sexta-feira, dezembro 28, 2007

Top 20 Melhores Filmes do Ano


1º) Lady Vingança, de Chan-Wook Park
2º) Império dos Sonhos. de David Lynch
3º) Zodíaco, de David Fincher
4º) Possuídos, de William Friedkin
5º) O Homem Duplo, de Richard Linklater
6º) O Hospedeiro, de Bong Joon-Ho
7º) Viagem a Darjeeling, de Wes Anderson
8º) Superbad, de Greg Mottola
9º) Tropa de Elite, de José Padilha
10º) Borat, de Larry Charles
11º) Apocalypto, de Mel Gibson
12º) Ventos da Liberdade, de Ken Loach
13º) Ratatouille, de Brad Bird
14º) Transylvania, de Tony Gatlif
15º) Metal – Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal, de Sam Dunn
16º) Atravessando a Ponte – O Som de Istambul, de Fatih Akin
17º) Planeta Terror, de Robert Rodriguez
18º) A Conquista da Honra, de Clint Eastwood
19º) O Sabor da Melancia, de Tsai Ming Liang
20º) Transformers, de Michael Bay

Filmes das Últimas Duas Semanas (cotações de 0 a 4 estrelas)

O Sobrevivente, de Werner Herzog ***1/2
Mandando Bala, de Michael Davis ***1/2
Angel-A, de Luc Besson ***
Meu Melhor Amigo, de Patrice Leconte ***
Conduta de Risco, de Tony Gilroy **1/2
No Vale das Sombras, de Paul Haggis **
Bee Movie, de Steve Hickner e Simon J. Smith ***
Nação Fast-Food, de Richard Linklater ***1/2
A Comédia do Poder, de Claude Chabrol ***
O Magnata, de Johnny Araújo **1/2
Império dos Sonhos, de David Lynch ****
30 Dias de Noite, de David Slade ***1/2

Hitman - Assassino 47, de Xavier Gens ***1/2
O Príncipe das Sombras, de John Carpenter ****
O Tambor, de Wolker Schlöndorff ***1/2
Mr. Vingança, de Chan-Wook Park ****
Lili Marlene, Rainer Werner Fassbinder ***1/2
O Sol Por Testemunha, de René Clément ****
O Homem Que Caiu na Terra, de Nicolas Roeg ***1/2
O Assassino da Furadeira, de Abel Ferrara ****
Querelle, de Rainer Werner Fassbinder ****

quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Mestre das Armas, de Ronny Yu ***1/2


Pode-se até dizer inicialmente que “O Mestre das Armas” é um filme de artes marciais com uma história consistente, afinal se baseia em fatos históricos, abordando a presença colonialista inglesa na China . Mas no final das contas, o grande barato em assistir essa produção está nas sensacionais coreografias de lutas, com Jet Li protagonizando verdadeiros balés estéticos, tamanho o detalhismo nas seqüências de ação do filme. Mesmo não estando no nível de outros filmes recentes de porradaria oriental como “Kung Fusão” ou “O Clã das Adagas Voadoras”, “O Mestre das Armas” é uma ótima pedida para quem está a fim de se divertir vendo uns “chinas” se engalfinharem em violentas e elaboradas lutas de artes marciais.

Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim ***


Um documentário sobre o ensino no Brasil pode não parecer um programa cinematográfico dos mais promissores, mas no caso de “Pro Dia Nascer Feliz” o resultado final acaba se revelando até surpreendente. O diretor João Jardim faz um amplo panorama sobre quais seriam os perfis de alunos, professores e escolas por todo o país, e é claro que as conclusões que se chega não são das mais animadoras. O filme, entretanto, não se limita a mostrar estatísticas, sendo que alguns depoimentos e imagens colhidos têm um conteúdo dramático que impressiona. De escolas isoladas no meio do sertão brasileiro chegando a escolas particulares de metrópoles, Jardim oferece uma visão crua e sem muitas concessões sobre uma realidade preocupante, ao mesmo tempo que consegue realizar um filme que tem uma fluência narrativa admirável em alguns momentos.

Filmes das Últimas Duas Semanas (Cotações de 0 a 4 estrelas)



Viagem a Darjeeling, de Wes Anderson ****
A Lenda de Beowulf, de Robert Zemeckis ***1/2
Person, de Marina Person ***
3 Efes, de Carlos Gerbase ½ (meia estrela)
O Sobrevivente, de Werner Herzog ***1/2
The Animation Show – Volume 2, de Mike Judge e outros ***1/2
Negócio é Negócio, de Paul Verhoeven ****
Pacto de Sangue, de Billy Wilder

terça-feira, dezembro 11, 2007

O Pagamento Final, de Brian de Palma ****


Na minha modesta opinião, esse é um dos dez melhores filmes de todos os tempos! Sei que é brabo começar assim um comentário, de forma tão hiperbólica. Mas realmente não consigo ser contido quando falo da obra-prima máxima do Mestre Brian De Palma. E olha que é complicado falar uma coisa dessas sobre um diretor que tem tantos pontos altos na sua carreira (“Carrie, A Estranhas”, “Dublê de Corpo”, “Vestida Para Matar”, “Os Intocáveis”).

Em “Pagamento Final”, o estilo rebuscado e preciosista de De Palma atinge um equilíbrio perfeito. Por mais apoteóticas e virtuosísticas que algumas seqüências do filme possam parecer (e realmente são), tudo está na medida, mas é claro sem esquecer o puro tesão pelo ato de filmar que transpira em outras obras do cineasta. De Palma conduz “O Pagamento Final” com uma segurança infalível, em que acompanhamos a saga do anti-herói Carlito Brigante (Al Pacino, na atuação mais sensacional da sua vida) sabendo que todo o seu esforço em busca de uma nova vida vai dar em nada. À medida que Carlito vai se metendo em uma situação cada vez mais sem saída, De Palma cria um clima de tensão crescente e absolutamente eletrizante, e que acaba culminando numa meia-hora final que é um verdadeiro show de planos seqüências brilhantemente executados aliados a uma montagem que deixa o espectador suando frio.

Também é de cair o queixo o impressionante trabalho dramático do elenco de “O Pagamento Final”. Sean Penn oferece uma caracterização genialmente repulsiva para o advogado escroque David Kleinfeld, enquanto John Leguizamo e Viggo Mortensen, mesmo aparecendo poucos minutos em cenas, dão uma dimensão sinistra impressionante para os seus respectivos personagens.

Apreciadores de frescuras e abobadices sentimentalóides tipo “Babel” ou “Elza e Fred” devem passar longe de “O Pagamento Final”, um filme movido a cocaína, sexo, violência e disco music que é uma verdadeira lição de cinema visceral e inspirado. Se vocês gostam de cinema com sangue nas veias, esse é o filme para ter como uma das suas obras de cabeceira.

quarta-feira, novembro 28, 2007

A Dama de Honra, de Claude Chabrol ****


Sempre que a gente acha que o cinema francês está excessivamente coxinha com filmes sem inspiração e excessivamente verborrágicos, acaba aparecendo Claude Chabrol para mostrar que ainda há gente com culhões por aquelas bandas. “A Dama de Honra” não apresenta maiores novidades no velho estilo Chabrol, mas nem precisava, pois o cara atingiu um nível tão foda que dispensa inovações. A tensão psicológica e a elegância no filmar do velho mestre francês mostram que ele é um dos melhores discípulos que Hitchcock já teve. “A Dama de Honra” impressiona também pela caracterização de seus personagens: em meio a uma assassina fria e sexy e um pobre coitado que não sabe o que fazer direito, há uma dureza emocional em que não existe espaço para redenção ou outros tipos de concessões. O resultado acaba sendo um dos suspenses mais impressionantes dos últimos anos.

C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, de Jean-Marc Vallée ***1/2


O grande barato dessa produção canadense de 2005 é enquadrar a sua temática (homossexualismo e o respectivo preconceito social e familiar) num contexto bem humorado e pop, ainda mais que boa parte do filme se passa na primeira metade dos anos 70, auge do Glam Rock, movimento musical que tinha por característica básica a androginia. Mesmo não chegando no nível de uma obra-prima como o genial “Velvet Goldmine” de Todd Haynes, “C.R.A.Z.Y.” tem ótimos momentos, principalmente aquele em que o protagonista paga um tremendo mico, quando adolescente, ao dublar David Bowie cantando “Space Oddity”, com direito inclusive ao seu rosto pintado com um raio, no seu quarto, mas com toda a rua assistindo e tirando sarro. E por mais que o filme caia em algumas obviedades sentimentais, é inegável que ele tenha uma considerável força dramática em algumas seqüências, principalmente no que se refere ao relacionamento do personagem principal com o seu pai e os seus irmãos.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Filmes das duas últimas semanas (cotações de 0 a 4 estrelas)

1408, de Mikael Hafström **1/2
O Passado, de Hector Babenco **1/2
Leões e Cordeiros, de Robert Redford **
Planeta Terror, de Robert Rodriguez ****
Sede de Viver, de Vincente Minnelli ****
Jogos Mortais 4, de Darren Lynn Bousman ***1/2
Depois do Casamento, de Susanne Bier **1/2
Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia, de Sam Peckinpah ****
Quarteto Fantástico, de Oley Sassone ½ (meia estrela)
Os Donos da Noite, de James Gray ***1/2
Vida e Morte de Peter Sellers, de Stephen Hopkins ***
O Albergue 2, de Eli Roth ****
Interlúdio, de Alfred Hitckcock ****
Jackie Brown, de Quentin Tarantino ****
Amanhecer Violento, de John Milius ****

segunda-feira, novembro 05, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


Os Atores, de Bertrand Blier ***
O Barco da Liberdade, de Bruno Podalydes ***
Senta a Pua, de Erik Castro **
The Devil And Daniel Johnston, de Jeff Feuerzeig ****
Olhe Para os Dois Lados, de Sarah Watt **1/2
Conan – O Bárbaro, de John Milius ****

quinta-feira, novembro 01, 2007

O Esquilo Vermelho, de Julio Medem ****


O diretor espanhol Julio Medem geralmente oferece em seus filmes uma original concepção narrativa e formal. São obras que inicialmente parecem atuar dentro do gênero drama, mas com o desenrolar de suas tramas vão revelando elementos de cinema fantástico, mas sob uma ótica insólita, onde esse aspecto da fantasia brota de traços psicológicos e de delírios. “O Esquilo Vermelho” se enquadra perfeitamente nesses parâmetros tão característicos de Medem. O roteiro do filme é uma estranha e magnífica combinação de amnésia, coincidências, sonhos, romance e traumas familiares. O que poderia resultar numa confusa narrativa acaba gerando algo que flui com invulgar naturalidade. A câmera de Medem foca a realidade como se fosse o metafísico, gerando dessa forma seqüências de uma beleza onírica impressionante.

Inacreditável - A Batalha dos Aflitos, de Beto Souza **1/2


A rigor e se fossemos analisar “Inacreditável – A Batalha dos Aflitos” por um prisma exclusivamente formal, dentro da cotação desse blog tal produção seria no máximo uma estrela. Afinal, o diretor Beto Souza demonstra pouco brilho ao conciliar burocraticamente entrevistas de jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcedores com imagens de arquivo da dura trajetória do Grêmio na campanha da Série B em 2005 e principalmente do inesquecível jogo final com o Náutico. Ocorre, entretanto, que os fatos em si são tão empolgantes que não tem como o expectador se manter impassível com o filme. O que vai passando nas telas é tão dramático que mesmo sabendo qual será o resultado final da empreitada gremista ficamos num puta clima de tensão. E convenhamos: não é todo os dias que presenciamos numa sessão de cinema uma platéia gritando, batendo palmas e cantando!!

É certo que “Inacreditável – A Batalha dos Aflitos” não entra na minha (ou na de qualquer apreciador de cinema) lista de melhores filmes de todos os tempos. Mas certamente entra naquela de sessões cinematográficas mais memoráveis da minha vida.

quarta-feira, outubro 31, 2007

A Garota da Vitrine, de Anand Tucker ***1/2



Um olhar mais apressado sobre “A Garota da Vitrine” talvez possa sugerir algo como uma espécie de derivado de “Encontros e Desencontros”, o cult film de Sofia Coppola. Mas reduzir o filme a isso seria uma injustiça, pois em certos pontos tal obra é superior ao exageradamente incensado filme da filha do nosso amigo Francis. Ao mostrar a história do envolvimento romântico da jovem Mirabelle Buttersfield (Claire Danes), uma vendedora de luvas e aspirante a artista plástica, com um ricaço mais velho (Steve Martin), o diretor Anand Tucker oferece um painel sóbrio e lúcido sobre a solidão e as relações humanas, mas não dispensa um toque de humor amargo para deixar as coisas ainda mais interessantes. Vale mencionar ainda que “A Garota da Vitrine” tem o seu roteiro escrito pelo próprio Steve Martin, baseado num livro de sua autoria, sendo que aqueles que esperam algo na linha cômica escrachada de boa parte das comédias que ele protagoniza irão ficar surpreendidos com o tom irônico mais contido do filme em questão. No mais, é de se destacar também a atuação serena e comovente de Claire Danes (recuperando-se com honras, por sinal, depois daquele fiasco chamado “Tudo em Família”) e a interpretação hilária de Jason Schwartzman como um desengonçado e pé-rapado admirador de Mirabelle.

Aurora, de Friedrich Wilhelm Murnau ****



Sei que geralmente clichês são meio chatos, mas é que às vezes os mesmos acabam sendo inevitáveis. Bem, essa desculpa é apenas para dizer que “Aurora”, monumental obra-prima de F.W. Murnau, é uma daquelas raras produções cinematográficas que não envelheceram com o passar dos anos. Até mesmo o fato de ser um filme mudo parece funcionar a seu favor, pois Murnau aprofunda ainda mais o seu acurado trabalho de fotografia e edição para obter uma narrativa que é quase que puramente visual. Para o genial diretor alemão, os diálogos eram praticamente dispensáveis nas suas narrativas, e “Aurora” é uma das maiores provas disso. É de se destacar ainda que mesmo com o fato de “Aurora” ser uma produção norte-americana, pode-se sentir em cada momento do filme a forte herança expressionista que Murnau trouxe da Alemanha, o que colabora para dar ao um filme uma encantadora atmosfera onírica. É impressionante também a brilhante utilização de efeitos especiais: por mais primitivas que tais trucagens possam parecer diante dos modernos efeitos digitais atuais, a verdade é que as mesmas mantêm intacto o seu impacto visual, com os seus jogos de sobreposições de imagens obtendo um resultado impressionante para quem assiste ao filme.

terça-feira, outubro 30, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Vidente, de Lee Tamahori ***1/2
Super-Bad – É Hoje, de Greg Mottola ****
Faces, de John Cassavetes ****
Tá Dando Onda, de Ash Brannon e Chris Buck ***
People – Histórias de Nova Iorque, de Danny Leiner **1/2
Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, de Alain Chabat ***

sexta-feira, outubro 26, 2007

Sex And Fury, de Norifumi Suzuki ****


Um dos grandes baratos de assistir aos dois volumes do magnífico “Kill Bill” é buscar a quantidade insana de referências bem sacadas de outros filmes presentes na obra-prima de Quentin Tarantino. Obras, aliás, que fogem do óbvio e do gosto médio. “Sex And Fury” é uma dessas pérolas homenageadas por Tarantino, e assistindo a tal filme a gente pode perceber o quanto o genial cineasta norte-americano se inspirou nele. Para começar, a própria figura da anti-heroína Ochô Inoshika remete à noiva vingativa interpreta por Uma Thurman, sendo que a personagem principal de “Sex and Fury” protagoniza coreografias de luta brilhantemente encenadas pelo cineasta Norifumi Suzuki. Um desses combates, aliás, foi claramente evocado na seqüência final do primeiro de “Kill Bill”, no já antológico duelo entre a Noiva e O-Ren Ishii (Lucy Liu). De se destacar ainda em “Sex And Fury” o inacreditável trabalho de fotografia, com um tratamento estético tão bem elaborado em que até o sangue jorrando tem uma beleza plástica inigualável.

Sete Amores, de Buster Keaton ****


Que Buster Keaton é um dos maiores mestres da comédia da história do cinema todo mundo já sabe. O que “Sete Amores” mostra também, contudo, é que o cara sacava tudo também de filmes de ação!! O terço final do filme é um verdadeiro show em termos de aventura cinematográfica, quando o protagonista Jimmie Shannon é perseguido por centenas de moças casadoiras, rendendo algumas das seqüências mais antológicas da sua carreira. O meu momento favorito no filme é quando durante a mencionada perseguição ele desce uma ribanceira com o acréscimo de uma verdadeira avalanche de rochas no seu encalço. Faz a gente pensar que Spielberg deve certamente ter assistido a esse filme e se inspirado para a sua obra-prima “Os Caçadores da Arca Perdida”.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Mulheres do Brasil, de Malu Martino *


A intenção da diretora Malu Martino para “Mulheres do Brasil” é até interessante: mostrar as várias facetas da mulher brasileira, variando as classes sociais, as regiões, as situações familiares. O resultado, contudo, é pífio e sem vida. A opção de dividir o filme em episódios diferentes, que poderia render possibilidades para vôos ousados, acaba sendo uma solução equivocada. A cineasta não consegue alternar com eficiência drama e comédia, fazendo de “Mulheres do Brasil” uma verdadeira mixórdia narrativa. A tentativa de inserir tons documentais na ficção piora ainda mais as coisas, fazendo com que em algumas seqüências a obra pareça uma verdadeira propaganda institucional. Totalmente descartável e defeituosa, “Mulheres do Brasil” é uma obra que nasceu para um justo esquecimento.

Notas de Um Escândalo, de Richard Eyre ***


Esse drama inglês não apresenta maiores ousadias no gênero “baseados em fatos reais”. Mesmo assim, e sendo formalmente bem convencional, o diretor Richard Eyre consegue chamar atenção por uma certa crueza ao abordar temas espinhosos como lesbianismo e adultério, fazendo com que se crie uma empatia com a trama e os personagens. Colaboram para isso também as sóbrias atuações de Judi Dench como uma veterana professora manipuladora e mal-resolvida sexualmente e Cate Blanchett no papel da professora novata que se envolve com um adolescente. As atuações das duas são a alma do filme, fazendo valer uma conferida em “Notas de um Escândalo”.

É interessante mencionar o destaque negativo da trilha sonora. Não que a música de Plillip Glass sejam ruim. O problema é a forma com que a mesma é utilizada: é tão ostensiva e constante que em alguns momentos ela chega a quebrar os climas de tensão, quando em tais seqüências o simples silêncio seria muito mais eficiente em termos dramáticos.

Plano 9 do Espaço Sideral, de Ed Wood 1/2 (meia estrela)


Putz, não tem como eu escrever algo sobre esse filme sem repetir boa parte do que eu já havia escrito sobre “Glen ou Glenda?”, comentado poucos dias atrás nesse mesmo blog. O que posso dizer de diferente sobre “Plano 9 do Espaço Sideral” é que é um pouco melhor produzido e dirigido, sendo que esse pouco quer dizer pouco mesmo... A verdade é que a mitologia por trás desse filme é bem mais fascinante do que a obra em si. Vale mais assistir por curiosidade ou até mesmo um certo dever cinéfilo. Agora se tu, caro leitor, vais gostar, bem, isso já é outro papo...

Motoqueiro Fantasma, de Mark Steven Johnson **


Na área de adaptações cinematográficas de quadrinhos Marvel, “Motoqueiro Fantasma” não atinge os níveis de ruindade de “Demolidor” e “Elektra”, mas também está bem distante do brilhantismo de “Homem Aranha 2” e “X-Men 2”. Para quem conhece o gibi original, dá até para perceber que o diretor Mark Steven Johnson preservou alguns elementos importantes da mitologia do personagem-título. O problema é que tudo ficou rasteiro demais. Para um super-herói que tem poderes originados do inferno e cujo principal oponente é o próprio diabo, faltou tensão e maior dinâmica. Tudo se resolve rápido demais e os adversários do Motoqueiro Fantasma são tão mequetrefes que em algumas situações com apenas um golpe ele detona oponentes que deveriam ser extremamente perigosos. O próprio Nicolas Cage não parece se levar muito a sério no papel de protagonista, sendo que se tem a constante impressão de que a qualquer instante ele vai começar a rir da coisa toda (o que é de se estranhar, afinal Cage se diz fã de longa data do personagem). Mas no geral, o filme não é ruim, tendo uns efeitos especiais bem legais. O problema é que no final acabamos pensando o que o filme teria rendido nas mãos de um cineasta com mais culhões como John Milius ou Paul Verhoeven.

O Bígamo, de Ida Lupino ***1/2


O que surpreende nessa produção é o tratamento lúcido e sem moralismos excessivos para a questão da bigamia. O bígamo do título (Edmond O’Brien) não é mostrado como um canalha sem sentimentos, mas apenas como um pobre coitado que se deixou levar pelo destino, algo, por sinal, bem de acordo com a temática noir. E por falar nisso, outro dos grandes méritos de “O Bígamo” é o tratamento de cinema noir que a diretora Ida Lupino oferece para a sua trama: a tensão e a dinâmica do filme é a de um clássico filme policial, mesmo que o roteiro em si seja a de um drama. Essa aparente contradição dá para a obra uma aura de estranhamento que contribuem ainda mais para a sua força narrativa.

Rocky Balboa, de Sylvester Stallone ***1/2


É claro que “Rocky Balboa” por alguns momentos cai para o sentimentalismo e um tom ingênuo excessivos, além é claro de ser meio constrangedor ver o velho Rocky com o rosto cheio de botox. Mas isso são apenas pequenos detalhes, pois o que compensa mesmo no filme é que ele resgata o real espírito da série, aquela coisa de pessoas simples e meio broncas vivendo situações redentoras. Stallone conduz com uma direção segura e de classe uma história que está em perfeita sintonia com a mitologia de seu personagem mais famoso, sendo que a seqüência da luta final de Rocky envelhecido, mas ainda durão, contra um forte e impetuoso campeão mundial é umas das melhores e mais emocionantes da série.

No saldo final, “Rocky Balboa” é tão satisfatória que faz com que a gente fique bem mais curioso para assistir “John Rambo”.

terça-feira, outubro 16, 2007

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)


Metal – Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal, de Sam Dunn ****
Stardust – O Mistério da Estrela, de Matthew Vaughn ***1/2
Despedida de Ontem, de Alexander Kluge ***
Desbravadores, de Marcus Nispel **1/2
Transylvania, de Tony Gatlif ****
Noite de Estréia, de John Cassavetes ****
Morte no Funeral, de Frank Oz **1/2
A Morte de um Bookmaker Chinês, de John Cassavetes ****
Tropa de Elite, de José Padilha ****
Jogos Mortais 2, de Darren Lynn Bousman **1/2
Jackass 2, de Jeff Tremaine ***

quarta-feira, outubro 10, 2007

Glen ou Glenda?, de Ed Wood 1/2 (meia estrela)


Apesar de considerar “Ed Wood”, a cinebiografia dirigida por Tim Burton, uma verdadeira obra-prima, devo confessar que não tenho o mesmo entusiasmo pela obra do personagem título. Assistir “Glen ou Glenda?”, por exemplo, é quase penoso, não só pelo fato de ser uma obra tosca e mal dirigida, mas principalmente por ser um filme muito chato!! Por mais ingênua que a visão ingênua e a incompetência formal de Wood possam parecer (e aí para muitos pode estar o encanto de seus filmes), a verdade é que temos uma narrativa arrastada e personagens desinteressantes. Mesmo aquela graça involuntária que esse tipo de produção pode gerar não aparece. No gênero “tranqueiras divertidas”, acho que “Robot Monster” e “O Esqueleto Perdido de Cadavra” são muito mais legais.

Letra e Música, de Marc Lawrence ***1/2

De vez em quando surpresas acontecem. Quem poderia dizer que uma singela e despretensiosa comédia romântica fosse oferecer um retrato tão irônico e bem humorado sobre a indústria da música pop? Pois “Letra e Música” é exatamente isso. Através da história de um pop star decadente (Hugh Grant, numa interpretação ultra cool) que recebe uma oportunidade de voltar aos holofotes desde que componha uma boa canção para uma nova estrela teen, o filme de Marc Lawrence oferece uma visão interessante sobre a relação entre a música e os seus aspectos comerciais. Mais louvável ainda é que se evita a simplória crítica aos mecanismos de criação e divulgação da canção popular. Afinal, na história da música pop, inspiração artística e o desejo de sucesso geralmente andam lado a lado, sendo que o fato de uma canção ser bem sucedida comercialmente não significa necessariamente que o autor da mesma tenha vendido a alma ao grande demônio corporativo (vide tanta gente boa como Beatles, Supremes e Elton John).

“Letra e Música” também serve como uma bela tiração de sarro com essa onda nostálgica dos anos 80 que está em voga atualmente. O protagonista é um verdadeiro refugo daquela época, com todos aqueles trejeitos estapafúrdios típicos de algumas bandas da época, como Wham e Duran Duran. E nesse sentido, o clip que abre e fecha o filme é uma verdadeira pérola de paródia musical e estética.

Outro ponto alto de “Letra e Música” é a sua brilhante trilha sonora, composta basicamente de canções originais que emulam genialmente algumas vertentes da música pop. Indo de um brilhante pastiche oitentista (a cara-de-pau “Pop! Goes To My Heart”), passando por divertidas paródias do estilo Britney Spears e chegando numa belíssima e classuda balada (“Way Back into Love), o filme acaba oferecendo um belo panorama de estilos musicais dos últimos 20 anos.

Por mais irônico que “Letra e Música” possa ser, a verdade é que o filme é um verdadeiro tributo à música pop, revelando como canções aparentemente tolas podem se infiltrar no imaginário das pessoas e ficarem grudadas lá para sempre.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Filmes das Últimas Semanas (cotações de 0 a 4 estrelas)


Os Quatros Elementos em Si ou O Guru Selvagem, de André Martinez *
O Resultado do Amor, de Eliseo Subiela *
A Última Cartada, de Joe Carnahan ****
Hairspray – Em Busca da Fama, de Adam Shankman ****
Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes ****
Santiago, de João Moreira Salles ***
Quatro Estrelas, de Christian Vincent ***
Tapas, de José Corbacho *
Os Jetsons – O Filme, de Joseph Barbera e William Hanna **
Sombras, de Josh Cassavetes ****
Contra a Parede, de Fatih Akin ****
Freaks, de Tod Browning ****
Ligeiramente Grávidos, de Judd Apatow ***
O Último Bandoneon, de Alejandro Saderman **1/2
Um Menino No Verão de 1945, de Kazuo Kuroki ***1/2
Amantes Constantes, de Philippe Garrel **1/2
Dias de Ira, de Carl Theodor Dreyer ****
O Horror Vem do Espaço, de Arthur Crabtree ***
Vampiros de Alma, de Don Siegel ****
A Última Esperança da Terra, de Boris Sagal ***1/2
Ratos, de Bruno Mattei *1/2
Predadores da Noite, de Bruno Mattei *
A Dança da Vida, de Juan Zapata *
Sangue de Pantera, de Jacques Tourneur ****
Doppelganger, de Kiyoshi Kurosawa ****
Do Além, de Stuart Gordon ****
Os Olhos Sem Rosto, de Georges Franju ****
Calafrios, de David Cronenberg ****
O Elemento do Crime, de Lars Von Trier ***1/2
The Bird People In China, de Takashi Miike ***
Nothing, de Vincenzo Natali **
A Máscara da Morte Rubra, de Roger Corman ***1/2
Lunacy, de Jan Svankmajer ****
Bubba Ho-Tep, de Don Coscarelli ****
Zombie 3, de Lucio Fulci e Bruno Mattei *1/2
Zombie 2, de Lucio Fulci ****
Frostbiten, de Anders Banke **1/2
Martin, de George Romero ****
A Queda da Casa Usher, de Jean Epstein ****
Ação Mutante, de Alex de la Iglesia ****
2000 Maníacos!, de Herschell Gordon Lewis ***
Kill, Baby... Kill, de Mario Bava ****
Robot Monster, de Phil Tucker *
Lola, de Rainer Werner Fassbinder ****
Curva do Destino, de Edgar G. Ulmer ****
Operação Yakuza, de Sidney Pollack ****
Como Era Verde o Meu Vale, de John Ford ****
Luzes da Cidade, de Charlie Chaplin ****
A Aventura, de Michelangelo Antonioni ****
Antônia, de Tata Amaral ***1/2
Looney Tunes – De Volta à Ação, de Joe Dante ****

quinta-feira, setembro 13, 2007

Um Lugar Para Recomeçar, de Lasse Hallström **


Vamos ser sinceros: vocês não estão de saco cheio desses filmes com Morgan Freeman fazendo o papel do amigão black que dá umas dicas legais para o protagonista branco? Será que o cara não consegue uns papéis diferentes? Pois “Um Lugar Para Recomeçar” continua nessa mesmice. Dessa vez, o papel de pobre coitado que recebe os bons conselhos do amigão Freeman é do Robert Redford. No mais, é o tipo de produção do tipo “não fede nem cheira”: fotografia correta, roteiro com história na linha edificante com “lições de vida”, interpretações sem sal (apesar da Jennifer Lopez estar bem gostosinha) e direção sem brilho. Aliás, faz um bom tempo que o cineasta Lasse Hallström não dá uma dentro. Nem parece mais o cara que fez o excelente “Minha Vida de Cachorro”.
Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)

Eu os Declaro Marido e... Larry, de Dennis Dugan ***
As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder ****
Conceição: Autor Bom é Autor Morto, de André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento e Samantha Ribeiro ***1/2
Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Jr. ***1/2
Verão Violento, de Valerio Zurlini ****
Cocksucker Blue, de Robert Frank ***1/2
Lawrence da Arábia, de David Lean ****

quinta-feira, setembro 06, 2007

Contra a Parede, de Fatih Akin ****


Morando em Hamburgo, o imigrante turco Cahit (Birol Ünel) parece sempre querer testar os seus limites físicos e morais: bebendo até cair e ouvindo rock soturno em seu apartamento sujo e bagunçado, arranjando confusões gratuitas, sobrevivendo de subempregos e estraçalhando carros contra a parede, o sujeito é uma bomba sempre preste a explodir. Já Sibel (Sibel Kikelli) não é muito diferente: filha de um imigrante turco e muçulmano ortodoxo, freqüentemente corta os pulsos para fugir um pouco do rigor moral e religioso do pai. Ao se conhecerem numa clínica psiquiátrica para suicidas, Cahit e Sibel acabam se aproximando e pouco depois se casam. Mas isso tudo é apenas o começo do explosivo “Contra a Parede”, do diretor-revelação Fatih Akin. Ao longo do filme, assiste-se a tortuosa jornada dos protagonistas em busca de um pouco de paz e diversão, mas que sempre acabam esbarrando em problemas como preconceito racial, violência, intolerância religiosa e as suas próprias naturezas conflituosas. Fatih Akin realiza uma obra vigorosa como poucas, sendo que “Contra a Parede” é um filme que exala vida por todos os poros. Mesmo as tentativas de suicídio dos protagonistas são muito mais um grito de liberdade contra as repressões morais e religiosas do que um real desejo de morte. Não à toa, “Contra a Parede” levou o Urso de Ouro em 2004, prêmio máximo do Festival de Berlin. E é claro que não se pode deixar de falar da magnífica trilha sonora, uma genial combinação de canções modernas ocidentais e tradicionais temas regionais turcos, o que acabou motivando o próprio Fatih Akin a realizar o extraordinário documentário “Atravessando a Ponte – O Som de Istambul”.

terça-feira, setembro 04, 2007

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)


Escorregando para a Glória, de Josh Gordon e Will Apeck ***1/2
Cidade dos Homens, de Paulo Morelli **1/2
Espíritos 2 – Você Nunca Está Sozinho, de Banjong Pisanthanakum e Parkpoom Wongpoom **1/2
Paranóia, de D.J.Caruso ***
Lady Vingança, de Chan Wook Park ****
Possuídos, de William Friedkin ****
Atravessando a Ponte – O Som de Istambul, de Fatih Akin ****
Um Só Pecado, de François Truffaut ****

segunda-feira, agosto 27, 2007

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)


O Ultimato Bourne, de Paul Greengrass ***1/2
Brasileirinho, de Mika Kaurismaki ***1/2
O Grito, de Michelangelo Antonioni ****
A Força do Destino, de Taylor Hackford ***
Cena Mafiosa 2, de Takashi Miike **
Tenacious D e a Palheta do Destino, de Liam Lynch ****
Team America – Detonando o Mundo, de Trey Parker ****
Contra a Parede, de Fatih Akin ****

sexta-feira, agosto 24, 2007

Pecados Íntimos, de Todd Field ***1/2


Confesso que estava com um pé atrás com esse “Pecados Íntimos”. Afinal, o diretor do filme é Todd Field, o mesmo realizador do pretensioso e insosso “Entre Paredes”. No entanto, acabei tendo uma agradável surpresa assistindo ao filme. Field evoluiu barbaridade como cineasta, além de se revelar dotado de um acurado senso de ironia. O cineasta pega uma trama que envolve questões espinhosas como pedofilia, insatisfação sexual e adultério e dá um tratamento até mesmo original, misturando momentos altamente dramáticos com outros de puro sarcasmo, lembrando bastante nesse sentido “Beleza Americana”. Field dispensa maniqueísmos e simplificações, dando uma dimensão dramática consistentes para os seus personagens. O pedófilo Ronnie (Jackie Earle Haley), por exemplo, pode despertar uma natural repulsa pelo seu comportamento em algumas seqüências do filme, mas em outros momentos é inegável que acabamos ficando sensibilizados com a relação profundamente afetuosa que o mesmo tem com a sua mãe (Phyllis Somerville). Aliás, poucas vezes no cinema uma relação entre mãe e filho foi mostrada de forma tão verdadeira e tocante como em “Pecados Íntimos”.

A abordagem humanista de Field se estende também sobre outro personagem fascinante que é Brad (Patrick Wilson). Num primeiro momento, pode-se até achar que é apenas mais um cara que não gosta muito de trabalhar e que trai a esposa dedicada. Com sutileza, entretanto, Field revela aos poucos que temos na verdade um personagem que é um verdadeiro rebelde, ainda que nem o mesmo saiba disso: procurando se enquadrar numa profissão que ele nem acredita, Brad vive tentando se adaptar num padrão rígido imposto quase que sublinarmente, pela sua esposa e pela sociedade geral. Para fugir desse padrão asfixiante, encontra uma liberdade pequena, mas valiosa, em prazeres mundanos como jogar futebol americano com policiais, assistir jovens andando de skate e em escapadas extraconjugais com a bela e frustrada Sarah (Kate Winslet).

Para retratar essas e outras pequenas comédias humanas, Field opta por um estilo clássico e limpo no filmar, o que acaba se revelando uma escolha sábia. O contraste entre essa forma aparentemente simples de elaboração da edição e fotografia e a face sombria das situações e dos personagens da trama é fascinante, dando ao um filme um caráter perturbador.

quarta-feira, agosto 22, 2007

O Dia Depois de Amanhã, de Roland Emmerich **1/2


Dentro do gênero “filmes catástrofes”, “O Dia Depois de Amanhã” é o tipo de obra que deixa uma impressão de decepção para quem assiste. Não que o filme seja exatamente ruim. Em algumas seqüências os efeitos especiais do filme são realmente impressionantes, além de contar com alguns bons atores em atuações corretas como Dennis Quaid e Jake Gyllenhaal. O problema é que a premissa inicial da trama e a produção grandiosa criaram uma expectativa de que poderíamos assistir a uma ficção científica colossal, mas no final das contas acabamos tendo um trabalho morno e burocrático por parte de Roland Emmerich, um cineasta que já fez trabalhos mais interessantes. Emmerich parece se intimidar com a grandiosidade dos eventos retratados, preferindo não extrapolar muito na imaginação, o que seria fundamental para uma obra do gênero. A gente até fica imaginando o que um Michael Bay, cineasta dado a exageros grandiosos, faria com um material desse nas mãos.

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Balconista 2, de Kevin Smith ***1/2
Sarabanda, de Ingmar Bergman ****
Os Simpsons – O Filme, de David Silverman ****
Profissionais do Crime, de Johnny To e Wai Ka Fai ****
Casamento Grego, de Joel Zwick *1/2

sexta-feira, agosto 17, 2007

Dreamgirls - Em Busca de Um Sonho, de Bill Condon ****


O cinema norte-americano tem se dedicado nos últimos anos a fazer uma espécie de inventário sobre a riquíssima cultura musical dos EUA no século XX. Filmes como “E Aí Meu Irmão, Cadê Você?”, “Ray” e “Johnny e June” oferecem um panorama fascinante do melhor que a música norte-americana nos últimos 100 anos, abarcando blues, country, rock, soul, funk e afins. “Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho” é mais uma excelente produção que vem se somar a essa tendência mais que louvável.

A trama de “Dreamgirls” é inspirada na história das Supremes, a mais famosa das girls groups dos anos 60, e da sua gravadora, a Motown. Apesar da utilização de nomes fictícios e de músicas inspiradas na época (excelentes, por sinal), o filme é tremendamente esclarecedor ao mostrar o que significou a Motown para a música moderna, tanto no lado artístico como no aspecto social e comercial. Talvez pela primeira vez na história dos EUA, negros não apenas estavam produzindo discos marcantes como também estavam gerenciando a coisa toda, e tendo um sucesso comercial fenomenal ainda por cima!! O diretor Bill Condon narra essa saga de música, sexo e dinheiro com uma sensibilidade admirável, captando com perfeição o espírito da época, incrementando o seu filme com alguns bons “causos” e fofocas de bastidores para apimentar ainda mais história, o que torna o filme ainda mais saboroso para fãs de black music.

Já os números musicais em “Dreamgirls” são um capítulo à parte. Condon dirige com maestria seqüências que realçam ainda mais a beleza das canções do filme, sem cair na armadilha de uma edição videoclipeira, além de conseguir estabelecer uma linha evolutiva das músicas, mostrando dessa forma as mudanças artísticas que marcaram a trajetória dos principais astros da Motown.

Capote, de Bennett Miller **1/2


“Capote” é o tipo de filme em que a sinopse desperta curiosidade logo de cara. Afinal, a intenção seria a de mostrar todo o processo de busca de dados e elaboração do antológico livro “À Sangue Frio”, de Truman Capote, em que o escritor narra os fatos anteriores e posteriores à chacina de uma família interiorana, crime que provocou uma grande comoção na sociedade norte-americana em 1959. O livro de Capote é um verdadeiro primor literário: numa combinação estupenda de jornalismo e linguagem literária, a prosa do livro tem uma fluência admirável pela fluência e vitalidade. Além disso, o autor deu para o caso real uma aura ambígua, evitando julgamento morais ou sensacionalismo, fazendo uma espécie de raio x do outro lado do sonho americano que na maioria das vezes a sociedade gosta de esconder.

Todas as qualidades acima descritas de “À Sangue Frio”, entretanto, estão ausentes em “Capote”, uma produção cinematográfica apenas correta e sem maiores brilhos. Bennett Miller se revela um cineasta pouco afeito a ousadias formais, preferindo apenas “contar uma história”, não conseguindo extrair do seu roteiro aquelas nuances captadas de forma tão engenhosa por Capote em “À Sangue Frio”. Somando a essa anemia criativa por parte de Miller, a interpretação de Philip Seymour Hoffman para o personagem título não colabora muito para melhorar as coisas. Aliás, toda essa babação de ovo em cima de Hoffman por esse filme é inexplicável. O ator se limita a macaquear os trejeitos afetados de Capote, não dando profundidade e interesse para o personagem. E o brabo é saber que Hoffman pode fazer muito melhor, vide interpretações antológicas que o mesmo teve em filmes como “O Talentoso Ripley” ou “Quase Famosos”.

terça-feira, agosto 14, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Esqueleto Perdido de Cadavra, de Larry Blamire ***1/2
O Primo Basílio, de Daniel Filho ½ (meia estrela)
Na Cama, de Matias Bize **
A Última Missão, de Hal Ashby ****
Amadeus, de Milos Forman ***1/2

quinta-feira, agosto 09, 2007

A Conquista da Honra, de Clint Eastwood ****


Mesmo não estando, em se tratando de Clint Eastwood, no mesmo nível das obras-primas “Os Imperdoáveis” e “Sobre Meninos e Lobos”, “A Conquista da Honra” é um dos mais impressionantes filmes de guerra dos últimos anos. Eastwood estabelece uma linha narrativa altamente sofisticada e bem tramada, em que a trama se subdivide em dois tempos distintos e se entrecruzam de forma engenhosa e clara. No tempo passado, assistimos a tomada por parte do exército norte-americano, durante a Segunda Guerra Mundial, da Ilha de Iwo Jima, mostrando a sucessão de eventos que levaram à famosa e mítica fotografia em que soldados americanos fincam a bandeira dos EUA em um monte e à derrota do exército inimigo. No tempo presente, que se passa também durante a Segunda Guerra, Eastwood mostra um grupo de militares que participaram da mencionada tomada de Iwo Jima (e que supostamente estariam na mencionada fotografia) excursionado pelos EUA e fazendo apresentações em eventos visando colher fundos para a guerra. Nessa contraposição de dois tempos, o diretor oferece uma visão humanista e nem um pouco idealizada da Segunda Guerra Mundial, mostrando como conceitos como heroísmo e patriotismo são nebulosos em tempos de conflito. Quem espera arroubos ufanistas e conflitos maniqueístas certamente vai se decepcionar com o tom amargo da narrativa de “A Conquista da Honra”.

Apesar desse foco questionador sobre a Segunda Guerra, Eastwood não se esqueceu da ação cinematográfica, fundamental para um bom filme de guerra, e a mesma surge esplendorosa na tela. As cenas das enormes embarcações de guerra se dirigindo à Iwo Jima são de encher os olhos. As seqüências de batalha na ilha impressionam pela crueza e violência, com um estilo naturalista que lembra bastante a sensacional meia hora inicial de “O Resgate do Soldado Ryan”.

Apesar de ter gostado muito de “Cartas de Iwo Jima”, confesso que apreciei bem mais desse “A Conquista da Honra”, pois nesse último Eastwood se mostra muito mais criativo e ousado na direção, mostrando por que é um dos grandes cineastas ainda em atividade.

O Vôo da Fênix, de Robert Aldrich ****


O senso comum da crítica especializada em geral costuma dividir a filmografia de Robert Aldrich em dois pólos: um mais ousado e criativo (cujo ápice seria a obra-prima “A Morte Num Beijo”), e outro mais comercial e convencional (nesse sentido, a produção mais emblemática do cineasta seria “Os Doze Condenados). Ainda sobre o prisma de tal visão, “O Vôo da Fênix”, produção de 1965, estaria enquadrada nesse segundo lado, o dito mais acessível. Confesso que acho tal divisão um pouco limitada. Afinal, “O Vôo da Fênix” é um filme de ação tremendamente inventivo, em que Aldrich aproveita como poucos um roteiro brilhante, cuja trama consiste na história dos sobreviventes de um desastre aéreo no meio de um deserto que são obrigados, para terem chances de sobreviver, a construir um novo avião a partir do que restou do outro que se espatifou. A partir dessa premissa, Aldrich constrói um filme em que suspense e aventura se entrelaçam de forma magnífica, contando ainda com um James Stewart no auge do seu carisma no papel do piloto Frank Towns. E para quem duvida ainda do frescor criativo de Aldrich nesse “O Vôo da Fênix”, é só assistir a insossa refilmagem de 2004 dessa mesma produção e conferir que a versão original em nada envelheceu.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


A Volta do Todo Poderoso, de Tom Shadyac **1/2
Duro de Matar 4.0, de Len Wiseman ***1/2
Nome de Família, de Mira Nair ***
O Espírito da Colméia, de Victor Erice ****
Green Snake, de Tsui Hark **1/2
Spartacus, de Stanley Kubrick ****

sexta-feira, agosto 03, 2007

Antônia, de Tata Amaral ***1/2



Muita gente pode não ter assistido “Antônia” por uma série de preconceitos, alguns deles até justificáveis: teve uma mini-série da Globo relacionada ao filme, o fato de ser mais uma produção de cunho social focalizando a vida dos menos privilegiados, a babação de ovo em geral da mídia, etc. Na verdade, eu mesmo estava com uma série de receios em relação à produção mais recente da cineasta Tata Amaral. Assistindo ao filme, entretanto, tive uma grata surpresa, pois “Antônia” está muito além dessas questões.

Para começar, “Antônia” não é um filme que se concentra apenas em fazer sociologia. Muito pelo contrário. A preocupação primordial de Tata Amaral é fazer cinema e dos bons. A utilização de câmera digital em algumas seqüências é brilhante, obtendo-se um visual belíssimo, principalmente nas tomadas externas noturnas: provavelmente nunca as ruas da periferia de São Paulo tiveram um registro visual tão poético e vivo como as registradas em “Antônia”. Nesses momentos, Tata Amaral nos faz lembrar o grande Michael Mann em obras primas como “Colateral” e “Miami Vice”. De Mann, a diretora também parece absorver as influências certas para a ação cinematográfica. A dinâmica em algumas cenas do filme impressiona pela fluência e concisão (a seqüência em que Bárbara dá uma surra num marginal é uma pérola), fazendo imaginar o que Tata Amaral poderia fazer com um filme de ação. Ou seja, “Antônia” é o mais perto que o cinema brasileiro já chegou de Michael Mann, e isso é uma puta evolução em tempos em que o cinema brasileiro está tão rendido à estética global de filmar.

Os números musicais em “Antônia” também são um capítulo à parte: longe da linguagem clipeira, Tata Amaral valoriza como nunca a força da música e a interação das meninas e dos demais músicos com a platéia. Mesmo em músicas mais bregas ou cafonas, a diretora consegue obter uma intensidade dramática e musical fabulosa. E ainda nessa parte musical, a seqüência em que Marcelo Dinamite (o rapper Thaíde em interpretação magnífica) canta e “explica” uma canção do velho soulman Hyldon para a sua protegida Preta (Negra Li) merece entrar numa antologia de melhores momentos do cinema nacional recente.

Em relação a sua trama, “Antônia” se mostra bem longe dos clichês e das soluções fáceis. Ao abordar a trajetória do grupo de rap feminino que dá título ao filme, Tata Amaral conta uma história contundente e sensível, mostrando que a lógica da superação e redenção nem sempre acontece de forma cor-de-rosa, ao mesmo tempo que evita cair em discursos ideológicos simplórios, valorizando a grandeza humana e contraditória dos personagens.

No mais, “Antônia” mostra que Tata Amaral evoluiu barbaridade depois do apenas correto “Um Céu de Estrelas” e do bom “Através da Janela”, credenciando-se como um dos melhores nomes do cinema nacional da atualidade, junto a Beto Brant e Fernando Meirelles.

Firewall, de Richard Loncraine *


Provavelmente, um dos caras mais satisfeitos com as atuais filmagens da quarta parte das aventuras de Indiana Jones deve ser o próprio Harrison Ford. Afinal, faz alguns bons anos que o cara não consegue participar de um filme decente. “Firewall” é o supra-sumo dessa fase tenebrosa de Ford. Essa produção de 2006 é um verdadeiro monumento à mediocridade: direção sem qualquer brilho de Richard Loncraine, um roteiro qualquer nota e atuações comatosas de Ford, Virginia Madsen e Paul Bettany. Ou seja, muito pouco para um cara que tem no currículo filmes como “Blade Runner” e “O Fugitivo” e encarnou dois dos personagens mais marcantes da história do cinema, os insuperáveis Han Solo e Indiana Jones.

terça-feira, julho 31, 2007

Filmes da Semana (Cotação de 0 a 4 estrelas)


Shrek Terceiro, de Chris Miller **1/2
Harry Potter e a Ordem da Fênix, de David Yates **1/2
Saneamento Básico – O Filme, de Jorge Furtado **
A Hora Mágica, de Guilherme de Almeida Prado ****
Week End, de Jean-Luc Godard ****
O Apocalipse de Um Cineasta, de Fax Bahr, George Hickenlooper e Eleanor Coppola ****
As Aventuras de Azur e Asmar, de Michel Ocelot **1/2
Época de Garoto, de Masahiro Shinoda ****
Eleição – O Submundo do Poder, de Johnnie To ****

A Rainha, de Stephen Frears **1/2


Confesso que não entendi até agora todas essas loas que a crítica fez para “A Rainha”. Basicamente, acho que é um filme que carece de paixão e ousadia. Stephen Frears parece permanecer constantemente encima do muro sobre a sua temática potencialmente explosiva (as conseqüências da morte da princesa Diana sobre a família real e o povo britânico). Tal imparcialidade mais parece uma intenção de não querer desagradar opiniões ou criar maiores polêmicas. Frears dá algumas pequenas alfinetadas na Família Real, mas não se aprofunda em coisas que realmente poderiam interessar como o motivo da população venerar uma pessoa tão vazia como Diana (e que resvalaria na questão ao culto de celebridades inúteis), de qual seria o real significado da simbologia da monarquia ou sobre o papel do governo nessa história toda. No geral, Frears se contenta em ficar na superfície, concentrando-se em aspectos menores de uma situação repleta de outras circunstâncias bem mais interessantes.

No mais, mesmo a tão incensada atuação de Helen Mirren no papel-título nem é tudo isso o que se fala (até fiquei com saudades dela em “Calígula”...). Para falar a verdade, gostei bem mais da atuação de James Cromwell como o apatetado e arrogante Príncipe Phillip. De se destacar ainda alguns belos momentos da fotografia, principalmente nas seqüências no interior britânico. Mas a verdade é que isso tudo é muito pouco para um diretor como Frears, cineasta que já fez obras magníficas como “Os Imorais”, “A Grande Família” e “Sammy e Rose”. Depois do insípido “Sra. Henderson Apresenta” e desse apagado “A Rainha”, dá até para começar a temer pelo potencial criativo de Frears...

Confidence - O Golpe Perfeito, de James Foley ***


“Confidence” não se difere muito de outros filmes no estilo golpes ou assaltos perfeitos. O diretor James Foley não tem a classe de David Mamet, dos engenhosos “A Trapaça” e “O Assalto”, e nem a genialidade virtuose de Spike Lee no primoroso “O Plano Perfeito”. Mesmo assim, “Confidence” não é uma produção de se jogar fora. Mesmo que as reviravoltas do roteiro não sejam tão imprevisíveis assim, Foley conseguiu obter para o seu filme alguns belos momentos de tensão. Além disso, o elenco, no geral, tem atuações bastantes cool e adequadas para o filme, principalmente por parte de Dustin Hoffman, Edward Burns, Rachel Weisz e Andy Garcia.

quarta-feira, julho 25, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)



Transformers, de Michael Bay ****
Vizinhos, Vizinhas, de Malik Chibane **1/2
O Hospedeiro, de Joon-Ho Bong ****
O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, de Tim Story **1/2
Os Mestres Loucos, de Jean Rouch ****
Mosso Mosso, de Jean Rouch **1/2
A Caça ao Leão, de Jean Rouch ****
Maria, Abel Ferrara ***1/2
A Adolescente, de Luis Buñuel ****
Assim Estava Escrito, de Vincente Minnelli ****
Nausicaa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki ***1/2
Calígula, de Tinto Brass ***1/2

segunda-feira, julho 16, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


Invasão de Domicílio, de Anthony Minghella **1/2
Baixio das Bestas, de Cláudio Assis **1/2
Marcas da Vida, de Andrea Arnold **1/2
A Conversação, de Francis Ford Coppola ****
Rock’n’Roll High School, de Allan Arkush ***1/2
Minha Vida no Ar, de Rémi Bezançon ***1/2
Crônica de um Verão, de Jean Rouch e Edgar Morin ****
Sexta-Feira Louca, de Mark S. Waters **O Espírito da Colméia, de Victor Erice ****

quinta-feira, julho 12, 2007

Noivas, de Pantelis Voulgaris **


Há situações em que simplesmente não há muito o que falar sobre um filme. A produção grega “Noivas” é um desses casos. A sua trama inicialmente pode até despertar algum interesse ocasional: em 1922, um navio vindo da Grécia traz centenas mulheres rumo aos Estados Unidos destinadas a se casarem com imigrantes que já vivem por lá, sendo que uma delas acaba se apaixonando, e é correspondida, por um norte-americano casado que se encontra na embarcação. O problema do filme é que tudo nele é tão mecânico e sem inspiração que em nenhum momento podemos sentir um pouco de vida nele. O diretor Pantelis Voulgaris aposta em velhas fórmulas óbvias na linha “paixões proibidas” e torna “Noivas” igual a tantas outras produções no gênero. É claro que o filme é até bem produzido, mas no final ele acaba se destinando mais para aquelas senhoras aposentadas e simpáticas que freqüentam o cinema Guion à tarde do que para alguém que esteja interessado em assistir algo realmente interessante nos cinemas.

800 Balas, de Álex de la Iglesia ****


Poucos caras teriam o peito de fazer uma homenagem sincera e emocionada ao spaghetti western, gênero que geralmente costuma ser estupidamente menosprezado como menor (como se Sergio Leone, um dos maiores virtuoses da história do cinema e que se projetou nos espaguetes, pudesse ser considerado um diretor mediano...). Pois o genial cineasta espanhol Álex de la Iglesia não só realizou essa proeza como acrescentou uma boa dose de bom humor e ironia no magnífico “800 Balas”. Ao contar a história de um grupo de atores que vivem de recriar seqüências de velhos faroestes para turistas numa cidadezinha quase fantasma da Almeria e que entram em conflito contra um conglomerado financeiro que quer lhes tomar a tal cidadezinha, Iglesia faz uma combinação explosiva de comédia e aventura, na melhor tradição de filmes antológicos como “Três Homens em Conflito” e “Meu Nome é Ninguém”. Ao mesmo tempo que recicla com maestria alguns dos mais básicos clichês do gênero espaguete, indo do caracterização suarenta dos personagens, passando por duelos entre pistoleiros e chegando até à fotografia em tons quentes da região árida e ensolarada da Almeira, Iglesia consegue dar um marcante toque pessoal para “800 Balas”, principalmente na presença do seu típico humor negro que permeia todo o filme. Nesse sentido, o auge ocorre durante uma festa na cidadezinha entre os atores, no melhor estilo bandoleiro, que acaba culminando com o garoto Carlos (Luis Castro) brincando com uma bela prostituta. Nas seqüências em que os cowboys, sitiados na cidade, enfrentam a polícia, Iglesias também mostra um faro apurado para empolgantes cenas de ação. Por fim, chega a ser comovente a “presença” de Clint Eastwood, ou pelo menos alguém muito parecido com ele, caracterizado no melhor estilo “estranho sem nome”, na seqüência final de “800 Balas”, coroando com louros essa verdadeira declaração de amor ao verdadeiro cinema.

Para velhos fãs de faroestes espaguete, assistir “800 Balas” faz relembrar vários clássicos inesquecíveis do gênero e dá até um nó na garganta. Para os neófitos, é um ótimo cartão de visitas para começar a conhecer uma das mais criativas faces do cinema. No mais, Alex de la Iglesias mostra porque, ao lado de Júlio Medem, é um dos melhores cineastas espanhóis em atividade.

quarta-feira, julho 11, 2007

Ventos da Liberdade, de Ken Loach ****


Ken Loach está mesmo em grande forma. Depois do desconcertante “Apenas Um Beijo”, o cara volta ainda mais inspirado com esse “Ventos da Liberdade”, obra que retrata os anos iniciais da formação do IRA, a organização política que luta pela independência política da Irlanda. É impressionante a naturalidade com que Loach consegue combinar no mesmo filme política, dramas pessoais e ação, obtendo um resultado dramático impressionante. E aquela velha prática de enquadrá-lo apenas no gênero cinema político, como se ele fosse um diretor apenas preocupado com a temática dos seus filmes, fica cada vez mais esvaziada quando se vê o impressionante domínio formal cinematográfico de Loach em “Ventos da Liberdade”. Poucas vezes os campos irlandeses foram tão belos, verdejantes e luminosos como nas imagens registradas no filme, o que acaba tendo um efeito até mesmo perturbador para o espectador no momento que se contrasta a placidez das paisagens com a trama sombria do filme. O diretor mostra também um admirável conhecimento de causa na elaboração de seqüências de ação: as cenas de conflito armado são antológicas pela tensão, violência e dinâmica com que são retratadas.

A injusta pecha de “diretor panfletário” que se costuma atribuir a Loach também se mostra equivocada ao se assistir a “Ventos da Liberdade”. O diretor não facilita a vida do espectador com simplificações ou maniqueísmos ao retratar a complicada questão política que é tema do filme. Para começar, muito do que é mostrado é visto sob uma ótima mais intimista, focando muito mais os relacionamentos humanos, principalmente entre os irmãos Damien (Cillian Murphy, em mais um desempenho extraordinário) e Teddy O’Donovan (Padraic Delaney), líderes do IRA, o que aumenta ainda mais o impacto do filme. Loach também evita transformar o seu filme em apenas mais uma narrativa de mocinhos e bandidos. Todas as complexidades e contradições inerentes ao conflito do IRA com os ingleses vem à tona, principalmente na segunda metade do filme quando há um racha entre os irlandeses que acaba culminando numa verdadeira guerra fratricida. Loach deixa claro que numa guerra, por mais justos que aparentemente possam ser os seus motivos, há escolhas e decisões que são irrevogáveis e que marcam os indivíduos para sempre. Isso fica evidente em duas tristes e belíssimas seqüências de “Ventos da Liberdade”: a primeira quando Damien é forçado a matar um velho amigo de infância e a outra no diálogo final entre os irmãos O’Donovan.