quarta-feira, dezembro 28, 2011

Livide, de Alexandre Bustillo e Julien Maury ***1/2



O cinema de horror europeu dos anos 60 e 70 era conhecido pela combinação original entre o requinte formal e a violência gráfica, buscando uma estranha síntese entre morbidez e erotismo. Os diretores Alexandre Bustillo e Julien Maury enveredam por tal estética em sua obra mais recente, “Livide” (2011), com resultados por vezes perturbadores. A escolha de cenário é perfeita para configurar o clima de terror gótico que o filme pretende: uma cidade portuária francesa, repleta de névoas e nuvens carregadas, o que oferece uma ambientação que fica entre o fantasmagórico e o melancólico, o que se acentua mais quando entra em cena uma velha mansão de ar sinistro e que insinua mais segredos. Na evolução da narrativa, trespassada por misteriosos flashbacks, a obra adquire uma atmosfera ambígua, não deixando claro se o teor do suspense é psicológico ou se é realmente algo sobrenatural. À medida que o elemento fantástico vai preponderando, entretanto, “Livide” adquire uma abordagem com toque do irreal, em que o caráter onírico e a brutalidade sangrenta tornam a trama progressivamente mais misteriosa. Para aqueles acostumados com os filmes no gênero suspense mais recentes, em que tudo costuma ser esclarecido até os mínimos detalhes, pode ser frustrante aceitar um roteiro com tantas pontas soltas, o quê na realidade torna a produção ainda mais fascinante.

terça-feira, dezembro 27, 2011

Helldriver, de Yoshihiro Nishimura 1/2 (meia estrela)



A princípio, vivemos em uma democracia cultural. Dessa forma, é possível que uma atrocidade como “Helldriver” encontre defensores ou apreciadores. Entretanto, pode-se convir também que tais indivíduos mais gostam da bizarrice pela bizarrice do que propriamente de cinema. O diretor Yoshihiro Nishimura pretende fazer com que a sua obra se imponha pelos excessos de violência, sexo e escatologia, como se fosse uma espécie de manifesto contra o bom gosto, mas o resultado final é apenas estéril – o máximo que as cenas da produção podem causar é algum sorrisinho amarelo constrangido. Os efeitos especiais toscos, o roteiro qualquer nota e a narrativa amadora formam um todo constrangedor que no final das contas até tornam “Helldriver” uma experiência cinematográfica a ser conferida simplesmente pelo fato de ver como as coisas podem dar tão errado. E mesmo a pretensão de entrar numa galeria de obras antológicas na categoria de podreira trash acaba afundando, pois não há nem sombra, por exemplo, daquela atmosfera de fuleiragem ingênua de um Ed Wood.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Rabies, de Aharon Keshales e Navot Papuchado ***



Talvez boa parte do que pode motivar os cinéfilos em geral a assistir a “Rabies” (2011) seja a combinação do gênero com a nacionalidade: uma produção israelense de horror. Descontando o inusitado da origem, entretanto, o filme consegue reservar algumas surpresas. É provável que boa parte dos apreciadores do terror fiquem um tanto ressabiados pelo excesso de psicologização dos personagens e de subtramas de teor dramático, o que não parece condizer muitos às vezes com o estilo meio splater da obra (muita escatologia, sangue, vísceras e afins). Ainda sim, há um interessante equilíbrio entre os momentos de tensão com as sequências de violência explícita. Mesmo tendo por base uma trama centrada na figura de um psicopata sádico (recurso narrativo um tanto manjado), os diretores Aharon Keshales e Navot Papushado souberam criar algumas cenas efetivamente perturbadoras pela sua brutalidade e sordidez, principalmente quando surge a figura do policial corrupto e lascivo que sevicia duas jovens. No saldo geral, “Rabies” está longe de ser um marco ou obra-prima, mas se coloca acima da média do que vem sendo praticado ultimamente no gênero.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

The Day of Ants In The Sky, de Akira Nobi ***



Mesmo não tendo o virtuosismo vertiginoso de Takashi Miike ou a precisa síntese narrativa de Takeshi Kitano, o diretor Akira Nobi se mostra em “The Day Of Ants In The Sky” (2011) como um nome a ser lembrado com atenção no atual panorama do cinema japonês. O filme se move de forma insinuante entre o policial violento e o drama psicológico, formando um todo irregular, mas repleto de momentos de bizarrices e estranhezas que oscilam entre o choque e o encanto. Trabalha-se com alguns elementos típicos do imaginário do cinema japonês (assassinos da Yakuza, violência gráfica exagerada, garotas colegiais que transitam entre a inocência e a perversidade), mas Nobi consegue extrair algo de instigante, tanto na sua composição visual quanto nas sutilezas dramáticas do roteiro. Talvez a seqüência que melhor ilustre a abordagem ambígua do cineasta seja aquela em que as duas moças aprisionadas numa grande sala, após desenvolverem um aparente laço de afeto, são obrigadas a se digladiarem até a morte, num combate feroz e com requintes de crueldade – o resultado sensorial de tais cenas desconcertam o espectador entre o riso e o choque.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Warlock - O Demônio, de Steve Miner ***



É inegável que em certos aspectos “Warlock – O Demônio” (1989) envelheceu de forma esquisita como obra do gênero horror. Afinal, algumas sequências que deviam ser assustadoras e tensas acabam parecendo atualmente toscas pelas trucagens bagaceiras na comparação tecnológica com os efeitos especiais contemporâneos. É de se considerar, entretanto, que o filme ainda carrega um certo encanto atemporal pela sua estética, tanto pela ingenuidade das resoluções dramáticas quanto pela caracterização visual de algumas cenas (com um destaque especial para a bem elaborada reconstituição de época do século XVII das tomadas iniciais). A interpretação exagerada e cheia de fleuma de Julian Sands, no papel do personagem-título, também colabora para caracterizar “Warlock” como aquele tipo de produção que está longe de figurar como um clássico imprescindível, mas que ganha uma conotação cult dentro daquela linha de filmes que ficam num recanto obscuro no nosso imaginário cinematográfico.

terça-feira, dezembro 20, 2011

Attack The Block, de Joe Cornish ****



A década de 80 foi um período pródigo no gênero das aventuras juvenis. Diretores como Spielberg, Joe Dante e Richard Donner entregaram algumas de suas melhores obras em tal estilo cinematográfico. Curiosamente, 2011 foi um ano em que o gênero em questão e a estética dos cineastas mencionados receberam uma inesperada revitalização. Para começar, com o divertido “Super 8” e depois com o britânico “Attack The Block”. Neste último, entretanto, a recriação vai bem mais longe. O diretor Joe Cornish permeia sua obra com um humor crítico e cínico. Além disso, valoriza o estilo naquilo que ele tem de melhor: cenas de ação coreografadas com clareza e precisão, plenas de uma dimensão épica notável, com destaque para a seqüência final de combate entre o protagonista Moses (John Boyega) e as nojentas criaturas alienígenas, numa impressionante utilização do recurso da câmera lenta. O cineasta trabalha muito bem com uma atmosfera de ambiguidade, em que o tom de aventura escapista convive sem cerimônia com uma visão um tanto crua do cotidiano barra pesada e de classe média baixa dos conjuntos habitacionais londrinos, além do fato de que o estilo clássico de filmar de Cornish não prescinde de algumas modernidades expressivas (a excelente trilha sonora eletrônica é sintomático disso). Cornish tem ainda um faro notável para a direção dos atores – há, no mínimo, uma meia dúzia de caracterizações antológicas em seu elenco. E todas essas qualidades formam um todo poderoso que tornam “Attack The Block” a grande surpresa desta temporada cinematográfica.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Pov, de Norio Tsuruta **1/2



Eu não disse que o negócio está disseminado? “Pov” é mais uma produção do gênero horror a utilizar o recurso da câmera subjetiva. O que a diferencia um pouco é que se trata de uma produção japonesa. Tal origem acaba até implicando numa abordagem diversa. Para começar, percebe-se um tom mais irônico na trama, enfocando algumas obsessões fetichistas tipicamente nipônicas (garotas colegiais bobinhas) e elementos em voga tanto nas sociedades ocidentais como nas orientais (programas televisivos de gosto duvidoso que oscilam entre o “informativo” e o reality show). Além disso, o filme traz bastante daquilo que se está acostumado a ver nas obras de horror recentes do cinema oriental: assombrações, relação entre o sobrenatural e a tecnologia moderna, ausência de finais felizes. Talvez aí esteja uma possível “originalidade” do filme: o encontro das tendências orientais e ocidentais do cinema de horror em uma mesma produção. “Pov” traz algumas soluções criativas em termos visuais e de roteiro, principalmente no seu terço final, em que há um jogo entre o “real” e aquilo que está registrado pela imagem televisiva. Outro ponto positivo é o fato dos personagens que manipulam a câmera serem supostamente profissionais faz com que o filme não tenha aquela impressão de estar tudo tremido ou fora de foco no momento de ação, permitindo, inclusive, que se observe boas trucagens.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Atividade Paranormal 3, de Henry Joost e Ariel Schulman ***



Convenhamos que em boa parte destas produções de horror que utilizam o recurso da câmera subjetiva, em que a câmera é “operada” por um dos personagens, tal opção estética e narrativa se revela muito mais como uma desculpa para uma incompetência formal dos diretores. A câmera tremeu ou saiu de foco? Não há nenhuma grande cena em termos visuais? Ora, isso é coerente, afinal o personagem que “filmou” é amador, a intenção é que tudo pareça amador mesmo. Maldita “A Bruxa de Blair”... Ocasionalmente, entretanto, alguma obra a utilizar tal estilo de filmar consegue sair da mesmice e entregar um resultado que consegue cumprir com aquilo que é o mínimo em um filme do gênero terror: o de assustar e causar alguma tensão. “Atividade Paranormal 3” (2011) consegue entrar nesse pequeno e seleto clube. Entre os seus acertos, os diretores Henry Joost e Ariel Schulman encontram um bom pretexto para que a câmera tenha um procedimento mais regular e profissional durante o filme: o personagem que a opera trabalha no registro de festas de casamento. É claro que pode parecer um motivo meio cretino, mas para o filme funciona bem. O cara até se dá o direito a fazer experimentos artesanais para obter uma melhor panorâmica das imagens (afinal, o roteiro do filme se desenrola nos anos 80, época em que as tecnologias das filmadoras estavam bem abaixo das atuais). A trama desse novo capítulo da franquia também é bastante superior às partes anteriores – as cenas com trucagens e sustos são bem mais constantes, o que torna o filme visualmente mais rico, mas sem perder o senso de suspense (que também é maior agora). É claro que algumas ideias do roteiro não são exatamente novas, mas são clichês bem aproveitados. No cômputo geral, até deixa uma certa expectativa para o próximo filme da série (coisa que não ocorreu nas produções anteriores).

terça-feira, dezembro 13, 2011

Rock Brasília - Era de Ouro, de Wladimir Carvalho ***1/2



Quem acompanhou o rock de Brasília quando o mesmo despontou na primeira metade da década de 80 sabe que as principais bandas de tal movimento não se destacaram especialmente pela técnica ou criatividade musical. O que houve naquele momento histórico foi uma conjunção de fatores específicos, indo desde a conjuntura econômico-social-política daquela época (os anos finais da ditadura e o começo da Nova República), passando pelo carisma e talento de Renato Russo e chegando na persistência e garra de alguns integrantes em particular. O grande acerto inicial do documentário “Rock Brasília – Era de Ouro” (2011) está em justamente não se concentrar nos méritos artísticos/musicais das bandas. O diretor Wladimir Carvalho busca um enfoque muito mais abrangente, sabendo evidenciar com precisão o contexto histórico de surgimento destes grupos, relacionando a vida de seus membros à própria evolução cultural da cidade (afinal, boa parte deles era filho de uma classe média alta que era base da vida econômica de Brasília – professores, burocratas, diplomatas). Os depoimentos colhidos são reveladores das variantes particulares que propiciaram a ascensão, apogeu e queda das bandas (e no caso do Capital Inicial, a volta improvável a um apogeu comercial ainda maior!). Carvalho mostra a veia apurada de documentarista ao saber extrair com sabedoria o essencial de cada entrevista, formatando de acordo com a sua proposta artística e conceitual. O fecho do filme é exemplar desta capacidade, em que as palavras e choro inesperados do pai dos irmãos Fê e Flávio Lemos do Capital Inicial sintetizam o espírito errático tanto do grupo em questão quanto do próprio movimento roqueiro oitentista brasiliense.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

O Veneno Está na Mesa, de Silvio Tendler **



A obra do documentarista Silvio Tendler sempre foi marcada pelo questionamento social e político, às vezes até beirando o panfletário. Na maioria das oportunidades, entretanto, o cineasta teve um elogiável cuidado formal com os seus filmes – o espectador podia não concordar com o teor ideológico do que estava sendo dito, mas reconhecia a dinâmica narrativa de Tendler, sua capacidade de criar tensão e prender a atenção de quem assiste às suas produções. Em “O Veneno Está na Mesa” (2011), essa combinação entre conteúdo e forma não fica bem equacionada. Por mais relevantes que sejam as denúncias levantadas no documentário, o excessivo tom jornalístico torna tudo arrastado e sonolento. O filme se concentra quase que apenas em depoimentos, com o diretor deixando de explorar alguns detalhes de ambientação que poderiam enriquecer a sua proposta (principalmente o aspecto de isolamento dos colonos que se recusam a usar agrotóxicos em sua lavoura – fica apenas levemente esboçado que tal atitude venha de uma possível condição cultural/étnica). É claro que “O Veneno Está na Mesa”, na sua essência, tenha mais preocupações educacionais e informativas do que um comprometimento com o lado “artístico”, mas talvez uma concepção cinematográfica menos dura tornasse a sua mensagem mais universal.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Um Gato em Paris, de Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol ***1/2



É interessante observar que a recente tendência dos últimos anos no cinema francês de revalorização do gênero policial se estendeu também para as animações. “Um Gato em Paris” (2010) é prova disso. Apesar de ter como protagonista um gato malandro e carismático, cuja dona é uma adorável garotinha, sua trama gira em torno de ladrões, assassinos, oficiais de polícia, trazendo até um clima de violência e sordidez. A crueza de tal roteiro, entretanto, acaba entrando em choque com o traço leve que predomina no filme, causando um contraste perturbador ao espectador. O filme evoca ainda uma certa atmosfera retrô, trazendo à mente algumas antigas e clássicas obras de Jean-Pierre Melville e Henri-Georges Clouzot. A trilha sonora, recheada de temas no estilo embalinho jazz, realça ainda mais a atmosfera atemporal do filme. No final das contas, “Um Gato em Paris” se configura muito mais como um vigoroso exercício estético do que propriamente entretenimento infantil.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Entre Segredos e Mentiras, de Andrew Jarecki ***



Em sua estreia em uma obra ficcional, o diretor Andrew Jarecki deixa claro sua origem documentarista. O seu estilo de filmar em “Entre Segredos e Mentiras” (2010) não traz nada de exageros visuais ou dramáticos e nem maiores arroubos formais. O cineasta prefere uma abordagem mais cerebral e discreta de um caso real que por si já seria escandaloso. Tal opção criativa acaba se revelando adequada ao evidenciar a gradual e verossímil degeneração moral e psíquica do protagonista David Marks (Ryan Gosling), ao mesmo tempo que a trajetória do personagem adquire um caráter simbólico de conto moral a retratar o vazio existencial e a hipocrisia comportamental da sociedade norte-americana na virada entre as décadas de 70 e 80. Por mais que as atitudes de David sejam odiosas e doentias, Jarecki consegue manter uma atmosfera de impessoalidade e destituída de maniqueísmos – a loucura do personagem parece adquirir uma certa coerência com o ambiente em que ele se situa. A estética que domina “Entre Segredos e Mentiras” também colabora para acentuar essa visão seca e objetiva de Jarecki, com uma fotografia de tons pálidos e narrativa que oscila com elegância entre o presente e o passado. De se destacar ainda a sólida composição interpretativa de Gosling no papel principal, marcando David com gestos sutis (mas reveladores) e um olhar assustador pela imprevisibilidade que esconde.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Eu Queria Ter a Sua Vida, de David Dobkin **



Costumo dizer que os grandes problemas de um filme não residem em seus clichês temáticos, mas sim na sua abordagem formal. Ou seja, não importa muito a história como se conta, mas a forma com que tal história seja contada. Assim, “Eu Queria Ter a Sua Vida” (2011), mais uma comédia a ter como mote central do roteiro a troca de corpos entre os personagens principais, poderia merecer alguma chance, mesmo com a sua trama para lá de batida. A sua primeira meia hora até chega a ser promissora, principalmente por investir num humor escatológico maior que o habitual no gênero. Com o seu desenrolar, entretanto, a produção se afunda em convencionalismos excessivos, além de uma estrutura capenga de conto moral destituído de quaisquer ousadias. É como se a falta do que dizer em termos temáticos contaminasse a própria narrativa. O meu sentimento ao final da sensação foi o de não querer ver por um bom tempo alguma produção envolvendo a temática em questão...

terça-feira, dezembro 06, 2011

Os Três Mosqueteiros, de Paul W. S. Anderson *



O desastre artístico que representa esta mais recente versão cinematográfica de “Os Três Mosqueteiros” (2011) não tem relação com uma possível falta de fidelidade com o original literário. Afinal, se as mudanças viessem para tornar a obra mais funcional ou atualizada, não haveria grandes deméritos. O problema do filme é a sua equivocada concepção estética e narrativa – em boa parte da produção, temos a impressão de estarmos vendo um grande e genérico vídeo game (não à toa, o diretor Paul W. S. Anderson foi o responsável pela franquia para os cinemas da versão dos jogos “Resident Evil”). Tudo é basicamente agitado, espalhafatoso e barulhento, mas o efeito sobre nossa percepção sensorial é estéril. Algumas ideias envolvendo uma modernização tecnológica e uma abordagem mais cínica e violenta para situações e personagens são interessantes em termos teóricos, mas têm resultados práticos rasos e dramaticamente nulos. No final das contas, o que salva um pouco “Os Três Mosqueteiros” são algumas boas escolhas de elenco, mas que acabam se perdendo no oceano de incompetência que domina a obra.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Não Tenha Medo do Escuro, de Troy Nixey ***1/2



Nos últimos anos, os filmes mais comentados e cultuados no gênero horror têm se concentrado no já gasto estilo câmera subjetiva com enfoque pseudo-documental. Ou seja, aquelas produções em que se vê a história se desenrolar pela ótica de uma câmera que é conduzida por um dos personagens. Eventualmente, até se produziu algo de realmente relevante nesta forma de conduzir a trama, mas no mais das vezes tal procedimento serviu apenas para mascarar a pasmaceira criativa dos diretores. “Não Tenha Medo do Escuro” (2010) prova que a boa e velha maneira clássica de filmar uma obra de terror ainda consegue gerar os devidos calafrios de tensão sem precisar apelar para invencionices estéreis. O diretor Troy Nixey não se furta de usar alguns dos mais básicos clichês do gênero: casa mal assombrada, um segredo do passado mal escondido, uma família em crise (que com o conflito com o mal é obrigada a se unir), uma criança que se defronta com o sobrenatural (mas a qual ninguém dá crédito). Nixey embala tudo isso com convicção e estilo, abusando de uma estética gótica que beira o barroco, além de saber criar com precisão uma atmosfera de tensão angustiante. Outro acerto do filme está no design das criaturas que atormentam a pequena Sally (Bailee Madison): um misto certeiro entre o infantil e o devidamente repulsivo. Não é a toa, aliás, que o nome de Guillermo Del Toro esteja nos créditos de produção e roteiro – boa parte dos méritos de “Não Tenha Medo do Escuro” remetem ao melhores de produções anteriores concebidas pelo diretor mexicano.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Amizade Colorida, de Will Gluck **



O gênero comédia romântica costuma ser uma espécie de camisa de força criativa. É claro que de vez em quando alguém consegue ousar ou propor algo de novo. Mas na maioria das vezes, por melhores que sejam as intenções iniciais dos respectivos diretores, as obras que trafegam por tal linha acabam caindo na mesmice. “Amizade Colorida” (2011) é um exemplo claro disso. A produção se propõe na sua primeira metade a ironizar os clichês básicos do gênero, principalmente ao contextualizar tais lugares comuns diante das particularidades comportamentais ocidentais da atualidade, o que até acaba rendendo momentos efetivamente engraçados. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, o filme acaba enveredando por um beco sem saída, diante da impossibilidade de levar esta visão mais ácida até as últimas conseqüências. Assim, acaba se rendendo a todas as previsibilidades possíveis e a uma concepção estética pouco inspirada, aliado ao fato dos personagens ficarem piorarem progressivamente na sua caracterização – afinal, por que a protagonista Jamie (Mila Kunis), gatinha e simpática, é tão traumatizada com relacionamentos? E as coisas degringolam de vez quando lembramos que recentemente foi lançada a insossa “Sexo Sem Compromisso” (2011), de roteiro praticamente igual.