O cineasta Neville D’Almeida fez
uma das melhores adaptações para o cinema de uma peça do dramaturgo Nelson
Rodrigues em “Os sete gatinhos” (1980), preservando a força cômica-dramática do
original e também dando uma dinâmica cênica que fugia totalmente do mero teatro
filmado. Em “A frente fria que a chuva traz” (2015), o diretor volta ao
universo do teatro só que com o trabalho de um autor mais contemporâneo, Mário
Bortolotto. Nessa obra mais recente, D’Almeida atinge resultados artístico
menos satisfatórios, tanto por uma encenação que por vezes não se decide entre
o teatral e o cinematográfico quanto por um texto de momentos entre o ingênuo e
o apelativo. Ainda assim, é um trabalho acima da média que se valoriza por algumas
nuances formais e existenciais interessantes. As interpretações do elenco são
bastante intensas, ainda que beirando o excessivo em algumas passagens, e ganham
uma forte dimensão dramática ao se associarem a ambientação sórdida e sardônica
concebida por D’Almeida. E por mais que a escrita de Bortolotto derrape, há
trechos que se mostram contundentes e até perturbadores na ácida e irônica
maneira que retratam a sociedade de classes no Brasil, mostrando bastante
sintonia, inclusive, com o tenebroso momento histórico que vivemos no país.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.