sexta-feira, julho 30, 2010

Solino, de Fatih Akin **1/2


Assim como em outras obras de Fatih Akin, “Solino” (2002) tem como protagonistas imigrantes que vivem na Alemanha. No filme em questão, Akin retrata a trajetória de uma família de italianos que procura a estabilidade financeira em terras germânicas. O diretor encena uma série de pequenos dramas familiares e amorosos com um certo vigor, além de mostrar uma direção de arte bem cuidada que valoriza aspectos históricos que servem como pano de fundo para a trama principal. Há também algumas boas seqüências com a dupla de irmãos Gigi e Giancarlo envolvendo drogas e festas. Mesmo com essas qualidades, entretanto, “Solino” parece ser a obra menos pessoal de Akin, com o cineasta soando preso a convenções do gênero melodrama familiar. O filme até consegue prender a atenção do expectador nas suas duas horas de duração, mas é uma experiência pouco memorável, bem distante da explosão criativa que viria dois anos depois com a obra-prima “Contra a Parede”.

quinta-feira, julho 29, 2010

Rápido e Indolor, de Fatih Akin ***


É provável que aqueles que se impressionaram com alguns dos melhores filmes do diretor alemão Fatih Akin, como “Contra a Parede” (2004) ou “Soul Kitchen” (2009), podem ficar um pouco decepcionados com “Rápido e Indolor” (1998), a obra de estréia do cineasta. Não há a mesma linguagem formal dinâmica e apurada das obras mais recentes e notórias de Akin. Optou-se por um drama policial dramático de gangsteres, com boa parte dos clichês narrativos e estéticos comuns no gênero – aparece, inclusive, um manjado conflito entre dois amigos, um que enveredou de vez para o crime e outro que quer escapar da marginalidade, que se apaixonam pela mesma mulher. Mesmo diante dessas possíveis armadilhas, entretanto, Akin oferece uma obra vigorosa e tensa e que prenuncia algumas boas soluções temáticas e estilísticas que depois seriam melhores exploradas em suas produções posteriores, tanto na caracterização dos personagens carismáticos quanto em detalhes como a utilização de canções na montagem e a concepção visual das cenas de violência.

quarta-feira, julho 28, 2010

Tudo Pode Dar Certo, de Woody Allen ***


Dizer que Woody Allen é repetitivo em seus filmes é impreciso. Como cineasta de forte tom autoral, é natural que certos recursos temáticos e estéticos sejam recorrentes em sua obra. Suas produções são reflexos de suas obsessões, e, por conseqüência, ideias narrativas e visões pessoais são retrabalhadas de forma constante em sua filmografia. “Tudo Pode Dar Certo” (2009), filme recente de Allen, tem ótimos momentos cômicos e flui com consistência, mas é decepcionante não pela questão da repetição, mas por soar preguiçoso. Allen parece reciclar várias soluções já utilizadas anteriormente, mas sem a mesma eficácia e impacto, dando uma certa impressão de falta do que dizer. Seu texto, mesmo que afiado em alguns trechos, chegar a soar quase ingênuo ao querer expressar explicitamente a sua filosofia pessoal. Nesse sentido, isso é frustrante quando se pensa em obras anteriores extraordinárias como “Match Point” (2005) e “O Sonho de Cassandra” (2007), que traziam uma série de observações críticas e ácidas de Allen sobre os vícios e hipocrisias da sociedade, mas em um formato sutil de subtexto inserido em tramas clássicas de suspense.

terça-feira, julho 27, 2010

O Preço da Traição, de Atom Egoyan ***


Essa refilmagem do original francês “Nathalie X” (2003) consegue ser superior à própria obra da qual derivou (que, na realidade, não era grande coisa mesmo). O cineasta egípcio-canadense Atom Egoyan conseguiu inserir algumas das suas obsessões temáticas e estéticas na produção, ainda que a mesma não tenha a mesma forte carga autoral de outros filmes do diretor como “Exótica” (1994), “O Doce Amanhã” (1997), “Ararat” (2002) ou “A Verdade Nua e Crua” (2005). Nos seus dois terços iniciais, “O Preço da Traição” (2009) apresenta um constante clima de ambigüidade e incertezas. Egoyan trabalha com habilidade entre os limites da realidade e da fantasia, deixando o expectador sempre na inquietante de dúvida sobre a veracidade do que está na tela. Boa parte do que se assiste vem muito mais das imagens sugeridas na mente da protagonista Catherine (Julianne Moore) do que de fatos concretos. As seqüências de conclusão de “O Preço da Traição”, entretanto, são frustrantes no sentido de que a trama se converte em um convencional e pouco inspirado suspense envolvendo uma psicopata e afins.

segunda-feira, julho 26, 2010

O Escritor Fantasma, de Roman Polanski ****



Há uma espécie de sub-gênero no cinema contemporâneos representada por aqueles thrillers de suspense que têm como base temática para as suas tramas um teor político envolvendo conspirações e demais jogos sujos de determinados órgãos do governo ou de grandes conspirações. Nesse contexto, há sempre o protagonista que resolve enfrentar os poderosos e desmascarar os podres dos mesmos. Os roteiros dessas produções, geralmente, vinculam-se a fatos reais da conjuntura mundial, o que lhes dá uma aura de seriedade. No final das contas, entretanto, esse modus operandi de usar matérias de relevância para a sociedade não implica em ousadias no plano formal, o que faz com que boa parte de tais filmes sejam apenas obras de suspense que transitam entre o medíocre e competente.

Dentro do panorama acima descrito, a obra mais recente de Roman Polanski, “O Escritor Fantasma” (2010), traz uma trama que não foge muito do que foi exposto. O grande trunfo da produção está muito mais na engenhosidade dos truques narrativos e estéticos que Polanski se utiliza para adornar um roteiro repleto de clichês. A atmosfera do filme é fria, distante e irônica, transformando o seu argumento em farsa. A fotografia sóbria e a montagem elegante ajudam a compor um todo sedutor e mesmo surpreendente. Polanski coroa a grandeza do filme emulando uma ambiência quase gótica em algumas seqüências, lembrando o melhor do cinema de Hitchcock.

sexta-feira, julho 23, 2010

A Alma do Osso, de Cao Guimarães ***


No documentário brasileiro “A Alma do Osso” (2004), o diretor Cão Guimarães, ao focar o quotidiano do ermitão Dominguinhos no interior de Minas Gerais, mostra-se mais interessado em fazer uma viagem sensorial em relação ao ambiente do seu protagonista do que em contar a história do mesmo. Em boa parte de sua metragem, o filme retrata algumas atividades corriqueiras do dia-a-dia de Dominguinhos e oferece registros granulados da paisagem rústica que cerca o ermitão. Quando a palavra é dada a Dominguinhos, a sua fala delirante e de uma filosofia bruta torna ainda mais nebulosa a aura misteriosa que o cerca. Cao Guimarães não procura o choque gratuito, mas o retrato que oferece é desconcertante no momento em que a caracterização daquele ambiente parece formar um universo paralelo ao nosso, em que os sinais da civilização só se fazem presentes quando se vislumbra na caverna onde vive Dominguinhos restos da sociedade de consumo que o ermitão adapta e reutiliza dentro da sua particular rotina. Ao mesmo tempo, Guimarães deixa o espectador na dúvida: será o ermitão em questão alguém rejeitado pela sociedade ou alguém que se excluiu por vontade própria? Esse questionamento torna ainda mais perturbador “A Alma do Osso”.

quinta-feira, julho 22, 2010

A Porta, de Anno Saul ***


Li uma definição sobre “A Porta” (2009), vinda de um comentário do site "Viver e Morrer no Cinema", que achei muito apropriada para essa produção alemã: parece um episódio da série televisiva “Além da Imaginação” em formato de longa-metragem. A trama de ficção científica tem um teor quase nostálgico, com o diretor Anno Saul usando efeitos especiais de forma econômica. A ambiência de fantasia não vem, dessa forma, pelo aspecto visual, mas sim pelo roteiro e da tensão daí oriunda. Os temas de viagens no tempo e conflitos familiares acabam se combinando de forma natural. Talvez se “A Porta” tivesse a duração de um episódio o seu impacto seria ainda maior. O fato de ter mais de uma hora e meia de metragem, entretanto, faz com que as suas boas idéias temáticas e soluções narrativas acabem se diluindo, principalmente no terço final, que soa muito apressado e abrupto.

quarta-feira, julho 21, 2010

Robin Hood, de Ridley Scott ***


Esta versão de 2010 para “Robin Hood” apresenta algumas tendências bastante utilizadas nos últimos anos. Em primeiro lugar, busca uma abordagem pretensamente naturalista, enfatizando personagens e cenários repletos de barro e sangue, além de ter uma fotografia bastante sombria, mesmo quando em campos abertos. O roteiro busca retratar as origens “reais” da lenda de Robin Hood e seus companheiros, mostrando fatos que ocorreram antes daqueles episódios celebrizados em outras adaptações cinematográficas. Todo esse conjunto de elementos estéticos parece buscar uma espécie de legitimidade e seriedade em termos históricos para o filme, além de uma visão mais aprofundada sobre o mito. No final das contas, entretanto, o que se tem é mais uma história maniqueísta de luta do bem contra o mal. Não que isso seja um defeito, desde que possamos ser recompensados com boas seqüências de tensão e aventura. “Robin Hood” até traz alguns momentos empolgantes em termos de ação, mas o saldo final no geral é o de uma produção apenas competente, o que acaba sendo frustrante, pois sempre se espera mais de um diretor como Ridley Scott, cineasta que já criou obras extraordinárias como “Os Duelistas” (1977), “Alien, O Oitavo Passageiro” (1979), “Blade Runner” (1983), “Falcão Negro em Perigo” (2001) e “O Gangster” (2007).

terça-feira, julho 20, 2010

Fúria de Titãs, de Louis Leterrier ***


Muitos dizem que essa refilmagem de 2010 do original “Fúria de Titãs” de 1981 é uma heresia. Na minha opinião, há um pouco de exagero em tal afirmação. Em primeiro lugar porque a primeira versão não chega a ser uma obra-prima irretocável e inatacável. Trata-se de um filme muito divertido e com expressivas trucagens a base de stop motion, mas longe do status de clássico cinematográfico. Essa revisão da obra original tem lá os seus defeitos, mas em seus melhores momentos traz algumas das mais impactantes seqüências de aventura da temporada pipoca de 2010. Talvez as atuações canastronas e preguiçosas de Liam Neeson e Ralph Fiennes possam angariar antipatias. E ter um protagonista vivido por alguém tão inexpressivo quanto Sam Whortington é um convite forte para o desastre. Com um elenco comprometedor desses, os 15 minutos iniciais de “Fúria de Titãs”, focado excessivamente em diálogos e “relações humanas”, são aborrecidos e intermináveis. Quando o filme parte para a ação propriamente dita, entretanto, a coisa muda totalmente de figura. Os efeitos digitais são bem eficientes e distantes de fazer a produção parecer um grande vídeo game. As cenas de lutas e perseguições são empolgantes e a concepção visual dos inúmeros monstros que desfilam pela tela é bela e ao mesmo tempo aterradora, com destaque absoluto para as cenas em que o Kraken irrompe na tela.

segunda-feira, julho 19, 2010

Só Dez Por Cento é Mentira, de Pedro Cezar ***1/2


Confesso que antes de assistir à “Só Dez Por Cento É Mentira” (2008) eu não tinha conhecimento prévio sobre a obra de Manoel De Barros, poeta biografado no filme em questão. Não sei se depois de ver o filme vou realmente ler algum livro dele, mas essa produção que focaliza sua vida e arte é um espetáculo cinematográfico muito bem resolvido. O diretor Pedro Cezar não se preocupou em fazer apenas um levantamento burocrático de fatos sobre a vida do escritor. Ao invés disso, preferiu expor as fontes de inspiração de Manoel De Barros, extraindo dele confissões e explicações bem humoradas, além de conversar com algumas pessoas que seriam suas influências. Há seqüências também em que Cezar procurou traduzir em imagens os insólitos jogos de palavras e simbolismos da lírica de Barros, com manchas em muros e paredes, derivadas do decorrer do tempo, que se transformam, através de simples trucagens, em figuras surpreendentes. Talvez alguns depoimentos de atrizes/cantoras fãs do poeta possam incomodar pela afetação, mas isso sempre é compensado por comentários espirituosos de outros admiradores de De Barros (principalmente nos momentos que mostram um Fausto Wolff bêbado divagando sobre o homem em questão).

segunda-feira, julho 12, 2010

Antes Que O Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo **


Há uma sequência em “Antes Que O Mundo Acabe” (2009) que é sintomática do espírito da obra: o garoto Daniel (Pedro Tergolina), após levar um fora da namorada e descobrir que foi trocado pelo melhor amigo, toma um porre com alguns conhecidos e quando chega casa vomita na privada. Só que ele somente faz o barulho de estar vomitando, não saindo de sua boca qualquer traço do vômito, enquanto que na privada não há mancha ou sinal do mesmo. Esse tom de assepsia é predominante nessa produção gaúcha dirigida por Ana Luiza Azevedo. A pretensão era faz uma espécie de retrato da adolescência moderna, mas o desejo de buscar uma abordagem light acabou tirando muito da visceralidade que um filme como esse exigiria. Há uma densidade dramática rala, acentuada pela narração infantil da irmã do protagonista, em falas recheadas de “espertezas”. No mais, o que resta de relevante é uma fotografia agradável no registro luminoso de paisagens interioranas e rurais.

terça-feira, julho 06, 2010

Um Segredo em Família, de Claude Miller ***


Pode-se reclamar que dentro daquele padrão de dramas familiares judeus que se passam na 2ª Guerra Mundial “Um Segredo em Família” (2007) seja uma produção convencional que não apresente maiores novidades. É inegável, entretanto, que o cineasta Claude Miller manipula com eficiência os clichês narrativos, além de conduzir uma trama recheada de tragédias e intempéries sem cair no sentimentalismo excessivo. A forma com que passado e presente se intercalam revela um bem cuidado trabalho de edição. De se destacar também as atuações do elenco em geral, todos em interpretações milimetricamente contidas que captam com sensibilidade a atmosfera de segredos e sentimentos reprimidos que permeiam todo o filme.

segunda-feira, julho 05, 2010

Homem de Ferro 2, Jon Favreau ***


Mesmo estando bem longe de ser uma obra-prima, “Homem de Ferro 2” (2010) atinge uma meta rara de se obter em se tratando de adaptações cinematográficas de HQs: preservar a essência de personagens e situações originais dos quadrinhos e manter um nível de objetividade que permita que mesmo aqueles que não conheçam o gibi tenham interesse pelo filme. Nessa continuação, o diretor Jon Favreau não atinge o mesmo impacto da primeira parte (de 2008), mas mesmo assim tem uma padrão de qualidade acima da média em relação à boa parte dos filmes pipocas desse ano. O roteiro traz vários elementos interessantes dos argumentos dos “comics” (mesmo que simplifique alguns conflitos), enquanto as cenas de ação são eficientes na forma em que incorporam os efeitos digitais. Além disso, Robert Downey Jr. é mais um trunfo da produção ao repetir os mesmos trejeitos carismáticos na pele do protagonista. Se os filmes de Thor, Capitão América e Vingadores conseguirem, no mínimo, trazer as qualidades da franquia do Homem de Ferro, pode-se dizer que o futuro cinematográfico para os heróis da Marvel se mostra promissor.

quinta-feira, julho 01, 2010

Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton **


Devo confessar que as minhas expectativas para “Alice no País das Maravilhas” (2010) eram bem altas. Depois de obras pouco inspiradas (“Peixe Grande”, “A Noiva Cadáver”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”) que faziam supor que estava em declínio criativo, Tim Burton surpreendeu a todos com “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007), um extraordinário misto de musical e horror sem concessões que trazia direção de arte e atmosfera góticas impressionantes. Diante de uma obra como essa, o que esperar da visão de Burton sobre uma história tão delirante como a de “Alice...” (ainda mais se relembrarmos a antológica adaptação animada da Disney de 1951)? Ocorre que “Alice no País das Maravilhas” não está apenas abaixo do que se esperava, como também se trata do pior filme disparado da carreira de Burton. E isso ocorre simplesmente pelo fato de que é a sua obra menos pessoal e mais burocrática. O que poderia haver de difuso e misterioso na trama clássica é diluído em um filmezinho de aventura qualquer nota que mais lembra produções família como “Crônicas de Nârnia” do que Lewis Carroll. Mesmo aquilo que poderia ser um fator Burton de diferencial como direção de arte e efeitos acaba não impactando – tudo é tão genérico que se não soubéssemos previamente que “Alice...” se trata de um filme de Burton, passaria batido como fosse outra produção comum do gênero.