O que vai se fazer na presente resenha não é um exercício
jornalístico, procurando informar fatos sobre “Chatô” (2015), mas sim a
impressão sensorial daquele que escreve sobre o filme. Dito isso, a percepção
que se tem após o final da produção é que o diretor Guilherme Fontes havia
elaborado inicialmente uma narrativa linear e tradicional a expor os principais
eventos da vida de seu biografado, Assis Chateaubriand, dono de um dos maiores
impérios de imprensa da história do Brasil e figura extremamente polêmica na
trajetória política do país. Ao constatar a fragilidade formal de sua obra,
Fontes inseriu sequências entre o onírico e o delirante, remetendo bastante ao
clássico musical “O show deve continuar” (1979). Ocorre, entretanto, que Fontes
não é Bob Fosse e o resultado final de “Chatô” é uma deplorável mixórdia
estética e temática. A pretensa formatação farsesca parece mais uma desculpa
para a incapacidade do diretor em obter dinâmica narrativa e concepção visual
aceitáveis. Tudo dá errado no filme: encenação truncada beirando o amador, direção
de arte qualquer nota, fotografia sem qualquer rigor imagético, elenco de
interpretações que oscilam entre o over irritante e o piloto automático, edição
desengonçada, roteiro que simplifica banalmente complexas situações históricas
e reduz importantes personagens a caricaturas. Ou seja, não é prazeroso ou
mesmo inquietante assistir à produção, e nem como registro histórico relevante “Chatô”
se presta. O desastre do conjunto artístico geral faz entender por quê Fontes
demorou tanto para lançar tal trabalho – estava com vergonha do abacaxi que
tinha em mãos. No final das contas, o melhor mesmo é ficar com a sensacional
biografia de Chateaubriand escrita por Fernando Morais, essa sim uma obra memorável
sobre a figura em questão.
Um comentário:
Putz, dessa vez discordo frontalmente. Chatô é brilhante!
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