Assim como em “De canção em canção” (2016), o rock and roll
não é exatamente o tema principal de “Em ritmo de fuga” (2016), mas os dois,
estilo musical e filme, acabam apresentando um coerente paralelo existencial
tal havia ocorrido também no trabalho mencionado de Terrence Malick. Tal
relação se estabelece não apenas pelo fato da produção dirigida por Edgar
Wright usar como elemento essencial da narrativa várias canções do tripé rock-pop-soul,
mas também por um peculiar conceito artístico. Nesse sentido, é preciso ter em
mente que o rock and roll entendido como fenômeno sociológico comportamental é
algo que hoje em dia é de influência nula. Em termos musicais, ele pode até ter
uma ascendência e mesmo assim se restringindo a um âmbito mais subterrâneo ou a
pequenos nichos. Mas no sentido de se relacionar com as principais questões
culturais e sociais do mundo contemporâneo, o rock não tem a mesma relevância
de anos atrás, como aconteceu, por exemplo, com a sua ligação com a
contracultura dos anos 60 ou com o niilismo e alienação da década de 90.
Resumindo: o rock and roll hoje em dia é um artigo nostálgico de museu, congelado
no tempo. Ou seja, perfeitamente de acordo com a estética retrô trabalhada por
Wright em “Em ritmo de fuga”. No roteiro e na atmosfera de tal obra, há uma
queda pela reconstituição de um imaginário particular, uma espécie de síntese
sensorial dos preceitos básicos dos filmes de gangsteres e de jovens rebeldes,
tudo embalado por temas musicais rockers. Longe da mera reciclagem, o que
Wright faz é combinar tais referências em uma linguagem cinematográfica
bastante ousada e dinâmica, em que o ritmo da narrativa se liga a intensidade
rítmica e melódica de cada canção que surge em cena. Isso fica evidente logo de
cara na sensacional sequência de abertura, em que cada passo de um assalto e da
consequente perseguição automobilista parece determinado pela evolução da
agitada e sinuosa “Bellbottoms” de Jon Spencer Blues Explosion. Como já havia
mostrado de maneira contundente em filmes anteriores antológicos como “Todo
mundo quase morto” (2004), “Chumbo grosso” (2007) e “Scott Pilgrim contra o
mundo” (2010), Wright demonstra em “Em ritmo de fuga” um domínio expressivo da
ação cinematográfica, vide sequências de perseguições e tiroteiros marcadas por
coreografias ricas em detalhes e precisão cênicas, além de incorporar com sensibilidade
e inteligência em diálogos e nuances imagéticas uma gama incrível de
referências culturais.
Um comentário:
Geralmente não colocava atenção na trilha sonora dos filmes até que vi Em ritmo de fuga descobri que um bom trabalho com a música pode ajudar que seja um êxito. Revisei a trajetória de Edgar Wright. me impressiona que os seus trabalhos tenham tanto êxito, apesar de não ser um diretor tão reconhecido na indústria do cine, ele é um dos poucos que conseguem boas obras cinematográficas graças ao seu grande profissionalismo. Recentemente vi Em ritmo de fuga filme legendado e certamente excedeu minhas expectativas, e é algo diferente ao que estamos acostumados com ele. Vale muito a pena ver, pois seu grande trabalho de produção é evidente em cada uma das suas cenas. Seus efeitos especiais estão incríveis, trilha sonora e atuações geram um resultado que consegue captar aos espectadores.
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