Depois de tangenciar o horror de forma frustrante em “O
exorcismo de Emily Rose” (2005), o diretor Scott Derrickson volta ao gênero de
forma bem mais convincente em “A entidade” (2012). Para começar, ele dispensa o
psicologismo barato do filme anterior e se volta ao sobrenatural escancarado. Alguns
dos clichês mais usados nas produções de terror contemporâneas estão lá, mas
Derrickson os utiliza de forma engenhosa, explorando mesmo nesses elementos
recorrentes uma abordagem por vezes insólita. Isso fica evidente,
principalmente, quando adota o estilo
documental para mostrar vídeos aparentemente amadores de assassinatos. Aos invés
de adotar simplesmente o estilo “falso
documentário amador”, o cineasta insere elementos desse estilo no meio de uma
narrativa tradicional, provocando um contraste bastante perturbador. A seqüência
inicial, por exemplo, em imagem granulada e de tons esmaecidos, do enforcamento
simultâneo de uma família inteira acaba ganhando uma dimensão assustadora ainda
maior de acordo com o desenrolar da trama. É claro que nem tudo é perfeito, com
destaques negativos para os fuleiros efeitos especiais e a tosca maquiagem. No
saldo final, entretanto, predomina a sensação de um terror que consegue
efetivamente provocar algum sentimento de tensão na platéia.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
sexta-feira, dezembro 28, 2012
quinta-feira, dezembro 27, 2012
Os infratores, de John Hillcoat ****
A parceria entre o diretor John Hillcoat e o roteirista e
músico Nick Cave já havia gerado uma contundente releitura do gênero faroeste
na obra-prima “A proposta” (2005). Os dois novamente se reúnem em “Os
infratores” (2012), mas agora numa espécie de revitalização dos filmes de
gangsteres. Apesar das referências históricas que vez e outra aparecem na
trama, a verdade é que a estética da produção evoca mais uma vez a estrutura de
um faroeste. Há um tom crepuscular na narrativa, assim como uma estrutura
estilística que oscila entre elementos realistas e icônicos. De certa forma,
faz lembrar algo de um John Ford imerso em sangue e brutalidade. Por vezes, a
exacerbação e a encenação algo operística dessa violência remete ao cinema
visceral de Sam Peckinpah. Essas influências e referências que despontam em “Os
infratores”, entretanto, não significam que tal obra seja meramente derivativa.
Muito pelo contrário. A partir do resgate desse classicismo formal e temático,
Hillcoat constrói de forma inspirada uma narrativa vigorosa e repleta de
virtuosismo cinematográfico, buscando um precioso equilíbrio entre o sutil
suspense e o tom grandioso de cenas ação altamente impactantes. O roteiro de
Cave combina magistralmente aventura e um subtexto que é uma bem elaborada
dissecação do que representa a mitificação na cultura ocidental, na vertente do
clássico “O homem que matou o facínora” (1962), clássico do mencionado Ford.
Além disso, sua trilha sonora, composta ao lado de Warren Ellis, fornece o
clima adequado na junção de country e blues enfezados. Coroando esse belo
trabalho de Hillcoat, não há como ficar impassível perante o ótimo trabalho de
composições dramáticas de seu elenco (com destaque para Tom Hardy e Guy
Pearce), que enveredam por caracterizações que enfatizam mais uma iconografia
particular de uma época (violência, sensualidade, ambiguidade moral) do que
densidades psicológicas.
quarta-feira, dezembro 26, 2012
Moonrise Kingdom, de Wes Anderson ****
Na animação “O Fantástico Sr. Raposo” (2009), o diretor Wes
Anderson enveredava pelo gênero da aventura juvenil de tom fabular, mas sem
nunca perder o seu senso particular de cinema, pervertendo sutilmente alguns
dos cânones inerentes a esse tipo de filme. Em “Moonrise Kingdom” (2012) ele
volta a se aventurar na seara juvenil e consegue resultados ainda mais
surpreendentes. Anderson é daquele tipo raro de cineasta que parece estar
sempre fazendo a mesma coisa, mas que na realidade se mostra como um autor que
a cada obra burila e aperfeiçoa o seu estilo. Nessa produção mais recente, ele
propõe uma abordagem desconcertante com as suas soluções formais. Talvez esse
seja o filme em que ele dá mais vazão ao seu virtuosismo estético – é só
reparar na notável dinâmica narrativa imposta pelos seus sucessivos planos-sequências.
A direção de fotografia também mostra um trabalho diferenciado no que diz
respeito a enquadramentos que evocam uma deslumbrante dimensão pictórica para
algumas sequências. A utilização da música em “Moonrise Kingdom” colabora mais
ainda para esse tom de conto de fadas fora do tempo e do espaço (ainda que a
trama se situe nos anos 60) que a produção evoca com constância – temas didáticos
e canções sessentistas emblemáticas se complementam de forma inesperada e orgânica.
Coroando tudo isso há a encenação preciosista de Anderson, em que a simples disposição
dos atores e objetos em cena desempenham papel crucial na iconografia do
diretor, além da caracterização genial do seu elenco – se por um lado a ala
infantil é marcada por interpretações anti-naturalista e icônicas, por outro os
atores adultos (principalmente pelo trio Bill Murray, Bruce Willis e Frances McDormand)
enfoca o dramatismo melancólico, gerando um contraste impactante.
sexta-feira, dezembro 21, 2012
Antônio Conselheiro - O taumaturgo dos sertões, de José Walter Lima ***
Para contar a história de Canudos, o diretor José Walter
Lima preferiu não seguir um formato mais convencional. Abdicando da simples
recriação de época, o que interessou para o diretor foi realizar uma espécie de
tratado sensorial sobre aquele movimento revoltoso. Em “Antônio Conselheiro – O
taumaturgo dos sertões” (2012), a encenação da trajetória do líder messiânico e
seus seguidores possui um formalismo bruto e sem concessões, em que os recursos
modestos da produção acabam ganhando até uma sintonia artística e espiritual
com a sua própria temática. Momentos de caráter teatral enfatizam o aspecto
delirante de Conselheiro e acólitos, assim como a recriação naturalista de
outros trechos, com um viés de influência neo-realista, evoca muito da
literatura sobre o tema, de escritores como Euclides da Cunha e Vargas Llosa.
Nesse sentido, por vezes, Lima dá a impressão de estar realizando um falso
documentário tamanha a crueza de seu registro e a direção de seus atores
amadores. Essa gama de referências e estilos compõe um estranho mosaico, cuja
beleza hermética afasta o filme de um simples didatismo e faz o espectador
mergulhar no imaginário coletivo de uma época.
quarta-feira, dezembro 19, 2012
My Way - O mito além da música, de Florent Emilio Siri ***
A exemplo de “Piaf – Um hino ao amor” (2007) e “Gainsbourg –
O homem que amava as mulheres” (2010), “My Way – O mito além da música” (2012) é
mais uma cinebiografia de um ídolo musical francês. E assim como nos filmes
mencionados, a opção estética vem por uma estilização tanto na parte formal
quanto na temática. Assim, o que interessa para o diretor Florent Emilio Siri não
é uma visão de realismo minucioso ao retratar a vida do cantor e compositor francês
Claude François. A trama se centraliza num enfoque exagerado e melodramático
dos principais fatos da trajetória de François, com tal abordagem se vinculando
ao próprio caráter de romantismo exagerado e/ou alegria kitsch das suas mais
expressivas canções, sugerindo a clássica máxima que a vida e a arte se
misturam de forma indistinta. Dentro dessa concepção mitificadora, a
interpretação de Jérémie Renier no papel principal cai como uma luva, num
trabalho de composição dramática em que afetação e grotesco se insinuam com
naturalidade até perturbadora.
terça-feira, dezembro 18, 2012
Kichiku: O banquete das bestas, de Kazuyoshi Kumakiri ***1/2
Há em “Kichiku: O banquete das bestas” (1997) o choque de
duas diferentes abordagens para a mesma trama. Por um lado, o cineasta japonês
Kazuyoshi Kumakiri concebe um cinema reflexivo, beirando o exasperante na
construção psicológica de seus personagens. A narrativa é de um andamento
lento, sufocante, não havendo espaço para uma empatia emocional com o que está
havendo nas telas, e sempre realçando que algo trágico está na iminência de
ocorrer. Predomina um distanciamento emocional – o mecanismo de relação entre
os indivíduos se dá por elementos como a sexualidade opressiva, a traição, a
frieza. Diante desse panorama desolador, Kumakiri insere noções surpreendentes
de cinema gore, dignas das mais produções mais extremas no gênero horror.
Assim, o cineasta não se furta a abusar da violência, do sangue e do escatológico
em algumas das cenas mais memoráveis do filme. Toda essa brutalidade, gratuita
ou não, acaba desenvolvendo uma estranha relação de coerência e complementação com
a já aludida construção formal e temática de um drama psicológico, resultando
numa obra distante dos padrões comerciais vigentes e não muito recomendada para
aqueles de estômago fraco.
segunda-feira, dezembro 17, 2012
O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho ***1/2
Nos curtas “A menina do algodão” (2003) e “Vinil verde”
(2004), o diretor Kleber Mendonça Filho já havia demonstrado que o elemento do
fantástico se insinuava de forma sutil e personalíssima no seu cinema. No longa
“O som ao redor”, tal concepção novamente se manifesta e de forma ainda mais
insólita. A estrutura narrativa pressupõe uma obra de cunho realista, num
registro que aparentemente evoca pequenas ações e gestos do quotidiano num
bairro classe média de Recifes. Aos poucos, entretanto, a trama vai
apresentando estranhas intervenções, que variam entre o delírio, o cômico e o
suspense. Kleber utiliza uma estética elegante e precisa na sua encenação, em
que o enfoque não está em grandes viradas climáticas no roteiro, mas sim num
crescente exasperante na caracterização de situações e personagens. Esse
formalismo um tanto bizarro do cineasta se acentua na forma com que o áudio se
insere no filme – há pouquíssima música incidental em cena, valorizando tanto
os barulhos ambientais quanto o próprio silêncio como recursos dramáticos.
Assim, as escolhas artísticas de Kleber resultam numa obra inquietante como
poucas no cinema brasileiro recente, capaz de causar um inesperado encanto para
os espectadores.
sexta-feira, dezembro 14, 2012
Busca implacável 2, de Olivier Megaton **
O primeiro “Busca implacável” (2008) havia sido uma surpresa
positiva dentro do panorama dos filmes de ação contemporâneos. O diretor Pierre
Morel obteve uma síntese bastante eficiente – boas cenas de ação, violência de
impacto considerável, razoável densidade dramática, um protagonista
carismático e roteiro enxuto e sem maiores exageros. “Busca implacável 2”
(2012) não consegue manter o mesmo nível. Olivier Megaton foge daquilo que o
filme originário tinha de melhor, fazendo de sua produção uma espécie de episódio
alongado e piorado do velho seriado “Profissão Perigo” (aquele que tinha MacGyver,
o mestre das saídas estapafúrdias). Tudo é muito genérico e sem personalidade.
Apenas Liam Neeson consegue se sobressair, mostrando que é um ator que consegue
manter a classe mesmo diante de uma obra medíocre e sem direção.
quinta-feira, dezembro 13, 2012
Hotel Transilvânia, de Gendy Tartakovsky **1/2
Há uma tendência entre as animações infanto-juvenis
contemporâneas em buscar uma temática que se aproxime de uma abordagem mais
sombria. De certa forma, isso não chega a ser propriamente uma novidade, no
sentido que mesmo algumas das mais antigas fábulas possuem um tom sinistro em
determinadas passagens. Por vezes, tal direcionamento resulta em obras de
seqüências assustadoras, que mexem com alguns dos nossos medos mais profundos,
capazes de perturbar tanto crianças quanto adultos, como em “Coraline e o mundo
secreto” (2009) e “Toy Story 3” (2010). Em outras produções, a referida
vertente se consuma num roteiro que procura tirar o caráter assustador de
elementos que na sua origem trazem uma formatação mais sinistra (vide
“Megamente” e “Meu vilão favorito”, ambos de 2010). “Hotel Transilvânia” (2012)
se vincula a essa segunda corrente mais amena, ao trazer uma trama em que
vampiros, lobisomens, zumbis, franskensteins, múmias e demais figuras afins
trazem uma caracterização “fofinha”. O formalismo do filme é competente no seu
traço e desenvoltura como animação, mas não consegue transcender muito mais do
que isso. A produção ressente também de uma maior ousadia em termos criativos
no sentido que a premissa de mostrar uma visão diferenciada desses monstros
clássicos prometia uma experiência menos óbvia em termos de previsibilidade do
roteiro.
quarta-feira, dezembro 12, 2012
Looper - Assassinos do futuro, de Rian Johnson ***
As referências de “Looper – Assassinos do futuro” (2012) não
são tão difíceis de detectar: realidade futurística distópica a lá Philip K.
Dick, tom desesperançado típico do cinema noir, trama relativamente intrincada
que evoca alguns clássicos da ficção científica como “Blade Runner – O caçador
de andróides” (1982) e “Os 12 macacos” (1995) – em relação a esse último,
talvez a presença de Bruce Willis no elenco não seja pura coincidência. É claro
que tais referências dão uma impressão de uma produção estilo “colcha-de-retalho”.
O diretor Rian Johnson, entretanto, consegue transcender o simples pastiche.
Sua encenação é orgânica e convincente, preservando uma certa verve criativa em
meio ao excesso de influências estéticas e da previsibilidade do roteiro. As
trucagens são até simples, na escola da trilogia “Matrix”, mas em determinados
momentos surpreendem pelo grau de explicitude de violência. No mais, dá para
conceder um crédito para Johnson pelo desempenho dramático do garoto Pierce
Gagnon, numa das atuações infantis mais assustadoras dos últimos tempos.
segunda-feira, dezembro 10, 2012
Fausto,de Alexander Sokurov ****
O que há em “Fausto” (2011) não é somente mais uma relação
entre cinema e literatura. O que o diretor russo Alexander Sokurov propõe é
mais ambicioso. Além de recriar o livro de Goethe, o cineasta disseca a própria
lenda que deu origem à obra literária e a transmuta para a sua visão
particular. O texto do filme, de tom poético e anti-naturalista, recebe um
tratamento formal que rompe com o linear e a narrativa convencional. Tudo soa
intrincado, enigmático e repleto de um subtexto de caráter simbólico. Assim,
ocorre uma união em perfeita sintonia artística entre a poesia de Goethe e a
insólita e particular estética de Sokurov. As angústias existenciais e
questionamentos metafísicos do personagem-título são envolvidos numa atmosfera
que parte do realismo e envereda pelos caminhos do delírio e do onírico. A
reconstituição da época medieval recebe uma direção de arte estilizada que não
se vincula necessariamente a um ideal “verossímil”, mas a um conceito que
delimita aquele período histórico: sordidez, sujeira, obscurantismo, violência.
Acentuando esse conceito de uma concepção formal difusa e estranha, a direção
de fotografia apresenta ideias e execução fenomenais, indo de planos-sequência
estonteante (a começar pelo sensacional vôo da câmera no plano de abertura) até
uma iluminação de tons pálidos e esmaecidos que caracterizam uma ambientação de
forte conotação fantástica. Coordenando esse
formalismo apurado, Sokurov apresenta uma encenação rigorosa e criativa – é notável
a forma com que se desenvolve a caracterização das situações e personagens.
Nesse último aspecto, figuras como o arredio e amedrontado Fausto (Johannes
Zeiler), a angelical Gretchen (Isolda Dychauc) e o insidioso demônio (Anton Adasinskiy,
em interpretação genialmente grotesca) ganham uma dimensão antológica pelas mãos
de Sokurov e se insinuam no nosso imaginário.
sexta-feira, dezembro 07, 2012
Intocáveis, de Eric Toledano e Olivier Nakache ***
Operando dentro de um subgênero perigoso, o dos melodramas
com “lições de vida”, a produção francesa “Intocáveis” (2012) acaba
surpreendendo por detalhes significativos. Mesmo com um roteiro previsível, os
diretores Eric Toledano e Olivier Nakache fazem a diferença ao comporem uma
dinâmica encenação (a perseguição automobilística da abertura do filme, por
exemplo, é primorosa) e também por elaborarem uma narrativa permeada de bom
humor. Além disso, a trama consegue inserir de forma bastante orgânica dentro
de seu mote principal uma das questões mais prementes da Europa moderna que é a
incorporação dos imigrantes na sociedade ocidental, fazendo com que o filme
seja um interessante reflexo do espírito de uma época. Há também em “Intocáveis”
uma certa atmosfera hedonista, tanto por algumas situações do roteiro em que os
protagonistas Philippe (François Cluzet) e Driss
(Omar Sy) se dedicam à sedução como pela vibrante trilha sonora recheada de
clássicos da black music (impossível não fazer uma conexão com a blackexploitation, principalmente pelas canções do Earth, Wind & Fire), fazendo com que a obra não caia em excessos
sentimentais.
quinta-feira, dezembro 06, 2012
Os infiéis, de Jean Dujardin e outros **1/2
Por ser uma obra episódica e com vários diretores, “Os infiéis”
(2011) acaba parecendo uma colcha de retalhos devido aos diferentes estilos e
abordagens que abrangem as histórias narradas, todas elas tendo como temática a
infidelidade conjugal masculina. Assim, momentos de comédia escrachada,
beirando a chanchada e o puramente grosseiro, convivem sem cerimônia com episódios
mais dramáticos. É claro que isso confere à produção um caráter irregular, mas
que também se sobressai por uma certa crueza e até por uma ironia perversa ao
retratar as relações humanas (para aqueles habituados ao bom-mocismo das comédias
românticas norte-americanas contemporâneas, tal visão pode até causar um certo
choque).
quarta-feira, dezembro 05, 2012
Abraham Lincoln: Caçador de vampiros, de Timur Bekmantov **1/2
Dentro dessa onda atual de misturar fatos históricos ou clássicos
literários com elementos de horror, em voga tanto no cinema quanto na
literatura, “Abraham Lincoln: Caçador de vampiros” (2012) acaba sendo emblemático
das opções criativas, limitações e contradições que norteiam tal tendência.
Seria fácil julgar essa produção dirigida pelo russo Timur Bekmantov como um
besteirol inconseqüente destinado apenas a satisfazer o público adolescente. O
filme, entretanto, apresenta certas ousadias estéticas, a começar pelo trabalho
bastante estilizado de fotografia e direção de arte. Os excessos das trucagens
por vezes emulam um vídeo game, mas em outros momentos trazem um estranho
encanto visual pelo seu tom sombrio. Permeia também a narrativa uma atmosfera
bizarra e difusa – por mais esdrúxula que seja a trama, ao mostrar o célebre
presidente norte-americano em guerra contra criaturas vampirescas, em nenhum
momento o roteiro busca a paródia voluntária. Na verdade, o filme carrega uma
carga metafórica forte, até pouco sutil, ao relacionar as vilanias dos vampiros
com as posições reacionárias e escravocratas do sul dos EUA durante a Guerra da
Secessão. Nesse contexto, assim como outras obras recentes que utilizam figuras
clássicas da cultura fantástica (zumbis, vampiros, lobisomens, bruxas), a carga
sinistra de tais personagens é reduzida – não são criaturas assustadoras, mas
sim entes a serem abatidos sem a menor cerimônia. Desagradando-se ou não com
tais escolhas temáticas e formais, é inegável que “Abraham Lincoln: Caçador de
vampiros” é o tipo de filme que dificilmente não causa alguma reação por parte
da platéia – para o bem ou para o mal...
terça-feira, dezembro 04, 2012
Dredd, de Pete Travis **1/2
É impossível escrever sobre “Dredd” (2012) sem cair naquela
velha discussão já aludida neste mesmo blog sobre adaptações cinematográficas
de obras originárias dos quadrinhos. Como em outras oportunidades, reitero a
minha opinião sobre o assunto: não é necessário que um filme resgate todos os mínimos
detalhes das histórias que serviram como base para o seu roteiro. O importante é
que se preserve a essencialidade dos personagens e das situações, para que o
filme agrade não somente aos fãs dos “comics”, mas também aos apreciadores de
cinema em geral. Dito isso, vale mencionar que um dos fatores diferenciais para
que as histórias de Juiz Dredd se tornassem tão marcantes nos quadrinhos é que
no meio de tramas situadas num futuro pós-apocalíptico e distópico e permeadas
de violência, escatologia e pessimismo havia margem para uma sutil e ácida
ironia. Pois é justamente essa falta de bom humor negro que torna “Dredd” uma
obra frustrante, fazendo com que tanto o personagem-título como o roteiro
acabem soando genéricos, igual a tantas ficções científicas futuristas que
geralmente aparecem na telas. O diretor Pete Travis até eventualmente encontra
algumas soluções visuais que fogem um pouco do lugar comum, mas nada que tire
muito o filme de sua acomodação criativa.
segunda-feira, dezembro 03, 2012
Ted, de Seth MacFarlane ***
Por mais tacanha e reacionária que possa ter parecido a
reação do deputado federal sobre o filme “Ted” (2012), ela não deixa também de
ser muito emblemática em relação ao espírito da obra. Afinal, o
personagem-título e seu amigo John (Mark Wahlberg) são imaturos, preguiçosos,
curtem drogas e adoram uma farra, e mesmo assim não são “penalizados” por isso.
Num primeiro momento, pode-se dizer que “Ted” seria uma ode ao politicamente
incorreto. Na verdade, a ausência de uma moral repressora representa uma
concepção mais ampla – dá para dizer que o filme tem uma ideologia libertária,
em que os personagens se afastam de alguns dos princípios fundamentais da
sociedade contemporânea pequeno-burguesa (sucesso profissional, dinheiro, moralismo
cristão), tendo como ideário um simples e simpático hedonismo. Em tempos de
neo-conservadorismo político e ascensão de fundamentalismos religiosos, essa
postura de “Ted” chega a ser desafiadora. Embalando essa temática até ousada, o
diretor Seth MacFarlane se vincula a uma narrativa tradicional, mas eficiente
em sua simplicidade, sem esquecer de até aplicar alguns toques quase surreais
nas seqüências envolvendo drogas (os delírios oníricos de John com seu herói
Flash Gordon representam psicodelismo para as grandes massas).
sexta-feira, novembro 30, 2012
Referendo, de Jaime Lerner **1/2
Em termos formais, “Referendo” (2012) é uma obra que pouco
ousa – seu foco é praticamente o seu conteúdo temático. Nesse sentido, talvez
seu destino mais apropriado fosse mesmo a televisão. É inegável, entretanto,
que na sua parte informativa e de foco crítico acaba tendo uma abordagem bem
aprofundada e relevante. Discutindo a questão do desarmamento e da votação
que decidiu sobre a sua implantação em território brasileiro em 2005, o
documentário dirigido por Jaime Lerner busca diversas visões sobre o assunto,
tanto no aspecto político envolvendo a questão quanto na área humana ao trazer
histórias pessoais de indivíduos que tiveram experiências com armas. É
interessante também que ao procurar o entendimento dos motivos que levaram à
vitória daqueles que eram contra o desarmamento no referido plebiscito, o filme
evidencia os mecanismo que envolvem os conflitos políticos e ideológicos por
vias eleitorais, em que as vitórias se definem muito mais por estratégias de marketing do que por
convicções do que é realmente certo e mais apropriado para a sociedade. Ao
estabelecer esse discurso minucioso para dissecar um tema tão complexo, a obra
de Lerner justifica a sua importância artística.
quinta-feira, novembro 29, 2012
13 assassinos, de Takashi Miike ****
Refilmagem de uma obra homônima de 1963, “13 assassinos” (2010)
evoca algo de Akira Kurosawa, principalmente daquelas produções com samurais
como “Os sete samurais” (1954) e “Yojimbo” (1961). Reduzir o filme do diretor Takashi
Miike, entretanto, como mera recriação ou reciclagem seria uma visão equivocada.
Até porque não daria para esperar muitas obviedades ou revisões meramente nostálgicas
do cineasta que concebeu obras extremas como “Audition“ (1999) ou “Ichi The
Killer” (2001). Miike parte de uma estrutura clássica de narrativa para
perverter os tradicionalismos do gênero como uma abordagem perturbadora. A
trama apresenta a velha divisão entre mocinhos e vilões, mas aos poucos essa lógica
vai ser tornando cada vez mais difusa – os assassinos do título são samurais e
ronins que até vislumbram o fato de agirem no nome de um bem maior, mas sua
verdadeira motivação é a possibilidade de morrer com honra em combate. Essa
obsessão é retratada com traços por vezes doentios e irônicos – no meio de
cenas violentas e demais atrocidades, pode-se perceber o toque sutil de Miike
quando em determinadas seqüências os seus “heróis” traem um sorriso discreto. E
a encenação do diretor é primorosa na combinação de estéticas formais
diferentes, entrecruzando uma pegada naturalista de muito sangue, chuva e barro
a um tom eventualmente épico pelo virtuosismo de fotografia e montagem. Permeando
esse estranho formalismo, há uma atmosfera de distanciamento emocional,
resultando numa obra sensorialmente desconcertante.
quarta-feira, novembro 28, 2012
Tropicália, de Marcelo Machado ***1/2
Antes de mais nada, cabe dizer que a pretensão do diretor Marcelo
Machado em “Tropicália” (2012) não é fazer um retrato objetivo e definitivo
sobre o movimento musical em questão. O viés do documentário é mais subjetivo e
pessoal, no sentido de captar as impressões de alguns dos principais artífices
daquilo que se convencionou chamar de Tropicália. Dentro dessa concepção,
pode-se perceber tons diferentes que variam durante a narrativa de acordo com o
depoente. Quando Tom Zé tem a palavra, há algo de messiânico e delirante no ar –
tanto que o músico em alguns momentos quebra a própria estética sóbria adotada
por Machado ao sair do enquadramento delimitado formalmente para expor suas
teorias históricas e apocalípticas. Já com Gilberto Gil a atmosfera burilada
evoca serenidade. E quando as lentes se voltam para Caetano Veloso, esse adota
uma postura que beira o melancólico, o que provoca até uma contradição
perturbadora com os próprios preceitos artísticos da Tropicália, um estilo
marcado pela ironia, escracho e uma certa alegria. Veloso enfatiza as perdas
que teve com a consequente perseguição política que sofreu com a ditadura
militar pela sua participação no movimento, e questionando o que poderia ter
sido da sua vida senão tivesse sido preso e exilado. Geralmente o cantor é
acusado de ser uma espécie de ator de si mesmo. E se na produção em questão ele
está realmente atuando, há de se convir que Caetano Veloso é um intérprete dramático
bem convincente...
As diferenças de espírito que se estabelecem entre os protagonistas
de “Tropicália” acabam oferecendo uma dimensão humana e cultural ainda mais
complexa para a temática abordada por Machado, o que aliado a preciosos
registros visuais históricos e à bela trilha sonora (com as inevitáveis canções
mais emblemáticas do movimento) compõe um documentário envolvente, não só pelo
seu aspecto histórico, mas também pelo prazer sensorial de suas imagens e sons.
terça-feira, novembro 27, 2012
Perro muerto, de Camilo Becerra **
Quando um filme apresenta um viés formal mais cru, com uma
temática enfocando questões sociais e cotidianas, acaba sendo inevitável que se
evoque a escola neo-realista italiana, a mais emblemática no que diz respeito a
esse tipo de produção. É claro que retomar uma comparação como essa para “Perro
muerto” (2010), obra de um cineasta iniciante, pode ser soar injusta ou
exagerada. O filme do diretor Camilo Becerra retrata a rotina repleta de
dificuldades financeiras e emocionais de uma mãe solteira, principalmente no
que diz respeito a conseguir uma residência fixa para ela e seu filho. É claro
que o filme impressiona em alguns momentos pelo tom áspero de sua narrativa,
tendo um acabamento estético razoável no que diz respeito a elementos como
fotografia e edição. Falta, entretanto, mais estofo dramático e uma maior
ousadia formal para que “Perro muerto” transcenda e consiga se fixar no imaginário
do espectador. E é nesse ponto que, ao menos para este que escreve este breve
texto, a lembrança de nomes como Roberto Rosselini e Vittorio de Sica, mestres
em extrair grandeza a partir de uma linguagem naturalista, vem à tona de forma
quase involuntária.
segunda-feira, novembro 26, 2012
O legado Bourne, de Tony Gilroy ***1/2
Ao contrário de “A supremacia Bourne” (2004) e “O ultimato
bourne” (2007), filmes em que o diretor Paul Greengrass consolidou a estética
dos filmes de ação de estilo documental com muita câmera tremida ou fora do
foco principal, “O legado Bourne” (2012) adota
um formalismo mais tradicional, mas que não deixa de ser inquietante. A trama
continua girando em torno daquele feijão de arroz com conspirações, tramóias
governamentais e traições diversas. O diretor Tony Gilroy consegue extrair
dessas obviedades temáticas seqüências marcantes em termos de tensão e aventura.
A edição e a direção de fotografia formam um todo mais coerente e visualmente
rico do que os outros filmes da franquia. Mesmo nos momentos mais frenéticos,
prevalece esse estilo sereno tanto de filmar como de montagem, em que o
espectador consegue entender o que está acontecendo na encenação. Além disso, Jeremy
Renner consegue compor um protagonista bem
mais carismático que aquele interpretado por Matt Damon.
sexta-feira, novembro 23, 2012
Cosmópolis, de David Cronenberg ***1/2
Por mais que “Um método perigoso” (2011) demonstrasse uma elegância formal e temática em sua concepção, era uma obra que causava certa decepção por parecer um David Cronenberg muito contido e menos autoral. Mesmo não estando no topo criativo do diretor canadense, “Cosmópolis” (2012) retoma essa veia mais visceral e ousada. Para começar, o fato de ser uma adaptação de um original literária não passa em branco: a narrativa do filme trafega entre o hiper-realismo e a anti-naturalismo. Tal linguagem acaba encontrando ressonância também em elementos teatrais – o fato de boa parte da trama se desenvolver dentro do espaço reduzido de uma limusine reflete tais influências, assim como o trecho final de pura verborragia. Esses elementos de meios culturais diversos, entretanto, não descaracterizam as particularidades estéticas do cinema de Cronerberg, mas sim o enriquecem.
“Cosmópolis” se insere de forma coerente dentro da
particular cinematografia do cineasta. Seu roteiro reflete muito dos conflitos
mais recorrentes da sociedade contemporânea (vazio existencial, ambição irrefreável,
relação sexualidade/consumismo), dentro de um contexto fortemente simbólico. As
situações e diálogos são elípticos, obscuros, mas aos poucos formam um conteúdo
perturbador e algo sensual. Essa abordagem icônica se estende até mesmo para o
trabalho do elenco – nas interpretações de Robert Pattinson, Juliette Binoche,
Samantha Morton e Paul Giamatti, há um tom que oscila entre o distanciamento
emocional, a ácida ironia e o cruel desespero.
Talvez a força motriz de “Cosmópolis” esteja numa tensão
contraditória – o elenco estelar (principalmente pela presença do galã Pattinson)
e a pinta de superprodução de grande estúdio são na verdade uma espécie de
cavalo de tróia que traz dentro de si uma sanha artística inquietante e
venenosa.
quinta-feira, novembro 22, 2012
O gato do rabino, de Joann Sfar ***1/2
Se em “Gainsbourg – O homem que amava as mulheres” (2010) o
diretor Joann Sfar já havia mostrado considerável talento cinematográfico, na
animação “O gato do rabino” (2010), adaptação para a tela grande de uma HQ de
sua autoria, ele confirma tal impressão. A história do bichano que engole um
papagaio e passar a falar tem um tom fabular, e envereda por direções ainda
mais complexas. O que Sfar propõe é uma narrativa plena de simbolismos e
ironia, em que referências históricas, filosóficas e religiosas pontuam o caráter
lúdico da trama. O traço de Sfar é fortemente estilizado, apresentando um
grafismo que oscila entre o sensual e o delirante, mostrando-se em sintonia com
o roteiro que traz uma gama de elementos insólitos: erotismo, violência,
sincretismo/conflito religioso (principalmente na aparente contradição entre
judaísmo e islamismo). Mais do que simplesmente contar uma história, o que Sfar
instiga é uma obra de acentuado cunho sensorial, em que a busca por soluções fáceis
morais e mesmo formais acaba sendo infrutífera. O que vale em “O gato do rabino”
é se deixar levar pelo inebriante conjunto de imagens e sons que brota
da tela.
quarta-feira, novembro 21, 2012
Pra frente Brasil, de Roberto Farias ***
O cineasta Roberto Farias já havia feito a sua obra-prima no
gênero policial com “Assalto ao trem pagador” (1962). “Pra frente Brasil”
(1982), contudo, está longe de ser desprezível. É claro que às vezes as cenas
de ação soam um tanto desajeitadas. No final das contas, entretanto, isso até
acaba dando um certo charme para a produção. Farias consegue aliar de forma
fluente um roteiro de estrutura policial clássica com toques consistentes de
cinema político, ainda que por vezes caia numa encenação caricatural. A obra
consegue evocar a densidade dramática de filmes setentistas de temática
semelhante de diretores como Costa Gavras e Elio Petri, sem que Farias perca a
identidade brasileira tipicamente fuleira, fazendo com que a produção fuja do
simples rótulo “filme sobre a ditadura” e ganhe um caráter atemporal. No mais,
o diretor também tem o mérito de extrair boas e carismáticas interpretações de
seu elenco.
terça-feira, novembro 20, 2012
Cara ou coroa, de Ugo Giorgetti ***1/2
Por mais que sua trama se relacione com a questão da repressão
política no Brasil dos anos 70, seria inexato dizer que “Cara ou coroa” (2012) seria
essencialmente um “filme sobre a ditadura”. O filme de Ugo Giorgetti é bem mais
do que isso: versa sobre a memória e o imaginário cultural do próprio diretor.
Assim, não é à toa que o filme se comunique de forma tão fluente com outras
expressões culturais também caras ao cineasta. O roteiro desenvolve boa parte
de suas situações no meio teatral, indo do fato de que um de seus personagens
principais personagens é um diretor de peças até pequenos e expressivos trechos
ligados ao meio (no melhor deles, uma crítica teatral, recém saída de uma breve
temporada na cadeia por questões políticas, faz ácidas assertivas sobre o
futuro do país). Já a literatura tem uma presença discreta, mas marcante, em “Cara
ou coroa” – a narração em primeira pessoa e algumas nuances dos diálogos
remetem a uma forte conotação literária pelo
alto nível articulado de suas palavras, mas sem cair em empostações. Dentro
dessa narrativa que apresenta tantos detalhes e referências, Giorgetti exerce
um cinema marcado pela contenção e sobriedade. Por mais que os personagens
passem por situações limites, o diretor exerce a tensão com precisão, sem
descambar para o óbvio ou o facilmente emocional. Essa abordagem se estende
para uma estética elegante, principalmente pela direção de fotografia que
valoriza os jogos de claro e escuro de alguma tomadas essenciais para o filme.
O apuro formal de “Cara ou coroa” se relaciona de maneira
sofisticada com o seu complexo conteúdo temático, fazendo com que a produção de
Giorgetti esteja muito além das categorizações óbvias e seja uma pérola recente
da filmografia nacional a ser descoberta.
segunda-feira, novembro 19, 2012
À beira do caminho, de Breno Silveira **1/2
Aqueles que desgostaram da esterilidade criativa de filmes
como “2 filhos de Francisco” (2005) e “Era uma vez...” (2008), ambos dirigidos
por Breno Silveira, podem até se surpreender com “À beira do caminho” (2012).
Afinal, o cineasta consegue manter uma certa atmosfera contemplativa e até
mesmo um tom mais sutil, ainda que sempre enveredando para o sentimentalismo. Mesmo
esse tom emocional mais desbragado, entretanto, acaba encontrando ressonância
mais convincente pelo fato da narrativa ser marcada por algumas canções emblemáticas
de Roberto Carlos. É claro que não dá para dizer que as opções estéticas e temáticas
de Silveira configurem algum grande vôo criativo, ainda mais por trazer uma
trama bastante derivativa (o roteiro parece uma variação sem maiores cerimônias
de “Central do Brasil”). Mesmo assim, é um trabalho bem feito em termos
formais, com alguns detalhes que geram uma empatia maior com a platéia
(principalmente pela boa atuação do João Miguel e as antológicas canções do
Rei).
sexta-feira, novembro 16, 2012
Febre do rato, de Cláudio Assis ****
Se nas obras anteriores “Amarelo manga” (2003) e “Baixio das
bestas” (2007) o diretor Cláudio Assis mostrava uma estética autoral bastante
baseada no sórdido e no escatológico, e nem sempre com resultados satisfatórios,
em sua obra mais recentes, “Febre do rato” (2011), o cineasta aprofunda suas
inquietudes artísticas ao lançar mão de um lirismo à flor da pele, tanto no
texto quanto no seu formalismo. O resultado é sua obra mais consistente até então.
Na concepção de “Febre do rato”, parece rondar duas fortes
influências, ambas provenientes da cinematografia italiana. Primeiro na figura
de Píer Paolo Pasolini, pelo gosto em retratar tipos populares e/ou marginais
através de um registro que beira o barroco tamanho o apuro visual de
enquadramentos e iluminação que remetem a influências pictóricas, quase como se
emulassem quadros vivos. Nesse sentido, o trabalho de direção de fotografia em
preto-e-branco é algo simplesmente fenomenal, principalmente nas filmagens de
cima para baixo. E a outra referência que permeia a produção é a obra-prima “A árvore
dos tamancos” (1978), de Ermano Olmi, pela atmosfera por vezes de beatitude que
Assis elabora ao mostrar o quotidiano dissipado de festas, bebedeiras, discussões
sentimentais/filosóficas/poéticas e orgias de suas criaturas.
E por falar em poesia, poucas vezes tal arte encontrou um
meio de se expressar de forma tão fluida no cinema como em “Febre do rato”. Os
jorros de palavras que saem da pena e da boca do protagonista
Zizo (Irandhir Santos) estão em sintonia existencial com as imagens por vezes
cruas e cruéis por vezes plenas de beleza. De certa forma, a própria trajetória
pessoal de Zizo é a tradução de sua arte e dos jogos contraditórios propostos
pelo roteiro. O personagem clama por anarquia, desafia os costumes e convenções
pequeno-burgueses, mas quase sucumbe à paixão por Eneida (Nanda Costa), musa
brejeira que configura uma espécie do ideal de amor apolíneo e destruidor. A
cena em que Eneida urina na mão do poeta, a seu pedido, é a síntese perfeita
desse jogo entre o grotesco e o romântico estabelecido pelas obsessões de Zizo
e do próprio Cláudio Assis.
quarta-feira, novembro 14, 2012
As bem amadas, de Christophe Honoré ***
O cinema francês das décadas de 50 e 50, mais precisamente a
Nouvelle Vague e os musicais de Jacques Demy, continuam a ser os principais
referenciais do imaginário cinematográfico do diretor Christophe Honoré. Isso
fica bem evidente em sua obra mais recente, “As bem amadas” (2011). Para não
deixar dúvida quanto às suas intenções, o cineasta inicia a trama do filme na Paris
dos anos 60. A partir daí, recicla algumas idéias já exploradas em algumas de
suas produções anteriores (“Em Paris”, “Canções de amor”): roteiro recheado de
elementos existencialistas, abordagem anti-naturalista ao evocar a estrutura de
musicais, interpretações um tanto blasé de seu elenco (nesse sentido, a
presença da icônica Catherine Deneuve reforça o lado revivalista do cinema do
diretor). É fato que a produção não tem a mesma fluidez narrativa de obras mais
antigas de Honoré. Mesmo assim, é inegável o poder de sedução de algumas insólitas
soluções formais do diretor – afinal, a densidade dramática de algumas cenas se
mostram em descompasso com os recursos típicos do gênero musical, tendo um efeito
desconcertante para o espectador. Assim, mesmo estando distante do melhor do
seu criador, “As bem amadas” reforça o padrão autoral da cinematografia de
Honoré.
terça-feira, novembro 13, 2012
O liberdade, de Cíntia Lange e Rafael Andreazza ***
O Liberdade é um bar de Pelotas.
Ao meio-dia, diariamente serve almoços. São em algumas noites na semana,
entretanto, que se concentram os motivos para que o estabelecimento se
estabeleça como uma das principais referências culturais da cidade. Nessas
ocasiões, veteranos músicos do chorinho se dedicam a tocar clássicos do gênero,
com especial atenção para composições de Avendano Junior, recentemente falecido
e que era um dos artistas que mais comparecia a essas sessões musicais. “O
liberdade” (2012), o filme, é um documentário a registrar a trajetória do bar e
também de alguns dos músicos que lá tocam (inclusive o próprio Avendano
Junior), além de colher impressões de alguns dos freqüentadores do local. A
obra dirigida por Cíntia Lange e Rafael Andreazza foge de ser um trabalho didático
ou institucional. Seu fim é muito mais representar uma espécie de documento
sensorial daquele ambiente, elaborando uma concepção formal que se revela em
perfeita sintonia com as melodias e harmonias que afloram da tela. Assim, elegantes
enquadramentos e uma edição sóbria configuram uma olhar admirado, às vezes
quase solene, pela arte de seus protagonistas,
a um ponto que o espectador se inebrie com a beleza daquela música e fique
intrigado pelo fato de que canções e músicos de qualidade tão excepcional terem
um reconhecimento apenas regional. Após os créditos finais, é provável que esse
espectador tenha o mesmo anseio do autor desse texto: onde posso conseguir o CD
da trilha??
segunda-feira, novembro 12, 2012
Mercenários 2, de Simon West **
Pode parecer óbvio o que vou escrever aqui, mas para
discorrer sobre um filme como “Mercenários 2” (2012) a primeira coisa que tem
de se ter em mente é que detalhes como um roteiro coerente ou densidade dramática
não são exatamente primordiais. Na realidade, a primordial intenção dos
produtores da franquia é juntar o máximo de astros do cinema porrada e emular
aquelas produções de aventuras violentas oitentistas (ainda que num tom mais
asséptico – afinal, não se pode arriscar uma classificação etária muito elevada
para não perder público...). É claro que o resultado final é muito distante da
classe formal de clássicos do gênero como “Rambo – Programado para matar” (1982)
ou “Duro de matar” (1988), mas até que essa segunda parte tem os seus momentos
divertidos. Para começar, é bem melhor dirigida que a primeira, principalmente
no que diz respeito às cenas de ação (ao contrário do primeiro filme, consegue-se
entender o que está acontecendo em cena). Pode-se perceber que o clima de paródia
é mais evidente, com uma trama que parece ter sido escrita à medida que a
produção ia sendo filmada. As inserções do personagem “interpretado” por Chuck
Norris, por exemplo, chegam a ser hilárias de tão grosseiras: parece que os
roteiristas, lá pela metade do roteiro, deram-se conta que até o momento não
havia papel definido para Norris e inventaram uma desculpa qualquer para colocá-lo
na trama. No final das contas, entretanto, um detalhe como esse é irrelevante –
o que importa para o público cativo de “Mercenários 2” é que a equação
porradaria mais piadinhas infames está ali presente e justificando a realização
de uma nova continuação.
sexta-feira, novembro 09, 2012
My name is Bruce, de Bruce Campbell **
A mítica que se criou em torno da figura do ator Bruce
Campbell, principalmente pela sua participação na trilogia “Evil Dead”, é um
fenômeno típico dentro do universo dos filmes B. Afinal, tal admiração não vem
do fato dele ser um ator de grandes recursos dramáticos (o que não é o caso),
mas sim pelo seu carisma canastrão e bem humorado que caiu como uma luva nas
concepções exageradas e irônicas que Sam Raimi inseriu em sua clássica franquia
de horror. Assim, nada mais natural que entre os subprodutos que surgissem a
partir desse esdrúxulo culto aparecesse esse “My name is Bruce” (2007), produção
dirigida pelo próprio Campbell e que tem como protagonista,
ora vejam só, Bruce Campbell. Como cineasta, é claro que ele não tem a mesma
classe de um Sam Raimi e nem o seu filme consegue encostar nos calcanhares de
qualquer uma das produções da trilogia que deu fama para Campbell, mas é inegável
que o “astro” não tinha maiores pretensões do que tirar um sarro da sua condição
de ídolo. Nesse contexto, é possível dar umas risadas com o seu filme,
principalmente nos momentos de humor mais escroto ou pela fuleiragem das
trucagens.
quinta-feira, novembro 08, 2012
Uma noite alucinante 2, de Sam Raimi ****
25 anos após seu lançamento, “Uma noite alucinante 2” (1987)
permanece como uma experiência cinematográfica impactante. E não apenas pelos
seus aspectos extremos em termos de violência gráfica (até porque a primeira
parte do filme, nesse quesito, foi ainda mais chocante). O que torna o filme em
questão ainda uma obra memorável é a originalidade de seu formalismo. Apesar de
ser uma produção tipicamente B pelos seus recursos, ela impressiona pela
dimensão quase barroca que o diretor Sam Raimi injeta em sua estética. Os
enlouquecidos movimentos de câmera que simulam espíritos malignos perseguindo
as suas vítimas, as criativas trucagens que capricham no sangue e na
caracterização grotesca de criaturas monstruosas, a narrativa que varia sem
cerimônias entre o horror escatológico e a comédia escrachada e mesmos as
atuações exageradas de um elenco eminentemente canastrão são elementos que
configuram um filme perturbador e ousado, e que também extrapola o seu próprio
gênero ao propor uma linguagem inovadora. Posteriormente, Raimi teve outros
grandes momentos de brilho (“Darkman”, “Um plano simples”, “Homem-Aranha 2” e
“Arrasta-me para o inferno”), mas é “Uma noite alucinante 2” que marca o seu
auge artístico como cineasta.
quarta-feira, novembro 07, 2012
Marighella, de Isa Grispum Ferraz ***
Talvez o fato da diretora Isa Grispum Ferraz ser sobrinha do
guerrilheiro Carlos Marighella possa fazer supor que o documentário “Marighella”
(2011) seja uma obra hagiográfica em relação a figura cinebiografada em questão.
A proposta da cineasta, entretanto, não é a de se ater a um registro objetivo
dos fatos. Sua abordagem justamente aproveita o seu parentesco para realizar
uma contraposição entre a figura pública do tio com a do homem boa praça com
quem teve um breve e ameno contato doméstico. Isa Ferraz não apresenta
respostas prontas para o espectador – na verdade, a platéia é quase uma cúmplice
da diretora na construção do quebra-cabeça que representa a vida de Marighella.
Em alguns momentos, ela prefere expor facetas pouco conhecidas do protagonista,
principalmente ao evidenciar a sua veia poética. Mas isso não quer dizer que
abdica de mostrar os principais fatos que tornaram Marighella um dos mais notórios
rebeldes da história do Brasil. Um dos pontos mais interessantes do filme está
justamente nessa tendência em confrontar a exposição de um lado mais intimista
do guerrilheiro, tanto nas suas tendências para o lirismo quanto no romantismo
de sua vida amorosa, com a sua personalidade explosiva como desafiador da ordem
vigente. Assim, a profusão de imagens de arquivos e depoimentos mais configura
um imaginário sentimental e político sobre Marighella do que uma investigação
jornalística. Em termos cinematográficos, essa escolha estética e temática da
diretora se revela mais fascinante ao dar um caráter perene e instigante para o
seu documentário.
terça-feira, novembro 06, 2012
360, de Fernando Meirelles **1/2
A cada obra sua que aparece nos cinemas, Fernando Meirelles
faz crescer a suspeita de que “Cidade de Deus” (2002) foi um feliz acidente em
sua filmografia. “360” (2012) ajuda a corroborar essa suposição. O elenco
estelar é competente (com destaque para Ben Foster em seu habitual registro maníaco),
a direção de fotografia é bonita e o trabalho de montagem ajudar a deixar palatável
uma obra marcada por temas incômodos (prostituição, infidelidade, conflitos
familiares). E é justamente aí, no que era para ser “qualidades” artísticas,
que a obra de Meirelles acaba falhando – “360” é agradável e bonito como uma
boa peça publicitária, mas não pega na veia como narrativa cinematográfica. Não
há cenas que colem no imaginário cinematográfico do espectador ou alguma dimensão
artística mais ousada nas concepções formais engessadas de Meirelles.
segunda-feira, novembro 05, 2012
O asfalto, de Joe May ****
Apesar de não ser um legítimo representante do
expressionismo alemão, “O asfalto” (1929) apresenta elementos semelhantes aos daqueles
de tal estética cinematográfica. Apresentando uma estrutura clássica de
melodrama, o filme se destaca em detalhes que perventem o seu gênero,
principalmente no que diz respeito a uma certa ambiência sórdida e na sua ambigüidade
temática – há um perturbador conflito que oscila entre a atração e a repulsa na
relação amorosa entre um policial honesto e uma sedutora ladra de jóias. O
diretor Joe May estabelece uma narrativa envolvente, em que mesmo excessos
emocionais nas caracterizações de situações e personagens ganham vigorosa dimensão
dramática em meio a um trabalho esmerado da direção de fotografia que explora
habilmente os jogos de claro e escuro.
sexta-feira, outubro 26, 2012
Os assassinos estão entre nós, de Wolfgang Staudte ***1/2
Ainda que marcada por alguns excessos melodramáticos, “Os
assassinos estão entre nós” (1946) é uma obra capaz de impressionar o
espectador contemporâneo, tanto na temática quanto nos seus aspectos formais. O
ano em que foi lançada é decisivo para compreensão de seus méritos. A 2ª Guerra
Mundial recém havia terminado. Surpreende que numa época em que as chagas do
conflito ainda eram tão presentes tenha aparecido um filme cuja trama é um
acerto de contas com a participação da sociedade alemã em alguns dos mais
hediondos atos da época do nazismo. O diretor Wolfgang Staudete consegue
sintetizar essa questão na figura de um simpático industriário, que no período
da guerra havia atuado como um oficial nazista responsável por atos de pura
barbárie. Aliado a esse incômodo roteiro, há uma orientação estética que remete
a muitos dos preceitos mais caros do expressionismo alemão, tanto no intenso
jogo de claros e escuros a ressaltar o tom sombrio do filme quanto numa encenação
marcada por um certo barroquismo exagerado – situada nas ruínas resultantes da
guerra, a ambientação evoca um clima de horror, acentuado ainda mais uma
atmosfera que oscila entre o realismo e o terror psicológico beirando o
delirante.
quinta-feira, outubro 25, 2012
Eu tinha dezenove anos, de Konrad Wolf ****
Legítima pérola obscura não só do cinema germânico como do
mundial, “Eu tinha 19 anos” (1968) propõe uma linguagem formal audaciosa para
refletir sobre a ressaca moral da Alemanha diante das consequências do final da
2ª Guerra Mundial. Apesar de ser uma obra ficcional de cunho fortemente dramático,
por vezes o filme evoca um estilo frio e distanciado, principalmente pela direção
de fotografia e pela edição que enveredam pela estética documental. O resultado
dessa forma de filmar acaba tendo um efeito contundente sobre o espectador – o diretor
Konrad Wolf não busca a empatia sentimental, realçando mais a sensação de incômodo
e vergonha de um povo diante de um passado recente marcado por atitudes
monstruosas e trágicas. Mesmo quando a produção envereda para a ação envolvendo
algumas poucas batalhas campais, o registro visual é reflexivo; a violência de
tiros e mortes não é banalizada, com cada disparo de fuzis ressoando um
impressionante impacto sensorial. E se a 2ª Guerra Mundial foi um dos fatos
históricos que mais serviu como pano de fundo para produções cinematográficas
dos últimos 80, “Eu tinha dezenove anos” se apresenta como avis rara diante de
um gênero tão marcado pelas obviedades.
quarta-feira, outubro 24, 2012
O ditador, de Larry Charles ***1/2
Se em “Borat” (2007) e “Bruno” (2009) a parceria entre o
diretor Larry Charles e o ator Sacha Baron Cohen promovia uma ousada mistura
entre ficção e documentário, em “O ditador” (2012) eles abandonam essa
estrutura narrativa e investem numa trama puramente ficcional. Isso não quer
dizer, entretanto, que perderam a criatividade e a ironia ácida características
das produções anteriores. A narrativa farsesca oscila entre o grotesco e o
escatológico ao expor sem cerimônias os preconceitos e contradições da
sociedade ocidental. Por vezes, o filme até brinca com uma certa concepção
formal mais tosca, num registro estético que beira o documental, como se
sugerisse que estivéssemos vendo uma grande reportagem. A brincadeira com
estereótipos grosseiros de racismo e obscurantismo junto a um estilo de
narrativa que parece ter um tom aleatório aos poucos revelam uma arguta coerência
artística da obra. Os questionamentos levantados pelo filme, observados com uma
olhar mais clínico, revelam até uma sutileza a expor dilemas complexos do
panorama político mundial. E por mais que busque o riso do espectador, revela
amargura e perplexidade com os caminhos atuais da humanidade.
terça-feira, outubro 23, 2012
O vingador do futuro, de Len Wiseman **1/2
Vamos convencionar uma coisa: por mais que diretores,
produtores e atores tentem nos convencer que eles se envolvem em refilmagens
por razões artísticas, a verdade é que a grande maioria de tais “releituras” (e
até mesmo os tão falados reboots) tem por fim principal objetivos comerciais. O
que não é demérito ou surpresa: cinema, antes de tudo, é indústria... Encarando
por tal perspectiva é que se pode entender porque alguém ousaria fazer uma nova
versão, em pleno 2012, para “O vingador do futuro”, obra exemplar do gênero
ficção científica de aventura lançada em 1990, um filme que por si só não
precisaria ser melhorado em praticamente nada. Na comparação, a versão mais
recente dirigida por Len Wiseman não chega aos pés em termos de criatividade e
como narrativa da produção original comandada pelo holandês genial Paul
Verhoeven. Não há um astro carismático como Arnold Schwarzenegger como protagonista,
um vilão assustador como o mítico Michael Ironside e, principalmente, o senso
de humor perverso e violento estabelecido por Verhoeven. Se olharmos o filme de
Wiseman sem essa sombra de uma comparação pesada com um clássico, entretanto,
até pode-se perceber alguns detalhes expressivos como as interessantes
trucagens e direção de arte que lembram outros grandes filmes do gênero. Mas no
final das contas, acaba sendo muito pouco, numa visão que extrapola o simples
interesse mercantilista, para justificar uma pretensa recriação.
segunda-feira, outubro 22, 2012
Tudo que eu amo, de Jacek Borcuch ***
Uma obra mostrando fatos típicos no amadurecimento de um
adolescente, como as primeiras experiências sexuais e desilusões, não chega a
ser uma novidade no cinema. O que acaba fazendo com que uma obra como “Tudo que
eu amo” (2009) seja cativante e desperte o interesse das platéias é o estilo
sereno da direção de Jacek Borcuch e alguns detalhes particulares do contexto
histórico em que a trama de desenvolve. Focalizando um jovem vocalista de banda
punk na Polônia em 1981, marcado pelo auge das divergências entre o governo
comunista e o movimento do sindicato solidariedade, o filme estabelece uma
forte relação intrínseca entre o intimismo da vida pessoal de seu protagonista
com o conturbado momento político e social de seu país. A narrativa tem uma dinâmica
que oscila entre a melancolia, a tensão e o vigoroso. Nesse último quesito, são
antológicos os números musicais, tanto pela qualidade das canções quanto pelo
tom frenético das apresentações (altamente educativas para fãs de bandinhas emo
brasileiras saberem o que é punk rock).
sexta-feira, outubro 19, 2012
A tentação, de Mattwew Chapman *1/2
Filmes cuja intenção principal é divulgar alguma doutrina
religiosa não representam uma novidade. É só se prestar atenção na regularidade
com que aparecem em nossos cinemas produções de temática espírita ou católica.
Agora uma produção a defender de forma veemente o ateísmo não é algo que
aparece todo dia. E esse é o caso de “A tentação” (2011). A visão da obra sobre
a religiosidade é pouco lisonjeira – crenças serviriam apenas para estimular o
fanatismo e o obscurantismo, gerando infelicidade para os seus crentes.
Independente de concordar ou não com tal ótica, o que mais incomoda no filme é o
traço esquemático de sua narrativa, além da forma caricatural com que
caracteriza os seus “vilões”. A ideia central da possibilidade de transcendência
de um ser humano mesmo não tendo alguma religião é interessante, mas acaba
retratada de forma banal. Assim, no máximo, pode-se dizer que “A tentação”
desperta curiosidade pela sua temática inusitada, mas apenas por isso.
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