A franquia “Alien” sob a batuta de Ridley Scott obedece a um
padrão narrativo e até a uma certa abordagem existencial do cineasta. São
filmes que se estruturam como uma síntese de ficção-científica e horror, com
direito inclusive a uma certa atmosfera gótica, e com roteiros que em seus
subtextos trazem de maneira discreta uma visão de mundo pessimista e
misantrópica. Se “Prometheus” (2012) era marcado pelo roteiro confuso e por um
conjunto narrativo-estético deslumbrante, “Alien: Covenant” (2017) marca o
regresso para o convencionalismo formal e um roteiro melhor delineado (ainda
que bastante pueril em algumas de suas resoluções). Ou seja, a ousadia
atribulada deu lugar a uma linguagem cinematográfica mais acessível e
comercial. É claro que esse direcionamento pode causar algumas frustrações para
aqueles que apreciaram o horror atmosférico de “Prometheus” que remetia à
obra-prima “Alien, o 8º passageiro” (1979). Ainda assim, “Covenant” é uma obra
diferenciada. Por mais que Scott se renda a alguns truques baratos – o que dizer
de um alien matando um casal que transava no chuveiro em cena digna de um
episódio fuleiro de “Sexta-feira 13”? – ele tem notável domínio narrativo em
algumas passagens memoráveis. As sequências de ação são muito bem coreografadas,
além da direção de arte e dos efeitos especiais constituírem um conjunto
imagético repleto de belas nuances. Nesse sentido, é de se destacar a necrópole
onde boa parta da trama se desenvolve, cenário esse que evoca uma espécie de
atemporal mansão mal-assombrada, além dos designs dos aliens terem um forte
impacto visual. Quanto ao roteiro, por mais que ele caia em algumas
simplificações preguiçosas, pode-se perceber uma sutil crítica ao pensamento
obscurantista evidenciada na figura do comandante Oram (Billy Crudup), um
cristão messiânico cujas desastrosas decisões causam a maioria das sangrentas tragédias
que se desenrolam na tela.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
quinta-feira, maio 18, 2017
quarta-feira, maio 17, 2017
Clash, de Mohamed Diab ***1/2
Filmar toda a ação dentro de um camburão não é um truque marqueteiro
do diretor egípcio Mohamed Diab em “Clash” (2016). Na verdade, tal recurso se
mostra em sintonia com a proposta estética-temática da obra, além de não servir
como mero pretexto para uma execução descuidada ou indulgente. Muito pelo
contrário – trata-se de um filme cujo formalismo é ousado e dinâmico, e que
sabe valorizar as suas possibilidades imagéticas. O que ocorre externamente ao
ambiente fechado em que se passa a história é captado pelas frestas de janelas
e portas, mas ainda assim o espectador consegue assistir a sequências muito bem
delineadas na sua combinação de realismo e tom épico. Pode-se perceber duas
intenções básicas na proposta de concentrar a trama dentro do veículo em
questão – a de recriar de forma simbólica alguns setores sociais da sociedade
egípcia e a dinâmica disfuncional na relação que se estabelece entre eles, e
também a de acentuar uma atmosfera claustrofóbica de tensão e fatalismo. Ainda
que por vezes o roteiro se prenda em alguns excessos melodramáticos e a
narrativa fique truncada, as mencionadas intenções se concretizam de forma
contundente. O terço final, por sinal, é eletrizante na sua conjugação de
violência, suspense e visão sócio-política.
terça-feira, maio 16, 2017
Melhores amigos, de Ira Sachs ****
Se em “Deixe a luz acesa” (2012) e “O amor estranho” (2014)
se podia perceber delineando um traço personalíssimo no cinema do diretor
norte-americano Ira Sachs, em “Melhores amigos” (2016) esse particular estilo
se cristaliza de forma plena e extraordinária. A partir de uma estrutura
narrativa que sintetiza melodrama classicista e trejeitos de um formalismo
livre e instintivo que remetem ao melhor da obra de John Cassavetes, a produção
mais recente de Sachs fascina o espectador pela beleza de sua estética sóbria e
pela pungência de sua abordagem emocional. O roteiro, dentro de um formato de
crônica de costumes, evoca em seu subtexto temas como conflito de classes,
dilemas intimistas, questionamentos entre gerações e crítica de valores numa
sociedade patriarcal e pequeno-burguesa, e consegue lhes dar uma unidade existencial
admirável. E mesmo a questão da homossexualidade, já trazida nos citados filmes
anteriores, entra de maneira discreta e ambígua, refletindo uma certa atmosfera
libertária para a obra. A encenação precisa é fundamental dentro dessa proposta
de Sachs, conciliando preceitos realistas e tensão dramática. Esse conjunto
temático-formal, na realidade, expressa uma fascinante dicotomia dentro da
visão artística de Sachs para “Melhores amigos”, em que boa parte da narrativa predomina
um forte rigor no conjunto fotografia, edição e encenação, mas que em momentos
cruciais se permite um certo tom intuitivo e espontâneo, principalmente quando
a dupla de adolescentes protagonista está em cena, vide as sequências antológicas
dos exercícios de interpretações teatrais e da festa eletrônica juvenil.
segunda-feira, maio 15, 2017
Guardiões da galáxia - Volume 2, de James Gunn ***
O primeiro “Guardiões da galáxia” (2014) foi talvez a
produção mais influente dos estúdios Marvel – não necessariamente por uma
questão de ter sido um tremendo sucesso de bilheteria, mas por trazer alguns
preceitos estéticos e temáticos que se mostraram influentes para outros filmes
no gênero super-heróis que vieram após a sua estreia (o exemplo mais evidente
foi o constrangedor “O esquadrão suicida”). O visual colorido espalhafatoso, a
atmosfera de filme B (é como se assistíssemos àquelas tranqueiras dos anos 80
que imitavam “Star Wars” com um orçamento milionário), o tom de comédia
pastelão de algumas sequências e a coreografia muito bem encenada das cenas de
aventuras configuraram uma eficiente e divertida fórmula artística. Assim, era
natural que o diretor James Gunn quisesse apostar naquilo que deu certo. E é
exatamente o que acontece em “Guardiões da galáxia – Volume 2” (2017). Os
elementos formais e textuais do primeiro filme estão todos presentes e por
vezes resultam em alguns momentos antológicos, principalmente pelo carisma das
atuações do seu elenco, pelo grafismo exagerado dos efeitos especiais e por um
considerável teor sórdido na sua ambientação e na violência cartunesca. Por
outro lado, a continuação também frustra um pouco pela falta de uma tensão
dramática mais consistente e também pelo tom meloso e convencional das
sequências mais sentimentais. O roteiro do filme até é bem resolvido em algumas
de suas premissas e nos seus dilemas dramáticos, mas também é permanente a impressão
que atua mais como preparação para conflitos e conceitos que se concretizarão
em obras posteriores.
sexta-feira, maio 12, 2017
O filho de Joseph, de Eugène Green ****
As primeiras cenas de “O filho de Joseph” (2016) trazem
imagens do cotidiano de Paris, enfatizando determinados signos de modernidade –
tal sequência, entretanto, recebe um tratamento formal marcada pela sobriedade
estética e é musicada por temas barrocos, evocando uma desconcertante sensação
de atemporalidade. Tais tomadas já deixam logo evidente que o particular traço
autoral do cineasta Eugène Green, delineado de maneira contundente em “La
sapienza” (2014), permanece de forma indelével. Aliás, até se aprofunda em suas
peculiaridades, principalmente na questão do ascetismo religioso herdado de
Bresson – aliás, o burro que se torna importante personagens nas cenas finais
da produção parece saído diretamente de “A grande testemunha” (1966),
importante clássico bressoniano. É como se um rigoroso conto moral aos poucos
se transmutasse em uma parábola mística. Dentro dessa abordagem, pode-se até
perceber que a sutileza não chega a ser uma marca muito forte na narrativa,
pois as simbologias e metáforas que surgem ao longo da trama são até óbvias nas
conexões bíblicas que sugerem. O que tornam tais figuras de linguagem
fortemente encantadoras é a encenação precisa e repleta de notáveis nuances dramáticas
arquitetada por Green. Nessa abordagem, os aspectos religiosos que permeiam o
roteiro de “O filho de Joseph” estão muito distantes dos clichês obtusos e
simplórios dos “filmes de louvor”, enfatizando muito mais o lado humanista
dessa visão mística.
quinta-feira, maio 11, 2017
Elon não acredita na morte, de Ricardo Alves Junior **1/2
O diretor Ricardo Alves Junior busca uma ousada síntese de
drama social, suspense e horror em “Elon não acredita na morte” (2016). Para
isso, constrói uma narrativa em que na maioria das suas sequências predomina
encenação e ambientação de tons realistas, mas que em momentos cruciais recebe
pinceladas de elementos fantásticos. O roteiro do filme procura combinar uma
trama envolvendo uma certa linha investigativa e de tons misteriosos, no que
diz respeito à procura obsessiva do protagonista Elon (Rômulo Braga) pela
esposa desaparecida, com passagens que evidenciam flagras do cotidiano do
personagem principal envolvendo precariedade e opressão sócio-econômicas. Há
sobriedade e rigor formais na concepção audiovisual da obra, o que colabora
para que haja alguma tensão e angústia para a história. Ou seja, todo o método
artístico do cineasta fica evidente em cada fotograma da obra. Esse excesso de
controle estético-existencial, entretanto, faz com que a narrativa seja pouco envolvente
para o espectador, além de resultar num roteiro que vai se revelando cada vez
mais previsível em seus desdobres dramáticos – de certa, é como se observássemos
um texto ficcional que que se prende de maneira excessiva a regras acadêmicas
de cursos de roteiros. Falta ao filme momentos em que as coisas saiam da
casinha, alguma transcendência, que só se insinua na bela sequência de sexo
entre Elon e a esposa. É claro que há o destaque positivo das boas composições
dramáticas do elenco, mas “Elon não acredita na morte”, no geral, se mostra frustrante
pela sua mecânica bem-comportada, distante, por exemplo, do clima de insano
conto gótico cinematográfico de “Quando eu era vivo” (2014), obra que em termos
de proposta artística se aproxima do filme de Ricardo Alves Junior.
quarta-feira, maio 10, 2017
Os belos dias de Aranjuez, de Wim Wenders ***
O diretor alemão Wim Wenders aparenta em “Os belos dias de
Aranjuez” (2016) não dar muita bola para as acusações de pedantismo filosófico
ou de estar há anos se repetindo em suas obsessões estéticas e temáticas. Dessa
forma, mesmo que não consiga convencer os habituais detratores, reforça o
padrão autoral da sua filmografia. Nesse filme mais recente, inclusive, pode-se
ter a impressão do cineasta estar evocando algumas das melhores soluções artísticas
de uma de suas grandes obras-primas, “Asas do desejo” (1987), ainda que sem o
mesmo grau de inspiração criativa. Estão lá o entrecruzamento entre audiovisual
e literatura (não à toa, o roteirista é o escritor Peter Handke, antigo
colaborador de Wenders, inclusive em “Asas do desejo”), diálogos que buscam a
síntese entre o filosófico e o poético, o uso intenso de canções de rock e pop
na trilha sonora. Nessa obra mais recente, entretanto, Wenders não demonstra
tanta preocupação em firmar uma narrativa convencional, fazendo com que a
estrutura formal e textual do filme se configure a partir de elementos
aparentemente aleatórios (um jukebox marcando um inventário emocional das
situações da trama, direção de fotografia que investe em detalhistas e sóbrios
planos-sequências, direção de arte que acentua o caráter pictórico de
determinadas cenas). Tal concepção cinematográfica torna algumas passagens da
produção um tanto frouxas, beirando o enfadonho, mas com o tempo acabam
revelando uma interessante sintonia com o roteiro, principalmente pelo fato de
expressar a ideia do conturbado processo criativo do escritor protagonista da
obra. Assim, mesmo que a aparição repentina de Nick Cave cantando na sala do
personagem possa parecer forçada ou estapafúrdia, acaba ganhando um encantador
caráter simbólico – aliás, Cave também aparecia de forma memorável em uma das
mais famosas sequências de “Asas do desejo”. Há também na proposta artística de
“Os belos dias de Aranjuez” a intenção de colocar o espectador dentro de uma
espécie de vórtice sensorial narrativo marcado por uma atmosfera passadista e
algo nostálgica para que ele sinta a beleza e o peso de cada palavra dos
diálogos e do espectro visual da produção, desejo esse evidente nos planos
iniciais, em que a câmera “viaja” de uma grande metrópole moderna para o
ambiente árcade do retiro campestre do protagonista.
segunda-feira, maio 08, 2017
História da minha morte, de Albert Serra ***1/2
A síntese artística de “História da minha morte” (2013)
passa por uma intrincada combinação entre peculiar classicismo em termos
estéticos, atmosferas bizarras e roteiro de forte teor alegórico. O diretor
Albert Serra não facilita as coisas para o espectador – edição de pouco cortes,
longos planos-sequência fixos, a encenação distante da escola naturalista,
fotografia algo esmaecida que evoca um velho álbum de fotos. Em diversas passagens,
a ambientação evoca uma zona existencial entre o horror metafísico sombrio e um
amargo drama social. A figura mítica de Casanova apresenta uma carga simbólica
diversa daquela habitual nas várias vezes em que foi retratada em outros
relatos (cinematográficos ou não) – o personagem representa um poder
aristocrata e patriarcal opressor e perverso, em que suas ações evocam o
sexismo e a injustiça social que sempre foram inerentes dentro da trajetória
histórica da sociedade ocidental. Nesse sentido, a abordagem temática-formal de
Serra é perturbadora em sua ambiguidade, em que se pode perceber um certo tom
encantador pictórico e mesmo sensual em algumas cenas, enquanto em outras
predomina uma sexualidade brutal e um caráter de sordidez. A dubiedade aumenta
ainda mais quando Drácula entra em cena, pois nunca fica claro o real significado
de sua presença – seria uma saída libertária ou apenas a continuação de uma
outra forma de opressão? Nesse padrão de indefinição é que “História da minha
morte” vai se insinuando dentro do imaginário do espectador, como um pesadelo
marcado pela beleza e pelo desconforto.
sexta-feira, maio 05, 2017
Velozes e furiosos 8, de F. Gary Gray ***
Ali pela metade da franquia, em seu capitulo 5, “Velozes e
furioso” adotou uma mudança conceitual na sua síntese temática-formal – é provável
que seus produtores perceberam a ascensão comercial dos filmes de super-heróis
da Marvel e daí resolveram adotar estética e roteiros cada vez mais exagerados.
Ainda que oportunista, tal mudança até teve a sua eficácia. “Velozes e furiosos
8” (2017) é a cristalização definitiva dessa alteração de paradigmas. Assim,
enquanto o primeiro filme de 2001 era um policial de ação movido a perseguições
automobilísticas, essa produção mais recente é uma aventura alucinada, beirando
o delirante, envolvendo muita pancadaria e perseguições que extrapolam os
simples carros envenenados, envolvendo também bolas de demolição, tanques de
guerra e até um submarino nuclear! Toda essa extrapolação barulhenta, pelo
menos, é bem coreografada em sua encenação, rendendo algumas sequências
memoráveis. O roteiro é um misto picareta e quase surreal de clichês do gênero
ação, toques de ficção científica barata e sentimentalismo moralista que chega
a ser engraçado pela sua cara-de-pau. Aliás, as cenas finais, de um churrasco
de celebração de amigos exaltando valores religiosos e familiares, depois de
mais de duas horas repletas de mortes e destruição, são a síntese exata do
espírito “sem noção” do filme.
quarta-feira, maio 03, 2017
Pitanga, de Camila Pitanga e Beto Brant ***
Alguns dias atrás, um amigo meu comentou um fato curioso (e
assustador) para mim – ele estava em um evento social, cujo predomínio era de
pessoas entre 30 e 35 anos, todos de classe média, e em determinado momento boa
parte deles entrou em uma animada discussão “cultural” onde se vangloriavam de
nunca terem lido um livro na vida (claro, fora aqueles que foram obrigados a
ler para se formar em suas respectivas faculdades). No mesmo dia em que fiquei
sabendo de tal fato, fui ao cinema assistir ao documentário brasileiro “Pitanga”
(2016). Nas sequências iniciais do filme, o foco fica no ambiente familiar do
protagonista Antônio Pitanga, e até se fica com a impressão de que o que
predominará na produção seria um incômodo tom hagiográfico do cinebiografado.
Tal impressão, entretanto, acaba se mostrando enganosa com o desenrolar da
narrativa. Através de trechos dos principais filmes dos quais Pitanga
participou e dos depoimentos de vários nomes fundamentais do meio artístico e intelectual
do Brasil dos últimos 60 anos, o que o documentário dirigido por Camila Pitanga
e Beto Brant faz não é apenas o relato da trajetória pessoal e profissional de
Antônio Pitanga (o que por si só já seria algo fascinante), mas também o
inventário existencial de toda uma geração extraordinária de grandes nomes do
cinema, música, literatura, teatro, política, religião e outros meio de
expressão cultural. A grande profusão de depoentes pode até parecer exagerada,
mas na realidade tem a função de mostrar a riqueza e diversidade artística e
intelectual de um certo imaginário cultural-filosófico tipicamente brasileiro.
O contraste entre a obtusidade dos rapazes contemporâneos mencionados no início
desse texto e o fervilhante complexo de ideias e sentimentos expressos em “Pitanga”
ajuda a explicar o nosso atual conturbado e deprimente panorama
político-social.
terça-feira, maio 02, 2017
A morte de Luís XIV, de Albert Serra ***1/2
O cinema praticado pelo diretor Albert Serra em “A morte de
Luís XIV” (2016) parece algo fora do tempo e do espaço. O cineasta catalão
abdica de efeitos digitais e de uma edição baseada em cortes em nome de uma
estética que sintetiza passadismo, morbidez e cientificismo. Assim, alia uma
encenação marcada pelo rigor naturalista, direção de arte que sintetiza
requinte e crueza e uma fotografia de claras influências pictóricas. São
diversos os momentos em que o espectador tem a impressão de estar assistindo a
um quadro vivo renascentista ou gótico, tamanho o detalhismo das composições
cênicas do filme. Todas essas escolhas formais, juntas a uma narrativa de
implacável ritmo lento, mostram uma sintonia notável com a proposta temática do
roteiro, que em seu subtexto traz uma leitura cruel e irônica sobre a aliança
entre poder político e obscurantismo religioso, a combinação existencial
fundamental do absolutismo (e que de certa forma ainda influencia o status quo
mundial). A agonia do protagonista, expressa em riquezas de nuances sensoriais,
contrapõe de maneira assustadora a visão aristocrática de uma legitimação
divina que justifique uma sociedade marcada por brutais diferenças de classes.
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