Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
quinta-feira, dezembro 31, 2009
Tinha Que Ser Você, de Joel Hopkins **
Violência em Família, de Paul Goldman ***1/2
Loki - Arnaldo Baptista, de Paulo Henrique Fontenelle ***1/2
Trama Internacional, de Tom Tykwer ***1/2
Depois do insosso “O Perfume” (2007), “Trama Internacional” (2008) marca finalmente a volta da inspiração para o cineasta alemão Tom Tykwer. Desde o bombástico “Corra, Lola, Corra” (1998) que o diretor não mostrava uma produção realmente relevante. E o curioso é que o seu retorno à boa forma artística ocorre justamente em um filme de um gênero já bastante desgastado – thrillers pretensamente políticos de ação e espionagem que tem como vilões grandes entidades corporativas (no caso de “Trama Internacional” seria um banco multinacional que financia guerras civis em países de 3º Mundo visando lucrar no comércio de armas e afins). O motivo que torna “Trama Internacional” uma obra acima da média não é exatamente a seriedade com que trata a questão política abordada (no final das contas, essas motivações nesse tipo de filme servem apenas como pretexto para a ação e a aventura). Tykwer conduz com precisão uma narrativa que combina momentos de intrigas e seqüências eletrizantes de ação. O ápice do filme são as vertiginosas tomadas de um violento tiroteio em pleno Museu Guggenheim – é claro que o cineasta quis fazer uma contraposição entre a brutalidade do conflito com a atmosfera de sensibilidade que vem de um museu, mas Tykwer parece filmar com um prazer perverso tais cenas ao esmiuçar a destruição, o sangue e os estampidos dos disparos, lembrando até mesmo o bom e velho Sam Peckinpah. Outro ponto positivo de “Trama Internacional” é a ótima escolha de Clive Owen como protagonista – ele saber ser durão como um Dirty Harry sem cair na inexpressividade dramática.
quinta-feira, dezembro 24, 2009
Caça aos Porcos, de James Isaac ***
Faster, Pussycat! Kill! Kill!, de Russ Meyer ****
Mesmo nos dias atuais, a estética suja e a ambigüidade moral fazem de “Faster, Pussycat! Kill, Kill!” uma obra transgressora, não fazendo com que a produção possa ser caracterizada como simples curiosidade histórica. Não á toa, Quentin Tarantino freqüentemente declara o seu amor pelo filme e a vontade de fazer um remake para o mesmo. Quem já viu “À Prova de Morte” (2007), herdeira espiritual direta de “Faster...”, pode entender essa admiração e até desejar essa possível refimagem.
Psych-Out, de Richard Rush ***1/2
Seria muito fácil apenas catalogar “Psych-Out” (1968) como uma típica produção sessentista hiponga. Afinal, todo o ideário psicodélico está presente no filme: música viajante (Strawberry Alarm Clock, Seeds), drogas lisérgicas, personagens desajustados. É claro que a obra é bem emblemática da época, mas é correto dizer também que a mesma se sustenta pelos seus méritos artísticos. O diretor Richard Rush propõe uma narrativa marcada por um certo tom experimental, típica de outras produções do período (“Viagem ao Mundo da Alucinação”, “Sem Destino”), em que a montagem oscila entre o fluido e o acidental e a direção de fotografia emula imagens difusas, tudo isso aludindo às constantes “chapações” dos personagens.
sexta-feira, dezembro 18, 2009
TO BRING YOU MY LOVE - P.J. Harvey
Depois de Rid of Me (1993), disco eminentemente movido a rocks compactos de guitarras quase punks e timbres magníficos (cortesia da produção perfeita de Steve Albini), P.J. Harvey resolveu reformular sua concepção sonora. Para começar, abriu mão da formatação básica guitarra-baixo-bateria, resolvendo investir em arranjos mais elaborados com influências de blues e folk. Além disso, convocou para as gravações músicos com experiências mais diversas do rock ríspido que vinha gravando até então. Entre os mesmos, estavam Mick Harvey, parceiro de Nick Cave, e Flood, produtor de alguns discos dos Bad Seeds.
Todas essas mudanças acabaram resultando em uma obra de uma beleza estranha e perturbadora, com uma variação de arranjos e atmosferas que na época eram inéditas na carreira de P.J. Harvey. To Bring You My Love começa (a canção-título) e termina (The Dancer) com temas lentos, mas vigorosos, que soam como blues reinventados por uma dama vitoriana e gótica. Entre tais canções, há um conjunto extraordinário de rocks majestosos (Meet Ze Monsta e Long Snake Moan), folk (C’mon Billy, com elaborados toques hispânicos) e excentricidades de cair o queixo (Down By The Water, bizarra combinação de sintetizadores, percussão discreta e vocal que oscila entre o dramático e o sussurrante).
Intrigas de Estado, de Kevin Macdonald **1/2
Filme Caseiro, de Christopher Denham **1/2
W., de Oliver Stone ***
Minhas Adoráveis Ex-Namoradas, de Mark Waters **1/2
ALL SOULS ALIVE - The Blackeyed Susans
O álbum de estréia do Blackeyed Susans, o fantástico All Souls Alive (1994), é uma obra-prima obscura que deveria se descoberta por todos aqueles apreciadores da música que foge das obviedades. As duas faixas que abrem o disco, A Curse on You e We Cold’ve Been Someone, são rocks de melodias torturadas e pontuadas por um proeminente órgão que lhes dá um toque atemporal. Em Every Gentle Soul e Sheets On Rain surgem inesperadas e magníficas sonoridades hispânicas, pontificadas por preciosas intervenções de mandolins e pelo violino de Ellis. A porção country da banda aparece em todo o seu esplendor nas excelentes Reveal Yourself e I Can See Now, ambas dominadas pelo sensacional pedal steel de Evil Lee. A versão para Memories, de Leonard Cohen e Phil Spector, também é um capítulo à parte, em que o violino fanfarrão de Ellis e o vocal ébrio de McComb transformam a canção numa espécie de “rock de boteco”, pronta para ser entoada num pub cheio de bebuns inveterados. Há também Apartment #9, pungente e arrebatadora balada voz-violão entremeada por toques sutis de pedal steel. O ponto culminante de All Souls Alive, entretanto, é Dirty Water, uma canção épica e amarga marcada por guitarras dramáticas e violino e órgão que dilaceram uma melodia que é pura desilusão.
Depois de All Souls Alive, o Blackeyed Susans ainda lançou o excelente Mouth to Mouth (1996) e Shangri-La (2004), o qual ainda não ouvi, ambos já sem contar com David McComb, e pouco se ouviu falar da banda depois. Independente do que haja ocorrido, todavia, os caras conseguiram deixar sua marca na história do rock, principalmente por essa jóia transtornada chamada All Souls Alive.
segunda-feira, dezembro 14, 2009
I'M NEVER GONNA DIE AGAIN - These Immortal Souls
Essa concepção sonora marcante do These Immortal Souls atinge o seu maio pico de lapidação em I’m Never Gonna Die Again (1992), segundo e derradeiro álbum da banda. Contando também com a produção devidamente rústica de Tony Cohen, o disco reflete com propriedade as obsessões musicais de Roland S. Howard, em que rocks poderosos e climáticos (The King of California e Hyperspace) convivem de forma desconcertante com temas lentos de forte acento bluesy (Shamed e Black Milk), além de faixas instrumentais de estranhas progressões harmônicas e melódicas (Imsonnicide). O que une conceitualmente tais canções é a guitarra inquieta de Roland, que ora dispara violentamente ásperos e concisos riffs, ora acentua acordes sinuosos. A interpretação vocal de Roland S. Howard para as suas canções também merece destaque: apesar de não ter as mesmas nuances de Nick Cave, o seu canto desleixado e gutural é mais do que adequado para a sonoridade de sua banda, sublinhando brilhantemente a intrincada e coesa trama instrumental de I’m Never Gonna Die Again.
Um Homem de Moral, de Ricardo Dias ***1/2
O Exterminador do Futuro: A Salvação, de McG ***
Os Falsários, de Stefan Ruzowitzky ***
Caramelo, de Nadine Labaki **
THE LOW ROAD - Beasts of Bourbon
The Low Road (1991) é um manifesto perfeito do som do Beasts of Bourbon. O disco começa já começa pegando fogo, com a potente Chase The Dragon e seus riffs cortantes. Já The Low Road e Just Right são temas rasgados por dolorosos acordes bluesy, daqueles que fazem a gente imaginar botecos escuros e esfumaçados cheios de mal-encarados e perdedores em geral bebendo cerveja ordinária. Can’t Say No é uma balada dilacerante, em que a voz do Tex Perkins é um lamento desesperançado e quase bêbado sublinhando a melancólica melodia da canção. Lá no meio do disco, mais precisamente na sexta faixa, a banda apresenta uma surpresa sensacional: uma revisão bem peculiar de Ride On¸ clássica canção do AC/DC, em que transformam o que antes era um blues manhoso num estridente tema rock. Mas em termos de versões, o disco também apresenta um achado ainda mais desconcertante, que é a visitação sobre uma das mais emblemáticas e malditas músicas da história do rock: Cocksucker Blues, canção proibida e nunca gravada oficialmente pelos seus autores (uns carinhas chamados Mick Jagger e Keith Richards), que nas mãos do Beasts of Bourbon recebe o tratamento que lhe é direito, com os mesmos dando para a canção um andamento arrastado e cheio de sensibilidade junkie. Para fechar de forma devidamente “down” uma obra marcada pela amargura, nada melhor que Goodbye Friends, uma elegia de tons embriagados.
Essencial na arquitetura sônica de Low Road é a produção sem enfeites de Tony Cohen, que ressalta com precisão os timbres secos e crus dos instrumentos, o que acaba valorizando ainda o clima lúgubre das canções do disco. Cohen foi produtor de alguns dos melhores álbuns do Birthday Party e dos Bad Seeds. E por falar nesses últimos, Tex Perkins e Spencer Jones, baixista do Beasts of Bourbon, são eventuais colaboradores das “más sementes”.
sexta-feira, dezembro 04, 2009
Moss Side Story - Barry Adamson
A intenção inicial de Barry Adamson ao arquitetar tais molduras sonoras era fazer “trilhas sonoras imaginárias”, ou seja, músicas para filmes que não existem. O resultado expressivo de tal trabalho, todavia, não passou desapercebido, sendo que o gênio cinematográfico David Lynch acabou utilizando alguns temas de Adamson na maravilhosa trilha sonora do surreal A Estrada Perdida.
A Ilha da Morte, Wolney de Oliveira *
Meu Mundo em Perigo, de José Eduardo Belmonte **1/2
Haus der Luege - Einstürzende Neubauten
O Einstürzende Neubauten talvez é o principal nome do Industrial, gênero do rock que dispensa a formação básica guitarra-baixo-bateria e se apropria de barulhos ambientais ou originários de objetos do quotidiano como matéria prima da sua música. Os seus dois primeiros discos, os radicais Kollaps (1981) e Drawings of Patient O.T. (1983), consistem quase que basicamente na voz e guitarra maníacas de Blixa Bargeld auxiliadas pela percussão em materiais metálicos dos demais membros da banda. O resultado é uma barulheira estranhamente harmônica e fascinante. Com Halber Mensch (1985) e Five on the Open-Ended Richter-Scale (1987), a música da banda busca uma aproximação maior com sonoridades mais melódicas, utilizando-se inclusive de instrumentos ortodoxos, como sintetizadores. Isso não implica, entretanto, em uma aproximação com uma música mais convencional, sendo que na verdade tais mudanças acentuam ainda mais a singularidade do trabalho desses alemães esquisitos.
Essas mudanças na concepção sonora que se insinuam nos discos mencionados acabam se cristalizando de forma plena em Haus der Luege (1989), a grande obra-prima do Einstürzende Neubauten. A abertura com Prolog até remete aos primeiros trabalhos dos caras, com a voz carregada de Bargeld se alternando com uma zoeira quase inaudível, mas em Feurio! e Haus der Luege a característica percussão metálica industrial da banda se casa de forma plena e magnífica com sintetizadores e seqüenciadores em paisagens sonoras de tons épicos e apocalípticos. Ein Stuhl in Der Hoelle é quase uma balada que remete a cantigas de tons folclóricos. Em Fiat Lux, temos um tema que se divide em três canções fortemente climáticas, permeadas por sons sampleados das ruas, inclusive manifestações de protestos, e um instrumental que lembra bastante os trabalhos mais experimentais de Brian Eno. Schwindel é uma improvável aproximação do industrial com o reggae, enquanto Der Kuss, belíssimo tema lento marcado por sintetizadores emocionantes e preciosas intervenções da guitarra de Bargeld, encerra de maneira extraordinária esse clássico bizarro do rock (e que milagrosamente foi lançado na época no Brasil pela gravadora Stiletto!!).
quarta-feira, dezembro 02, 2009
The Firstborn is Dead - Nick Cave & Bad Seeds
Para conceber Firstborn is Dead, Cave contou com uma reduzida e inspirada formação dos Bad Seeds, em que Blixa Bargeld ficou responsável pelas principais guitarras e Mick Harvey (parceiro de Cave também no Birthday Party) e Barry Adamson (naquela época, egresso do Magazine) se revezaram nos demais instrumentos, além da bela produção de Flood, que sabiamente enfocou a musicalidade da banda numa sonoridade mais esparsa e sutil. O resultado são canções que ora fluem em levadas rítmicas vigorosas (Tupelo e Train Long-Suffering), ora se insinuam em blues lentos e tenebrosos (Knockin’ Joe, Blind Lemon Jefferson e The Six Strings That Drew Blood). Há também uma versão para Wanted Man de Bob Dylan que na verdade é mais uma recriação radical, em que Cave toma a canção para si.
Posteriormente, o blues voltou aparecer em outros álbuns de Nick Cave, com resultado brilhante na maioria das vezes. Tais abordagens, todavia, foram mais tradicionais, não atingindo o mesmo grau de estranheza da desconstrução perversa do gênero obtido por The Firstborn is Dead.