador, mas nada que chegue a ser especialmente memorável.
Falta para a produção dirigida por David F. Sandberg sutileza e ousadia na
construção de uma atmosfera de mistério, pois sempre fica patente a necessidade
de não deixar pontas soltas e fazer ligações protocolares com os roteiros dos
demais filmes da franquia.
Um comentário:
Eu achei um filme muito melhor que o primeiro e dando sinal que os filmes derivados podem ir bem longe.
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