terça-feira, julho 31, 2007

Filmes da Semana (Cotação de 0 a 4 estrelas)


Shrek Terceiro, de Chris Miller **1/2
Harry Potter e a Ordem da Fênix, de David Yates **1/2
Saneamento Básico – O Filme, de Jorge Furtado **
A Hora Mágica, de Guilherme de Almeida Prado ****
Week End, de Jean-Luc Godard ****
O Apocalipse de Um Cineasta, de Fax Bahr, George Hickenlooper e Eleanor Coppola ****
As Aventuras de Azur e Asmar, de Michel Ocelot **1/2
Época de Garoto, de Masahiro Shinoda ****
Eleição – O Submundo do Poder, de Johnnie To ****

A Rainha, de Stephen Frears **1/2


Confesso que não entendi até agora todas essas loas que a crítica fez para “A Rainha”. Basicamente, acho que é um filme que carece de paixão e ousadia. Stephen Frears parece permanecer constantemente encima do muro sobre a sua temática potencialmente explosiva (as conseqüências da morte da princesa Diana sobre a família real e o povo britânico). Tal imparcialidade mais parece uma intenção de não querer desagradar opiniões ou criar maiores polêmicas. Frears dá algumas pequenas alfinetadas na Família Real, mas não se aprofunda em coisas que realmente poderiam interessar como o motivo da população venerar uma pessoa tão vazia como Diana (e que resvalaria na questão ao culto de celebridades inúteis), de qual seria o real significado da simbologia da monarquia ou sobre o papel do governo nessa história toda. No geral, Frears se contenta em ficar na superfície, concentrando-se em aspectos menores de uma situação repleta de outras circunstâncias bem mais interessantes.

No mais, mesmo a tão incensada atuação de Helen Mirren no papel-título nem é tudo isso o que se fala (até fiquei com saudades dela em “Calígula”...). Para falar a verdade, gostei bem mais da atuação de James Cromwell como o apatetado e arrogante Príncipe Phillip. De se destacar ainda alguns belos momentos da fotografia, principalmente nas seqüências no interior britânico. Mas a verdade é que isso tudo é muito pouco para um diretor como Frears, cineasta que já fez obras magníficas como “Os Imorais”, “A Grande Família” e “Sammy e Rose”. Depois do insípido “Sra. Henderson Apresenta” e desse apagado “A Rainha”, dá até para começar a temer pelo potencial criativo de Frears...

Confidence - O Golpe Perfeito, de James Foley ***


“Confidence” não se difere muito de outros filmes no estilo golpes ou assaltos perfeitos. O diretor James Foley não tem a classe de David Mamet, dos engenhosos “A Trapaça” e “O Assalto”, e nem a genialidade virtuose de Spike Lee no primoroso “O Plano Perfeito”. Mesmo assim, “Confidence” não é uma produção de se jogar fora. Mesmo que as reviravoltas do roteiro não sejam tão imprevisíveis assim, Foley conseguiu obter para o seu filme alguns belos momentos de tensão. Além disso, o elenco, no geral, tem atuações bastantes cool e adequadas para o filme, principalmente por parte de Dustin Hoffman, Edward Burns, Rachel Weisz e Andy Garcia.

quarta-feira, julho 25, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)



Transformers, de Michael Bay ****
Vizinhos, Vizinhas, de Malik Chibane **1/2
O Hospedeiro, de Joon-Ho Bong ****
O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, de Tim Story **1/2
Os Mestres Loucos, de Jean Rouch ****
Mosso Mosso, de Jean Rouch **1/2
A Caça ao Leão, de Jean Rouch ****
Maria, Abel Ferrara ***1/2
A Adolescente, de Luis Buñuel ****
Assim Estava Escrito, de Vincente Minnelli ****
Nausicaa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki ***1/2
Calígula, de Tinto Brass ***1/2

segunda-feira, julho 16, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


Invasão de Domicílio, de Anthony Minghella **1/2
Baixio das Bestas, de Cláudio Assis **1/2
Marcas da Vida, de Andrea Arnold **1/2
A Conversação, de Francis Ford Coppola ****
Rock’n’Roll High School, de Allan Arkush ***1/2
Minha Vida no Ar, de Rémi Bezançon ***1/2
Crônica de um Verão, de Jean Rouch e Edgar Morin ****
Sexta-Feira Louca, de Mark S. Waters **O Espírito da Colméia, de Victor Erice ****

quinta-feira, julho 12, 2007

Noivas, de Pantelis Voulgaris **


Há situações em que simplesmente não há muito o que falar sobre um filme. A produção grega “Noivas” é um desses casos. A sua trama inicialmente pode até despertar algum interesse ocasional: em 1922, um navio vindo da Grécia traz centenas mulheres rumo aos Estados Unidos destinadas a se casarem com imigrantes que já vivem por lá, sendo que uma delas acaba se apaixonando, e é correspondida, por um norte-americano casado que se encontra na embarcação. O problema do filme é que tudo nele é tão mecânico e sem inspiração que em nenhum momento podemos sentir um pouco de vida nele. O diretor Pantelis Voulgaris aposta em velhas fórmulas óbvias na linha “paixões proibidas” e torna “Noivas” igual a tantas outras produções no gênero. É claro que o filme é até bem produzido, mas no final ele acaba se destinando mais para aquelas senhoras aposentadas e simpáticas que freqüentam o cinema Guion à tarde do que para alguém que esteja interessado em assistir algo realmente interessante nos cinemas.

800 Balas, de Álex de la Iglesia ****


Poucos caras teriam o peito de fazer uma homenagem sincera e emocionada ao spaghetti western, gênero que geralmente costuma ser estupidamente menosprezado como menor (como se Sergio Leone, um dos maiores virtuoses da história do cinema e que se projetou nos espaguetes, pudesse ser considerado um diretor mediano...). Pois o genial cineasta espanhol Álex de la Iglesia não só realizou essa proeza como acrescentou uma boa dose de bom humor e ironia no magnífico “800 Balas”. Ao contar a história de um grupo de atores que vivem de recriar seqüências de velhos faroestes para turistas numa cidadezinha quase fantasma da Almeria e que entram em conflito contra um conglomerado financeiro que quer lhes tomar a tal cidadezinha, Iglesia faz uma combinação explosiva de comédia e aventura, na melhor tradição de filmes antológicos como “Três Homens em Conflito” e “Meu Nome é Ninguém”. Ao mesmo tempo que recicla com maestria alguns dos mais básicos clichês do gênero espaguete, indo do caracterização suarenta dos personagens, passando por duelos entre pistoleiros e chegando até à fotografia em tons quentes da região árida e ensolarada da Almeira, Iglesia consegue dar um marcante toque pessoal para “800 Balas”, principalmente na presença do seu típico humor negro que permeia todo o filme. Nesse sentido, o auge ocorre durante uma festa na cidadezinha entre os atores, no melhor estilo bandoleiro, que acaba culminando com o garoto Carlos (Luis Castro) brincando com uma bela prostituta. Nas seqüências em que os cowboys, sitiados na cidade, enfrentam a polícia, Iglesias também mostra um faro apurado para empolgantes cenas de ação. Por fim, chega a ser comovente a “presença” de Clint Eastwood, ou pelo menos alguém muito parecido com ele, caracterizado no melhor estilo “estranho sem nome”, na seqüência final de “800 Balas”, coroando com louros essa verdadeira declaração de amor ao verdadeiro cinema.

Para velhos fãs de faroestes espaguete, assistir “800 Balas” faz relembrar vários clássicos inesquecíveis do gênero e dá até um nó na garganta. Para os neófitos, é um ótimo cartão de visitas para começar a conhecer uma das mais criativas faces do cinema. No mais, Alex de la Iglesias mostra porque, ao lado de Júlio Medem, é um dos melhores cineastas espanhóis em atividade.

quarta-feira, julho 11, 2007

Ventos da Liberdade, de Ken Loach ****


Ken Loach está mesmo em grande forma. Depois do desconcertante “Apenas Um Beijo”, o cara volta ainda mais inspirado com esse “Ventos da Liberdade”, obra que retrata os anos iniciais da formação do IRA, a organização política que luta pela independência política da Irlanda. É impressionante a naturalidade com que Loach consegue combinar no mesmo filme política, dramas pessoais e ação, obtendo um resultado dramático impressionante. E aquela velha prática de enquadrá-lo apenas no gênero cinema político, como se ele fosse um diretor apenas preocupado com a temática dos seus filmes, fica cada vez mais esvaziada quando se vê o impressionante domínio formal cinematográfico de Loach em “Ventos da Liberdade”. Poucas vezes os campos irlandeses foram tão belos, verdejantes e luminosos como nas imagens registradas no filme, o que acaba tendo um efeito até mesmo perturbador para o espectador no momento que se contrasta a placidez das paisagens com a trama sombria do filme. O diretor mostra também um admirável conhecimento de causa na elaboração de seqüências de ação: as cenas de conflito armado são antológicas pela tensão, violência e dinâmica com que são retratadas.

A injusta pecha de “diretor panfletário” que se costuma atribuir a Loach também se mostra equivocada ao se assistir a “Ventos da Liberdade”. O diretor não facilita a vida do espectador com simplificações ou maniqueísmos ao retratar a complicada questão política que é tema do filme. Para começar, muito do que é mostrado é visto sob uma ótima mais intimista, focando muito mais os relacionamentos humanos, principalmente entre os irmãos Damien (Cillian Murphy, em mais um desempenho extraordinário) e Teddy O’Donovan (Padraic Delaney), líderes do IRA, o que aumenta ainda mais o impacto do filme. Loach também evita transformar o seu filme em apenas mais uma narrativa de mocinhos e bandidos. Todas as complexidades e contradições inerentes ao conflito do IRA com os ingleses vem à tona, principalmente na segunda metade do filme quando há um racha entre os irlandeses que acaba culminando numa verdadeira guerra fratricida. Loach deixa claro que numa guerra, por mais justos que aparentemente possam ser os seus motivos, há escolhas e decisões que são irrevogáveis e que marcam os indivíduos para sempre. Isso fica evidente em duas tristes e belíssimas seqüências de “Ventos da Liberdade”: a primeira quando Damien é forçado a matar um velho amigo de infância e a outra no diálogo final entre os irmãos O’Donovan.

Batman - O Homem Morcego, de Leslie Martinson *


Definitivamente, existem coisas que é melhor que fiquem no passado... Lembro-me nos meus tempos de criança que eu achava um barato assistir todos os dias ao seriado do Batman, aquele que tinha o Adam West no papel-título. Eu conseguia ficar realmente impressionado com os planos diabólicos do Coringa ou do Pingüim, aguardava com ansiedade o capítulo seguinte quando eu finalmente ficaria sabendo se o Batman e o Robin conseguiram escapar da terrível armadilha que algum dos seus inimigos havia preparado. O problema do seriado, entretanto, é que o mesmo não envelheceu muito bem... Hoje, com um olhar mais experiente, já se percebe que o forte daqueles velhos episódios era a tiração de sarro com a própria figura do homem morcego, o que ficava evidente nas tramas esdrúxulas e no figurino psicodélico-brega. Não que eu não tenha bom humor, mas é aquela coisa: tem piada que não tem a mesma graça quando se ouve mais de uma vez... Isso fica mais evidente assistindo a “Batman – O Homem Morcego”, longa-metragem derivado da série que foi lançado nos cinemas em 1966. O filme pode até ser curtível como um exercício de nostalgia, mas fora disso é quase penoso ter de assistir ao mesmo. Produção tosca, direção qualquer nota, atores canastrões ao extremo, aquelas mesmas tiradas cômicas, enfim, uma legítima tranqueira. Não chega aos picos de ruindade de um Ed Wood, mas passa perto. E para quem acha que “Batman Eternamente” e “Batman e Robin”, ambas produções risíveis de Joel Schumacher, são os pontos mais baixos da carreira cinematográfica do velho homem morcego, é necessário assistir a esse “Batman – O Homem Morcego” para rever os seus conceitos.

As Mãos, de Alejandro Doria ***


Apesar de formalmente ser meio comum demais, a produção ítalo-argentina “As Mãos” é um obra que tem os seus momentos de encanto. A história de um padre que tem o poder de cura através da suas mãos e acaba entrando em conflito com a própria Igreja devido ao seu dom tinha tudo para cair no excessivamente melodramático, e algumas poucas seqüências acaba descambando um pouco para isso mesmo. Mas o que predomina durante o filme, entretanto, é uma abordagem mais sutil e equilibrada sobre a questão da fé e as hipocrisias do Vaticano. Além disso, o diretor Alejandro Doria consegue obter alguns ótimos momentos de bom humor e ironia, fazendo com que a narrativa não fique tão pesada pela aridez do tema.

Orgulho e Preconceito, de Joe Wright ****


Pelo menos nos últimos vinte anos, filmes de época representam um gênero complicado. Na grande maioria das oportunidades caem em uma espécie de regra geral: são produções bem cuidadas, com direção de arte e fotografia competentes, mas que não apresentam maiores ousadias formais. E quando são adaptações de obras literárias, a coisa fica ainda mais previsível: há a uma preocupação muito maior em “contar uma história” do que em explorar uma linguagem cinematográfica. Ou seja, transforma-se o cinema em mero suporte visual para a trama. Desde a morte de Luchino Visconti, grande gênio criativo dessa linhagem de filme (vide obras primas como “A Sedução da Carne”, “O Leopardo” e “Ludwig”), o gênero entrou em uma espécie de estagnação, com algumas poucas e honrosas exceções (como o magnífico “A Era da Inocência”, de Martin Scorsese), apesar de ainda continuar com um bom nicho de admiradores (as respeitáveis senhoras freqüentadoras do Guion, por exemplo).

Diante de um quadro como o acima descrito, não há como não se entusiasmar com essa verdadeira perola que é “Orgulho e Preconceito”, versão cinematográfica mais recente para a obra literária clássica de Jane Austen. A tomada de abertura já nos dá a idéia do que vem pela frente: num plano-seqüência de arrepiar, a câmera passeia pela casa dos Bennetts focando várias ações simultâneas e apresentando com precisão o que representa cada membro da família. A noção de ação cinematográfica do diretor Joe Wright é impressionante nessa seqüência e dá a tônica por todo o filme. Apesar de adaptado de um livro, “Orgulho e Preconceito” tem uma narrativa fortemente anti-literária: os movimentos de câmera e ágil edição são tão predominantes que fazem com que as imagens é que sejam os reais fios condutores do que estamos assistindo. O trabalho de edição e fotografia do filme é dinâmico e fluído a tal ponto que em alguns momentos chegamos a esquecer que estamos assistindo a uma adaptação de um livro. Isso não quer dizer, entretanto, que Wright não preservou a essência do ótimo texto de Jane Austen. Muito pelo contrário. A concepção moderna e ágil do seu estilo de filmar realça ainda mais a qualidade da narrativa de Austen, mostrando como a mesma não envelheceu em nada. Ironia e drama se combinam de forma espantosa por todo o filme, valorizado ainda mais pelos brilhantes diálogos e pelo ótimo elenco, com destaque para a interpretação serena e astuta de Donald Sutherland, a pura tensão histriônica de Brenda Blethyn e a vivacidade de Keira Knightley.

Uma boa forma para se ter idéia do que representa essa nova versão cinematográfica para “Orgulho e Preconceito” é compará-la com outras adaptações recentes de obras de Jane Austen para o cinema. Produções como “Razão e Sensibilidade” e “Persuasão”, ambas de 1995, são bons filmes e também são fiéis aos livros de origem, mas ao mesmo tempo apresentam um certo apego à narrativa literária. O filme de Joe Wright manda para o espaço a literatura e aposta exclusivamente no cinema. O resultado é um dos grandes picos criativos cinematográficos dos últimos anos.

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)



Copacabana Mon Amour,de Rogério Sganzerla ****
O Despertar de Uma Paixão, de John Curran ***
Batismo de Sangue, de Helvecio Ratton ***
Ratatouille, de Brad Bird ****
Paris, Te Amo, de Walter Salles, Irmãos Coen e outros diretores ***
Danger: Diabolik, de Mario Bava ****
Hot Fuzz, de Edgar Wright ****
Eu Sou Uma Ciborgue, Mas Tudo Bem, de Chan-Wook Park ***1/2

sexta-feira, julho 06, 2007

A Leste de Bucareste, de Corneliu Porumboiu ***



Apesar de ser uma produção bem modesta e da sua primeira metade ser meio chatinha, “A Leste de Bucareste” merece uma conferida. O primeiro motivo seria a curiosidade, afinal não é todo o dia que aparece nas telas brasileiras uma produção romena. O outro motivo é que depois da aludida monotonia do início o filme ganha um fôlego renovado, quando a ação passa a se desenvolver num programa de televisão. Nesse momento, o diretor Corneliu Porumboiu obtém uma interessante combinação de cinema político e comédia, com diálogos muito bem humorados em que visões ideológicas e algumas pequenas mentiras se confrontam de forma bastante irônica. Porumboiu consegue aproveitar com eficiência e criatividade o espaço limitado do cenário, além de conseguir extrair habilmente humor de um tema árido e de personagens essencialmente amargurados.

E para quem se interessar pelo cinema romeno a partir de “A Leste de Bucareste”, vale correr atrás de um filme ainda melhor chamado “A Noite do Senhor Lazarescu”, uma sensacional obra-prima lançada alguns anos e ainda inédita no Brasil.

Doutor Jivago, de David Lean ***1/2


Acredito que a noção geral de “Doutor Jivago” ser considerado atualmente um clássico da história do cinema tem mais relação com o fato do filme ser uma referência para uma série de pessoas do que propriamente pelo fato questionável de tal produção ser efetivamente uma obra-prima. Tal filme tem um caráter fortemente emocional, residindo aí o seu apelo para boa parte do público que o admira incondicionalmente. Em termos formais, é claro que “Doutor Jivago” e competente, o que não chega a ser surpresa para uma obra da autoria de David Lean, um cineasta extremamente meticuloso. As belas paisagens que pululam por toda a metragem do filme são fotografadas em todo o seu esplendor. A eficiente edição faz com que a longa duração da obra não seja um fardo. Os exageros românticos do roteiro, a excessiva solenidade de alguns momentos e as interpretações afetadas de Omar Sharif (do início ao fim do filme o cara parece estar sempre prestes a se debulhar em lágrimas), Julie Christie e Geraldine Chaplin, entretanto, fazem com que “Doutor Jivago” caia em algumas oportunidades em lugares comuns e numa pomposidade artificial que tira um pouco o brilho e a fluência do filme.

quinta-feira, julho 05, 2007

Ato Terrorista, de Joseph Castelo ***



Mesmo não tendo maiores arroubos estéticos, “Ato Terrorista” é uma obra inquietante sobre a temática do terrorismo nos dias atuais. Mesmo que a imparcialidade ideológica seja quase uma utopia no ato de expressar uma visão sobre o assunto, o diretor Joseph Castelo retrata muito bem a ambigüidade da questão. Ao mesmo tempo que ficamos chocados com o radicalismo e a indiferença de Hassan (Ayad Akhtar), o protagonista do filme, ao executar todos os passos da sua ação terrorista, temos também a consciência do processo que levou Hassan a ser tornar um fanático pela sua causa. Essa coerência no tratamento da temática do filme aumenta ainda mais o impacto da trama, fazendo com que Castelo não abra concessões para tornar mais fácil a trajetória de Hassan. Muito pelo contrário. Na visão de Castelo, não há espaço para a redenção ou até mesmo culpa. O protagonista cumpre com o destino que lhe foi determinado, sem se importar com as conseqüências para a sua pessoa. E para um público acostumado com as simplificações de conceitos maniqueístas, tal conclusão não deixa de ter um efeito perturbador.

Syriana, de Stephen Gaghan **



Quando se assiste “Syriana”, tem-se a impressão que se pode ver boa parte dos elementos que configurariam um bom filme. Há uma trama interessante que se desenvolve em várias histórias paralelas envolvendo uma conspiração das indústrias petrolíferas. Alguns personagens impressionam pela consistência e carisma, além do elenco do filme, em sua grande maioria, dar o suporte adequado na caracterização dos mesmos (principalmente na interpretação tensa de George Clooney). Apesar de todas essas boas qualidades, contudo, “Syriana” é uma obra que nunca consegue decolar. Faltou ao diretor Stephen Gaghan pegar todos esses fatores que tinha ao seu favor e dar uma unidade narrativa mais dinâmica e ousada. Ele se conforma com a temática “séria”, como se apenas isso pudesse dar validade ao seu filme. O resultado acaba sendo uma produção que parece estar sempre em ponto morto, chegando a induzir ao sono em algumas seqüências. Gaghan quis fazer uma espécie de novo “Traffic”, filme no qual foi roteirista, mas evidentemente não tem o mesmo traquejo cinematográfico de Steven Soderbergh.

quarta-feira, julho 04, 2007

Cafuné, de Bruno Vianna *



É muito provável que você, caro leitor, não consiga assistir “Cafuné” em alguma sala de cinema aqui de Porto Alegre. E isso é culpa do excesso de blockbusters nas nossas salas de exibição? Não creio. Acredito que o motivo real é que o filme é ruim mesmo. O diretor Bruno Vianna teve a pretensão de colocar na mesma trama drama social e história de amor tendo como pano de fundo um Rio de Janeiro em ebulição, o que pode fazer com que se espere uma produção no mínimo contundente. O resultado, entretanto, é pífio e sem alma. “Cafuné” é uma obra sem personalidade e mal costurada, sendo que a única coisa que pode provocar na platéia são alguns bocejos.

A Lenda, de Ridley Scott ***



Ridley Scott é o tipo de diretor que mesmo quando não está em seus dias mais inspirados consegue realizar um filme no mínimo interessante. “A Lenda” está bem longe de filmes sensacionais como “Os Duelistas” e “Blade Runner”, principalmente pela sua narrativa fria e um pouco frouxa. Mesmo assim, acaba valendo uma conferida pela criativa concepção visual de seus cenários. Scott criou um belo mundo fantástico, com uma fotografia que realça a bem cuidada estética do filme. Pena que o roteiro insípido e a direção burocrática de Scott não saibam aproveitar todo o potencial criativo propiciado pela direção de arte e fotografia.

terça-feira, julho 03, 2007

Borat, de Larry Charles ****


O grande barato de “Borat”, além da genial capacidade em obter situações constrangedoras e hilárias de Sacha Baron Cohen, é a forma com que o diretor Larry Charles pega uma série de seqüências cômicas pautadas pelo improviso e pela anarquia e dá uma unidade e coerência narrativa impressionante, fazendo com que o filme, no meio de uma impressionante sucessão de momentos de puro pastelão escatológico, tenha uma lógica muito bem focada, lembrando nesse sentido o melhor da produção do Monty Python. Assim, talvez seja muito fácil numa primeira impressão se ter a idéia de que o filme seja apenas uma coleção solta de piadas politicamente incorretas. Uma observação mais atenta, entretanto, revela uma obra com um caráter fortemente humanista. Afinal, Borat consegue colocar suas “vítimas” em situações tão desconcertantes que as mesmas acabam revelando com muito mais crueza e sinceridade a verdadeira alma da sociedade norte-americana, algo que muitas produções pretensamente sérias, como “Fahrenheit 11 de Setembro” de Michael Moore, não conseguiram chegar nem perto.

Boa Noite e Boa Sorte, de George Clooney ***1/2


Existem alguns filmes que geram toda uma série de comentários mais sobre questões extra-cinematográficas do que propriamente sobre os seus méritos artísticos. “Boa Noite e Boa Sorte” é um desses casos. Em 2006, resenhas e comentários colocavam que se tratava de uma obra “corajosa” por fazer uma analogia entre o mccarthismo e a atual Era Bush. Puro exagero. O filme não traz nada de novo ao tema e nem é tão questionador assim, sendo a típica produção pretensamente “política” que o povo politicamente correto adorar assistir para se sentir “transgressor”. Quem quiser assistir filmes políticos realmente inquietantes deve ir atrás de obras como “A Classe Operária Vai ao Paraíso”, de Elio Petri, ou “Z”, de Costa Gavras, filmes esses que são rebeldes até na própria estrutura narrativa. Isso não quer dizer necessariamente, entretanto, que “Boa Noite e Boa Sorte” seja um mau filme. Muito pelo contrário. Mesmo não tendo a mesma criatividade estética e narrativa de “Confissões de Uma Mente Perigosa”, a altamente promissora estréia de George Clooney como diretor, “Boa Noite e Boa Sorte” tem momentos de alto nível cinematográfico, principalmente pelo interessante trabalho de fotografia e edição que mistura a recriação de época com imagens de arquivo até um ponto que fica difícil distinguir onde começa uma e termina a outra. Além disso, Clooney consegue extrair de um roteiro quase minimalista algumas fortes seqüências de tensão, também sabendo aproveitar com precisão as interpretações econômicas e sutis da maioria do seu elenco (com claro destaque para David Strathairn, Patricia Clarkson e Robert Downey Jr.- este último, aliás, o melhor ator norte-americano em atividade, ao lado de Mark Ruffalo).

This Is Spinal Tap, de Rob Reiner ****



Você é ou já foi fã de alguma banda psicodélica oportunista ou de algum ridículo grupo de hard rock farofa? Ou você é o pai desesperado e ranzinza de algum garoto louco por esse tipo de coisa? Bem, seja qual a opção em que estiver enquadrado o fato é que você de alguma forma não vai conseguir ficar impassível e não dar algumas boas gargalhadas com This Is Spinal Tap, um delicioso e hilário falso documentário que aborda a trajetória acidentada de uma banda fictícia chamada Spinal Tap. Todos aqueles clichês básicos das histórias das mais clássicas bandas de rock estão presentes: mudanças esdrúxulas de estilo musical de acordo com a moda, namoradas que influenciam nas decisões, empresários picaretas, discussões ególatras entre os músicos, figurinos de gostos duvidosos, shows pretensamente apoteóticos, turnês em lugares insólitos para revitalizar a carreira da banda. E tudo isso é temperado com uma tremenda ironia no genial tratamento “realidade de mentirinha” que o diretor Rob Reiner oferece para o filme. É de ressaltar, entretanto, que o espírito gozador do cineasta ao mesmo tempo tem embutido uma inusitada dose de carinho na forma com que a banda é retratada. Ou seja, mesmo com todo o ridículo das situações, nós não conseguimos deixar de simpatizar e até mesmo curtir pra caramba o som dos caras. E não seria justamente essa contradição entre amor e repulsa que torna o rock tão fascinante?

O Ritmo de Um Sonho, de Craig Bewer ****


Nos últimos anos, filmes tendo o gênero musical rap como tema principal das suas tramas se proliferaram pelas telas do mundo inteiro (podendo-se se destacar nessa leva o forte 8 Mile – Ruas das Ilusões, de Curtis Hanson). Mas o grande destaque nessa linha de filmes é sem dúvida O Ritmo de Um Sonho, contundente produção norte-americana que tem como protagonista o carismático gigolô e traficante Djay (Terrence Howard), um marginal que encontra no ato de compor e cantar uma possibilidade de dar uma reviravolta na sua vida. Não é de se esperar, entretanto, mais uma manjada produção no estilo “você pode superar tudo se quiser”. Na trajetória de Djay, não há soluções mágicas para os seus problemas e nem transformações radicais de personalidade. A dureza e sordidez de sua vida como meliante estão presas na sua própria personalidade e se refletem de forma magnífica na sua música. Além dessa visão lúcida e madura sobre a vida do seu protagonista, o cineasta Craig Bewer absorve e remodela com maestria influências da estética suja e dinâmica do blackexploitation, gênero típico dos anos 70 com produções baratas e divertidas que eram totalmente voltadas para o público black. Mas isso não tira o caráter universal de O Ritmo de Um Sonho, e o resultado acaba sendo um dos melhores filmes dos últimos anos e que acabou rendendo o Oscar de melhor canção para a memorável “It’s Hard Out Here For a Pimp” e uma indicação para o prêmio de melhor ator para Terrence Howard.

Filmes das Últimas Semanas (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Céu de Suely, de Karim Aïnouz ***1/2
Inferno, de Danis Tanovic ***
Caparaó, de Flávio Frederico **
Fome Animal, de Peter Jackson ****
Pai e Filho, de Aleksandre Sokurov ****
Tarnation, de Jonathan Caouette ****
Lilian M: Relatório Confidencial, de Carlos Reichenback ****
13 Homens e Um Novo Segredo, de Steven Soderbergh ****
O Ritmo de Um Sonho, de Craig Brewer ****
This Is Spinal Tap, de Rob Reiner ****
O Homem Que Odiava as Mulheres, de Richard Fleisher ****
A Moça Com a Valise, de Valerio Zurlini ****
Beavis e Butthead Detonam a América, de Mike Judge e Yvette Kaplan ****