Recentemente falecido, o diretor norte-americano John
Singleton sempre passou a impressão de uma grande promessa que não seu cumpriu.
“Os donos da rua” (1991) criou uma forte expectativa em torno de seu nome por
se tratar de um trabalho vigoroso em torno de uma temática problemática
envolvendo racismo e jovens negros dos subúrbios envolvidos com a
criminalidade, revelando ainda alguns atores em início de carreira que depois
obtiveram algum prestígio. Ainda que fosse um trabalho memorável, em termos
formais e narrativos não trazia grandes ousadias, o que talvez caracterizasse
que a tal expectativa sobre seus próximos trabalhos fosse até exagerada. A
verdade é que Singleton se tornou um artesão competente dentro dos padrões comerciais
tradicionais do cinema de ação contemporâneo (e não o “grande cineasta autoral”
que a crítica e parte do público esperavam). Nesse sentido, “Quatro irmãos é um
trabalho emblemático dentro desse direcionamento artístico. É uma obra que traz
uma carga considerável dos clichês estéticos e temáticos inerentes ao gênero,
mas trabalhados de forma segura o suficiente para garantir o interesse da
plateia. Por outro lado, Singleton até se permite realizar algumas bem-sacadas
referências ao cinema blaxploitation, principalmente na utilização da trilha
sonora funk-soul e na encenação algo estilizada de algumas sequências. Ou seja,
nesses termos, “Quatro irmãos” por vezes até se mostra acima da média e fora do
rotineiro.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
sexta-feira, julho 26, 2019
quarta-feira, julho 24, 2019
Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story By Martin Scorsese, de Martin Scorsese ****
Eu tenho uma espécie de convicção pessoal em relação ao
prêmio Nobel de literatura que Bob Dylan ganhou em 2016 – a de que uma das
razões para tal premiação, além dos motivos óbvios da grande qualidade
artística de boa parte das letras que compôs e do ótimo livro “Memórias”, seria
a genialidade de algumas entrevistas que ele concedeu ao longo de sua carreira.
Alguns desses depoimentos são verdadeiras pérolas de criação literária, onde a
realidade e a mitificação (ou simplesmente a mentira) se entrelaçam como uma
coisa só, dificultando a visualização da tênue fronteira que as separam. E é
esse caráter de brilhante loroteiro/contador de causos de Dylan que fica
explícito no “documentário ficcional” “Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story
By Martin Scorsese” (2019). Em um primeiro momento, o filme de Scorsese pode
parecer um simples registro da longa turnê misto de concertos e shows de
vaudeville que Dylan promoveu em meados dos anos 70. E é claro que estão lá a
captação de momentos musicais antológicos de tais apresentações. Só que com o
desenvolver da narrativa o universo do filme se expande para algo como uma
junção alucinada/poética que também inclui ensaio sócio-político repleto de
amarga ironia, inventário cultural iluminado e encenações maliciosas (até
depoimentos contemporâneos de Dylan e outras pessoas que estiveram envolvidas
com a Rolling Thunder se encontra nessa zona nebulosa entre a verdade e a
mentira). Assim como no brilhante “Não estou lá” (2007), o filme de Scorsese
está mais preocupado em expor a complexidade artística/existencial de Dylan do
que em simplesmente esclarecer de maneira linear detalhes da vida de seu
protagonista. As inquietações estéticas/temáticas do diretor e a síntese de
trovador lúcido e cara-de-pau jocoso composto na persona de Dylan resultam em
uma obra fascinante e repleta de obscuras e sedutoras nuances que exigem um
olhar atento e contemplativo do espectador para esse atordoante mosaico de
referências culturais e políticas, o que acaba se configurando como um grande
desafio artístico nesses tempos em que filmes conservadores/corporativos de
super-heróis se tornaram a grande referência cultural da sociedade ocidental.
segunda-feira, julho 22, 2019
Só você, de Norman Jewison **
Quando se vê nos créditos de um filme o nome de um cineasta
como Norman Jewison na direção, o mesmo cara que dirigiu filmes memoráveis como
“A mesa do diabo” (1965), “No calor da noite” (1967) e “Feitiço da lua” (1987),
além do fotógrafo favorito de Ingmar Bergman (Sven Nykvist), é claro que
expectativa só pode ser alta. O resultado final de “Só você” (1994),
entretanto, é tão banal e derivativo que fica difícil acreditar que os artistas
mencionados realmente trabalharam nesse abacaxi. Provavelmente deve ter faltado
algum dinheiro para pagar as contas para ambos e eles precisavam quebrar o
galho de alguma forma qualquer, pois em nenhum momento da narrativa dá para
perceber alguma espécie de transcendência estética ou temática. A não ser que
alguém ache divertido ver a Marisa Tomei tentando ser a nova Audrey Hepburn de
qualquer maneira.
sexta-feira, julho 19, 2019
Mulher infernal, de Dennis Dugan ***
O diretor norte-americano Dennis Dugan é uma espécie de
especialista de comédias na linhagem besteirol. Não quer dizer, entretanto, que
seja exatamente um exímio artesão no gênero. Pelo contrário – na maioria das
vezes, seus filmes oscilam entre o médio e o escancaradamente ruim. Por vezes,
consegue acertar e fazer algo de memorável. “Mulher infernal” (2001) é uma
dessas exceções. É uma obra que consegue ironizar com verve e boas sacadas
cômicas aqueles clichês machistas juvenis de uma parcela de “jovens adultos” do
seu país. Steve Zahn e Jack Black conseguem extrair de seus papéis cativantes
caracterizações e garantem boa parte do interesse pelo filme. É de se ressaltar
também um certo talento de Dugan na encenação de algumas sequências de humor
físico bem acentuado, beirando o pastelão grosseiro. No cômputo final, é claro
que está bem distante de ser uma obra-prima da comédia, mas é bem acima da
média em relação ao que Dugan costuma fazer.
quarta-feira, julho 17, 2019
Johnny English, de Peter Howitt *
Não adianta: a missão de vida de Rowan Atkinson é
interpretar o Mr. Bean. Fora do personagem, é como se o ator perdesse a sua
magia e ficasse ruminando maneirismos típicos de sua clássica criação. “Johnny
English” (2003) é exemplar claro disso – trata-se de mais uma recriação cômica
da figura de James Bond (desde os anos 60 periodicamente aparece alguma
produção fazendo isso...). Por vezes, o filme chega a ser quase engraçado,
principalmente em suas sequências iniciais. Lá pela metade da narrativa,
entretanto, o interesse pela obra já se dissipou e tudo fica chato de vez. No
fim das contas, é bem mais negócio rever algum episódio do Mr. Bean...
terça-feira, julho 16, 2019
Sicário: Dia do soldado, de Stefano Sollima **
Ainda que tivesse um roteiro um tanto derivativo, “Sicário:
Terra de ninguém” (2015) impressionava por uma notável conjunção entre uma
encenação precisa e uma concepção formal apurada, destacando uma direção de
fotografia fenomenal e uma música incidental bastante singular. Nesse
expressivo conjunto artístico, era impossível não lembrar de algumas das
melhores produções dirigidas por Michael Mann. Sua continuação, “Sicário: Dia
de soldado” (2018), na comparação, deixa muito a desejar. Sua articulação narrativa-estética
é apenas correta, transcendendo quase nada dentro daquilo que se faz no gênero
policial/ação atualmente. A trama continua pecando pela pouca originalidade,
além de pender para incômodos clichês machistas. Ou seja, a típica continuação
irrelevante que talvez nem precisasse existir.
segunda-feira, julho 15, 2019
Anos 90, de Jonah Hill ***1/2
Aqueles que acham que a caracterização pueril e estereotipada
de adolescentes em “Homem-Aranha: Longe de casa” (2019) pode ser considerada
algo convincente acabarão por levar um susto se assistirem a “Anos 90” (2018).
Esse filme dirigido por Johan Hill, mais conhecido como ator por algumas
interpretações antológicas (“Superbad”, “O lobo de Wall Street”), é um retrato
da juventude marcado por uma concepção estética-temática que sintetiza crueza e
poesia. Mesmo uma junção que hoje em dia pode parecer tão batida quanto skate e
música pop/rock (a trilha é um belo apanhado de raps e hardcores memoráveis dos
anos 80 e 90) acaba ganhando uma dimensão imagética-sensorial surpreendente na
forma com que Hill conduz a narrativa. É como se “Kids” (1995) fosse recriado
sob uma perspectiva menos afetada e fetichista e se concentrasse em um olhar
mais humanista. A caracterização de personagens e situações tem complexidade e
profundidade psicológica, ao mesmo tempo que a narrativa é fluente, envolvendo
o espectador a partir de uma encenação que privilegia a forte expressão
dramática e corporal do elenco (nesse aspecto, toda a ala de crianças e
adolescente é um capítulo à parte em termos de atuações intensas – é provável
que os anos como intérprete de Hill tenham contado como efetiva experiência
para a sua excelente direção de atores).
sexta-feira, julho 12, 2019
Megarromântico, de Todd Strauss-Schulson *
Uma comédia romântica tirando sarro das comédias românticas,
mas que ao mesmo tempo se rende a todos os clichês do gênero? Sim, isso já foi
feito várias vezes e na maioria das vezes o resultado final foi desastroso. E
com “Megarromântico” (2019) essa tradição não muda.
quinta-feira, julho 11, 2019
Homem-Aranha: Longe de casa, de Jon Watts **1/2
Por mais que se exalte uma coerência mercadológica e
artística dos Estúdios Marvel na elaboração e execução de seu universo
cinematográfico, coisa que outras franquias de super-heróis nas telas não
conseguem ter, fica cada vez mais evidente em seus filmes recentes que seus
criadores estão ficando perto de um beco estético-temático sem saída. “Homem-Aranha:
Longe de casa” (2019) é exemplo claro dessa encruzilhada – é um filme divertido
por vezes, há algum carisma em seus personagens, mas a impressão final é de
algo tão pueril que pouco consegue extrair alguma efetiva tensão dramática de
seus momentos cruciais. Ainda que ocorra vez e outra algumas boas soluções
narrativas, com destaque para as cenas em que o herói aracnídeo e seu
antagonista Mysterio duelam em meio a cenários delirantes de uma realidade que
se transforma constantemente, o que prevalece para o espectador é a sensação de
uma colcha-de-retalhos preguiçosa, misturando de maneira mecânica elementos
diversos de comédia-romântica adolescente, aventura estilo James Bond (com
diretos a vários cenários exóticos/turísticos) e a fórmula típica (e asséptica)
de filmes contemporâneos de super-herói. Quem quiser ficar com uma obra
memorável recente do alter ego de Peter Parker pelo jeito vai ter de ficar
mesmo com a ótima animação “Homem-Aranha no aranhaverso” (2018).
quarta-feira, julho 10, 2019
O homem duplicado, de Denis Vileneuve **
Por vezes, pode-se perceber na narrativa de “O homem
duplicado” (2014) alguma tentativa de transcender a obviedade dentro da
temática do duplo, principalmente quando aborda a questão do vazio existencial
que perpassa as vidas dos dois personagens interpretados por Jake Gyllenhaal.
Em tais momentos, pode-se perceber fragmentos de uma visão mais sutil e
irônica, característica típica da escrita de José Saramago, autor da obra
literária na qual o filme de Denis Vileneuve. Mas são apenas em algumas
sequências que se pode perceber essa fuga da previsibilidade artística.
Vileneuve é até um diretor competente, principalmente no que diz respeito a uma
dinâmica cênica que se evidenciou em bons filmes como “Sicário” (2015) e “A
chegada” (2016). Em outras obras, entretanto, sua concepção estética-temática
se revela superficial, resvalando em clichês formais e textuais poucos
inspirados, o que representa bem o caso desse “O homem duplicado”.
segunda-feira, julho 08, 2019
Uma relação delicada, de Catherine Breillat ***
Há uma densa relação de prolixidade dos diálogos e intensa
carnalidade em “Uma relação delicada” (2013), combinação essa característica de
boa parte do cinema francês. Para a diretora Catherine Breillat, o estranho
relacionamento entre a renomada cineasta Maud (Isabelle Huppert) e o picareta
Vilko (Kool Shen) é um agudo pretexto temático para esmiuçar de maneira sutil e
sardônica os conflitos de classe e o vazio existencial do mundo pequeno-burguês
ocidental. Na narrativa árida do filme, o sentimentalismo passa longe, e o que
predomina é uma incômoda sensação de interesses e desejos que estão sempre
escusos ou mal explicados. O que era para ser uma espécie de pesquisa de campo
ou mesmo uma jornada de autodescoberta para Maud acaba se transformando em uma
espécie de pesadelo, quase como um mergulho no coração das trevas de um
ordenamento social que ela achava conhecer. Boa parte da força dramática do
filme se concentra na delicada composição cênica de Huppert, que varia sua
interpretação com notável versatilidade entre um ar blase e a pura perplexidade
patética.
sexta-feira, julho 05, 2019
Divino amor, de Gabriel Mascaro ***1/2
Pela filmografia prévia do diretor Gabriel Mascaro e por sua
temática polêmica (uma sociedade brasileira futurista distópica onde religiões
evangélicas capturaram o estado nacional), era de se imaginar que em “Divino
amor” (2019) o tom da narrativa e a abordagem existencial da matéria tivessem
um teor mais explosivo. Pois é justamente o contrário que ocorre no filme.
Mascaro investe em um tom contemplativo e ambíguo, em que os elementos cênicos
e textuais se inserem com sutileza e naturalidade. Mesmo a concepção visual
inerente ao gênero ficção científica onde a obra se insere recebe um tratamento
quase que apenas de nuances, em que detalhes imagéticos da fotografia e direção
de arte fazem essa sugestão de um futurismo beirando o naïf. Tal direcionamento
artístico não é gratuito: nesse contexto de um país amplamente dominando por
uma doutrina religiosa de forte teor obscurantista, a insipidez clean de
cenários e figurinos denota uma ambientação entre o inexpressivo e o opressor.
Se por vezes há uma insinuação de um hedonismo quase inconsciente em festas
rave-gospel e em surubas controladas por pastores, em outros momentos a
indigência intelectual de pregações e canções e o moralismo exacerbado de
aconselhamentos configuram uma atmosfera de pesadelo sufocante. Tais contrastes
na narrativa provocam uma sensação de desconforto desconcertante para o
espectador. E de maneira progressiva, aquilo que era para ser um retrato entre
o intimista e o sócio-político de um futuro marcado pela alienação e
desolamento vai se convertendo aos poucos em uma espécie de perversa parábola
bíblica. Na conclusão de “Divino amor”, todos aqueles elementos narrativos que
pareciam dispersos e contrastantes convergem para uma perturbadora síntese de
ironia, amargura e desafio, em um resultado final memorável que provavelmente
ficará grudado no imaginário de quem assiste por um bom tempo.
terça-feira, julho 02, 2019
Uma juventude alemã, de Jean-Gabriel Périot ****
Estranhas coincidências... Há poucas semanas passadas foi
exibida no Cinema Capitólio a versão do diretor Luca Guadagnino para “Suspiria”
(2018), sendo que nessa recente adaptação a trama fica situada na Berlin de
meados dos anos 70, havendo várias referências históricas à atuação do grupo de
esquerda radical Baader Meinhof. Poucos dias depois, o mesmo cinema exibiu “Uma
juventude alemã” (2015), documentário que expõe a trajetória do referido grupo.
É curioso que ambos os filmes evitam tanto o olhar moralizante quanto a anódina
abordagem acrítica. Se o horror ficcional de Guadagnino faz um perturbador
paralelo existencial entre o grupo e uma confraria de bruxas (que também é uma
escola de balé!), no sentido de serem agrupamentos de ações violentas de
caráter libertário/contestatório, a obra documental dirigida por Jean-Gabriel Périot
é um fascinante de misto de viagem sensorial e relato histórico sobre o
controvertido histórico do Baader Meinhof. O fato do grupo ter entre seus
membros estudantes de cinema e jornalistas parece influenciar na própria
formatação narrativa do documentário, fazendo com que fique estabelecida quase
que de maneira constante uma contraposição dialética na colagem/edição do
material de arquivo. Assim, as filmagens de reportagem da época, a reproduzirem
debates e ações de conflito nas ruas, trazem em seu âmago um discurso
oficialista e conservador, sempre em tom desaprovador das ações do grupo (tanto
nos debates e protestos pacíficos quanto nas ações terroristas), enquanto o
material cinematográfico confeccionado por membros do próprio Baader Meinhof e
os trechos de filmes ficcionais relativos a essa temática de insurreições
ironizam e desconstroem esse mesmo discurso oficial. E na tensão entre tais
estéticas e discursos é que se evidencia o particular caráter artístico/político
de “Uma juventude alemã” – mais do que uma pretensa (e mentirosa) abordagem “isenta”,
é uma obra que evita o maniqueísmo fácil e ressalta a complexidade
sócio-ideológica dos conflitos da época. Nesse vórtice atordoante
imagético-textual, fica por vezes em primeiro plano a brutalidade das ações
terroristas do Baader Meinhof, mas também se valoriza que por trás de um
discurso de radicalismo também havia um arguto e legítimo raio x sobre as ações
discriminatórias e opressivas de um governo submetido aos ditames políticos e
econômicos de interesses exclusivos da ala burguesa da sociedade alemã. A
melancólica e poética conclusão de “Uma juventude alemã” realça com
brilhantismo esse olhar lúcido e nada banal sobre um conflito que em sua
essência perdura até os dias de hoje em âmbito mundial.
segunda-feira, julho 01, 2019
Vidas duplas, de Olivier Assayas ***
Por vezes, a produção francesa “Vidas duplas” (2018) passa a
impressão que o seu diretor Olivier Assayas estava mais interessado no filme
como um veículo para impressões culturais-políticas-existenciais sobre o mundo
contemporâneo do que propriamente entregar uma obra perfeitamente acabada em
termos narrativos. Não que o filme padeça de alguma indigência formal – na realidade,
é até um trabalho bem envolvente para espectador em alguns momentos. Pesa no
filme, entretanto, uma prolixidade nos diálogos, que aparentam uma necessidade
urgente em abarcar vários dilemas da pós-modernidade que nos afligem. Nessa
ânsia, dá para dizer que há um exagero em discussões tecnológicas e econômicas
que fazem com que o longa tenha um certo ar datado, distante, dessa forma, da
beleza atemporal de obras como “Depois de maio” (2012) e “Personal shopper” (2016),
primorosos trabalhos anteriores de Assayas. Ainda assim, a sobriedade da
encenação e o desempenho dramático preciso do elenco fazem com que o filme
adquira em algumas sequências uma frequência sensorial algo hipnotizante, em
que a profundidade dos diálogos e situações do roteiro e uma interessante
atmosfera mista de ironia e melancolia levam o espectador para uma serena zona
entre o encanto e a reflexão.
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