Tentar reduzir a explicação do sucesso de “Os Vingadores” (2012)
ao mero fato da máquina publicitária que o filme tem ao seu dispor seria, no mínimo,
impreciso. Afinal, há fortes méritos artísticos que contribuem para o seu bem
sucedido resultado final. Para começar, foi um grande acerto a escalação de
Joss Whedon como diretor da produção. Whedon tem larga experiência como criador
e realizador de boas séries televisivas no gênero aventura escapista, além de
ser considerado um roteirista de grande prestígio nos quadrinhos (é o escritor,
por exemplo, da sensacional “Astonishing X-Men”). Ou seja, dá para dizer que o
cara entende do riscado em termos de super-heróis. Isso fica evidente em “Os
Vingadores” quando vemos, por exemplo, a boa caracterização visual e psicológica
de alguns dos principais personagens, principalmente na representação icônica
de Thor e Capitão América, isso sem contar que o Hulk é muito mais brutal e
carismático do que nos filmes solos que teve anteriormente. Whedon também teve
uma ótima sacada na trama do filme ao pegar elementos da série “Os Supremos” (os
Vingadores de uma realidade alternativa), tendo em vista que a referida revista
traz as mais eletrizantes e bem escritas aventuras recentes do grupo de heróis
em questão. É de se destacar também a eficiente concepção visual e narrativa,
em que as trucagens e a direção das sequências de ação conseguem oferecer um
todo dinâmico e que capta com considerável fidelidade boa parte da essência das
HQs. No geral, “Os Vingadores” demonstra um bom equilíbrio na tarefa de
equacionar uma devida sintonia com a mídia original e a capacidade de cativar
um público leigo em termos de “comics”, fazendo com que uma possível continuação
não seja uma mera hipótese oportunista (aliás, a cena dos créditos finais contendo
a aparição de Thanos evidencia a gama de possibilidades criativas que se pode
explorar dentro da franquia).
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
sexta-feira, junho 29, 2012
quinta-feira, junho 28, 2012
A dançarina e o ladrão, de Fernando Trueba **
O cineasta espanhol Fernando Trueba ganhou prestígio artístico mundial em 1992
quando lançou “Sedução”, obra que também lhe garantiu um Oscar na categoria
melhor filme estrangeiro. No referido filme, havia uma bem equilibrada mistura
entre a comédia irônica e o drama histórico para narrar as desventuras amorosas
de um vagabundo em plena era franquista. Em “A dançarina e o ladrão” (2009),
Trueba volta a abordar a temática da ditadura, só que dessa vez escolhe a
chilena do general Pinochet. Na verdade, a trama se desenrola logo após o fim
do período autoritário em questão, focando as conseqüências que a repressão
causou para os seus principais personagens. O cineasta apresenta uma certa
indecisão criativa: por oras navega no melodrama, em outros momentos flerta com
o realismo fantástico, até se aventura pelo thriller do gênero “grandes
assaltos”. Em nenhum desses direcionamentos o filme convence. Trueba não
apresenta a verve sarcástica de outrora, descambando por vezes para o dramalhão
excessivo, sem sutileza e moralista. Em termos formais, é uma produção
meramente competente, com uma estética no estilo “não fede, não cheira”. E
Ricardo Darin continua naquela sua sina: uma boa atuação desperdiçada no meio
de uma produção derivativa.
quarta-feira, junho 27, 2012
Paheli - Enigma, de Amol Palekar *1/2
A princípio, “Paheli – Enigma” (2005) é um filme indiano que
se proporia a uma visão irônica sobre os cânones das produções típicas de
Bollywood: roteiro banal, profusão de cenas com danças e músicas e uma
atmosfera de ingenuidade. No final das contas, entretanto, o filme se contagia
com as próprias limitações das quais pretendia tirar uma onda. Pode-se perceber
um certo cuidado estético na direção de arte e nas trucagens, ambos os aspectos
acima da média do que se costuma fazer no cinema popular indiano, mas o tom de
comédia ligeira, as interpretações caricatas do elenco e a narrativa arrastada
jogam o filme no mesmo nicho das obras que pretendiam zoar. Talvez a intenção
do diretor Amol Pakelar fosse justamente resgatar a essência dessa escola
cinematográfica, mas o resultado final para o espectador acaba sendo pífio e
enfadonho. Provavelmente, não seria o melhor dos cartões de visita para o
cinema indiano.
terça-feira, junho 26, 2012
Eu receberia as piores notícias dos teus lindos lábios, de Beto Brant e Renato Ciasca ***
Apesar de usar com frequência a literatura como fonte
original de seus roteiros, o cineasta Beto Brant vem aplicando em sua
cinematografia uma linguagem cada vez menos literária, no sentido de valorizar
uma narrativa que não dependa tanto da palavra, com o registro visual sendo o
verdadeiro fio condutor de sua concepção formal e temática. “Eu receberia as
piores notícias dos teus lindos lábios” (2011) aprofunda esta estética de
Brant. As cenas se sucedem com naturalidade insólita – valoriza-se mais a ação
em primeiro lugar, as explicações para os atos dos personagens surgem depois,
quase sem pressa. Nesse contexto, as seqüências de sexo adquirem um significado
primordial para compreender a obra: a fúria e a paixão com que os amantes Cauby
(Gustavo Machado) e Lavínia (Camila Pitanga) se atracam trazem um compêndio de
sensações e sentimentos que tomam a vida de tais personagens (medo, incerteza,
vazio existencial, angústia, segredos obscuros). A própria frequente nudez de
Pitanga adquire uma função narrativa importante para a trama, ao revelar um
misto de sensualidade e fragilidade concentradas na mesma pessoa (aliás, a
atriz apresenta uma entrega dramática e visceral rara de se ver em interpretações
femininas recentes no cinema nacional). Também é de se destacar na produção em
questão a forma com que Brant e o co-diretor Renato Ciasca combinam uma
abordagem de viés intimista e toques de drama social, sugerindo uma visão que
mostra que tais aspectos distintos na verdade guardariam uma relação intrínseca
entre si.
segunda-feira, junho 25, 2012
Raul Seixas - O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho **1/2
Tinha tudo para ser um documentário acima da média: profusão
de imagens de arquivos raras e interessantes, figuras fortes do meio cultural
brasileiro dando depoimentos e, mais importante, um biografado fascinante no
seu talento artístico e complexidade pessoal. O resultado final de “Raul Seixas
– O Início, o fim e o meio” (2011), entretanto, fica muito aquém de suas
premissas promissoras. O filme peca por uma estrutura narrativa convencional e
pela escolha de elementos temáticos que pouco acrescentam na compreensão do
mito e do homem. O diretor Walter Carvalho acabou se perdendo excessivamente em
detalhes pessoais de Raul que na prática pouco interessam ao espectador ou aos
próprios admiradores da música do protagonista,
principalmente no terço final do filme quando há uma certa predominância de
entrevistas que se resumem em trocas de farpas entre as ex-mulheres de Raul. E
isso incomoda também quando pensamos nas várias seqüências filmadas de shows e
gravações em estúdio importantes que Raul deixou registrado para posteridade e
que poderiam ter sido melhor aproveitadas na produção em questão. Seria mais
interessante focar em detalhes sobre os discos, no papel de tais obras para a
evolução artística do cantor, em como as canções dele eram reflexo das
contradições e conflitos da época em que foram escritas, do que privilegiar as
fofocas familiares ou folclores (como dar destaque demais para os fãs que fazem
show cover do seu ídolo). Talvez o cineasta tivesse de ter visto com atenção o
extraordinário “Rock Brasília – A Era de Ouro” (2011), do seu irmão Wladimir
Carvalho, que conseguiu obter uma bela síntese entre o aspecto histórico e o
intimismo ao focar o movimento musical em questão. É claro que a obra de Walter
Carvalho tem os seus méritos – as tomadas com as apresentações de Raul são
antológicas, os momentos que tratam do envolvimento dele com satanismo tem um
impacto que oscilam entre o assustador e o engraçado. Mas nos final das contas
“Raul Seixas – O início, o fim e o meio” acaba soando mais como um registro
curioso do que como uma versão definitiva sobre a trajetória de Raul.
sexta-feira, junho 22, 2012
O Lorax: Em busca da trúfula perdida, de Chris Renaud e Ryle Balda ***
A equação “desenho animado infantil + consciência ecológica”
pode sugerir que “O Lorax: Em Busca da trúfula perdida” (2012) seja apenas mais
uma obra a navegar na seara do politicamente correto estéril que predomina
neste tipo de filme. O resultado final, entretanto, dessa animação passa bem
longe da chatice e da superficialidade. Os diretores Chris Renaud e Kyle Balda
conseguem evidenciar uma ironia sutil e levemente ácida ao elaborarem uma fábula
que combina tom de fábula e toques de ficção científica apocalíptica, além de
pequenas alfinetadas em princípios caros da sociedade ocidental contemporânea.
Na concepção formal, a qualidade gráfica de cenários e personagens impressiona
ao variar cenários coloridos e estapafúrdios (na caracterização de cidades “utópicas”
e high tech de gosto estético duvidoso), ambientações sombrias e paisagens
bucólicas. Quem dera que todo discurso ecológico viesse sempre embalado com a
qualidade artística desse “O Lorax”....
quinta-feira, junho 21, 2012
A toda prova, de Steven Soderbergh ***1/2
A escolha de Gina Carano, uma lutadora de MMA, para o papel
de protagonista em “A toda prova” (2011) não
tem um caráter apenas de dar mais realismo às sequências de embates físicos do
filme. Tal opção estética do diretor Steven Soderbergh está em sintonia com a
própria proposta conceitual e estética do filme. O cineasta emula um cinema descarnado,
que se reduz ao essencial imagético da própria ação em si, lembrando obras como
“O samurai” (1967) e “Viver e morrer em Los Angeles” (1985). Assim, o roteiro é
composto por um fio de história (que por vezes se torna até um pouco nebulosa não
pela complexidade, mas sim pelos seus “buracos”) e as interpretações do elenco
beiram o caricato (em algumas vezes, Ewan McGregor e Michael Fassbender parecem
que estão quase rindo diante da superficialidade de seus personagens). Assim, a
produção parece um radical exercício formal de Soderbergh, que se embrenha nas
minúcias de um rigoroso jogo de edição e fotografia. E nesse sentido, “A toda
prova” é fascinante – as tomadas de lutas e de perseguições automobilísticas
evidenciam um detalhismo notável no esmiuçamento da ação. Assim, Soderbergh se
afasta do perfil do mero “contador de histórias”, voltando-se muito mais para o
cinema como linguagem particular.
quarta-feira, junho 20, 2012
A navalha na carne, de Braz Chediak ***1/2
O grande mérito das peças escritas pelo dramaturgo Plínio Marcos
é a combinação insólita e natural da estrutura clássica de tragédia com uma
brasilidade crua, em histórias repletas de violência, linguagem direta e
coloquial (às vezes escancaradamente chula) e personagens malandros e/ou
marginais. A transposição para o cinema de “A navalha na carne” (1969) concebida
e executada por Braz Chediak é exemplar na forma com que preserva a típica
atmosfera sórdida da obra do teatrólogo e, ao mesmo tempo, consegue adaptá-la
para um conceito cinematográfico. Isso fica evidente na meia-hora inicial do
filme, praticamente sem diálogos, em que a câmera percorre cenários de cortiços
e ruas, seguindo seus personagens e delimitando com precisão a ambientação suja
e escura daquele universo. Quando o trio de protagonista
finalmente parte para o conflito dramático em diálogos viscerais e
perturbadores, não há a sensação de teatro filmado – Chediak descarta a
empostação, e obtém um notável naturalismo nas atuações de Jece Valadão, Glauce
Rocha e Emiliano Queiroz. A tensão é palpável e constante, mesmo que a origem
dos conflitos se dê por mesquinharias e futilidades. Talvez seja justamente
isso que traga a permanente sensação de incômodo em “A navalha na carne” – a gratuidade
das agressões em um meio em que sentimentos e a própria vida parecem não valer
grande coisa.
terça-feira, junho 19, 2012
Xingu, de Cao Hamburger ***
Talvez o maior mérito do cineasta Cao Hamburger em “Xingu”
(2012) seja a de não abrir grandes concessões temáticas e formais. A abordagem
do diretor concilia de forma sóbria o viés dramático ao expor as relações
humanas e a visão naturalista – nesse último sentido, é exemplar a forma com
que a direção de fotografia concebida por Walter Carvalho registra visualmente
as paisagens naturais, buscando enfatizar as florestas como um personagem em
si, que ao mesmo tempo fascinam pela beleza, mas também perturbam pelos mistérios
e perigos que carregam. Tal estética também se evidencia na maneira como Hamburger
e Carvalho filmam a rotina e os rituais dos indígenas, não se perdendo em deslumbramentos
com exotismos, e se preocupando em dosar com parcimônia o sentido épico das
tomadas e o tom documental de outras sequências. O roteiro, por vezes, é um
tanto truncado, principalmente nos momentos em que adquire um certo tom de
didatismo ao narrar a trajetória dos irmãos Villas Bôas. Deve-se enfatizar,
entretanto, o mérito do texto em não pretender adotar
a postura biográfica “chapa branca” – ainda que evidencie as boas intenções e
as conquistas dos protagonistas, seus dilemas
e contradições não são esquecidos ao longo da trama, o que dá ao filme uma
considerável grandeza dramática. A conclusão do filme, ainda que traga uma
certa atmosfera de esperança, também revela o travo amargo, mostrando que “Xingu”
chega perto de registrar com fidelidade a complexidade da questão indígena no
Brasil.
segunda-feira, junho 18, 2012
Um dia, de Lone Scherfig **
A fórmula narrativa de “Um dia” (2011) é simples e, a
principio, soa como uma boa sacada: narrar a evolução do relacionamento de um
casal por 20 anos, centralizando sempre no mesmo dia de cada ano. Na abordagem,
a diretora Lone Scherfig concilia um lado romântico com um certo viés realista,
no sentido de buscar fatos que criem uma identificação com uma parcela da audiência.
O resultado final, entretanto, é de frouxidão temática e formal. A composição
dramática é pouco consistente, rasa mesmo, com Scherfig se apoiando em golpes
sentimentais e algumas lições edificantes para ganhar o espectador. Além disso,
o roteiro pouco aprofunda o desenvolvimento dos personagens e situações. A
captação do espírito de cada época que o filme retrata é superficial, parecendo
se limitar à diferenciação de figurino e na escolha de canções da trilha sonora
(nesse último quesito, pelo menos fica evidente que a década de 90 foi um belo
período para o rock e pop!).
quarta-feira, junho 13, 2012
Prova de artista, de José Joffily ***
O diretor José Joffily parece traçar um verdadeiro universo
paralelo no documentário “Prova de artista” (2011): dentro de um país como o
Brasil, onde predomina no quotidiano das pessoas ritmos musicais populares e “dançáveis”,
o filme focaliza o quotidiano de jovens instrumentistas de música clássica em
busca de espaço em alguma orquestra. A obra cinematográfica em questão procura,
dentro de sua estrutura formal, uma sintonia espiritual e estética com o próprio
gênero musical que aborda – a condução da narrativa tem um tom rigoroso,
valoriza o silêncio na mesma medida que privilegia a música, por vezes evoca
uma atmosfera quase solene e busca equacionar emoção e cerebralismo. Por mais
que enfatize como aspectos sociais e íntimos podem afetar a trajetória
profissional de seus protagonistas, “Prova de
artista” deixa claro a necessidade primordial de uma auto-disciplina para
atingir um elevado grau de sensibilidade na arte musical. Não chega a ser uma
visão conservadora. Afinal, como sugere o oboísta Ricardo, tal determinação
para o músico permite uma compreensão da arte que o permite transcender, uma
noção de envolvimento com a música que faz com que o instrumentista, inclusive,
esqueça o instrumento em si e se deixe levar pelas harmonias e melodias.
terça-feira, junho 12, 2012
Fúria de Titãs 2, de Jonathan Liebesman *1/2
Confesso que estou no pequeno grupo que não acha um horror a
primeira parte de “Fúria de Titãs” (2010). Apesar das simplificações do roteiro
e da rasa densidade dramática, ali havia uma obra que pelo menos empolgava nas seqüências
de ação e nos bons efeitos digitais. Diante de sua continuação lançada no
corrente ano, entretanto, devo dar razão aos detratores da franquia em alguns
aspectos. Os mesmos defeitos de antes estão ali (e ainda piorados – Sam Worthington
atinge um alto nível em sua canastrice, por exempo) e a encenação de batalhas não
tem a mesma fluência de antes. As trucagens não apresentam o cuidado estético
da primeira parte, soando extremamente genéricas. No saldo final, a impressão
que se tem é que a continuação surgiu mais por necessidades mercadológicas do
que por uma inspiração criativa de produtores e afins. Claro que seria até
ingenuidade esperar algo diferente, mas pelo menos a cara-de-pau caça níquel do
filme não precisava ficar tão evidente.
segunda-feira, junho 11, 2012
Habemus Papam, de Nanni Moretti ***
Esse é um daqueles comentários em que acabarei parecendo
repetitivo, mas a minha sensação em relação a “Habemus Papam” (2011) é a mesma
que tive sobre “Um método perigoso” (2011) – a premissa temática particularmente
promissora e um diretor marcado por um forte tom autoral formavam um conjunto
que criava uma inevitável boa expectativa. O resultado final é interessante,
mas aquém do esperado. Claro que o filme cativa pelo tom delirante de alguns
cenas, principalmente aquelas com religiosos em atividades inusitadas dentro do
Vaticano. Nesses momentos, a obra parece evocar algo do tom onírico de alguns
filmes de Fellini. O problema do filme está na frouxidão de sua narrativa, que
parece mais uma colcha de retalhos, remendando boas ideias soltas, mas que não
atingem um ponto de coesão entre elas. O roteiro de “Habemus Papam” é reflexo
da abordagem confusa de Nanni Moretti – há excelentes sacadas que combinam
humor crítico e densidade dramática, mas o encadeamento das cenas peca por uma
certa falta de coerência. Se a conclusão do filme impressiona pelo inesperado e
pela ácida ironia, por exemplo, também se revela incompatível com aquela seqüência
do Papa sendo “resgatado” na apresentação de uma peça teatral. No final das
contas, fica-se com a impressão de que Moretti se atrapalhou com o excesso de
boas ideias que teve....
quarta-feira, junho 06, 2012
Um método perigoso, de David Cronenberg ***
A trama focaliza o conflito profissional e existencial entre
os dois principais nomes da psicanálise, Freud (Viggo Mortensen) e Jung
(Michael Fassbender). O diretor é David Cronenberg, já acostumado a lidar com
os mais estranhos aspectos das patologias humanas em boa parte de seus filmes.
Tais fatores faziam com que “Um método perigoso” (2011) fosse considerada uma
película altamente promissora. O resultado final, entretanto, acaba sendo
frustrante. Não que seja um mau filme. Cronenberg é um cineasta bastante
tarimbado e o mínimo que se espera de um filme seu é que se tenha uma narrativa
conduzida de forma segura e envolvente, o que é o caso da obra em questão.
Mortensen e Fassbender têm boas atuações, mostrando certo brilhantismo ao exporem
sutis nuances na composição de seus respectivos personagens. Keira Knightley
destoa um pouco no elenco – por mais que a sua Sabina pedisse algum exagero na
interpretação, a atriz em determinados momentos acaba caindo no caricatural. A
direção de arte de “Um método perigoso” é bem cuidada e consegue uma sintonia
fiel com a época que retrata. Na verdade, o que incomoda no filme é justamente
o fato de tudo parecer tão no lugar, tão normal, tão pouco arrebatador, enfim,
tão pouco Cronenberg. Fica-se com a sensação de uma obra de encomenda, em que o
diretor pouco pode imprimir sua marca pessoal. Ao invés de uma descida aos
infernos mais profundos da psique humana (coisa que Cronenberg já havia feito
em produções anteriores), temos apenas um elegante filme de época (ainda que
acima da média dentro do gênero).
terça-feira, junho 05, 2012
Quando a noite..., de Cristina Comencini **1/2
A premissa inicial da produção italiana “Quando a noite...” (2011)
é bastante interessante no sentido de explorar a questão da suposta
incondicionalidade do amor materno. Pelo menos nos dois terços iniciais do
filme, a diretora Cristina Comencini utiliza uma formatação de suspense psicológico,
situando a trama em um vilarejo turístico no meio das montanhas, onde Marina (Claudia
Pandolfi) passará alguns dias com seu filho ainda bebê hospedada na parte de
cima de uma casa rústica. A protagonista
progressivamente se mostra cada vez mais irritada com os choros e manhas constantes
da criança. Manfred (Filippo Timi), senhorio do prédio que mora no andar de
baixo, observando e escutando o que ocorre no andar acima, acredita que a
criança está em perigo nas mãos de Marina. Comencini deixa nebulosos os fatos e
as intenções de Marina, estabelecendo uma atmosfera tensa justamente pelo fato
do espectador não saber o que efetivamente está ocorrendo, até porque a própria
Marina parece se questionar em relação ao seu amor materno. As paisagens gélidas
e selvagens onde boa parte da história se desenrola colabora para a sensação de
estranhamento e ambiguidade que paira sobre a obra. Tal atmosfera de mistério,
entretanto, desvanece-se quando no terço final o roteiro dá uma esdrúxula virada
– Marina e Manfred se descobrem apaixonados, e a love story deslocada joga para
escanteio boa parte da originalidade e do impacto de “Quando a noite...”. No
final das contas, até vale ver o filme pelos seus elementos insólitos iniciais,
mas se fica com aquela sensação de que tal produção poderia ter sido bem melhor....
segunda-feira, junho 04, 2012
Flores do mal, de David Dusa **1/2
Há obras que, independente da sua qualidade artística,
acabam ganhando alguma importância por serem emblemáticas do seu tempo. Esse é
o caso da produção francesa “Flores do mal” (2010). Ao narrar a história do
breve relacionamento amoroso entre um descendente de imigrantes e uma estudante
iraniana recém chegada a Paris, o filme usa como matéria prima de sua encenação
uma série de elementos típicos da atual conjuntura sócio-econômica-política
mundial (os recentes conflitos entre governo e rebeldes no Irã, a disseminação
da influência das redes sociais, as discussões sobre identidade cultural, o uso
intenso de novas tecnologias) para gerar um híbrido de ficção e documentário, ora
meio desajeitado numa estética crua, ora dotado
de uma estranha poesia visual. Nem sempre aquilo que cai bem na tela do
computador via you tube acaba ganhando um registro de mesma potência na tela do
cinema, o que acaba tirando um pouco da força do filme. De qualquer, o
formalismo um tanto tosco de “Flores do mal” tem um certo aspecto perturbador,
propiciando até um certo tom delirante para a narrativa (principalmente quando
o protagonista desandar a dançar de forma
alucinada em meio aos cenários urbanos). O aparente colapso formal da obra, por
mais que deixe a produção na rota do desequilíbrio,
mostra-se em sintonia com a proposta temática de focalizar um mundo em ruptura.
sexta-feira, junho 01, 2012
Curling, de Denis Côté **1/2
Por mais que se possa reclamar de uma alegada
superficialidade e da pasteurização de boa parte dos blockbusters que dominam
as nossas telas, é de se convir também que uma fatia considerável do cinema
independente, pretensamente mais artístico ou experimental, também é adepta de
fórmulas estéticas e temáticas um tanto óbvias. A produção canadense “Curling”
(2009) é um bom exemplo desta última linhagem. A boa fotografia a registrar
paisagens rurais e gélidas, o distanciamento emocional da narrativa e a
caracterização excêntrica do elenco até formam um todo curioso e por vezes
envolvente. O saldo final deste minimalismo formal, entretanto, acaba gerando
uma obra que não arrebata em nenhum momento. Ainda que o diretor Denis Côté tenha
preferido manter um tom irônico que seja coerente com a proposta de fazer um
retrato seco e objetivo daqueles que fogem dos ocidentais padrões de
normalidade, isso também gera um filme que dificilmente permanecerá no imaginário
do espectador.
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