A ideia de colocar o monstro Frankenstein, personagem criado
originalmente dentro do gênero horror, como um herói de aventuras fantásticas não
é nova, mas também não quer dizer que não seja uma concepção interessante. A
DC, por exemplo, tem uma série em quadrinhos atual usando a criatura como um
super-herói e o resultado são algumas histórias bastante divertidas. Cabe
ressaltar, entretanto, que apesar da mudança de gênero, os roteiristas do gibi
em questão tiveram o cuidado de preservar a essência do personagem, aquilo que
o tornou uma das figuras fictícias mais conhecidas na cultura popular do final
do século XIX até hoje. O filme “Frankenstein – Entre anjos e demônios” (2013) é
baseado numa graphic novel (que eu confesso que não li) e também traz o monstro
caracterizado como um aventureiro durão no meio de uma trama envolvendo uma
guerra entre gárgulas celestiais (!?) e demônios (que, na realidade, mais
parecem vampiros). O resultado é um verdadeiro samba do crioulo doido. Para
começar, não dá para acreditar num Frankenstein que está mais para um galã boa
pinta com algumas cicatrizes e com cara de poucos amigos do que para uma
criatura grotesca composta de pedaços de cadáveres. Até o ator Aaron Eckart
parece constrangido nesse papel infame, numa interpretação desprovida de
carisma. Já o roteiro é um primor de derivativo a um ponto que tudo soa tão
banal que se mostra incapaz de geral qualquer tensão. No mais, a direção de
Stuart Beattie é de uma mesmice atroz – sua encenação beira o amador, tendo
como muleta efeitos especiais digitais estilo video game incapazes de gerar
alguma seqüência memorável. Ou seja, quem gosta do velho Frank deve procurar ou
esperar alguma outra obra a aparecer nos cinemas, locadoras ou até mesmo bancas,
pois essa arapuca oportunista é um dos exemplares menos dignos a se aproveitar
da criação máxima de Mary Shelley.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
sexta-feira, janeiro 31, 2014
quinta-feira, janeiro 30, 2014
Três irmãos de sangue, de Ângela Reininger ***
Há filmes que em termos estéticos não seriam capazes de
chamar a atenção do público, mas a relevância de sua temática acaba cativando
boa parte das platéias. Esse é o caso de “Três irmãos de sangue” (2006) – por
mais que esse documentário dirigido por Ângela Patrícia Reininger seja
convencional e não fuja daquele formato tradicional de “entrevistas + cenas de
arquivo”, a força da história que é contada é tão poderosa que acaba criando
uma empatia irresistível. Cada um dos três irmãos Souza focados no filme se
destacou por aspectos diferentes: a solidariedade comovente do sociólogo
Betinho, a fúria iconoclasta exuberante do cartunista Henfil e a musicalidade
esfuziante do compositor e violonista Chico Mário. Na realidade, daria até para
ir mais longe, pois a vida de cada um deles mereceria um filme próprio. O
grande mérito da Reininger é conseguir dar uma unidade a esse trio de
diferentes trajetórias, mostrando que além dos laços parentais, eles também eram
ligados por um tremendo senso humanista. A diretora ainda contextualiza as
biografias de seus protagonistas com
sensibilidade dentro de alguns dos principais fatos históricos do Brasil nas
últimas décadas, principalmente na dura luta que tiveram contra a ditadura
militar. Nesse sentido, os lamentáveis episódios de suas mortes (todos eram
hemofílicos que contraíram o vírus da AIDS devido a transfusões de sangue)
acabam ganhando uma dimensão ainda mais dramática por serem emblemáticos do
descaso com a saúde e com os mais elementares princípios da dignidade humana
que grassou nesse país por muitos anos. E ainda que o tom seja de melancolia na
conclusão de “Três irmãos de sangue”, pela falta que tais personalidades fazem
ao presente panorama cultural-social do Brasil, pelo menos há o consolo do
legado que deixaram, o que é muito bem registrado em várias das preciosas
imagens de arquivo do documentário – os depoimentos emocionados e exemplares de
Betinho, o veloz e sarcástico processo criativo de Henfil e o lirismo à flor da
pele dos números musicais de Chico Mário.
quarta-feira, janeiro 29, 2014
Noites de reis, de Vinícius Reis ***
Dentro de um gênero tão usado e abusado nos últimos tempos
como o do drama intimista, o diretor Vinícius Reis até que consegue surpreender
em “Noites de reis” (2012). Para isso, ele se vale de recursos estéticos que
valorizam muito o aspecto sensorial da narrativa. O fato da trama se desenvolver
numa pequena cidade histórica litorânea do Rio de Janeiro se encaixa de forma
oportuna nessa proposta, em que filmagens subaquáticas e a direção de
fotografia que usa com sabedoria a luminosidade natural abundante dos cenários parecem
se relacionar de maneira intrínseca com os dilemas existenciais do casal protagonista.
Outro ponto expressivo da produção é a inserção da música como elemento
narrativo – o roteiro que envolve uma família desagregada em busca de equilíbrio
se relaciona com as manifestações folclóricas das apresentações noites de reis
que se realizam naquela localidade. Nesse sentido, essas últimas funcionam como
uma espécie de comentários cancioneiros que ilustram os dramas dos personagens
do filme, nos moldes daqueles coros clássicos das tragédias gregas. A obra
adquire um tom de fábula moral, ainda que com um caráter realista, em que o seu
final em aberto é muito mais contundente do que se optasse por um óbvio happy
end.
terça-feira, janeiro 28, 2014
Cores, de Francisco Garcia **1/2
É claro que a estética árida de “Cores” (2012) não faz com
que espectador tenha arroubos de entusiasmo. É de se considerar, entretanto, que
tal proposta formal tem coerência com a visão temática que permeia a trama – a da
falta de perspectivas econômicas para a juventude de classe média baixa no
Brasil da era petista. O trio de protagonistas
da obra em questão vivem naquela fronteira entre deprimentes subempregos e
pequenas contravenções. Nesse sentido, a narrativa seca e de tom monocórdio
acentua ainda mais a atmosfera depressiva e desesperançada do filme. O fato da
história se desenrolar na periferia de São Paulo reforça esse clima cinzento.
Apesar de todo esse baixo astral, o diretor Francisco Garcia consegui inserir
algumas boas sacadas irônicas, o que dá uma dimensão mais humana para o filme. A
direção de fotografia em preto e branco surpreende pela criatividade de seus
enquadramentos e movimentos de câmara, valorizando cenários decadentes e/ou
corriqueiros, extraindo até mesmo uma estranha beleza desse visual urbano
terceiro-mundista. De se ressaltar também a sobriedade das composições dramáticos
de seu trio principal de atores, que conseguem trazer uma variação expressiva
de expressões, indo do contido desespero até uma melancólica resignação.
segunda-feira, janeiro 27, 2014
Eu não faço ideia do que eu tô fazendo com a minha vida, de Matheus Souza *
Até dá para dizer que para o diretor Matheus Souza houve
alguma melhora em relação ao pífio debut “Apenas o fim” (2008). Mesmo assim, “Eu
não faço a menor idéia do que eu tô fazendo com a minha vida” (2011) está bem
longe de ser uma experiência cinematográfica satisfatória. É aquela manjada
combinação que a atual geração indie tanto gosta: tosquidão formal, citações e
referências pop “espertas” e pretensos questionamentos existenciais sobre a sociedade.
É mais ou menos como a tradução para um filme de uma canção da Malu Magalhães.
Até mesmo a protagonista do filme, Clarice
Falcão, se notabilizou como uma espécie de
versão mais pop da Malu Magalhães... Mas voltando à produção em questão, a estética
amadora (intencional ou não) pelo menos podia servir como desculpa para embalar
um roteiro mais consistente, mas o texto do filme acaba sendo tão nas coxas
quanto a edição e a fotografia. A trama levanta algum traço de contestação e
ironia por vezes. No final das contas, entretanto, esbarra numa
superficialidade irritante, além de uma tendência excessiva em caricaturizar
todos os personagens. Assim, aquilo que era para soar dramático e contundente
acaba perdendo muito de seu impacto, principalmente na seqüência em que Clara
(Clarice Falcão) confronta o seu pai com os seus desejos e frustrações – pode-se
até perceber ali vestígios de força e autenticidade que são soterrados pela
pretensão blasé da obra.
sexta-feira, janeiro 24, 2014
Tarzan - A evolução da lenda, de Reinhard Klooss *
Provavelmente deve haver uma penca de lendas e histórias mais
interessantes na Alemanha que poderiam ser usadas como base para uma trama de
um longa-metragem de animação do que mais uma capenga revisão da história de
Tarzan. Nas mãos do diretor germânico Reinhard Klooss, a origem e a ascensão do
rei das selvas recebem um tratamento bastante burocrático e enfadonho, por mais
que o roteiro utilize elementos esdrúxulos de ficção científica. Para começar,
a qualidade do traço é sofrível, parecendo o visual de um game de terceira categoria.
Aliás, a concepção visual da produção, que prepondera para um realismo tosco,
faz pensar por que não se optou por filmar “living in action”, pois as
possibilidades criativas de se filmar em animação simplesmente não são
aproveitadas. Além disso, o senso de narrativa de Klooss é desastroso, num
misto de melodrama mexicano e aventura descerebrada, não havendo qualquer
personagem que tenha carisma e caracterização decentes. Na verdade, o filme
passa uma impressão de indecisão sobre a sua própria natureza: por vezes, é tão
infantil e primário que beira o boboca, e em outros momentos há um nível de
violência acima daquela comum a filmes destinados a um público infanto-juvenil.
Diante de tantos equívocos, surge até na mente a indagação do motivo que leva
uma bomba dessas a ser lançada por aqui....
quinta-feira, janeiro 23, 2014
Azul é a cor mais quente, de Abdellatif Kechiche ****
Raros filmes na atualidade são tão emblemáticos do seu tempo
quanto “Azul é a cor mais quente” (2013). Essa contemporaneidade não vem apenas
da temática da obra em questão, mas também da sua própria formatação. Por mais
que a trama tenha como tônica principal uma abordagem intimista, há uma urgência
do diretor Abdellatif Kechiche em fazer um recorte do contexto histórico e
social em que o roteiro se desenvolve. Ele não consegue dissociar os elementos
individual e coletivo. Nesse sentido, o tom seco e documental que permeia a
narrativa não é aleatório, mas sim condição essencial para o impressionante
naturalismo que é marca característica da encenação e edição propostas por
Kechiche. Esse tipo de concepção artística faz com que cenas aparentemente
casuais envolvendo conversas prosaicas, passeatas, manifestações, festas sejam
tão reveladoras e importantes quanto momentos de forte conotação
dramática envolvendo os dramas pessoais de seus principais personagens.
O fato de Kechiche optar por um registro objetivo das
situações da trama não implica num distanciamento emocional por parte do filme.
Pelo contrário. É justamente essa ótica que faz com que “Azul é a cor mais
quente” tenha uma perspectiva humana tão fascinante. A obra não cai em
romantismos idealizados ou soluções fáceis sentimentais (caminhos, aliás, com
que a HQ em que a produção se baseou flerta), preferindo um enfoque mais
visceral ao retratar as fases de um atribulado relacionamento amoroso. Diante
de tal visão, as tão comentadas seqüências de sexo intenso entre as protagonistas,
que beiram até o explícito, ganham um significado rico e fundamental para a
compreensão da natureza do envolvimento entre Adèle (Adèle Exarchorpoulos) e Emma
(Léa Seydoux). E o grande incômodo sensorial vem muito mais das conclusões que
se possa ter sobre as impossibilidades daquela relação se manter do que com a
forma com que o sexo é coreografado nas cenas mencionadas.
E por falar em significado, aí se encontra um dos motivos
para o alcance tão universal e impactante de “Azul é a cor mais quente” – se por
um lado o filme é virulento na forma forte com que retrata o sexo e os
conflitos típicos das relações humanas, por outro a obra mostra uma sutileza
notável ao extrair uma simbologia lúcida e perturbadora nos detalhes de
conversas, citações literárias, danças, olhares, carícias e silêncios. Tanto
que a conclusão da produção reflete com perfeição a sua essência: a caminhada
resignada de Adèle por uma rua, sem olhar para trás, carregando o peso de suas
decisões, sem direito a final feliz e parecendo se atirar a um destino infinito
e imprevisível.
quarta-feira, janeiro 22, 2014
O menino e o mundo, de Alê Abreu **1/2
Uma obra como “O menino e o mundo” (2013) é uma verdadeira “avis
rara” para o cinema brasileiro – um longa-metragem de animação bastante
distante dos padrões comerciais do gênero, tanto pela sua estética quanto pelo
seu conteúdo. O traço proposto nesse filme do diretor Alê Abreu foge da escola
digital/realista de Pixar, Disney e afins, investindo num grafismo de forte tom
impressionista, simulando uma espécie de rabiscos infantis. Para espectadores não
habituados com tal estilo, tal composição visual pode parecer um tanto quanto
tosca, mas esse aspecto de mal acabado é intencional, estando em sintonia com o
caráter contestatório da temática. Aliado a um trabalho de sonoplastia bastante
requintado e original na sua conjunção de ruídos e música, esse formalismo
entre o rústico e o lírico por vezes provoca um efeito sensorial hipnótico.
Essa particular estilização acaba encontrando ressonância no roteiro da obra,
que parece funcionar como uma alegoria crítica da sociedade contemporânea,
repleta de simbolismos que aludem ao massacre cultural que a economia
capitalista impõe aos indivíduos. E é aí que “O menino e o mundo” chega numa
encruzilhada existencial – se em algumas oportunidades a sua estética “suja” e o
seu discurso político, filosófico e social podem parecer sombrio e até mesmo
complexo para a platéia infanto-juvenil, por outro lado sua estética crua soa árida
e cansativa, além da temática didática em termos sociológicos, pode fazer a
animação parecer um tanto ingênua para o público adulto. Mesmo dentro dessa
indefinição de seu direcionamento, “O menino e o mundo” não deixa de ser uma
contundente curiosidade dentro do panorama do cinema nacional contemporâneo.
terça-feira, janeiro 21, 2014
A grande beleza, de Paolo Sorrentino ***1/2
É difícil falar sobre “A grande beleza” (2013) sem pensar em
“A doce vida” (1960). Isso porque o filme mais recente do diretor italiano
Paolo Sorrentino parece uma releitura contemporânea do grande clássico de Federico
Fellini, ainda mais se pensarmos que ambos se passam em Roma. A verdade,
entretanto, é que tal definição pode ser imprecisa, pois “A doce vida” é
daqueles raros tipos de produção que já nasceram atemporais: não importa a
época em que tal filme seja visto, ele sempre terá um alcance universal e em
sintonia com qualquer época. Isso não torna o trabalho de Sorrentino
dispensável, mas de certa forma o prejudica na comparação. A trama já é bem
característica para essa relação – um escritor em crise criativa e afundado em
hedonismos diversos vaga pela capital romana encontrando tipos variados e
situações inusitadas, fazendo com que fique tomado por uma sensação constante
de vazio existencial. Mas essa revisão do ideário de uma obra-prima consagrada
não se efetiva por meios exatamente óbvios. Por mais que “A doce vida”
trouxesse momentos com uma certa queda para o absurdo, a encenação proposta por
Fellini era marcada pela sobriedade, sem a preponderância para a abordagem
sentimental da primeira fase da sua carreira e sem se aprofundar no senso
delirante de filmar de seus trabalhos posteriores. Pois “A grande beleza”, a
grosso modo, faz a gente pensar num “A doce vida” refilmado segundo a ótica do
grotesco e do exagero que Fellini usou e abusou em obras como “Satyricon”
(1969) e “Amarcord” (1973). Sorrentino impressiona em algumas seqüências pelo
senso barroco e virtuose com que filma, principalmente nas seqüências de
festas, em que seu estilo exagerado na caracterização de personagens e
opulência visual provoca um efeito perturbador e contraditório de atração e
repulsa. Quando o cineasta pisa no freio nas partes mais intimistas do filme,
pode-se perceber que a falta de sutileza impede que tais momentos tenham uma
maior densidade dramática, ainda que por vezes o senso de ironia do cineasta
revele uma veia sarcástica acima da média. É justamente nesse ponto que a
comparação entre as duas obras em questão mais se expõe, com claros pontos a
favor de Fellini: aquele tom de crítica amarga que era natural e de simbologia
fascinante em “A doce vida” acaba soando um tanto forçado e ingênuo em “A
grande beleza”. Mesmo assim, a obra de Sorrentino se mostra como um trabalho de
relevo considerável dentro da cinematografia atual, reforçando o nome do
diretor como um dos mais expressivos de sua geração no cinema italiano.
segunda-feira, janeiro 20, 2014
De repente pai, de Ken Scott **1/2
A premissa de “De repente pai” (2013) até que é
interessante: a de um homem maduro e inconsequente (Vince Vaughn) que descobre
ser pai de mais 500 por ter vendido várias vezes o seu esperma alguns anos atrás.
Assim, ele acaba interagindo com boa parte de sua prole sem que eles saibam. O
roteiro tem algumas boas sacadas, principalmente pelo fato de que alguns desses
filhos representam vertentes diferentes de comportamentos, classes sociais e
até mesmo condições de saúde, configurando uma espécie de panorama da juventude
ocidental contemporânea. E mesmo que Vaughn praticamente repita o papel de cara
carismático e malandro que interpreta na grande maioria das oportunidades em
que atua, ele acaba se saindo bem no papel. O que incomoda no filme,
entretanto, é que na concepção formal o diretor Ken Scott pouco ousa,
conformando-se em repetir fórmulas narrativas bem convencionais, aqui que de
forma competente.
sexta-feira, janeiro 17, 2014
Atividade paranormal: Marcados pelo mal, de Christopher Landon **
A essa altura do campeonato, dá para dizer que nem vale a
pena mais discutir sobre a validade do formato dos filmes derivados da franquia
“Atividade paranormal” – afinal, os produtores encontraram uma fórmula que dá
um belo retorno comercial. Ainda mais se pensarmos que os custos de produção
desse tipo de filme nem é tão alto, o que faz com que a relação custo/benefício
seja bem compensadora. Assim, é chover no molhado dizer que geralmente os
enquadramentos são toscos, a edição é meio atropelada, que o pressuposto do
roteiro de que sempre haverá um personagem segurando uma câmara que registra
boa parte da ação é um tanto quanto implausível... Nesse capítulo mais recente
da série, “Marcados pelo mal” (2013), há um elemento que chama a atenção e até
cria uma certa expectativa: a de que os principais personagens são de origem
latina. Ora, ainda que clichê, o pressuposto de latinos terem uma ligação muito
forte com catolicismo e mandingas em geral mostra uma certa sintonia com o fato
de que os principais vilões da série serem bruxas, demônios e espíritos
malignos. O resultado final, entretanto, é frustrante. As boas possibilidades
criativas da premissa inicial não são aproveitadas a contento, fazendo com que
o filme soe absolutamente genérico e pouco distinto das outras partes da
franquia. Tanto que a trama é basicamente a mesma dos últimos exemplares de “Atividade
paranormal”, tendo a sua história encerrando com os principais personagens
encurralados numa casa repleta de feiticeiras. Aliado ao fato de que “Marcados
pelo mal” não traz ao menos alguma evolução formal para a série, fica-se com a
impressão de que cada vez mais a mesmice reina na série.
quinta-feira, janeiro 16, 2014
Eu respiro, de Emma Davie e Morag McKinnon ***
A temática do documentário “Eu respiro” (2013) pode parecer
algo na linha lição de vida, de superação ou coisa que o valha, mas na
realidade seu alcance é bem mais amplo. A partir da história de Neil Platt, um
dinamarquês de 34 anos que se descobre com uma doença rara que faz com que em
questão de meses perca progressivamente os movimentos do corpo até a sua morte,
a produção traça uma espécie de diário da degeneração física do protagonista
e o seu processo de aceitação do fim inevitável. O recurso narrativo básico
utilizado pelos diretores Emma Davie e Morag McKinnon é simples mas altamente
eficaz no impacto que causa: enquanto se mostra a difícil rotina diária de
Platt e família convivendo com a doença, são contrapostas fotos e vídeos dele
antes do surgimento da patologia, o que ressalta bastante o aspecto da
fragilidade da vida – o contraste das imagens de um Neil saudável e vigoroso
com o seu então cotidiano de privações é brutal e tocante. Com sutileza, na
narrativa são inseridos dados biográficos que oferecem uma dimensão simbólica
ainda mais dramática para a situação de Platt. Sua doença é hereditária, sendo
que o pai dele havia morrido do mesmo mal. Assim, há o questionamento pessoal
se havia a possibilidade dele ter tomado alguma providência anterior para
evitar o que aconteceu a ele. Por fim, Platt admite que o filme tem o fim de
alerta para o seu filho, ainda um bebê de colo, para que tome providências no
sentido de que não sofra do mesmo mal. Por mais que tal intenção tenha cunho
particular, a forma com que “Eu respiro” expõe o drama de seu protagonista
revela uma abordagem universal fascinante.
quarta-feira, janeiro 15, 2014
Um time show de bola, de Juan José Campanella *1/2
O que se pode esperar basicamente de uma animação que não
seja dos grandes estúdios norte-americanos são duas coisas: que traga alguma
particularidade estética ou temática que fuja dos padrões comerciais “normais”
ou que tenha um certo nível de qualidade que a aproxime das produções
tradicionais do gênero. “Um time show de bola” (2012), animação argentina, não
se enquadra em nenhum dos dois casos. Ainda que utilize o futebol como mote
central de sua trama, não se sente nessa obra do diretor Juan José Campanella
algo que a diferencie essencialmente de outros desenhos animados da Disney,
Pixar, Dreamworks ou afins: os conflitos do roteiro, a estrutura narrativa e
até mesmo o traço gráfico pouco diferem daquilo que já estamos acostumados a
ver. Por outro lado, não há a mesma fluência de linguagem cinematográfica e
textual do melhor que tem aparecido no campo das animações nos últimos tempos.
O filme soa truncado e envelhecido no ritmo de sua narrativa. Pode ser que seja
uma experiência inicial do cinema argentino a explorar o filão das animações
para grandes platéias, mas do jeito que ficou faz supor que existe ainda um
longo caminho a ser trilhado...
terça-feira, janeiro 14, 2014
Vovô sem vergonha, de Jeff Tremaine *1/2
Era bastante provável que os filmes da franquia “Jackass”
acabassem evoluindo para algo diferente além das tradicionais cenas de dublês
envolvidos em práticas físicas perigosas e não muito ortodoxas (ainda que tais
produções sejam bastante eficientes como diversão inconsequente). “Jackass 3D”
(2010) já indicava essa tendência, ao trazer sequências “dramatizadas”
envolvendo Johnny Knoxville interpretando um velhinho safado e sem noção e
interagindo com desavisados achando que se tratavam de situações reais os episódios
de constrangimento provocados pelo falso idoso. Curiosamente, eram os melhores
momentos do filme. Dessa forma, não é surpresa que “Vovô sem vergonha” (2013)
traga novamente tal personagem, tendo como mote principal justamente a interação
entre encenação ficcional e documentário. Esse tipo de estrutura narrativa não é
propriamente uma novidade, vide o hilariante “Borat” (2006). O resultado final
de “Vovô sem vergonha”, entretanto, fica bem aquém da comédia protagonizada
por Sacha Baron Cohen. Um dos principais problemas da produção é o seu roteiro,
muito derivativo e que não abre espaços para muitas ousadias cômicas. A
narrativa trôpega concebida pelo diretor Jeff Tremaine apresenta um excesso de
tempos mortos e piadas sem graças. O que faz o filme valer um pouco a pena é a seqüência
no concurso de beleza infantil, que representa o momento em que o humor brutal
típico do “Jackass” se mostra corrosivo ao gozar de forma impiedosa a
superficialidade grotesca da sociedade interiorana norte-americana. Mesmo
assim, é muito pouco para quem já produziu tantos momentos antológicos de
comicidade brutalista.
segunda-feira, janeiro 13, 2014
Ninfomaníaca - Volume 1, de Lars Von Trier ****
O início de “Ninfomaníaca – Volume 1” (2013) é espartano e
quase didático ao expor, ainda que de forma elíptica, as intenções do diretor
Lars Von Trier: a primeira cena é o crédito com o título do filme e logo depois
a tela fica totalmente escura, como se o
cineasta quisesse que o espectador descanse os olhos antes da profusão de
imagens, sons e ideias que aparecerão ao longo de duas horas e pouco de duração.
Por mais que mídia, crítica e público ressaltem o elemento provocativo e
escandaloso do filme, a verdade é que essa produção mais recente de Von Trier está
em perfeita sintonia existencial e artística com os trabalhos mais recentes
dele, no sentido de que suas obras representam a conjunção entre a suas
particulares noções formais com uma temática que refletem a visão de mundo, por
vezes distorcida e em outras lúcida, do diretor. Assim, se “Anticristo” (2009) escancarava
uma misoginia atávica e “Melancolia” (2011) era a transmutação da depressão em
profissão de fé misantrópica, “Ninfomaníaca” é a declaração irônica de Von
Trier sobre a sua descrença no amor romântico. Para isso, ele apura ainda mais
a sua estética, fazendo com que a narrativa revele distanciamento emocional
contundente, aliado a uma concepção formal que combina cerebralismo e estranhas
simbologias. Assim, ao passo que Joe (Charlotte Gainsbourg) narra a sua saga
psicoerótica a Seligman (Stellan Skarsgard), tem-se uma trama ambiciosa que
relaciona a jornada de sexo compulsivo da protagonista
a conexões esperadas (noções morais do cristianismo e dos ideais ocidentais do
amor romântico) e outras até improváveis (música, numerologia e até mesmo
pescaria!!), com Von Trier amarrando todos esses preceitos tão diversos num
todo de coerência desconcertante. Assim como em suas obras anteriores, o estilo
de filmar dele é de uma amplitude notável, indo desde uma abordagem seca e de
tons naturalistas em cenas cruciais (evocando muito dos princípios que ele
lançou no movimento Dogma 95) até passagens repletas de barroquismos e delírios
visuais. Essa variação de estilos encontra ressonâncias nos próprios episódios
narrados por Joe, pois se chega a um ponto em que as fronteiras entre o que é
real e fantasia em tais relatos se tornam bastante imprecisas. Mas tudo o que é
escrito neste texto ainda é impreciso e resumido na captura do sentido de “Ninfomaníaca”
tamanha a gama de detalhes que emana do filme. Como não citar, por exemplo, a
forma natural com que a música de Bach (notoriamente sacra) se insere na
narrativa, ilustrando as formas distintas com que Joe transa com três amantes
diferentes, emulando, inclusive, uma beatitude inesperada e mais que
convincente? É justamente nessas perversidades e nuances que “Ninfomaníaca –
Volume 1” causa impacto nas percepções e não tanto na forma explícita com que o
sexo é encenado (nesse sentido, por mais que a sensualidade emane em tais
momentos, o que se propaga também é uma combinação de morbidez e
existencialismo).
Talvez tudo que tenha sido aqui comentado sobre “Ninfomaníaca
– Volume 2” também seja incompleto, pois como o título faz presumir ainda há
uma segunda parte a se assistir. Ainda assim, esse capítulo inicial das estripulias
de Joe é mais um trabalho memorável na expressiva filmografia de Von Trier
tanto por oferecer uma ótica original e sarcástica sobre a sexualidade nesses tempos
loucos em que vivemos como por ser mais uma oportunidade de se ver nas telas as
idiossincrasias estéticas de um dos diretores mais autorais do cinema contemporâneo.
sexta-feira, janeiro 10, 2014
Wakolda, de Lucia Puenzo **1/2
Não é surpresa que “Wakolda” (2013) tenha sido escolhido
como representante da Argentina para tentar concorrer ao Oscar de melhor filme
estrangeiro. O filme dirigido por Lucia Puenzo é um exemplar bastante característico
do cinema argentino contemporâneo – competência formal e sobriedade no roteiro,
mas tudo embalado por uma estética asséptica. O tema é até interessante – a presença
de criminosos nazistas no interior da Argentina durante os anos 60, sendo que
Puenzo consegue manter um nível razoável de tensão, sem apelar para truques
ostensivos, preferindo a sutileza e a discrição. Mas o que num primeiro momento
pode soar como virtude, com o tempo se transforma num fator de incômodo – na intenção
de não chocar as platéias, a produção não ousa em maiores arroubos criativos ou
de impacto sensorial. Ou seja, é tudo de bom gosto e bem feito, mas também
perfeitamente esquecível.
quinta-feira, janeiro 09, 2014
Jogos vorazes 2 - Em chamas, de Francis Lawrence **1/2
Dentro do gênero de franquias de fantasia para adolescentes,
“Jogos vorazes 2 – Em chamas” (2013) até se mostra acima da média. O filme tem
uma atmosfera sombria convincente por vezes, as seqüências de ação têm uma
pegada mais casca grossa, o nível das atuações é mais expressivo. Não
justifica, entretanto, toda a babação de ovo que a obra tem ganhado por crítica
e público em geral. A primeira parte do filme, quando é mostrado o panorama de
uma sociedade futurista distópica, é longa em demasia, além de ser primária no
seu pseudo-discurso filosófico/político. O filme ganha mais interesse na sua
segunda parte, onde o tom de aventura é mais dominante. Mesmo assim, fica
evidente que a produção é originária de uma obra literária, pois vários
personagens e situações se mostram delineados de forma muito superficial, como
se estivessem ali só para justificar sua presença para os fãs dos livros. Ou
como explicar a absurda participação de segundos de um ator tão prestigiado
quanto Toby Jones? Assim, por mais longa que seja a duração dessa continuação
de “Jogos vorazes”, fica pelo caminho a constante impressão de que passagens do
roteiro são encenadas de forma apressada e mal desenvolvidas, o que não torna
devidamente crível as transformações pessoais pelos quais as personagens
passam. Fica-se com a impressão de assistir a um grande novelão com algumas
boas passagens de ação brutal.
quarta-feira, janeiro 08, 2014
Frozen - Uma aventura congelante, de Chris Buck e Jennifer Lee ***
Se “A princesa e o sapo” (2009), “Enrolados” (2010) e “Detona
Ralph” (2012) representava um avanço para a Disney em termos de uma formatação
mais contemporânea para as suas animações, “Frozen – Uma aventura congelante” (2013)
representa um pequeno retrocesso nessa tendência. Como narrativa, faz lembrar
as produções do gênero da Disney na década de 90: romantismo mais derramado,
muita cantoria melosa, narrativa bem mais convencional. Não estão tão presentes
as sacadas irônicas, a ambientação mais sombria, as cenas de ação de pique
alucinado, os leves toque de metalinguagem, características marcantes dos
filmes mais recentes da companhia. Mesmo assim, “Frozen” ainda consegue manter
o padrão de qualidade da Disney em alguns quesitos como a beleza do traço,
personagens carismáticos, narrativa por vezes envolvente.
terça-feira, janeiro 07, 2014
Sobrenatural: Capítulo 2, de James Wan *1/2
Essa incensação do nome do diretor James Wan como grande
renovador, revitalizador ou o adjetivo que for do cinema de horror contemporâneo
é um dos grandes exageros de público e crítica em geral. No máximo, o que dá
para dizer do cara é que por vezes ele se mostra um reciclador correto, não
mais do que isso. Nos seus filmes não há um pingo de traço autoral ou mesmo de
algum estilo definido. Ele varia sem muita cerimônia entre produções de
suspense com psicopatas excêntricos na linha “Seven” (“Jogos mortais V e VI”)
ou pastiches de horror sobre possessão demoníaca na linha “Exorcista” (“Invocação
do mal”). “Sobrenatural: Capítulo II” (2013), sua produção mais recente, é uma
variação bem meia-boca da linha de obras sobre espíritos maléficos que aparecem
com frequência ultimamente nos cinemas. E padece daquele que é o principal
defeito da grande maioria desses filmes: concepção formal asséptica e de
roteiro rigorosamente moralista e previsível. É bem provável que cause sustos
em desavisados freqüentadores de multiplexes, mas no geral seu destino é a
descartabilidade que assola a maior parte do que se faz no gênero horror nos
Estados Unidos (pelo menos no campo dos trabalhos oriundos de grandes estúdios).
segunda-feira, janeiro 06, 2014
Tatuagem, de Hilton Lacerda ***1/2
Em termos de cinema brasileiro atual, Pernambuco é quem tem
dado as cartas, pelo menos nos caminhos artísticos. E para ficarmos nessa praia
nas comparações, pode-se dizer que “Tatuagem” (2013) não tem a mesma exuberância
formal de “A febre do rato” (2011) e nem a concisão narrativa de “O som ao
redor” (2012). Há certos momentos em que a obra do diretor Hilton Lacerda soa
um tanto auto-indulgente pelo tom de panfletarismo gay. Mesmo assim, é uma obra
que se coloca muito acima da média, principalmente pelo tom visceral da direção
de Lacerda. O registro audiovisual do cineasta é um notável misto entre crueza
e paixão, tanto nas seqüências das apresentações da trupe de artistas marginais
quanto nas cenas de sexo. Além disso, Lacerda deixa evidente a sua boa mão de
roteirista experiente, sendo que seus diálogos são marcados tanto pelo
humanismo do seu teor naturalista quanto pela poesia derivada de um romantismo
a flor da pele. Na realidade, é essa ambigüidade que se configura como um dos
grandes pontos de fascínio do filme – geralmente as cenas carregam em
sentimentos dúbios (beleza/feiúra, atração/repulsa) que ora perturbam, ora
encantam. Para que a abordagem estética/temática de “Tatuagem” atinja seus
pontos máximos de ebulição, fundamentais se mostram dois elementos. Primeiro o
elenco, em atuações plenas de nuances expressivas, com absoluto destaque para o
trio protagonista (Irandhir Santos, Rodrigo
Garcia e Jesuíta Barbora). E segundo a extraordinária trilha sonora de DJ
Dolores, num trabalho fenomenal que combina eletrônica, ritmos regionais e até
uma esdrúxula polca (como não sair da memória a diabólica “Tem cu”?).
sexta-feira, janeiro 03, 2014
Morro dos prazeres, de Maria Augusta Ramos ***1/2
Na sequência inicial de “Morro dos Prazeres” (2013), um
grupo de crianças da comunidade que dá título ao documentário brinca de polícia
e ladrão num casebre abandonado. A tradicional brincadeira, entretanto, ganha
uma outra dimensão no seu desenvolvimento: o que se vê na tela é uma encenação
da relação entre policiais e bandidos que se dá diariamente nos morros
cariocas, onde a polaridade bem/mal perde o sentido em meio a achaques, corrupção
e tortura. Essa abertura do filme é uma bela síntese dos dilemas estéticos e
temáticos que permeiam “Morro dos Prazeres”. Por mais que entre os objetivos da
diretora Maria Augusta Ramos esteja o registro do cotidiano de uma comunidade
ocupada por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), é inegável que de forma
constante a impressão de que todos interpretam um papel, que reproduzam arquétipos
da sociedade. E por mais artificiosa que possa ser tal concepção formal para um
documentário, também é evidente que mesmo assim a produção consegue transmitir
uma verdade contundente – a da discrepância entre o conteúdo do discurso
oficial das autoridades com a realidade fática daquele microcosmo. Dentro de
tal linguagem cinematográfica mais sofisticada, também salta aos olhos um
trabalho de edição e fotografia ainda mais acurado que nos trabalhos anteriores
da cineasta. Alguns enquadramentos impressionam bastante por saber explorar com
precisão tanto as vielas e becos labirínticos e sufocantes quanto as amplas
paisagens do Rio de Janeiro que se pode contemplar do alto daquele morro, num
forte contraste entre beleza e feiúra. E na sequência do baile funk, a montagem
oferece um ritmo tenso e por vezes eletrizante na alternância que faz entre o
ambiente sórdido e hedonista da festa com a ação militar minuciosa e soturna
dos policias que rondam a localidade.
quinta-feira, janeiro 02, 2014
Blue Jasmine, de Woody Allen ***1/2
Um recurso bastante utilizado na filmografia de Woody Allen é
o jogo de aparências que ele promove tanto na concepção da narrativa quanto na
temática de alguns de seus principais trabalhos. Em “Blues Jasmine” (2013), o
diretor norte-americano volta a se valer de tal preceito e com resultados
bastante contundentes. Dessa forma, o filme, na sua superfície, tem a estrutura
de um pesado drama a focar a decadência moral, financeira e psíquica de uma
socialite. A partir de um estilo elegante e preciso de filmar, típico das
produções de Allen, entretanto, pode-se perceber um irônico e sutil subtexto
que faz com que aos poucos um sarcasmo corrosivo se espalhe pela trama. Nesse
sentido, o que era para ser uma obra marcada pelo intimismo acaba ganhando uma
conotação simbólica muito mais ampla. Os
motivos e o atribulado percurso da derrocada de Jasmine (Cate Blanchett)
encontram ressonância na queda do padrão de vida da própria sociedade dos
Estados Unidos pós-crise econômica de 2008. Afinal, a equação que dominou boa
parte da vida da protagonista (insensibilidade
social e consumismo desenfreado de Jasmine mais as picaretas especulações
financeiras de seu marido) representa uma síntese bem próxima dos fundamentos
que levaram os EUA à crise que ainda até hoje não se encerrou. No mais, Allen
também tem como grande trunfo em sua produção o desempenho visceral de
Blanchett, que torna ainda mais impactante o inferno sem fim que atormenta a
personagem principal.
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