quinta-feira, junho 30, 2016

As montanhas se separam, de Jia Zhang-Ke ***1/2

Num primeiro momento, “As montanhas se separam” (2015) pode parecer uma obra em que o diretor chinês Jia Zhang-Ke se volta para uma linguagem cinematográfica mais acessível e convencional, com o cineasta se embrenhando em preceitos típicos do gênero melodrama familiar. Tal impressão, entretanto, é enganadora. Com o desenvolver da narrativa, pode-se perceber uma sutil e irônica desconstrução de clichês formais e temáticos. A obra é repleta de truques emocionais e estéticos que por vezes beiram o novelesco. Só que o tratamento artístico do cineasta na realidade envereda por um misto de caricatura e simbolismo. Numa trama que envolve um triângulo amoroso e relações familiares disfuncionais, há um subtexto de forte caráter crítico às mudanças sociais e existenciais provocadas pelo rápido crescimento econômico da China, principalmente no que diz respeito ao esfacelamento da identidade cultural de um povo. A abordagem do filme é tão autoral que no terceiro e final ato da história irrompe a ambientação de uma sombria ficção científica, sem que isso soe artificial ou esdruxulo – pelo contrário, pois tal atmosfera futurista complementa com notável sensibilidade e coerência a proposta de reflexão sobre uma modernidade desumanizadora. Em sua sequência final, a tomada da protagonista Tao (Zhan Tao), sozinha e serena em sua cozinha fazendo bolinhos tradicionais, fecha com atmosfera de atemporalidade uma obra que mistura planos temporais e gêneros cinematográficos com estranha e encantadora fluência.

quarta-feira, junho 29, 2016

Uma nova amiga, de François Ozon ***

O cineasta francês François Ozon parece ser uma espécie de cronista dos costumes da sociedade francesa pequeno burguesa contemporânea. Seus filmes geralmente versam sobre os desejos, os dilemas e as hipocrisias que rondam as relações humanas nessa faixa social, mantendo uma abordagem narrativa que ora envereda pelo melodrama contido, ora pela comédia de sutil ironia. “Uma nova amiga” (2015) é exemplar típico do estilo de Ozon – ao mostrar a trajetória de David (Romain Duris), homem que após enviuvar da jovem esposa passa a se travestir de mulher e acaba tendo um caso com a melhor amiga da falecida (Anaïs Demoustier), o diretor evita o sensacionalismo apelativo e estéril, procurando ressaltar mais uma atmosfera perturbadora, misto de atração e repulsa, além de inserir interessantes nuances psicanalíticas e simbólicas dentro do roteiro. Não chega a ser exatamente uma obra arrebatadora, mas tem uma narrativa envolvente e que por vezes surpreende com seus desdobramentos entre o trágico e o cômico. Além disso, o trabalho de direção de atores revela notável cuidado, principalmente na excelente composição dramática de Duris, que de maneira natural e progressiva passa a adotar gestual e expressões femininos sem cair no caricatural.

terça-feira, junho 28, 2016

As mulheres de Adam, de Gerard Stembridge **1/2

A trama da produção britânica “As mulheres de Adam” (2000) até evocam um certo caráter libertário e contestador ao mostrar como o personagem do título (Stuart Townsend) se insere dentro de uma família pequeno-burguesa ao noivar com a jovem Lucy (Kate Hudson), transando com as irmãs da moça e ganhando a simpatia ainda da mãe e do irmão, fazendo com que desejos e comportamentos reprimidos se aflorem. A obra procura dar o enfoque de várias perspectivas sobre o que está acontecendo em cena, o que dá uma interessa ótica subjetiva para a história. Assim, há momentos bem divertidos e por vezes até prevalece uma certa atmosfera amoral na narrativa, fazendo lembrar o clássico “Teorema” (1968) de Pier-Paolo Pasolini. Mas as soluções formais e mesmo de roteiro do diretor Gerard Stembridge estão longe daquelas do genial cineasta italiano e não conseguem levar as ousadias iniciais para um desenvolvimento mais impactante e memorável. No final, até se tem a impressão de uma simpática produção, mas que dá uma sensação de frustração por não ter levado até o fim as suas ambições artísticas e existenciais.

segunda-feira, junho 27, 2016

Trago comigo, de Tata Amaral ***1/2

A diretora Tata Amaral já tinha abordado a temática da ditadura militar no Brasil com resultados interessantes em “Hoje” (2011). Em “Trago comigo” (2013), ela volta ao mesmo assunto e com uma visão artística ainda mais ousada e profunda. O filme incorpora maneirismos de cinema documental, com direito, inclusive, a depoimentos reais de ex-guerrilheiros que foram torturados na época. Naquilo que seria encenação ficcional, a direção de fotografia e mesmo a atmosfera também evocam algo de cinema verdade. Como o foco principal da trama está na montagem de uma peça que versa sobre as memórias de um antigo membro de um grupo revolucionário, essa distinção entre o real e o ficcional apresenta uma fronteira tênue, beirando a metalinguagem. Não se trata apenas de exercício estilístico por parte de Amaral – tais escolhas estéticas ampliam ainda mais o impacto existencial da produção, cujo subtexto do roteiro traz uma reflexão sensível e perturbadora sobre a memória, principalmente na sutil linha que separa a lembrança e o esquecimento. Nesse sentido, o discurso do filme traz a constatação desconcertante de que mesmo para aqueles que combateram na clandestinidade e sofreram na própria pele as consequências da repressão há uma tendência em que determinados fatos traumáticos se tornem obscuros e esquecidos. O engenhoso jogo narrativo tramado por Amaral na conjugação ficção-teatro-documentário, aliado ao ótimo elenco (com destaque para a intensa atuação de Carlos Alberto Ricchelli), amplifica o poder sensorial de “Trago comigo” em forçar o espectador a entrar dentro de um complexo e contundente imaginário intimista-político.

sexta-feira, junho 24, 2016

Independence Day: O ressurgimento, de Roland Emmerich **

É bem recorrente ao se observar críticas e análises em geral sobre um filme como “Independence Day: O ressurgimento” (2016) aparecer comentários dizendo que se trata apenas de uma ficção científica escapista cuja única função é divertir e que dessa forma não daria para exigir muito. Tal argumentação, entretanto, acaba não se sustentando ao se assistir a obra em questão. Por mais que seja fantasiosa, trata-se de uma produção que traz uma linha estética e temática destinada a passar uma visão de mundo muito bem definida. Pode-se ver ao longo da trama, várias sequências em que discursos patrióticos e edificantes são proferidos, sempre embalados por temas musicais ultra sentimentais. Isso sem falar das cenas de ação que ressaltam um híbrido de macheza e disposição de sacrifício por um bem maior (pode ser a pátria, a família ou simplesmente o sistema). Nesse sentido, tal concepção de ficção científica paranoica de invasão alienígena pouco difere do clássico “Vampiros de almas” (1956), em que o simbolismo evidente é dos ETs se relacionarem aos comunistas. No filme de Roland Emmerich, talvez essa associação seja mais difusa, em que o alienígena apenas pode ser aquele que seja diferente do padrão asséptico ocidental de branco-cristão, ainda que o roteiro evoque algo de democracia racial e global (claro que desde que comandada por militaristas norte-americanos). No final das contas, trata-se de uma peça de propaganda de fascismo light, coisa que há havia sido ironizada de maneira genial em “Tropas estelares” (1997). Mas ainda que esse novo capítulo de “Independence Days” se leve tão a sério no seu delírio militarista messiânico, não é isso que torna definitivamente o filme tão frustrante. Há detalhes imagéticos realmente atraentes, principalmente no que diz respeito a caracterização visual de naves e aliens, e mesmos algumas sequências de ação bem divertidas, mas tudo isso sucumbe mediante a falta de uma efetiva tensão dramática, da caracterização unidimensional de personagens e da narrativa saneada para não chocar as grandes audiências.

quinta-feira, junho 23, 2016

Doce veneno, de Jean-François Richet ***1/2

Em “Inimigo público nº 1” (2008), o diretor francês Jean-François Richet havia se mostrado como um expressivo herdeiro da linhagem clássica do cinema policial francês, além de extrair de Vincent Cassel uma interpretação antológica na pele do bandido Jacques Mesrine. Richet e Cassel voltam a colaborar em “Doce veneno” (2014), e o resultado final é novamente memorável. O cineasta envereda por um gênero completamente diverso do seu aclamado filme anterior, a comédia de costumes, e recicla os clichês inerentes a esse tipo de produção com notável originalidade e sutileza. Nas primeiras cenas, Richet até engana de maneira perversa o espectador – os registros das paisagens interioranas da Córsega são quase assépticos no seu estilo convencional, enquanto a encenação entre o quarteto de protagonistas remete a uma bem-comportada comédia romântica. Aos poucos, entretanto, a abordagem formal e temática de Richet começa a destilar veneno e sagacidade e no final das contas consegue se mostrar como um contundente e bem-humorado retrato dos dilemas e hipocrisias da sociedade francesa contemporânea. O próprio fato da trama se passar na região da Córsega se mostra como uma escolha artística repleta de simbolismos – a mesma região que apresenta praias idílicas e atmosfera hedonista também é tomada por preconceitos raciais e valores reacionários. A partir disso, as nuances intimistas e cômicas do roteiro ganham um progressivo caráter irônico e contestatório, em que as angústias pequeno-burguesas de Antoine (François Cluzet) são engolidas pelos sentimentos e instintos da natureza à flor-da-pele que o cerca, dos javalis que destroem os muros de sua propriedade até o desejo avassalador de sua filha adolescente pelo seu melhor amigo Laurent (Cassel). Dentro dessa crônica sobre tesão e desordem, Richet transporta para seu estilo de filmar uma tremenda carga sensorial. É só reparar nas sequências das raves, num misto frenético de música e erotismo; ou nas tomadas da caçada de javalis, que mostram sentimentos e sensações fora-de-controle. A conclusão sem concessões para moralismos e convenções de “Doce veneno” é coerente com o espírito da obra, em que o final em aberto mostra um caráter desafiador e libertário, além de generoso com seus personagens.

quarta-feira, junho 22, 2016

O tesouro, de Corneliu Porumboiu ***1/2

É irresistível fazer comparações esdruxulas para tentar dar uma ideia do que representa a produção romena “O tesouro” (2015). Uma delas é pensar em como seria o clássico de aventura juvenil “Os goonies” (1985) refilmado com adultos no lugar das crianças e adolescentes e com uma abordagem formal e temática de caráter naturalista, evocando muito do neorrealismo italiano. Tais associações podem realmente parecer insólitas, mas o filme dirigido por Corneliu Porumboiu é uma obra bastante surpreendente em sua concepção artística. O cerne da trama é a busca de um improvável tesouro na área de um sítio numa cidade interiorana e rural. Só que a contextualização da história obedece a critérios bastante vinculados a atual conjuntura econômica-social de grande parte do mundo ocidental, principalmente no que diz respeito ao cotidiano cinzento de uma sociedade capitalista marcada pelo desemprego e a exploração econômica. Nesse panorama, a busca por uma vida melhor a partir da busca de riquezas improváveis acaba soando como um alento diante de uma realidade opressiva e desesperançada. A encenação proposta por Porumboiu é engenhosa e original, não recorrendo aos truques habituais das aventuras norte-americanas para se concentrar numa interação mais humana entre os personagens e mesmo numa comicidade discreta que surge naturalmente de acordo com o absurdo ou ridículo de determinadas situações. A partir de tal direcionamento, o final feliz engedrado pelo roteiro surge com estranha fluência e um humanismo redentor. A própria canção que surge nos créditos finais, um irônico e algo épico rock industrial do grupo Laibach, é ilustrativa dessa reconstrução radical de um gênero apresentada em “O tesouro”.

terça-feira, junho 21, 2016

Big Jato, de Cláudio Assis ***1/2

Pelo menos em termos temáticos, não há grandes novidades em “Big Jato” (2015). Adaptando um original literário de Xico Sá, o filme mais recente do diretor Cláudio Assis é uma versão fílmica de um “romance de formação”, ou seja, de uma obra que versa sobre o processo de amadurecimento de um protagonista. Nesse sentido, estão lá os dilemas típicos desse tipo de produto cultural – os desejos e aspirações de um jovem, o duro aprendizado que a vida lhe oferece, suas desilusões amorosas, o desencanto com a falsa infalibilidade dos pais, a necessidade de expansão dos horizontes, a consequente despedida da casa familiar e até da própria cidade em que nasceu. Nesse sentido, até a cena de conclusão do filme é de talhe clássico e tradicional – o encontro entre o protagonista Francisco (Rafael Nicário) e o mar pela primeira vez. O fato da trama se passar numa cidade do interior do nordeste brasileiro também dá um caráter ainda mais simbólico para a obra, pois o tal processo de mudança existencial de Francisco também corresponde a alterações no quadro social da comunidade, numa nem tão sutil alusão elogiosa às mudanças provocas por mais de uma década de um governo de esquerda. Mas o que diferencia realmente o filme de Assis como uma produção acima da média em termos artísticos não é esse lado temático, mas sim a criatividade de seu formalismo e o lirismo de sua abordagem. É notável como a poesia se insere dentro da narrativa, tornando-se uma espécie de fio condutor da obra e que se reflete também numa encenação bastante livre e num elenco de composições dramáticas bastante pungentes. Nesse último quesito, destaque absoluto para Matheus Nachtergaele em sensacional papel duplo repleto de nuances, além do belo aproveitamento do cantor e compositor Jards Macalé como ator. Aliás, o lado musical de “Big Jato” é outra extensão criativa expressiva das particulares concepções artísticas de Assis, em que a combinação de eletrônica e regionalismo extraída por DJ Dolores mostra sintonia magnífica com a narrativa lírica elaborada pelo cineasta.


Num conjunto geral, “Big Jato” não é tão impressionante e mesmo impactante quanto “A febre do rato”, a obra-prima anterior dirigida por Cláudio Assis. Ainda assim, é uma experiência cinematográfica memorável, mostrando um lado do cinema brasileiro que, independente da quantidade de público que arremata, continua forjando uma linguagem artística própria e ousada.

segunda-feira, junho 20, 2016

Prova de coragem, de Roberto Gervitz *1/2

Havia uma certa confluência de fatores que fazia com que a produção brasileira “Prova de coragem” (2015), dirigida por Roberto Gervitz, fosse uma obra promissora. Para começar, a produtora Monica Schmiedt havia dirigido o ótimo documentário “Extremo sul” (2005), que tinha como mote principal uma expedição de escalada ao Monte Sarmiento na Terra do Fogo que acaba fracassando antes mesmo de começar, e que se relaciona a um dos aspectos principais da trama de “Prova de coragem”. Já o roteiro do filme de Gervitz tem como base um romance de Daniel Galera, autor esse que já havia tido uma obra sua adaptada para o cinema com resultados bastante interessantes em “Cão sem dono” (2007), fazendo um retrato contundente do vazio existencial dos “jovens adultos” desse novo século. Ocorre que as expectativas geradas por tais indícios positivos, entretanto, acabam sendo frustradas diante do resultado final de “Prova de coragem”. O roteiro do filme até sugere algumas questões e dilemas que poderiam render algo efetivamente capaz de prender a atenção do espectador, dentro da característica abordagem intimista de Galera, mas o tratamento formal proposto por Gervitz é tão apático que joga por terra qualquer chance da produção decolar. Uma encenação engessada e artificial em demasia (as cenas de flashback, por exemplo, parecem teatro de escola), a narrativa nada inspirada e o elenco repleto de atuações inexpressivas (o protagonista vivido por Armando Babaioff, em especial, é um primor de canastrice) jogam o filme para o limbo das nulidades cinematográficas.

sexta-feira, junho 17, 2016

Dior e eu, de Frédéric Tcheng ***1/2

Talvez retratar os bastidores da concepção da coleção de grife de moda não seja exatamente um grande atrativo para uma parcela considerável do público de cinema. O que faz com que o documentário “Dior e eu” (2014) tenha um alcance mais universal e não se restrinja apenas ao interesse de iniciados, entretanto, é a abordagem do diretor Frédéric Tcheng. É claro que o filme traz alguns detalhes técnicos sobre o ambiente da elaboração e confecção de roupas e dos desfiles, mas a verdadeira tônica do filme é versar sobre o significado existencial, artístico e mercadológico desse meio, confrontando a importância da marca Dior com as aspirações e relações humanas em volta do protagonista Ralf Simons, estilista que fará a sua primeira coleção para a marca. Roteiro e estrutura narrativa não se acomodam a um simples drama de superação, ainda que o aspecto emocional se mostre com uma sutileza comovente. O documentário constrói uma atmosfera quase etérea ao focar a sensibilidade e transcendência que envolve um projeto como esse. As pressões envolvendo dinheiro e prestígio estão lá, mas uma das grandes sacadas de Tcheng é expor isso com sutileza e mesmo ironia, confrontando tais aspectos junto a personalidade serena e algo delicada de Simons. O cotidiano de tensão na idealização e feitura da coleção e as sequências de desfile são retratados com um misto de rigor e fascínio, dando para o mundo da moda uma grandeza expressiva e transcente mesmo para os olhos daqueles que não entendem muito do assunto.

quinta-feira, junho 16, 2016

Cobain: Montage of Heck, de Brett Morgen ***1/2

O diretor Brett Morgen teve acesso a um rico (e praticamente inédito para o grande público) acervo de material de arquivo para realizar o documentário “Cobain: Montage of Heck” (2015), obra que versa sobre a vida do falecido líder do Nirvana. Só por isso o filme já valeria uma conferida. São vários trechos audiovisuais de shows e da vida doméstica do protagonista, depoimentos de Kurt em fitas-cassetes que acabam compondo uma espécie de diário pessoal, escritos e desenhos do artista. Além disso, há fartos depoimentos de parentes, amigos, companheiros de banda. Morgen pega todo esse material e dá uma unidade narrativa bastante funcional e envolvente. A ordem de apresentação da vida de Cobain é linear e cronológica, fazendo com que o filme seja bastante informativo e didático tanto para os admiradores de Nirvana e rock em geral quanto para aqueles que se interessam pelo conteúdo humano em si da história. Mas o que torna o documentário uma experiência memorável não é apenas esse seu caráter histórico (até porque há uma gama considerável de livros e filmes versando sobre a mesma matéria). O maior mérito de “Cobain: Montage of Heck” é que a obra joga o espectador para dentro da mente de Cobain, numa verdadeira jornada sensorial. Mais do que simplesmente reproduzir uma série de fatos biográficos, a abordagem de Morgen faz com que os aspectos pungentes dos dramas pessoais e dilemas artísticos do Cobain se tornem ainda mais intensos graças a criativas escolhas estéticas do diretor (é de se reparar, por exemplo, como as animações inspiradas nos desenhos e escritos de Kurt se casam com o áudio das fitas mencionadas com a sua voz). Todo esse direcionamento narrativo e emocional arquitetado por Morgen acaba se mostrando em sintonia existencial com a musicalidade a flor-da-pele de discos como “Nevermind” e “In utero”.

quarta-feira, junho 15, 2016

Mais forte que bombas, de Joachim Trier ****

A estrutura narrativa de “Mais forte que bombas” (2015) remete a um melodrama familiar tradicional. Pelo menos na parte temática, estão lá boa parte dos elementos temáticos geralmente presentes no gênero: conflitos de gerações, situações limites que levam a reavaliações pessoais, expiações de culpas. Mesmo o lado formal do filme, em sua superfície, mostra o apego por uma abordagem mais clássica. São em pequenas nuances, entretanto, que a obra do diretor norueguês Joachim Trier se mostra como algo diferenciado. Dentro do roteiro, são inseridas com sutileza questões sociais e políticas, fazendo com que o microverso intimista de relações dentro de uma família e daqueles que orbitam em sua volta seja um reflexo metafórico do conjunto de valores da sociedade ocidental contemporânea. Nesse sentido, a visão do filme sobre tais questões foge da obviedade e do moralismo obtuso, o que fica bastante evidenciado na forma com que o personagem Conrad (Devin Druid) é caracterizado – numa engenhosidade narrativa de Trier, num primeiro momento o espectador enxerga apenas as perspectivas de seu pai Gene (Gabriel Byrne) e de seu irmão mais velho Jonah (Jesse Eisenberg), em que Conrad é retratado de forma genérica como um adolescente alienado, mas com o desenrolar da trama a perspectiva dominante passa a ser a do garoto, e é nesse momento que hipocrisias e elementos disfuncionais são desmascarados de maneira contundente. Dentro de tal concepção de ideias humanistas, as soluções estéticas de Trier caem como uma luva pela elegância e originalidade de sua execução, fazendo com que dentro da narrativa sejam incorporadas com naturalidade influências e referências diversas de outras mídias, como técnicas documentais de noticiários televisivos, maneirismos de games eletrônicos e uma narração de textos literários. No conjunto de tais soluções artísticas, aliado a uma extraordinária trilha sonora e a um elenco com um punhado de expressivas interpretações, resulta um dos melhores trabalhos cinematográficos a chegarem nos cinemas nacionais no corrente ano.

terça-feira, junho 14, 2016

Invocação do mal 2, de James Wan ***

Em relação ao filme que deu origem a série de 2013, “Invocação do mal 2” (2016) apresenta uma evolução considerável. Os excessos de virtuosismos formais e a narrativa de talhe mais tradicional conseguem se equacionar de maneira mais orgânica – ao invés de meros exibicionismos técnicos, tais detalhes conseguem acrescentar tensão e interesse para a trama. Na realidade, o trabalho estético do diretor James Wan consegue dar um passo além nesse novo capítulo da saga sobrenatural. É de se reparar, por exemplo, como o trabalho de direção de arte se mostra criativo e de forte impacto imagético ao reconstituir uma ambientação proletária da Londres de final dos anos 70. Tal concepção não é meramente decorativa, pois torna mais crível o cotidiano da família de origem humilde que é assombrada numa casa típica de classe operária. Essa sutil nuance social caracteriza da maneira contundente a estrutura clássica dessa vertente do horror – a do mal que irrompe de dentro de uma residência familiar e que espelha aquilo que é disfuncional e conflitante naquele microcosmo. O filme se desenvolver a partir dos mencionados clichês narrativos e temáticos, mas o faz com propriedade e sobriedade, além dos elementos “setentistas” criarem uma estranha atmosfera misto de sentimental e gótica (é só observar como a canção “Can’t help falling in love” na célebre versão interpretada por Elvis Presley se insere em momentos chaves da trama). Mesmo o roteiro de “Invocação do mal 2” é bem resolvido e traz algumas soluções surpreendentes e efetivamente assustadoras, ainda que trabalhe naquela fórmula variante de “O exorcista” (1973). No final das contas, não é nada que vá revolucionar o gênero, mas mostra evolução considerável de James Wan e cria expectativa positiva para um novo capítulo da série.

segunda-feira, junho 13, 2016

Uma noite em Sampa, de Ugo Giorgetti ***

O diretor Ugo Giorgetti apresenta em “Uma noite em Sampa” (2016) uma espécie de fórmula artística própria que já havia depurado de maneira bastante característica em algumas obras anteriores de sua filmografia, combinando concisão narrativa e economia de recursos estéticos. Dá para dizer que tal estilo já havia alcançado resultados mais expressivos em filmes como “Festa” (1989) e “Solo” (2010). Ainda assim, esse seu trabalho mais recente guarda alguns aspectos positivos que fazem valer uma conferida. A encenação guarda parentesco com o teatro, valorizando caracterizações caricaturais e exageradas, mas com o desenvolver da trama tal abordagem acaba se mostrando coerente com o espírito do filme, em que as situações angustiantes e as reações dos personagens acabam traçando um raio-x psicossocial da sociedade brasileira contemporânea, principalmente no que diz respeito a retratar os preconceitos da classe média nativa. Giorgetti extrai interpretações contundentes de seu elenco, o que acaba valorizando os diálogos repletos de ironia venenosa. A narrativa fica num limite nebuloso e perturbador entre o naturalismo e o delirante – é de se reparar, nesse sentido, no inteligente uso de manequins em cena e como eles interagem com as figuras em “carne e osso” do filme. No mais, “Uma noite em Sampa” peca no tom autoexplicativo de algumas sequências, com ênfase na forma explícita com que coloca a influência de “O anjo exterminador” (1962) em sua concepção formal e temática. Apesar de tais equívocos, a produção de Giorgetti reforça ainda mais o caráter autoral do cineasta, mostrando por que ele é um dos grandes nomes do cinema nacional.

sexta-feira, junho 10, 2016

Maravilhoso Boccaccio, de Vitorio e Paolo Taviani ***

Os irmãos Taviani se permitem algumas ousadias em sua adaptação para a tela de grande de “Decamerão”. Em “Maravilhoso Boccaccio” (2015), logo no início, criam um preâmbulo bem diferente daquele da obra original, dando um caráter mais trágico e melancólico para a narrativa. Tal abordagem se torna predominante ao longo do filme – o requinte visual e o elegante trabalho de edição dão à produção uma atmosfera solene. Por vezes esse direcionamento artístico soa um tanto incômodo, dando uma impressão de assepsia formal que pode tornar o espectador indiferente ao filme, fazendo com que a qualidade atemporal das histórias criadas por Boccaccio sejam o principal gancho de interesse. Nesse sentido, tal concepção tem um resultado final frustrante se houver comparação com a magnífica e definitiva recriação cinematográfica do mesmo texto literário pelo mestre Pier-Paolo Pasolini e também se vier à mente o antológico resgate de Shakespeare pelos próprios Taviani em “César deve morrer” (2012). Nesse sentido, também não para esquecer a fenomenal adaptação que eles fizeram de histórias de Pirandello em “Kaos” (1984). Mas ainda que não esteja nesse panteão de obras memoráveis, “Maravilhoso Boccaccio” é um trabalho capaz de gerar interesse pelo simples fato de os irmãos diretores serem artistas muito acima da média, em que mesmo num trabalho menor conseguem transparecer quesitos notáveis como direção de arte esmerada, fotografia deslumbrante em algumas sequências e uma encenação repleta de achados dramáticos.

quinta-feira, junho 09, 2016

Yorimatã, de Rafael Saar ***1/2

Documentários sobre música virou uma prática mais que recorrente no cinema brasileiro contemporâneo. Praticamente todos os grandes nomes do cancioneiro nacional e os gêneros mais expressivos do país já mereceram um filme (alguns, até mais que um). Até mesmo a apreciação de tais obras, tanto por parte de público quanto de crítica, acaba recebendo uma abordagem diferenciada, pois mesmo quando a produção em si não é grande coisa, o fato de estar trazendo para a tela grande a arte e a vida de algum grande nome ou os meandros de um estilo muito estimado acaba tornando a experiência cinematográfica em questão algo no mínimo válido. Dentro desse panorama, “Yorimatã” (2014) se mostra como uma obra singular. Ao abordar a trajetória artística e pessoal da dupla de compositoras e cantoras Luhli e Lucina, o documentário do diretor Rafael Saar cumpre um papel multifacetado, afetando o espectador por diversos fatores – é informativo e didático por tornar mais conhecidos fatos relativos a artistas que são obscuras para o grande público (apelar delas terem composto sucessos antológicos para os Secos e Molhados e para a carreira solo de Ney Matogrosso); é sensorialmente rico ao conseguir transformar em narrativa visual a musicalidade expansiva de suas biografadas; é pungente ao evidenciar a sensibilidade à flor-da-pele e o caráter libertário da arte e vida das protagonistas; é estimulante na sua dinâmica cinematográfica, ao combinar com concisão e leveza os elementos tradicionais desse tipo de produção (números musicais, imagens de arquivo, depoimentos e imagens contemporâneos). O resultado das acertadas escolhas estéticas e temáticas de Saar é um documentário de narrativa que encanta sem fazer perceber as horas passando e que dá uma baita vontade de ir atrás dos discos e canções de Luhli e Lucina. O que mais poderia se esperar de um documentário musical?

quarta-feira, junho 08, 2016

X-Men: Apocalipse, de Bryan Singer **

“Primeira classe” (2011) e “Dias de um futuro esquecido” (2014) foram obras que apresentaram uma síntese narrativa e soluções dramáticas que deram uma expressiva arejada para a franquia “X-Men” nos cinemas, depois do frustrante “O confronto final” (2006), principalmente por quesitos como a preservação da essência de personagens e situações originários das HQs originais, marcantes cenas de ação, concisão narrativa e roteiros enxutos e coerentes. Essa receita pode até parecer simples, mas foi executada com notável eficiência, respectivamente, pelos diretores Matthew Vaughn e Bryan Singer. No novo capítulo da saga dos mutantes no cinema, “Apocalipse” (2016), Singer dá prosseguimento ao seu trabalho de direção, mas parece esquecer as qualidades dos filmes anteriores. É uma obra espalhafatosa, melodramática em excesso, com sequências dispensáveis e diálogos autoexplicativos em demasia. A obra a todo momento parece buscar uma grandeza épica e sombria, mas nunca consegue justificar tal pretensão em função de uma encenação truncada e sem naturalidade e de um roteiro pueril que mesmo o nerd ou geek mais fanático e sem critérios dificilmente conseguiria engolir. Se era tão fácil para a Jean Grey (Sophie Turker) usar a Força Fênix, por que não fez isso desde o início para dar um fim no vilão Apocalipse (Oscar Isaac)? Magneto (Michael Fassbender) mata dezenas de pessoas à sangue frio, e depois se arrepende com facilidade e ninguém dos X-Men pensa em levá-lo às autoridades, ignorando as latentes tendências homicidas do vilão? A caracterização dos personagens também deixa muito a desejar: o professor Xavier (James McAvoy) e Mística (Jennifer Lawrence) passam boa parte da trama disparando discursos ingênuos e edificantes, Magneto (Michael Fassbender) é um mero imbecil facilmente manipulável, Mercúrio (Evan Peters) dá a impressão de ter saído de um episódio de “Os trapalhões”, o pretensamente temível Apocalipse tem imponência nula. Na verdade, a noção geral que se tem ao assistir a “Apocalipse” é a de uma obra feita às pressas e sem muito critérios, a fim de levantar um lucro fácil sob o pretexto de que quem gosta de filmes de super-heróis não deve ser muito exigente.

terça-feira, junho 07, 2016

Antibirth, de Danny Perez ***

O diretor norte-americano Danny Perez também é um videomaker bastante vinculado ao universo de bandas neopsicodélicas contemporâneas como Animal Collective e Unknown Mortal Orchestra. Numa das festas da edição de 2016 do FANTASPOA, teve uma performance antológica ao discotecar um set alucinado de psicodelia, eletrônica e industrial associado a uma projeção de trechos de filmes marcados pela esquisitice e escatologia. Toda essa sua herança “clipeira” fica evidente no longa-metragem ficcional “Antibirth” (2016) – ambientação delirante e sórdida, edição de traço frenético, magnífica trilha sonora de canções de rock underground. Há ainda referências ao universo fílmico de diretores como Roman Polanski, David Lynch e David Cronenberg. Esse acúmulo de influências e referências por vezes tornam a narrativa algo trôpega, pouco fluente. Em seus melhores momentos, contudo, “Antibirth” se insinua na mente do espectador como um pesadelo memorável e perturbador, em que o retrato sujo e melancólico do cotidiano de junkies, criminosos pé-de-chinelo e fracassados em geral se casa, de maneira surpreendentemente natural, com uma trama que mistura horror e ficção científica, com direito a um desempenho inesquecivelmente escroto de Natasha Lyonne, No geral, uma verdadeira pedrada sensorial que dificilmente poderá ser vista em algum multiplex da vida.

segunda-feira, junho 06, 2016

A caçada do futuro, de Brian Trenchard-Smith ***1/2

Assim como “Drive-in da morte” (1986), outra obra de ficção científica dirigida também por Brian Trenchard-Smith, “A caçada do futuro” (1982) envereda por uma trama que apresenta um futuro distópico dominado pelo totalitarismo, em que as liberdades individuais foram sacrificadas em nome de uma rigorosa segurança pública. O que as diferencia é que “Drive-in da morte” apresenta uma abordagem mais sombria e de atmosfera mais sufocante e perturbadora, enquanto “A caçada do futuro” é uma aventura descabelada, quase delirante. Na sessão comentada no FANTASPOA desse último, o próprio Trenchard-Smith declarou que o filme é fruto da criatividade que usou de acordo com as limitações de recursos impostas pelos produtores. Mais apressados podem confundir tal formalismo da produção com características de cinema trash. Nada mais equivocado: por mais que efeitos possam aparentar uma precariedade, a dinâmica narrativa impressa pelo cineasta, com direito, inclusive, a utilização de trechos documentais alheios, e a caracterização visual suja remetem a um cinema estilo exploitation insanamente divertido e de uma composição imagética de alto impacto sensorial que pode soar incômoda para os acostumados com a assepsia visual dos efeitos digitais tão em voga nas contemporâneas obras do gênero.

sexta-feira, junho 03, 2016

Drive-in da morte, de Brian Trenchard-Smith ****

O diretor australiano Brian Trenchard-Smith, bastante ativo nos anos 70 e 80 com filmes na linha exploitation, tem Quentin Tarantino como um dos seus grandes admiradores confessos. Ao se assistir a “Drive-in da morte” (1982) se pode entender o motivo de tal admiração. O filme é uma brilhante síntese entre ficção científica apocalíptica casca grossa, filme de gangues adolescentes e parábola sócio-política, algo como uma combinação entre “Mad Max”, comédias adolescentes oitentistas de John Hughes e a visão sombria de um futuro distópico de “1984” de George Orwell. A direção de Trenchard-Smith é fenomenal ao entrelaçar essas referências diversas com notável coesão e naturalidade. A encenação é exagerada, operística mesmo, evidenciada nas coreografias quase delirantes de lutas e nas alucinadas sequências automobilísticas, mas ao mesmo tempo revela surpreendente sutileza ao ressaltar as nuances contundentes do subtexto do roteiro que discorre sobre preconceitos sociais e raciais, alienação e violência estatal. A direção de arte também é peça fundamental dentro da originalíssima concepção artística da produção, em que o mau gosto de figurinos e os cenários urbanos em ruínas colaboram na perturbadora atmosfera de sordidez e opressão que paira sobre a narrativa, impressão essa reforçada pela fotografia “realismo neon” que era bem característica da época. Voltando a fazer comparações, o formalismo insólito e a abordagem temática de Trenchard-Smith remetem a um Walter Hill dirigindo “Ruas de fogo” (1984) entupido de anfetaminas e transbordando revolta política.

quinta-feira, junho 02, 2016

O diabo mora aqui, de Rodrigo Gasparini e Dante Vescio ***

Desde da consolidação da figura de Zé do Caixão, parte da evolução do cinema de horror brasileiro passa pela síntese entre influências de referências estrangeiras dentro do gênero e a incorporação de uma mitologia nacional típica. “O diabo mora aqui” (2015) é um exemplar enfático dessa tendência. Muito mais do que simples exotismo, as referências culturais e históricas na trama do filme são as principais responsáveis pela sua forte tensão dramática e pelos seus momentos imagéticos mais impactantes. A questão da escravatura no país e as suas nefastas consequências que perduram até hoje, principalmente no que diz respeito às desigualdades de classes sociais, dão um sentido assustador a um roteiro que envolve elementos tradicionais do horror como zumbis, assombrações e uma casa que é a origem do mal. Influências óbvias como a franquia “Evil Dead” são incorporadas com naturalidade, vide o uso de expressivas trucagens e uma encenação de raras dinâmica e desenvoltura, fazendo de “O diabo mora aqui” uma obra de horror bem divertida e eficiente em gerar sustos do que a grande maioria das pasteurizadas produções norte-americanas no gênero que costumam aportar por aqui nos últimos tempos.

quarta-feira, junho 01, 2016

Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois, de Petrus Cariry ***

Se “A bruxa” (2015) apresenta uma síntese perturbadora entre elementos de filme de horror com uma visão existencial libertária em relação a condição feminina numa sociedade patriarcal, “Clarrise ou alguma coisa sobre nós dois” (2015) também envereda por caminhos semelhantes, propondo enquadrar uma narrativa intimista e de atmosfera sombria no gênero drama familiar dentro de uma estrutura de terror psicológico. O diretor Petrus Cariry demonstra uma propensão para um contundente e sutil jogo de simbologias a esquadrinhar a estranha relação entre a protagonista Clarisse (Sabrina Greve), burguesa e frígida, com seu pai moribundo (Everaldo Pontes), com boa parte da ação se desenvolvendo numa grande casa encravada no meio de uma floresta. A tensão não é extraída de truques manjados de suspense, mas sim de incômodos silêncios, gestuais contidos, olhares expressivos e imagens sugestivas (o corpo velho repleto de chagas, uma masturbação frustrada, a árida pedreira, a densa vegetação da floresta), além de eventuais toques oníricos e delirantes. A encenação meticulosa, com desenvolvimento que remete a influências de tragédia grega, valoriza um roteiro que demole com perversidade a moral pequeno-burguesa, mostrando como sentimentos, traumas e ambição social se relacionam com naturalidade dentro da sociedade capitalista ocidental contemporânea. Ainda que os excessos psicanalíticos possam tornar a narrativa um tanto hermética, é inegável o impacto que algumas soluções temáticas e estéticas tem sobre o espectador, principalmente no ritual de morte do pai e a consequente sequência violenta e sangrenta de sexo que encerra o filme.