Paira sobre o documentário “O futebol” (2015) um certo senso
de caos e aleatoriedade. Num primeiro momento, o diretor Sergio Oksman se
propõe a fazer uma espécie de diário intimista de um período de reaproximação
com o seu pai, Simão Oksman, tendo em vista o fato de terem passado 20 anos sem
se falarem e nesse longo tempo o cineasta ter se mudado para a Espanha. Essa
temporada de interação entre pai e filho se daria durante a Copa do Mundo de 2014
no Brasil. Pelas conversas entre os dois, pode-se pressupor que o futebol seria
um assunto que os aproximaria, tanto pelo fato de Simão ser um grande
apreciador do esporte quanto pelo histórico de que na infância e juventude do
diretor este e o pai costumavam ir juntos aos estádios. Ocorre, entretanto, que
os planos iniciais parecem não se concretizarem devido ao inesperado: o
ambiente em São Paulo não parece ter aquela animação esperada para uma época de
Copa no Brasil, Simão se mostra um tanto arredio e taciturno e, por fim, o pai
acaba falecendo no meio da competição. Apesar dessas inconstâncias do destino,
o filme consegue manter um inabalável rigor formal e existencial, o que dá para
a obra uma unidade artística impressionante. O registro visual da direção de
fotografia, baseado em longos planos-sequência fixos, é simples na sua execução
e bastante expressivo na configuração da atmosfera e da narrativa da obra. Essa
abordagem que Sergio Oksman dá para a sua obra remete bastante ao ascetismo
característico de Robert Bresson. Ao contrário da transcendência metafísica que
os trabalhos de Bresson sugerem, o estilo áspero de “O futebol” evoca uma
resignação melancólica, em que a impossibilidade de comunicação efetiva entre
pai e filho para a reconstrução de laços afetivos, o desempenho constrangedor
da seleção na Copa e o ânimo sombrio que São Paulo transparece parecem se
relacionar de maneira intrínseca, resultando num retrato bastante emblemático
dos tempos conturbados que vivemos.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
sexta-feira, abril 29, 2016
quinta-feira, abril 28, 2016
Phoenix, de Christian Petzhold ***1/2
Num primeiro momento, a premissa inicial e mesmo os
desdobramentos da trama de “Phoenix” (2014) podem sugerir algo de novelesco. A história
parece rocambolesca e um tanto exagerada: a judia Nelly (Nina Hoss),
desfigurada por um tiro que recebeu em um campo de concentração, retorna para a
Alemanha pouco após o fim da 2ª Guerra, faz uma cirurgia plástica que lhe dá um
novo rosto, sai em busca do marido (Ronald Zehrfeld), que acredita que ela está
morta, e ao encontrá-lo acaba descobrindo o seu verdadeiro e questionável
caráter. O fascinante no filme é a forma com que o diretor Christian Petzhold
transforma essa estrutura de melodrama em uma elegante narrativa, combinando um
requintado formalismo com uma sobriedade emocional admirável. Mesmo que o
roteiro possa sugerir em alguns momentos arroubos sentimentais, o rigor estético
da produção é tão preciso que faz com que a narrativa permaneça equilibrada.
Essa equação artística baseada na contenção e na sutileza gera uma obra de
atmosfera repleta de nuances que se situam entre o perturbador e o encantador.
Repare-se, por exemplo, como a canção “Speak low” se insinua em trechos chaves
da trama e se transforma numa peça fundamental no desfecho da história, ou como
as noções de sensualidade e tragédia convivem e se misturam dentro da encenação
detalhista proposta por Petzhold. Essa abordagem do cineasta é tão rica em seus
elementos e referências que faz com que mesmo aquela ideia inicial de uma trama
de tons novelescos acabe se transportando para uma dimensão fortemente
simbólica, a retratar um país em crise de identidade que se obriga a encarar as
verdades cruéis de sua essência para poder seguir em frente.
quarta-feira, abril 27, 2016
Onde o mar descansa, de Fernanda Lippi e André Semenza ***1/2
Num primeiro momento, a equação artística de “Onde o mar
descansa” (2015) pode parecer um pastiche que chama atenção apenas pelo
insólito de sua combinação – as atmosferas fantasmagóricas das produções europeias
de horror dos anos 60 e 70, a ambientação entre o onírico e o metafísico de
Andrei Tarkovsky, o fluxo narrativo poético de Derek Jarman, a encenação
repleta de coreografias de danças que remetem a algumas obras memoráveis de
Carlos Saura. Com o desenvolver da narrativa, entretanto, essa junção de
influências diversas vai dando uma liga surpreendente que faz com que o filme
transcenda a simples curiosidade. O lirismo poético da narração, a intensidade dos
bailados dramáticos das personagens, a direção de fotografia de tons esmaecidos
e tenebrosos, a expressiva síntese entre melodias melancólicas e dissonâncias
de trilha sonora e a edição sóbria colaboram na configuração de um singular
conto gótico sobre o amor e a perda. O formalismo concebido pelos diretores
André Semenza e Fernanda Lippi acaba por criar uma espécie de universo
paralelo, onde até mesmo as regras morais pequeno burguesas cristãs se
desvanecem sem a menor cerimônia (nesse sentido, não há como não fazer uma
conexão com o recente e extraordinário “A bruxa”). As belas e lúgubres paisagens
de florestas e rios congelados, que parecem se formatar como personagens dentro
da trama, são incorporadas com naturalidade e coerência dentro dessa singular
proposta artístico-existencial. Dentro dessa trinca de “cinema-dança-poesia”,
fica o registro memorável de uma obra de impacto sensorial desconcertante.
terça-feira, abril 26, 2016
Sinfonia da necrópole, de Juliana Rojas ***
Talvez a melhor referência para se entender a particular
concepção artística de “Sinfonia para necrópole” (2014) seja o clássico “Os
Guarda-chuvas do amor” (1963). Embora não tão radical em sua estrutura quanto a
obra de Jacques Demy, o filme da cineasta Juliana Rojas é inquietante em suas
escolhas formais e temáticas. Para começar, o gênero ao qual pertence é bem
pouco habitual em tempos recentes, ainda mais em se tratando de cinema nacional
– qual foi o último musical brasileiro lançado em nossas telas? Além disso,
Rojas vincula também sua obra ao fantástico. Sua abordagem é francamente
cômica, com belas canções originais repletas de letras irônicas e coreografias
desajeitadas de maneira simpática. Dentro de tais opções artísticas, esconde-se
uma certa perversidade autoral por parte de Rojas. Ela brinca com clichês
narrativos, sugere desenlaces típicos de uma comédia de tons românticos e
sociais, a lá Frank Capra, mas aos poucos o desenrolar dos fatos do roteiro e
mesmo a ambientação da obra vão se tornando mais realistas e até mesmo amargos,
aí residindo sua principal conexão com a referida produção de Demy. A diretora
atinge um equilíbrio admirável entre a atmosfera lúdica e uma visão bastante
pessimista sobre as relações humanas dentro de uma sociedade marcada pelo
mercantilismo e pelo cinismo. No final das contas, “Sinfonia da necrópole”
acaba sendo uma obra bem emblemática dos tempos funestos que vivemos no Brasil.
segunda-feira, abril 25, 2016
A bruta flor do querer, de Dida Andrade e Andradina Azevedo ***
É bastante evidente em “A bruta flor do querer” (2013) um
forte teor narcisista como um dos principais motes criativos da obra. A
configuração da trama e da narrativa obedece a um fluxo memorialista e
subjetivo dos diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo. Se por um lado essa
tendência de olhar para o próprio umbigo leva o filme por vezes para um viés
artístico autocomplacente, é inegável também que representa um olhar autoconsciente
de seus cineastas para sua arte e para suas próprias vida, rendendo para a
produção aquilo que ela tem de mais memorável e vigoroso. Os parcos recursos de
que Andrade e Azevedo dispõem são aproveitados quase ao máximo em suas
possibilidades – tal precariedade se incorpora à narrativa como razão
existencial, dando sentido ao filme tanto em termos temáticos quanto num
formalismo que revela sensibilidade e sofisticação. Isso pode ser percebido em
detalhes sutis como a direção de fotografia rústica e expressiva, as atuações
maneiristas e intensas do elenco, as boas sacadas no uso de canções alheias e
nos temas próprios da trilha sonora, os jogos metalinguísticos. Mesmo o manjado
tripé sexo-drogas-rock and roll (com toques de MPB, jazz e música clássica)
rende algumas sequências bastante perturbadoras e pungentes pela forma
impactante e sincera com que são filmadas. Se com o tempo Andrade e Azevedo
conseguirão amadurecer esse traço pessoal e autoral, apenas se adequarem a um
formato mais convencional de fazer cinema ou simplesmente sumirem do mapa da
produção nacional é algo a se conferir. O que se tem no presente é que com “A
bruta flor do querer” conseguiram gerar uma obra capaz de grudar no imaginário
do espectador de mente mais aberta, o que não deixa de ser uma façanha
considerável.
sexta-feira, abril 22, 2016
Mogli - O menino lobo, de Jon Favreau ****
O diretor norte-americano Jon Favreau é aquele tipo de cara
que quem gosta de cinema acaba simpatizando. Afinal, teve uma participação
marcante como ator principal no clássico indie “Swingers” (1996), foi um
coadjuvante simpático em outras produções (vide “Eu te amo, cara”) e como
cineasta foi responsável pelas duas primeiras partes da franquia “Homem de
ferro”. Mas é agora com “Mogli – O menino lobo” (2016) que ele cola o seu nome
no imaginário cinematográfico de maneira definitiva. Trata-se de uma das mais
felizes conjugações entre inspiração criativa e amplos recursos de grande
produção dos últimos tempos. Pode parecer a princípio que seja mais uma maneira
de Hollywood ter um lucro fácil em cima de uma história clássica e que já tinha
rendido uma versão em animação magnífica pela mesma Disney que banca esse
trabalho de Favreau. Ocorre, entretanto, que a obra em questão e uma
atualização ousada da obra literária original de Rudyard Kipling, não no
sentido de alterar a trama, mas na construção de uma ambientação sombria e
visceral, além de personagens de caracterização psicológica mais complexa.
Ainda que a beleza plástica da direção de arte e do traço das criaturas
digitais impressione pela limpidez e realismo, é fascinante como o filme
preserva algo de rústico e sujo em sua concepção visual e mesmo na sua
atmosfera. Isso pode ser constatado na violência gráfica dos embates entre os
animais e mesmo na caracterização de Mogli (Neel Sethi), que parece um
verdadeiro garoto selvagem, nada asséptico e repleto de cicatrizes e manchas de
sangue. Favreau também acerta na encenação alucinada e detalhista das
sequencias de ação, além de valorizar com sensibilidade as nuances dramáticas
do roteiro. É interessante ainda observar que o dilema principal da trama tem
um desenlace bem diferente daquele da animação, fazendo com que a figura de
Mogli se mostre até mais desafiadora dentro da relação homem e natureza. Diante
de todos esses aspectos positivos, dá até vontade que Favreau volte a dirigir
um filme da Marvel.
quarta-feira, abril 20, 2016
Fruitvale Station - A última parada, de Ryan Coogler **1/2
Obra de caráter biográfico, que mostra basicamente as
últimas 24 horas de vida do ex-presidiário Oscar Grant (Michael B. Jordan)
antes dele ser assassinado brutalmente por policiais, “Fruitvale Station – A última
parada” (2012) tem uma abordagem narrativa bem coesa e seca, sem recorrer a
excessivas apelações sentimentais. É mérito do diretor Ryan Coogler fazer com
que a trama, da qual a conclusão já se sabe desde o começo, consiga gerar
alguma expectativa e tensão para o espectador, aliado a um estilo de filmar e
editar que mostra um certo rigor formal. É inegável também, entretanto, que
falta para o filme uma centelha criativa capaz de oferecer alguma transcendência
artística. Por vezes, tudo soa muito árido e previsível, sem qualquer cena que
mostre algum arroubo criativo. Para aqueles que se impressionaram com o
excelente “Creed” (2015), obra mais recente de Coogler, é provável que fiquem
decepcionados com esse marasmo de “Fruitvale Station”.
terça-feira, abril 19, 2016
Elles, de Malgorzata Szumowska ***
Pode soar sexista ou sectário dizer que há obras cuja
perspectiva existencial indica um autor de determinado gênero. Mas falar isso
para um filme como “Elles” (2012) não pode ser considerado um reducionismo. O
olhar do filme é feminino no sentido de contestar um ordenamento moral e ético
que é típico de uma sociedade patriarcal. Nesse sentido, o trabalho da diretora
Malgorzata Szumowska é bastante inquietante na sua formatação narrativa e nos
questionamentos sociais que apresenta com sutil ironia. Quando a jornalista
Anne (Juliette Binoche) mergulha no mundo das jovens prostitutas universitárias
para escrever uma matéria, percebe aos poucos que deverá deixar de lado preceitos
maniqueístas e pseudosociológicos para ter uma efetiva noção da real dimensão
daquele universo. Com o desenrolar da trama, outros pontos entram em pauta – a subjetividade
de cada uma das garotas de programa, a distorção das relações humanas dentro de
uma sociedade capitalista baseada na exploração, o papel de submissão e
anulação da protagonista dentro da sua própria família. O filme não apresenta
soluções prontas ou fáceis para os dilemas que apresenta, e talvez esse nem
fosse o seu objetivo. O que interessa para Szumowska é mais uma atmosfera ambígua
na dicotomia entre atração e repulsa que aquele novo mundo representa para
Anne, estabelecendo um encadeamento de cenas e situações que variam de forma
desconcertante entre várias sensações e sentimentos (erotismo, desejos difusos,
sordidez, culpa, delírios). O formalismo de “Elles” acompanha essa complexidade
temática, tendo uma encenação que tanto se caracteriza em alguns momentos pela
leveza sensual quanto por uma pesada solenidade dramática, enquanto a dinâmica
da montagem cria um vórtice temporal hipnotizante na variação dos tempos
narrativos e ambientações entre o real e o onírico.
segunda-feira, abril 18, 2016
Decisão de risco, de Gavin Hood ***
Boa parte das inovações tecnológicas das quais a sociedade
já desfrutou (e ainda desfruta) tem por origem a descoberta para fins
militares. Dessa forma, não deixa de ser irônico que aquilo que é usado pela
maioria das pessoas como necessidade e prazer teve por fim primordialmente uma
letalidade de caráter moral duvidoso. Esse dilema vem à mente quando se assiste
à “Decisão de risco” (2015). Em termos temáticos, a obra do diretor Gavin Hood
se propõe como uma visão crítica sobre as escolhas éticas a envolver danos
colaterais (baixas civis, principalmente) em operações militares no combate ao
terrorismo. É louvável nessa reflexão do roteiro do filme que não há uma
procura por soluções fáceis e conciliatórias, com uma trama que expõe algumas
expressivas nuances políticas e sociais que envolvem decisões sobre a vida e
morte dos inimigos do ocidente, permitindo-se ainda até alguns toques irônicos
surpreendentes (o general que pouco antes de comandar uma ação de captura está
indeciso na compra de uma boneca para a filha ou o fleumático ministro das
relações exteriores britânico que toma uma importante decisão militar sentado
num vaso sanitário durante um desarranjo intestinal). Por outro lado, Hood
demonstra um encanto com todos os brinquedos bélicos que são mostrados ao longo
da história, principalmente com drones de multiusos (ataques devastadores,
espionagem). Toda essa tecnologia é esmiuçada com um detalhismo esmerado,
incorporando-se de forma fluida nas rigorosas encenação e montagem da produção.
Nesse sentido, a dinâmica narrativa e o cuidado das composições cênicas fazem
lembrar o extraordinário “Falcão negro em perigo” (2001). Ainda que talvez essa
ambiguidade entre o olhar crítico sobre a guerra ao terror e a atração imagética
pelo aparato militar não tenha sido a intenção inicial de Hood, ela acaba sendo
emblemática dos tempos confusos em que vivemos e faz de “Decisão de risco” uma
interessante obra a refletir alguns dilemas morais tortuosos contemporâneos.
sexta-feira, abril 15, 2016
Somos o que somos, de Jim Mickle **
O diretor norte-americano Jim Mickle tinha se mostrado como
um nome promissor dentro do cinema fantástico quando lançou o ótimo “Stake Land”
(2010), obra que combinava de forma eficiente horror e ficção científica. As
boas expectativas da produção mencionada, entretanto, não se confirmam em “Somos
o que somos” (2013). No filme em questão, o cineasta volta ao gênero terror,
buscando uma abordagem dentro mais da tensão psicológica do que no escatológico
escancarado. Ocorre que essa atmosfera de suspense nunca se mostra consistente
de maneira efetiva. A encenação é rígida e esquemática, e, aliada a um roteiro
excessivamente formulaico, faz com que a narrativa nunca engrene. Faltou uma
caracterização de personagens e situações menos superficial e um elenco com
intepretações mais carismáticas. Mesmo nas sequenciais iniciais, em que
predominam as cenas mais sangrentas e explícitas, há uma impressão de estética
asséptica e bem comportada. Para uma obra que versa sobre canibalismo e se
pretende com um viés de conto gótico, fica a impressão da necessidade de uma
maior ousadia formal e temática capaz de gerar para o espectador uma experiência
audiovisual memorável e perturbadora.
quinta-feira, abril 14, 2016
Vida cigana, de Emir Kusturica ***1/2
Para aqueles habituados ao padrão artístico do diretor
sérvio Emir Kusturica, não haverá grandes surpresas em “Vida cigana” (1988).
Está lá a característica combinação de melodrama histórico, crítica social, personagens
esquisitos, humor entre o grotesco e o poético, estética exuberante e uma
trilha sonora repleta de temas regionais que transitam entre o dançante e o
melancólico. Ainda assim, somente um cineasta criativo como Kusturica consegue
dar uma liga tão coesa e impactante para tais elementos. A trama que narra a
trajetória de um jovem cigano em busca de uma vida melhor pode soar por vezes
clichê em algumas de suas soluções. Ocorre, entretanto, que perpassa sempre uma
atmosfera de sarcástica ironia a demolir os valores pequenos burgueses da
sociedade ocidental, principalmente na relação simbólica que se estabelece
entre capitalismo e crime para evidenciar a tênue linha que os separas. Para
embalar essa desiludida crônica sobre pequenos marginais e perdedores,
Kusturica investe num formalismo que abarca por fezes o viés bufante operístico
de Fellini e em outros momentos aquele misto de escrotidão e lirismo do
clássico “Feios, sujos e malvados” (1976). Poucos anos depois, Kusturica
aperfeiçoou esse particular estilo e entregou a sua obra-prima, “Underground”
(1995).
quarta-feira, abril 13, 2016
O movimento, de Benjamin Naishtat ***1/2
Se Alceu Valença realizou uma espécie de inventário emocional
e cultural da formatação existencial do sertão nordestino em “A luneta do tempo”
(2014), em “O movimento” (2015) o diretor Benjamin Naishtat apresenta a sua
visão sombria sobre a estruturação sócio-política da Argentina. Em ambas as
obras as narrativas se adaptam dentro de abordagens que buscam uma síntese
entre a linguagem naturalista e o viés delirante e estilizado. No caso da
produção portenha, essa formatação se expande a partir da utilização de
recursos típicos do teatro do absurdo e da evocação estilística dos gêneros do
faroeste e do expressionismo alemão. O resultado dessa inusitada combinação de
referências é perturbador. A encenação concebida por Naishtat valoriza os
diálogos enigmáticos e repletos de estranhas simbologias e uma composição
cênica icônica. A direção de fotografia em preto e branco cria uma ambientação
sombria digna de um pesadelo na ênfase no uso de jogos de sombras (é
extraordinária a forma com que os atores se movimentam dentro de uma densa
escuridão, inclusive nas oníricas cavalgadas à noite). O elenco demonstra forte
sintonia com as escolhas artísticas de Naishtat, com interpretações que
incorporam de maneira fluente maneirismos típicos da vertente anti-naturalista.
Todas essas soluções estéticas se mostram como a moldura ideal para um agudo roteiro
que disseca de maneira impiedosa a violência e a hipocrisia que acompanharam o
desenvolvimento da sociedade argentina, o que fica evidente no genial truque
temático da conclusão “O movimento”, quando passado e presente se aproximam
como se fossem uma coisa só.
terça-feira, abril 12, 2016
Rua Cloverfield, 10, de Dan Trachtenberg ***1/2
Apesar das tramas pertencerem ao mesmo universo temático, há
diferenças gritantes na formatação de “Cloverfield – Monstro” (2008) e “Rua
Cloverfield, 10” (2016). Enquanto a primeira produção se vincula a estética da “câmera
subjetiva”, com muitas cenas tremidas ou com a ação principal fora de foco, o
filme mais recente se vale de uma abordagem estética mais tradicional. E dentro
desse aparente convencionalismo, a obra dirigida por Dan Trachtenberg se mostra
bem mais satisfatória e memorável. Vale ressaltar que essa preferência por
recursos narrativos mais “óbvios” é executada com bastante elegância e
precisão. As primeiras tomadas são exemplares dessa tendência – da partida
apressada da protagonista Michelle (Mary Elizabeth Winstead) da casa que em que
vivia numa metrópole modernosa populosa, passando por sua fuga pelo interior do
país e chegando ao abalroamento de seu veículo na estrada, há um senso
narrativo admirável, quase que exclusivamente visual e baseado no poder da
sugestão, não havendo aquela necessidade de entregar tudo mastigado para o
espectador. Quando a ação passa para os espaços reduzidos de um abrigo
antiaéreo, em que Michelle é mantida em cativeiro pelo paranoico Howard (John
Goodman), a ambientação e o suspense se tornam claustrofóbicos. Trachtenberg
consegue dosar de maneira concisa tensão, ironia e violência gráfica,
aproveitando muito das possibilidades criativas de um cenário reduzido e
sombrio, além de contar com a atuação carismática de Winstead e um desempenho
assustador de Goodman (o cara tem a manha para criar tipos psicóticos inesquecíveis,
vide “Barton Fink” e “O grande Lebowski”). Durante boa de sua duração, “Rua
Cloverfield, 10” se sustenta de forma equilibrada entre o suspense psicológico
e a atmosfera de fantasia. Em suas sequências finais, entretanto, descamba para
um misto de aventura e ficção científica alucinada, com cenas de ação dirigidas
com intensidade e clareza notáveis. Essa oscilação de gêneros pode soar
estapafúrdia, mas dentro da formatação criada por Trachtenberg soa natural e
convincente, como se fosse uma atualização apaixonada dos trejeitos e
maneirismos típicos de antigas produções B.
segunda-feira, abril 11, 2016
A luneta do tempo, de Alceu Valença ***
O cineasta Alceu Valença demonstra sintonia artística e
existencial com o músico e compositor Alceu Valença. O longa-metragem ficcional
“A luneta do tempo” (2014) pode ser entendido como uma extensão audiovisual das
concepções estéticas de suas canções. O filme é um caleidoscópio delirante de
ideias misturando faroeste, literatura de cordel, ópera-rock, crítica social e
revisionismo histórico. Valença está mais preocupado em dar vazão às suas
obsessões temáticas e estilísticas do que se adequar às regras formais
cinematográficas. Assim, por vezes, chega a ser incômoda uma certa fuleiragem
técnica do filme, principalmente em termos de edição. No final das contas, entretanto,
isso acaba sendo um pequeno detalhe diante da encenação criativa e vigorosa da
obra, com uma narrativa que não se vincula necessariamente ao realismo, mas sim
a uma ambientação onírica e estilizada. Dentro dessa abordagem personalíssima
do cineasta, pode-se perceber uma visão profunda e emocional da formação
cultural do sertão nordestino, na sua combinação de fatos históricos, lendas e
manifestações artísticas. O roteiro sugere um atavismo desconcertante tanto na
caracterização dos personagens quanto das situações da trama, e que acaba se
revelando bastante coerente ao se relacionar com o presente cenário conturbado
político do Brasil (a tragédia que se repete como farsa...). E tudo isso vem
sublinhado com uma bela trilha sonora composta e executada por Valença, em que
a habitual mistura de regionalismo e influências universais (música árabe e
rock) atinge uma síntese sonora impactante.
sexta-feira, abril 08, 2016
Permanência, de Leonardo Lacca **1/2
Há algo de anacrônico que permeia a atmosfera de “Permanência”
(2014) de maneira constante. A direção glacial de Leonardo Lacca nunca arrebata
o espectador, mas se revela discretamente sedutora pela elegância com que
conduz a narrativa, impedindo que a obra caia em excessos sentimentais ou
maneirismos formais óbvios. Os dilemas existenciais do protagonista Ivo
(Irandhir Santos) não representam novidades ou algo de grande impacto, até
porque há muito de sugestivo na encenação proposta por Lacca. Dá para perceber
de leve que Ivo traz dentro de si alguma espécie de insatisfação, uma pendência
mal resolvida ou mesmo um desconforto com as veleidades da vida
pequeno-burguesa. Ao reencontrar um amor do passado, Rita (Rita Carelli), seu
silencioso equilíbrio emocional parece se abalar. Nesse pequeno universo, tudo
parece ter um ar blasé e distanciado, como se Lacca buscasse uma conexão com as
situações e personagens de alguns dos melhores dramas existencialistas de
Michelangelo Antonioni. Ainda que o diretor brasileiro não tenha a mesma classe
artística do grande mestre do cinema italiano, “Permanência” até consegue ter
um curioso encanto em determinadas sequências, principalmente nas cenas que
envolvem um conteúdo erótico e na química interpretativa entre Irandhir Santos
e Rita Carelli. O estilo passadista da produção por vezes impede que a
narrativa efetivamente decole, mas também não deixa de ser um atrativo
particular pelo seu caráter referencial.
quinta-feira, abril 07, 2016
A juventude, de Paolo Sorrentino **
É interessante perceber que há uma sintonia existencial e
artística entre “A juventude” (2015) e o filme imediatamente anterior do
diretor italiano Paolo Sorrentino, “A grande beleza” (2013). Ambas as obras se
pretendem como uma espécie de síntese entre reinterpretação, atualização e
homenagem a uma série de maneirismos estéticos e temáticos da época áurea do
cinema italiano (algo entre as décadas de 50 a 70). Essa abordagem do cineasta
se mostra pertinente ao se relacionar com a atualidade, tanto no panorama
sócio-político quanto no cenário cinematográfico. A pretensão de Sorrentino é
evidenciar em tais produções humanismo e erudição que se mostram cada vez mais
ausentes nas relações humanas do mundo contemporâneo, além de adotar uma linguagem
formal reflexiva e rebuscada que destaque um cinema distante do padrão
frenético de Hollywood. Em “A grande beleza”, tais preceitos resultavam num
filme envolvente e repleto de ironia refinada, ainda que no conjunto geral não
tivesse o mesmo impacto sensorial de “O divo” (2008), a grande obra-prima de
Sorrentino. Em “A juventude”, a aludida fórmula artística desanda de maneira
fragorosa. Não que seja um filme ruim – é apenas anódino, sem alma. Por mais
que haja uma grande pretensão intelectual nas elocubrações dos personagens,
expressivos voos virtuosísticos em algumas soluções formais e um distanciamento
emocional cool na atmosfera da produção, nada disso consegue fazer com que a
narrativa cative ou encante. As referências culturais realmente são
sofisticadas, como a evocação do onirismo de “Oito e meio” (1963) ou o
decadentismo elegante de “Morte em Veneza” (1971), além é claro da ambientação
remeter diretamente ao grande clássico literário “A montanha mágica”. Falta
para Sorrentino, entretanto, a esfuziante criatividade de Fellini ou o senso
operístico derramado e por vezes sórdido de Luchino Visconti. “A juventude” se
perde em uma plasticidade fotogênica estéril, na redundância dos diálogos e situações
do roteiro e na solenidade empostada das interpretações de seu elenco. Em
alguns momentos, é até agradável de ver na sua confluência de belos cenários e
mulheres bonitas, além da trilha sonora ser efetivamente brilhante. Mas no
final das contas acaba sendo muito pouco para um diretor como Sorrentino.
quarta-feira, abril 06, 2016
Casamento grego 2, de Kirk Jone 1/2 (meia estrela)
Noite de 1º de abril de 2016, no teatro do Bourbon Country
de Porto Alegre. Elza Soares apresenta com a sua banda o show “A mulher do fim
do mundo”. Não é uma apresentação qualquer. Boa parte do público presente
difere bastante dos frequentadores habituais do shopping em questão – são jovens
vestidos de forma mais desleixada, com cabelos desgrenhados, sem dar muita bola
para a grife do momento. Os ânimos estão exaltados, houve uma mudança na
questão da meia-entrada para estudantes, e em função disso algumas pessoas têm
a entrada barrada ou atrasada por questões burocráticas. Considerando que na
noite anterior houve as manifestações contra o impeachment, e que provavelmente
um número considerável dos espectadores estiveram lá também (inclusive este que
vos escreve), dá para se ter uma ideia do ambiente tenso Antes de começar o
show, proliferam gritos de “libera” por parte de vários jovens. Pode-se
perceber que algumas senhoras aparentam preocupação, afinal estão lá na
esperança de ver com tranquilidade a Elza cantando alguns tradicionais
clássicos de Lupicinio Rodrigues. Quando começa efetivamente a performance de
Elza, parece que temos a trilha sonora perfeita para essa atmosfera conturbada –
uma brilhante síntese de samba, rock torto e ruído, com Elza sentada no trono
como uma rainha soturna, a proferir um canto marcado pela sabedoria, ginga e
contestação. Melodias sombrias, ritmos quebrados e letras perturbadoras
encontram ressonância numa plateia que fica numa zona limite entre hipnotizada
e ensandecida.
Dois dias depois, há uma sessão do filme “Casamento grego 2”
(2016) em algumas das salas de cinema do mesmo Bourbon Country. As coisas
parecem ter voltado ao “normal” no respeitável centro de consumo. Na plateia,
senhoras e senhoritas vestidas dentro do seu esmero característico, com seus
indefectíveis celulares de ponta sendo acionados a todo momento durante a
projeção do filme. Na tela, simplesmente uma das piores produções dos últimos
tempos. O diretor Kirk Jones dá a impressão de ter chutado o balde – como se
trata de uma sequência de um grande sucesso, dirige de qualquer jeito e sem
muitos critérios estéticos. Seu formalismo é uma junção de clichês narrativos
de almanaque, o elenco no geral não faz muita força para entregar alguma
atuação provida de vigor ou elaboração, o roteiro é um compêndio de imbecilidades
e lugares comuns babacas e edificantes, em que idosos são retratados como
criaturas fofinhas, o conflito de gerações é reduzido a lições de morais
simplórias e os dilemas das mulheres se resumem a encontrar uma boa forma de
agradar ao mesmo tempo seus pais e os seus maridos. A cada cinco minutos, o
espectador é submetido à alguma cena em que algum personagem discursa lições de
vida sublinhadas por uma trilha sonora melosa horrível. Esse conjunto pífio e
asqueroso de obviedades e golpes sentimentais apelativos é recebido com ovação
pela grande maioria do público. É claro que assim que começam os créditos,
todos saem correndo, satisfeitos com essa boa dose de diversão escapista
respeitável. É provável que assim que cheguem nos seus carros já tenham até
esquecido tudo que viram nas últimas duas horas.
Pode-se achar que fazer um contraponto entre a apresentação
abrasiva de Elza Soares e a sessão bem comportada de “Casamento grego 2” seja
forçar a barra. Nos tempos tenebrosos em que vivemos, entretanto, em que
setores da sociedade defendem um golpe de Estado em nome de valores confusos e
questionáveis, as situações aqui descritas acabam sendo bem emblemáticas...
terça-feira, abril 05, 2016
Para minha amada morta, de Aly Muritiba **
Nas primeiras sequências de “Para minha amada morta” (2015),
há elementos e indícios promissores para a produção – as premissas do roteiro
sugerem caminhos contundentes para a trama, o formalismo apresenta algumas
nuances interessantes em termos de atmosfera e tratamento visual, a abordagem
narrativa revela uma certa sobriedade. Com o desenrolar da história,
entretanto, essas boas impressões iniciais acabam se diluindo de maneira
frustrante. O que era para ser tenso e perturbador acaba se configurando apenas
como enfadonho. Faltou coragem artística para o diretor Aly Muritiba na forma
com que acomoda suas soluções temáticas e estéticas. É claro que é complicado
querer dizer como deveriam ser os rumos certos de um roteiro, mas a verdade é
que para ter uma coerência existencial nos rumos da trama era necessário que as
resoluções fossem mais extremas e menos conciliatórias. Deveria ter mais
violência, sexo e sordidez para que os dilemas e contradições do protagonista
Fernando (Fernando Alves Pinto) fossem mais palpáveis e efetivamente
perturbadores. Mesmo no relacionamento entre os personagens não há uma concisão
dramática e um aprofundamento na dinâmica entre eles, ficando tudo num nível
muito superficial. A conclusão do filme espelha com fidelidade os rumos
oscilantes da abordagem de Muritiba – a decisão de Fernando em deixar tudo para
lá podia ter sido tomada logo no início do filme, fazendo com que toda a sua
trajetória ao longo da trama pareça sem sentido e inútil, revelando ainda um
moralismo incômodo. Se for para se comparar dentro do gênero suspense no âmbito
nacional, falta para “Para minha amada morta” a tensão pelo inesperado de “Quando
eu era vivo” (2014) e a ambiência de sensualidade exasperada e violência
psicológica de “O lobo atrás da porta” (2013), ou seja, características que
poderiam tornar o trabalho de Muritiba uma experiência memorável para o
expectador.
segunda-feira, abril 04, 2016
A princesa da França, de Matias Piñeiro ***1/2
O diretor argentino Matias Piñeiro volta a usar em “A
princesa da França” (2014) maneirismos estéticos e temáticos que já apareciam
em obra anterior sua, “Viola” (2012). Só que nessa produção mais recente a
impressão é de que ele aprofunda e radicaliza ainda mais a sua insólita
proposta artística. A abertura do filme já deixa claro as suas intenções – num belo
e longo plano-sequência, é mostrado uma partida de futebol-cinco numa quadra em
que duas equipes de cores diferentes vão se tornando um time só. Ou seja, em “A
princesa da França” é a vez do surrealismo dar às caras com força considerável.
Nesse viés, a narrativa fica fragmentada, com Piñeiro filmando uma mesma
situação do roteiro por diversas vezes, sendo que em cada tomada o
direcionamento dos fatos é diverso, assim como as próprias atitudes dos
personagens. É como se o cineasta burilasse soluções narrativas e ficasse com
todas aos mesmo tempo. Tais escolhas formais podem parecem estranhas, mas
acabam revelando forte sintonia com outros aspetos característicos da estética
de Piñeiro como sua encenação livre e vigorosa, as caracterizações do elenco
que primam por uma esquisita síntese entre o nonsense e a profundidade
dramática, o cruzamento metalinguístico entre os ensaios de uma peça teatral e
a vida pessoal dos seus atores, a direção de fotografia seca e elegante que
evoca uma atmosfera quase documental. E talvez ainda resida boa parte da essência
artística do cinema de Piñeiro: a impressão de se estar assistindo a um
registro beirando o onírico do cotidiano.
sexta-feira, abril 01, 2016
Joe Strummer: O futuro está para ser escrito, de Julien Temple ***1/2
Numa entrevista recente para a televisão, o violonista
Yamandu Costa disse algo bem interessante – a de que quando as pessoas
supostamente conversavam sobre música com ele, na realidade elas falavam de
tudo (fama, dinheiro e afins), menos sobre a música em si. O documentário “Joe
Strummer: O futuro está para ser escrito” (2008) tem uma relação forte com esse
pensamento de Yamandu. O filme tem como temática a trajetória artística e
pessoal do líder da mitológica banda punk The Clash, mostrando os seus anos de
formação antes do surgimento da banda, o período de criatividade intensa e
grande sucesso comercial de quando o Clash estava na ativa, o longo hiato no
ostracismo de Strummer após a dissolução do grupo, a retomada vigorosa da
carreira solo e a morte repentina. O documentário não se limita a uma mera
amostragem cronológica dos fatos – o diretor Julien Temple tem a bela sacada
narrativa de deixar evidente boa parte do lado subjetivo, ideológico e criativo
de Strummer, mostrando os dilemas e contradições que moviam a sua inspiração
como músico e compositor, além de contextualizar com sensibilidade todo a rica
ambientação cultural e social que o envolvia. Muito mais do que resumir a
carreira de Strummer a um critério mercadológico e reducionista do quanto ele
teve sucesso comercial ou não, Temple oferece um amplo e fascinante panorama do
amadurecimento existencial tanto do artista quanto do ser humano, em que fica
evidente de maneira pungente o jovem em busca de conhecimento e de uma
linguagem artística própria, o indivíduo de ideias políticas radicais e
emocionalmente imaturo que se enredeia nas armadilhas do showbusiness, o homem
que longe dos holofotes adquire serenidade e sabedoria e o veterano músico que
sintetiza suas influências e visões pessoais numa arte atemporal. A formatação
criada pelo cineasta tem uma notável sintonia com o particular estilo cultivado
por Strummer ao longo dos anos, abusando de colagens e outros truques de edição
que dão a impressão de um fervilhante caleidoscópio de imagens e ideiais,
intercalando ainda com recursos tradicionais no gênero (entrevistas e imagens
de arquivo) e uma espécie de encenação em que amigos e admiradores de Strummer
conversam ao redor de uma fogueira. Esse conjunto estético dá à produção uma atmosfera
rústica e espontânea, como uma boa e velha canção do Clash.
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