Em um primeiro momento, pode parecer uma tremenda heresia
fazer um remake de uma obra-prima monumental como o “Harakiri” (1962) de Masaki
Kobayashi. Seria, realmente, se a refilmagem em questão estivesse nas mãos de
um qualquer, mas quando o responsável é um Takashi Miike inspirado o risco
acaba valendo à pena. Em termos de roteiro, “Hara-Kiri: A morte de um samurai”
(2011) não acrescenta muito ao original de décadas atrás. A sua força está na
encenação e narrativa de tremendo rigor artístico de Miike, bem como naquela
atmosfera sutilmente demente que é característica no melhor da filmografia do
cineasta. A beleza imagética, a forte densidade dramática e o humanismo
pungente da trama compõem uma obra memorável que se equivale a outro expressivo
de trabalho de Miike no campo das releituras, o insano “13 assassinos” (2010).
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
quinta-feira, agosto 31, 2017
quarta-feira, agosto 30, 2017
Anabelle 2 - A criação do mal, de David F. Sandberg **1/2
A franquia “Invocação do mal” e os filmes derivados com a
boneca Anabelle têm uma certa coerência artística e temática, propondo-se a uma
atualização dos principais clichês narrativos do gênero horror, principalmente
dentro de uma fórmula acessível para o grande público em que o roteiro evoca no
seu âmago a proteção dos valores familiares diante de ameaças satânicas e o formalismo
se baseia em uma concepção mais limpa em termos visuais – claro que há os
momentos de violências e trucagens explícitas de monstros e efeitos
sobrenaturais, mas nada também que ofenda ou traumatize o gosto das plateias. O
fato das tramas se passarem em um determinado período entre os anos 60 e 70 faz
também com que a estética das produções se aventure dentro de uma discreta
abordagem retrô. Dentro de tal abordagem do gênero, o ponto alto foi
"Invocação do mal 2” (2016), onde todos esses elementos adquiriam uma
harmonia narrativa mais coesa e eficiente. Em “Anabelle 2 – A criação do mal”
(2017), a fórmula já começa a apresentar alguns desgastes. Há alguns aspectos
que se mostram promissores, principalmente na questão do roteiro centralizar
boa parte das ações dentro de um grupos de garotas órfãs, que oscilam de idade
entre a infância e a adolescência, fazendo com que o subtexto da história
guarde algumas sacadas interessantes relativas a ritos de passagem e sexualidade
feminina. Tais pontos existenciais, entretanto, são apenas tangenciados diante
da necessidade comercial de se atender aos preceitos mais previsíveis do
gênero. O mecanismo de sustos do filme por vezes consegue criar alguma tensão e
impacto para o espectador, mas nada que chegue a ser especialmente memorável.
Falta para a produção dirigida por David F. Sandberg sutileza e ousadia na
construção de uma atmosfera de mistério, pois sempre fica patente a necessidade
de não deixar pontas soltas e fazer ligações protocolares com os roteiros dos
demais filmes da franquia.
terça-feira, agosto 29, 2017
Julho-agosto, de Diastème **
A conjunção cinema francês e juventude sempre vai despertar algum
tipo de atenção. Partindo de obras clássicas como “Zero de comportamento” (1933)
e “Os incompreendidos” (1959) e chegando a obras mais recentes memoráveis como “O
verão do Skylab” (2011), a filmografia da França sempre contou com filmes que
trouxeram um retrato vigoroso e poético sobre a temática relacionada ao
universo de crianças e adolescentes. Dentro da riqueza desse contexto
histórico-artístico, uma obra como “Julho-agosto” (2016) acaba soando bastante
frustrante. A sequência inicial até parece indicar algo de promissor ao mostrar
a adolescente Laura (Luna Lou) incendiando a caixa de correspondência da
própria casa e depois saindo para fumar. A boa impressão inicial vai se
desfazendo, entretanto, com o desenrolar da narrativa, com o diretor Diastème
se contentando com uma encenação pouco imaginativa e um roteiro esquemático,
previsível e conservador. Faltou para o cineasta mais ousadia estética e
temática para entregar um trabalho capaz de causar alguma tensão ou atrito para
o espectador. Dentro dessa concepção artística meia-boca, salva-se apenas a
atuação marcada por alguma crueza da jovem Luna Lou.
segunda-feira, agosto 28, 2017
Corpo elétrico, de Marcelo Caetano ***1/2
A presença de Hilton Lacerda, diretor de “Tatuagem” (2013),
na elaboração do roteiro de “Corpo elétrico” (2017) não é gratuita, assim como
o fato do diretor Marcelo Caetano ter participado em produções como “Boi neon”
(2015), “Mão só há uma” (2016), “Aquarius” (2016) e o próprio “Tatuagem”. Seu
longa-metragem de estreia como cineasta se coloca numa certa tradição recente
das obras mencionadas, combinando temática e encenação de caráter libertário e
estética criativa e de feroz coerência artística. Por vezes, a ambição do filme
no seu retrato-manifesto existencial esbarra em algumas soluções óbvias do
roteiro, principalmente na sequência em que o protagonista Elias (Kelner
Macêdo) é assediado moralmente por seu chefe para não se misturar com seus
colegas subordinados. Mas tal equívoco é apenas um detalhe menor, pois o que
predomina na narrativa é um formalismo desconcertante, que se alterna de
maneira fluida entre o rigor realista e atmosferas hedonistas que beiram o
delirante. A naturalidade e rigor com que tal concepção artística é colocada em
prática geram alguns momentos antológicos, como o plano-sequência em que Elias
e amigos descem uma rua e desenvolvem uma interação cênica repleta de nuances
dramáticas-cômicas ou as cenas em que uma gangue de drags tocam o horror nas
ruas e em boates. Além disso, as despudoradas cenas de sexo são filmadas dentro
de uma síntese de fúria e lirismo, enquanto a sequência de encenação do
casamento de um casal proletário repleto da junção de signos ritualísticos de
diversas religiões e culturas traz uma atordoante carga simbólica de
contestação sócio-política. Coroando tais escolhas artísticas ousadas, há uma
poética conclusão da trama que se mostra em sensível e contundente sintonia com
o belo discurso temático-estético de “Corpo elétrico”.
sexta-feira, agosto 25, 2017
Os campos voltarão, de Ermanno Olmi ***1/2
O diretor italiano Ermanno Olmi atinge um feito memorável na
produção “Os campos voltarão” (2014) ao obter uma síntese insólita e pungente
entre poesia e brutalidade. O retrato que oferece de uma frente de batalha na I
Guerra Mundial em um primeiro momento impressiona pela sua crueza realista em
termos de recriação imagética – fotografia e direção de arte valorizam uma
composição visual marcada pela sujeira e por uma atmosfera sombria, ainda que
por vezes faça um contraste perturbador com a beleza das paisagens interioranas
onde o conflito se desenvolve. Aliás, esse pendor para ressaltar nuances de um
ambiente agrário remete diretamente ao grande clássico da filmografia de Olmi, “A
árvore dos tamancos” (1978), de onde também se assemelha em um certo teor de
beatitude de algumas passagens do roteiro. Nesse ponto, reside o grande ponto
de transcendência artística do filme, onde a perspectiva principal da narrativa
se encontra na rotina melancólica e desesperada de um grupo de soldados italianos
em uma trincheira violentamente acossada pelos inimigos germânicos. A obra
capta com sensibilidade detalhes existenciais contundentes, como a resignação
fatalista de soldados e praças oriundos das camadas mais pobres da sociedade
até a alienação e perplexidade de seus oficiais. Olmi consegue conciliar com
maestria essa profunda abordagem intimista a uma dinâmica de ação típica do
gênero filme de guerra. Nesse sentido, os ataques finais dos morteiros alemães
impressionam pelo sensorialismo devastador de sua encenação.
quinta-feira, agosto 24, 2017
Rifle, de Davi Pretto ***1/2
Se em “Castanha” (2014) o diretor Davi Pretto focava o seu
olhar sobre um sombrio cenário urbano de Porto Alegre, em “Rifle” (2016) volta
sua câmera para um ambiente rural contemporâneo. Não se trata, entretanto, de uma
revisão óbvia de um desgastado cinema “regional” típico de uma ala das
produções gaúchas contemporâneas. Na produção em questão, alguns preceitos
típicos do gênero faroeste recebem uma releitura radical e peculiar e se entrelaçam
com os elementos de forte teor social do subtexto do roteiro. Em uma descrição
mais simbólica, é como se a estrutura narrativa clássica estabelecida em “Os
brutos também amam” (1953) fosse perpassada pelo viés melancólico e naturalista
do conceito do “gaúcho à pé” firmado na obra literária concebida por Cyro
Martins. Assim, o que está em pauta não é uma visão idealizada e idílica
daquele interiorano puro e corajoso, discutível mito tão valorizado em
comemorações “farroupilhas” e afins, mas sim o sujeito humilde inserido num
contexto sócio-econômico de exploração e abandono. Ainda que tomado por esse
caráter de crítica social, a perspectiva do roteiro foge de maniqueísmos e
outras simplificações – a revolta e fúria do protagonista Dione diante do
assédio inclemente de um grande latifundiário é difusa e desordenada, fruto de
uma alienação incontornável, fazendo com que seus atos de brutalidade soem
patéticos e pouco eficazes. Dentro desse complexo panorama existencial, as
escolhas estéticas e narrativas de Davi Pretto são desconcertantes, em que um
classicismo imagético que evoca o cinema de grandes paisagens de John Ford se
une com naturalidade a uma encenação vigorosa e precisa herdada do neo-realismo
italiano. Nesse último aspecto, é extraordinário o trabalho de direção dos
atores amadores, em que a força das composições dramáticas do elenco está
justamente na veracidade de suas caracterizações (a forma truncada como falam
configura um quase dialeto em que a riqueza do sentido está dentro do contexto
daquilo que falam e não nos conceitos previsíveis de dicção e clareza). No
mais, Preto pontua “Rifle” com detalhes narrativos expressivos como a sóbria e
expressiva trilha sonora baseada em drones sonoros e na bela homenagem que faz
ao clássico “Targets – Na mira da morte” (1968) na sequência em que Dione sai
atirando a esmo em veículos que transitam solitários em estradas pampeanas.
quarta-feira, agosto 23, 2017
Valerian e a cidade dos mil planetas, de Luc Besson ***
Depois de enveredar pela ficção-científica pós-moderna
metida à besta de “Lucy” (2014), o diretor francês Luc Besson muda o seu foco
artístico e busca uma concepção mais clássica do mesmo gênero em “Valerian e a
cidade dos mil planetas” (2017). Tanto que o roteiro se baseia numa série de
HQs dos anos 60. O resultado final é bem divertido e, por vezes, até ousado na
sua estética que combina atmosfera retrô e trucagens digitais na linha estabelecida
por “Avatar” (2009). Alguns cânones temáticos da ficção científicas são
ordenados com coerência e sensibilidade por Besson, principalmente no confronto
que se estabelece dos princípios idealizados de uma sociedade futurista
avançada na sua síntese de tecnologia de ponta e princípios humanistas com a
realidade de uma distopia marcada pela injustiça social e pela violência. É
claro que tal visão existencial se estabelece como sutil subtexto em meio a uma
típica narrativa de aventura que por vezes beira o frenético, mas também é o
mote que dá a convincente tensão dramática para a obra. Os efeitos especiais
não chegam a ser algo tão chamativo em termos de originalidade. Em conjunto, entretanto,
com o criativo trabalho de direção de arte acabam gerando uma concepção
imagética memorável. Besson também mostra um forte domínio da ação
cinematográfica, fazendo lembrar aquele cineasta que nos legou o antológico
policial casca-grossa “O profissional” (1994). Nesse sentido, estão entre os
melhores momentos de “Valerian” a sequência em que o protagonista (Dane DeHaan)
e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) entram numa perseguição alucinada em
meio a um mercado que oscila entre os planos dimensionais real e virtual e
aquela em que o personagem principal corre alucinado pela tal cidade dos mil
planetas atravessando paredes, pulando prédios e outras demências.
terça-feira, agosto 22, 2017
Planeta dos macacos: A guerra, de Matt Reeves ***1/2
Depois do melodrama excessivo de “Planeta dos macacos: A
revolta” (2014), o diretor Matt Reeves arruma a casa e faz com que a franquia
retome um rumo mais convincente e divertido em “Planeta dos macacos: A guerra”
(2017). Ainda que a trama apresente os seus momentos sentimentais, o roteiro
consegue fazer uma síntese eficiente entre a aventura e as implicações morais
da história. Logo no início do filme, já é apresentada uma memorável sequência
de batalha envolvendo símios e humanos, aproximando novamente a série daquela
atmosfera casca-grossa das clássicas produções de décadas atrás da franquia.
Reeves conseguiu desenvolver de maneira inspirada os preceitos básicos do
gênero aventura fantástica pos-apocalítptica – a caracterização imagética é
impactante, os principais personagens apresentam efetivas nuances psicológicas
(com destaque para o atormentado protagonista César e seu antagonista humano
Coronel), as sequências de ação são coreografadas com detalhismo e fúria. E
mesmo o subtexto do roteiro apresenta elementos surpreendentes na visão de contundente
acidez crítica na exposição sem atenuantes do militarismo obtuso e desumano da
sociedade ocidental, bem como à intolerância em relação àquilo que é
considerado diferente. Nesse sentido, a figura dos macacos em fuga à procura de
um lugar em que possam viver em paz tanto se conecta as passagens bíblicas
quanto aos episódios recentes de refugiados da África e Ásia que são
perseguidos por questões políticas e religiosas e são tratados com desdém
desumano pelos povos ocidentais. Poucos blockbusters nos últimos anos tiveram a
ousadia de fazer tal reflexão.
segunda-feira, agosto 21, 2017
Saint Amour - Na rota do vinho, de Benoit Delépine e Gustave Kervern **1/2
Em sua concepção artística-narrativa, “Saint Amour – Na rota
do vinho” (2016) apresenta uma intrigante conjunção de preceitos formais e
temáticos, misturando estética realista, atmosfera libertária, traços de
comicidade ingênua, crítica social e truques sentimentais. Tal receita é até
simpática por vezes, rendendo momentos genuinamente engraçados e outros
desconcertantes. Predomina, entretanto, uma percepção de uma obra que avança em
sua narrativa de maneira desajeitada, faltando um rigor mais consistente na
direção de Benoit Delépine e Gustave Kervern. Se houvesse um maior controle na
junção de tais elementos tão diversos talvez o impacto sensorial e textual da
obra fosse bem maior para o espectador.
sexta-feira, agosto 18, 2017
O estranho que nós amamos, de Sofia Coppola **1/2
Em seus dois primeiros filmes, “Virgens suicidas” (1999) e “Encontros
e desencontros” (2003), a diretora norte-americana Sofia Coppola delineou uma
assinatura artística de sutileza autoral, em que um certo classicismo de filmar
se aliava a discretos elementos modernizantes – nesse último aspecto, pode-se
dizer que havia a utilização de aspectos de uma cultura indie, partindo de um
olhar existencial de caráter feminino e se aproveitando de signos pop
contemporâneos, principalmente na forma com que se utilizava de canções da
trindade rock-pop-eletrônico. Posteriormente, essa receita narrativa se diluiu
e banalizou de maneira considerável, ainda que a cineasta tenha mostrado um
amadurecimento no acabamento formal de seus filmes (ainda que isso implicasse
na perda da espontaneidade criativa de suas duas mencionadas obras iniciais). “O
estranho que nós amamos” (2017) se encaixa justamente no caso de seus trabalhos
mais recentes. Pode-se perceber uma sofisticação em sua arquitetura estética,
além de sua abordagem emocional mostrar uma considerável sobriedade. E é claro
que ela tinha todo o direito de oferecer uma nova perspectiva criativa para a
obra literária original que também serviu de base para o filme de 1971 de Don
Siegel. O problema, no entanto, é que no inevitável embate de comparação entre
os dois trabalhos a balança pende de maneira ostensiva para o clássico
setentista. Falta para a produção recente o vigor narrativo e a irônica
atmosfera de ambiguidade que tornaram “O estranho que nós amamos” de Siegel uma
produção referencial. Assim, a nova visão de Coppola acaba soando irrelevante
por não acrescentar algo de novo para uma história que em sua versão
cinematográfica anterior já havia recebido um tratamento artístico definitivo.
quinta-feira, agosto 17, 2017
O culto a JT Leroy, de Marjorie Sturm ***
A história do escritor fake JT Leroy já é fascinante por si
só em todas as suas circunstâncias que envolvem questões artísticas e
picaretagens editoriais. Nesse sentido, o documentário “O culto a JT Leroy”
(2014) impressiona pela quantidade de informações e cenas de arquivo que focam
toda a saga de ascensão, apogeu e queda do seu protagonista, com a diretora
Marjorie Sturm conseguindo conciliar tais elementos em uma narrativa tensa,
sombria e algo irônica. Trata-se de uma obra que também tem o mérito de
conseguir captar muito bem o espírito de uma época no que diz respeito a uma
síntese perturbadora de vazio existencial, culto a celebridades e a visão
romantizada da decadência. Além disso, Sturm consegue construir um sofisticado
subtexto a partir de sutis nuances narrativas – é de se reparar que a trama se
estrutura por vezes quase como uma trama policial ou detetivesca, realçando a
revolta de artistas e fãs com os desdobramentos da farsa que envolvia Leroy,
mas em pequenos detalhes fica evidente uma exposição crua e impiedosa de um
meio editorial marcado pelo machismo e elitismo que propicia toda uma teia de
mentiras e enganos.
quarta-feira, agosto 16, 2017
Dunkirk, de Christopher Nolan ***1/2
Um dos aspectos mais interessantes na carreira do diretor
Christopher Nolan é a forma como conseguiu desenvolver e manter um certo padrão
autoral em grandes produções dos estúdios norte-americanos. Esse seu traço
artístico peculiar se aplica até para alguns dos equívocos estéticos que são
recorrentes em suas obras, principalmente no que diz respeito a uma certa
assepsia visual. Em “Dunkirk” (2017), seu filme mais recente, tal incômodo
persiste – para um filme de 2ª Guerra Mundial repleto de violência brutal,
chega a ser estranho a ausência de sangue e uma “limpeza” na caracterização de
personagens e situações. Por outro lado, daria para dizer que isso se vincula a
uma concepção de narrativa que se liga muito mais à recriação de um imaginário
do conflito do que ao desejo de uma reconstrução mais realista de fatos
históricos – é de reparar, por exemplo, nas ótimas interpretações no estilo
icônico de Tom Hardy e Mark Rylance. Ou seja, aquilo que era para ser um “erro”
acaba adquirindo um sentido estético-temático e se torna uma condição
estilística de efetiva coerência. É fato também que outros aspectos pertinentes
do estilo de Nolan também ficam evidentes em “Dunkirk”, principalmente no que
diz respeito a uma encenação precisa e a fluidez do ritmo narrativo. Dentro de
tais preceitos formais, Nolan consegue realizar um feito admirável ao articular
com que lugares comuns do roteiro ligados a patriotismo e sentimentalismos
adquiram uma dimensão mais ampla e complexa, em que as ações relacionadas à
retirada de tropas francesas e inglesas sob inclemente ataque alemão se mostram
como uma intensa luta pela sobrevivência sob uma perturbadora atmosfera de
pesadelo. Nesse sentido, uma das grandes sacadas narrativas de Nolan está no
uso do som ambiental e dos temas musicais da trilha sonora, que se entrelaçam
de maneira orgânica e insólita, resultando em algumas sequências de angustiante
tensão dramática.
terça-feira, agosto 15, 2017
Monsieur & madame Adelman, de Nicolas Bedos **1/2
É difícil não lembrar de “Cenas de um casamento” (1973) ao
se assistir a “Monsieur & Madame Adelman” (2017). Em ambos os filmes,
roteiro e estrutura narrativa se baseiam na exposição dos fatos mais relevantes
e emblemáticos na história de um casamento, passando por uma gama considerável
de situações, sentimentos e sensações inerentes a esse tipo de relacionamento
amoroso. Nas duas obras há também o desejo de se afastar das idealizações
romantizadas que geralmente produções no gênero costumam cair, com enfoques,
dessa maneira, que buscam uma certa crueza realista em sua abordagem
artística-existencial. Outro ponto em comum é que nas produções mencionadas há
o questionamento do papel da mulher dentro do matrimônio diante de um contexto
sócio-cultural ocidental que ainda guarda fortes traços machistas e
patriarcais. Feitas essas aproximações, cabe deixar uma coisa bem clara – por mais
que se simpatize com algumas escolhas criativas da produção francesa dirigida
por Nicolas Bedos, ela ainda se encontra a milhas de distância da obra-prima
concebida por Ingmar Bergman. Algumas passagens do roteiro até surpreendem pela
sua síntese de ironia divertida e nuances dramáticas inquietantes, mas a
encenação por vezes previsível, o didatismo primário na caracterização do
ambiente histórico e a queda excessiva para o convencionalismo formal atenuam
muito o impacto sensorial de “Monsieur & madame Adelman”, ao contrário do
rigor estético e da cruel (e muito humana) dissecação filosófica-emocional de
um casamento arquitetados no perturbador filme de Bergman.
segunda-feira, agosto 14, 2017
O filme da minha vida, de Selton Mello *
Na função de diretor, Selton Mello se mostrou um nome
promissor em seus dois primeiros longas-metragens, “Feliz natal” (2008) e “O
palhaço” (2011), obras que, ainda que mostrassem alguns tropeços em suas
respectivas narrativas, evidenciavam um vigor admirável na reciclagem de
clichês formais e temáticos inerentes aos gêneros melodrama e comédia, na
encenação equilibrada entre o sutil e o rascante e no belo trabalho de direção
de elenco. Dentro desse contexto pregresso, a produção mais recente de Mello
como cineasta, “O filme da minha vida” (2017), é uma expressiva decepção
artística. Se nos mencionados filmes anteriores se podia perceber um
considerável caráter desafiador no conjunto estético-existencial, agora Mello
se mostra de maneira escancarada com a intenção de se adequar a moldes mofados
e despersonalizados de concepção narrativa, como se procurasse uma linguagem
mais “acessível” para buscar a aceitação comercial de um público maior. Na
busca de tal intento, articulou uma fórmula medíocre e sem graça de “contar uma
história”, algo como a assepsia audiovisual de uma minissérie global somada ao sentimentalismo
óbvio e barato de produções “de qualidade” como “Cinema Paradiso” (1988) e “O
carteiro e o poeta” (1994) – não é à toa que o roteiro se baseou na obra
literária original de Antonio Skarmeta, mesmo escritor de “O carteiro e o poeta”.
Diante de tais escolhas artísticas, não adianta contar com Walter Carvalho como
diretor de fotografia se enquadramentos e iluminação vão emular um traço
imagético de cartão postal ou ter alguns nomes interessantes no elenco se todos
eles vão afundar com a mãe pesada de Mello na encenação. Isso sem falar no
constrangedor caráter machista de algumas passagens do roteiro que vêm
travestidas de humanismo e sensibilidade. Há de se convir, entretanto, que “O
filme da minha vida” acaba traduzindo com fidelidade o espírito do nosso tempo
nesse reacionário Brasil pós-golpe em que vivemos – seu mercantilismo
conservador disfarçado de “qualidade artística” é sintomático da hipocrisia e
moralismo obtusos que grassam em nossa sociedade.
sexta-feira, agosto 11, 2017
O ninho, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon **1/2
Em termos conceituais, a produção gaúcha “O ninho” (2016) se
mostra bastante inquietante. Sua abordagem da temática LGBT foge bastante de
estereótipos e obviedades – é claro que no roteiro perpassa a questão do
preconceito, mas os diretores Filipe Matzembacher e Márcio Reolon buscam também
um enfoque contundente que sintetiza uma narrativa de ritmo sereno e sequências
pontuais de violência catártica. Ou seja, é uma obra de caráter desafiador
tanto pelo lado formal quanto pelo aspecto existencial. Nesse sentido, talvez o
grande acerto artístico seja a forma como os diretores conduzem as
intepretações de seu elenco, principalmente a ala “não profissional” dos
garotos que formam um grupo “anarco-queer”. São atuações espontâneas,
vigorosas, e que aliadas a uma caracterização visual de forte presença cênica
acabam rendendo algumas das sequências mais memoráveis da produção. Outro
destaque positivo é a forma como Porto Alegre é retratada: nesse conjunto de
hotéis e apartamentos algo decrépitos, de desolado cenários externos noturnos e
de hedonistas e obscuras boates gays, é como se despontasse uma capital gaúcha
de um perturbador e atraente universo paralelo. O problema de “O ninho” é que
todas essas boas ideias e sacadas estéticas-temáticas, por vezes, não encontram
uma narrativa equilibrada e envolvente. É como se seus realizadores se
perdessem em alguns momentos no seu fascínio por esse universo e privilegiassem
um olhar excessivamente fetichista.
quinta-feira, agosto 10, 2017
Em ritmo de fuga, de Edgar Wright ****
Assim como em “De canção em canção” (2016), o rock and roll
não é exatamente o tema principal de “Em ritmo de fuga” (2016), mas os dois,
estilo musical e filme, acabam apresentando um coerente paralelo existencial
tal havia ocorrido também no trabalho mencionado de Terrence Malick. Tal
relação se estabelece não apenas pelo fato da produção dirigida por Edgar
Wright usar como elemento essencial da narrativa várias canções do tripé rock-pop-soul,
mas também por um peculiar conceito artístico. Nesse sentido, é preciso ter em
mente que o rock and roll entendido como fenômeno sociológico comportamental é
algo que hoje em dia é de influência nula. Em termos musicais, ele pode até ter
uma ascendência e mesmo assim se restringindo a um âmbito mais subterrâneo ou a
pequenos nichos. Mas no sentido de se relacionar com as principais questões
culturais e sociais do mundo contemporâneo, o rock não tem a mesma relevância
de anos atrás, como aconteceu, por exemplo, com a sua ligação com a
contracultura dos anos 60 ou com o niilismo e alienação da década de 90.
Resumindo: o rock and roll hoje em dia é um artigo nostálgico de museu, congelado
no tempo. Ou seja, perfeitamente de acordo com a estética retrô trabalhada por
Wright em “Em ritmo de fuga”. No roteiro e na atmosfera de tal obra, há uma
queda pela reconstituição de um imaginário particular, uma espécie de síntese
sensorial dos preceitos básicos dos filmes de gangsteres e de jovens rebeldes,
tudo embalado por temas musicais rockers. Longe da mera reciclagem, o que
Wright faz é combinar tais referências em uma linguagem cinematográfica
bastante ousada e dinâmica, em que o ritmo da narrativa se liga a intensidade
rítmica e melódica de cada canção que surge em cena. Isso fica evidente logo de
cara na sensacional sequência de abertura, em que cada passo de um assalto e da
consequente perseguição automobilista parece determinado pela evolução da
agitada e sinuosa “Bellbottoms” de Jon Spencer Blues Explosion. Como já havia
mostrado de maneira contundente em filmes anteriores antológicos como “Todo
mundo quase morto” (2004), “Chumbo grosso” (2007) e “Scott Pilgrim contra o
mundo” (2010), Wright demonstra em “Em ritmo de fuga” um domínio expressivo da
ação cinematográfica, vide sequências de perseguições e tiroteiros marcadas por
coreografias ricas em detalhes e precisão cênicas, além de incorporar com sensibilidade
e inteligência em diálogos e nuances imagéticas uma gama incrível de
referências culturais.
quarta-feira, agosto 09, 2017
O sonho de Greta, de Rosemary Myers *1/2
Ter influências artísticas na concepção de uma obra não é
algo errado por si só. O problema é como tais influências são utilizadas. Em “O
sonho de Greta” (2015), dá para perceber referências claras à encenação
anti-naturalista típica de Wes Anderson, à estilização visual habitual de Tim
Burton e ao onirismo característico de David Lynch. Na pretensão conceitual da
diretora Rosemary Myers provavelmente estava o desejo de misturar tais
influências com uma narrativa a versar sobro o rito de passagem da infância
para a adolescência para a protagonista Greta (Belthany Whitmore) com todos os
desdobramentos emocionais inerentes a tal mudança. O problema é que Myers não
consegue dar uma fluência narrativa para tal ambição artística-existencial,
vide uma encenação engessada, um formalismo pouco inspirado e um roteiro nada
sutil que joga sem cerimônia o seu subtexto na cara do espectador (por vezes,
dá a impressão de que o filme parece ser uma produção institucional a ser
exibida em escolas). Mesmo elementos que poderiam trazer algum fator
diferencial para o trabalho de Myers, como as citações setentistas da direção
de arte e uma certa atmosfera sombria, acabam soando mais como forçadas
tentativas de parecer cool do que propriamente como fatores criativos que se
inserem de maneira orgânica e coerente na narrativa.
terça-feira, agosto 08, 2017
De canção em canção, de Terrence Malick ****
Não dá para dizer que “De canção em canção” (2016) seja
exatamente sobre o rock and roll, ainda que a temática esteja presente dentro
de sua trama que tem como uns dos seus principais cenários os bastidores de
shows e festivais do gênero, além de trazer personagens relacionados ao meio.
Na realidade, esse filme mais recente do diretor norte-americano Terrence Malick
parece compor uma particular trilogia existencial-artística com os dois filmes
anteriores do cineasta, “A árvore da vida” (2011) e “Amor pleno” (2012). Nas
três obras, há uma síntese estética-temática a versar sobre um mal-estar
existencial contemporâneo que se formata como um peculiar conto moral-místico.
Dentro de tal concepção narrativa e textual, Malick destrincha uma formatação
poética e intrincada, em que a fotografia esplendorosa e uma edição que parece
se desenvolver como se fosse um fluxo de consciência não obedecem às regras “normais”
da técnica – é de se reparar, por exemplo, um predomínio de cenas em que o
áudio não se liga com exatidão ao que está na imagem, gerando um efeito
sensorial que tanto desconcerta pelo inusitado quando encanta pela genialidade
de sua execução. É na recusa de “De canção em canção” em se vincular a uma
ortodoxia estilística que o filme efetivamente se aproxima do rock and roll.
Tal estilo musical sempre foi marcado por uma contradição – ao mesmo tempo que
apresenta uma corrente tomada pelo tradicionalismo e pela busca pelo “sucesso”
comercial, há também uma linha que se expande para um universo de ousadia e
inquietação artísticas, e que entra em choque com a realidade do mercado. A
produção de Malick busca a ligação com essa segunda vertente rocker, tanto na
maneira como mostra a relação entre o músico BV (Ryan Gosling) e seu
empresário/produtor Cook (Michael Fassbender), marcada por um jogo ambíguo de
admiração e exploração, quanto na forma como a própria música se insere na
narrativa. Não à toa, a grande presença musical em cena é da cantora e
compositora Patti Smith, artista de grande força lírica e messiânica, que se
insere na trama em diálogos inspiradíssimos e também com algumas de suas
melhores canções em algumas das cenas mais antológicas do filme.
segunda-feira, agosto 07, 2017
Transformers 5: O último cavaleiro, de Michael Bay *
O diretor Michael Bay aparenta em “Transformers 5: O último
cavaleiro” (2017) um desespero para mostrar que está em sintonia com aquilo que
está “na moda” em termos de produções blockbusters. A trama do filme é uma
espécie de compêndio das tendências temáticas que estão “dando certo” nos
últimos anos – ficção apocalíptica estilo “Jogos Vorazes”, narrativa de
cavaleiros na linha “Game of Thones”/”Rei Arthur”, atmosferas “sombrias” que
lembram a série “Alien”. Essa junção disparatada de referências, entretanto,
nunca dá liga devido a uma encenação primária e a um roteiro repleto
incongruências e simplificações constrangedoras. Aliás, Anthony Hoplins devia
estar precisando urgentemente de uma grana para aceitar passar mais duas horas
com um ar abobalhado em cena. O fato é que no primeiro filme da franquia
lançado em 2007 havia mais convicção e criatividade artísticas que tornavam as bobagens
da trama até palatáveis. Desde lá, a qualidade das continuações seguintes
despencou ladeira abaixo até chegar no limite do insuportável desse “O último
cavaleiro”. E como as últimas notícias dizem que Bay está preparando mais
continuações da franquia, é provável que as coisas ainda não tenham chegado ao
fundo do poço...
sexta-feira, agosto 04, 2017
A filha, de Simon Stone *1/2
Os créditos de “A filha” (2015) dizem que o filme é uma adaptação
de uma peça clássica do dramaturgo Henrik Ibsen. Do jeito que a produção ficou,
entretanto, parece que é uma versão pseudo-artística de alguma novela global. Não
que a trama em si seja propriamente brega e previsível, mas o que realmente
incomoda nessa obra dirigida por Simon Stone é a mão pesada do cineasta em sua
encenação. O tom solene e asséptico da primeira metade da narrativa até dá uma
enganada, mesmo que o roteiro indique alguns incômodos lugares comuns
temáticos. Na metade final do filme, a pretensa sobriedade da abordagem formal
e textual vai para o espaço e “A filha” se torna uma irritante síntese de
exageros melodramáticos e metáforas ordinárias. Pode-se perceber algumas
intenções nobres em termos de expor no subtexto da obra um simbolismo mais
contundente, a relacionar uma perspectiva intimista e uma visão social crítica
dos valores morais hipócritas da sociedade ocidental, mas a falta de inspiração
artística de Stone faz tal pretensão cair por terra.
quinta-feira, agosto 03, 2017
A vida de uma mulher, de Stéphane Brizé ***
A fórmula narrativa que o diretor francês Stéphane Brizé
costuma apresentar em seus filmes está longe de ser especialmente original, mas
de certa forma acaba até se mostrando por vezes ousada e com algo de uma pegada
autoral pela forma elegante com que conduz seu conceito artístico – são tramas
que se vinculam a uma estrutura típica de melodrama, mas que acabam recebendo
um tratamento formal-existencial marcado pela sobriedade e rigor. Em “A vida de
uma mulher” (2016) tal concepção de cinema fica bem evidenciada em suas nuances
estéticas e na sua atmosfera sombria e melancólica. O roteiro é baseado em um
original literário de Guy de Maupassant e se pode perceber que Brizé busca
valorizar a força dos diálogos e os desdobramentos relevantes da trama. Dentro
dessa abordagem, há uma impressão de distanciamento emocional, com o cineasta
dispensando recursos óbvios que fatalmente fariam tudo descambar para o sentimentalismo.
Tal orientação faz com que o processo de amadurecimento da protagonista Jeanne
(Judith Chemia) seja mostrado sem concessões e com uma endurecida coerência
filosófica-moral. Dessa maneira, a narrativa não é marcada por um arrebatamento
sensorial, mas sim por uma espécie de lenta construção perturbadora de
situações e personagens que revela o seu efetivo impacto para o espectador em
sua conclusão. Ou seja, “A vida de uma mulher” se configura como um atemporal
conto moral a dissecar com um misto de crueza, ironia e alguma doçura os típicos
valores hipócritas e obscurantistas da sociedade francesa do século XIX (e que
na realidade se estendem até hoje na sociedade ocidental contemporânea).
terça-feira, agosto 01, 2017
Gatos, de Ceyda Torun ***1/2
A intenção do diretor Ceyda Torun em “Gatos” (2016) não é
apenas mostrar como os felinos são animais peculiares e cativantes (ainda que
faça isso muito bem). Perpassa por toda a narrativa do filme um sutil conceito
artístico-existencial – ao mostrar a relação cotidiana entre os moradores de
Istambul com gatos de ruas, a obra valoriza um forte teor humanista e que por
vezes insinua uma atmosfera de mistério típico que ronda o imaginário sobre
tais animais. Em um mundo cada vez mais marcado pelo avanço
capitalista-tecnológico desumanizador, a convivência entre humanos e felinos
remete a uma ligação mais profunda com a natureza e mesmo com o desconhecido.
No caso dos bichos em questão, tal relacionamento é ainda mais fascinante, no
sentido que a personalidade de gatos é algo que beira o inescrutável. Afinal,
eles são bem mais imprevisíveis que outros animais domésticos, tendo em várias
situações atitudes inexplicáveis até para aquilo que é considerado instintivo.
Tal caráter indomável revela um perfil de desafio perante à ordem “humana”, o
que ajuda a explicar boa parte do fascínio que eles exercem. O filme de Torun
consegue captar com sensibilidade e contundência toda essa complexidade de
sensações e comportamentos, oferecendo um formalismo repleto de nuances
estéticas extraordinárias que realçam com vigor a beleza e a estranheza de tal
universo temático, vide a direção de fotografia de notável detalhismo imagético
e o misto de exotismo e pungência dos temas musicais da trilha sonora (aliás,
dentro desse conjunto audiovisual, não há como não se lembrar de outro marcante
documentário ambientado em Istambul, “Atravessando a ponte”).
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