quinta-feira, dezembro 28, 2006

Noites Brancas, de Luchino Visconti ****

Quando se pensa na filmografia do diretor italiano Luchino Visconti geralmente o que nos vem à mente são dois momentos bem distintos em sua carreira: os primeiros filmes bastante influenciados pela estética neo-realista e fortemente melodramáticos (“A Terra Treme” e “Rocco e Seus Irmãos”) e os últimos trabalhos com uma acentuada vocação operística e marcados pela estética da decadência (“Ludwig” e “Morte em Veneza”). Curiosamente, “Noites Brancas” é uma obra que não se enquadra em nenhuma dessas linhas, mas mesmo assim traz a indelével marca pessoal e estilística desse brilhante cineasta.

Baseado em um conto de Dostoyevsky, “Noites Brancas” é uma bela e amarga história de amor, tendo como mote o conflito de Mario (Marcello Mastroianni) em abrir mão da mulher que ama (Maria Schell) em nome da felicidade da mesma. Visconti mostra toda a sua maestria ao orquestrar com o seu habitual requinte o pano de fundo e o clima adequados para a sua trama. O diretor faz da cidadezinha onde se desenrola o seu roteiro praticamente um personagem do filme. A brancura de neve das suas ruas e a sua estrutura quase labiríntica parecem um reflexo da melancolia que permeia a trama, sendo que a fantástica fotografia colabora com sensibilidade para essa relação.

Chama atenção ainda em “Noites Brancas” a interpretação de Marcello Mastroianni, numa caracterização bem diversa do tipo sedutor que normalmente ele costumava interpretar. O seu Mario está muito mais para um registro romântico e ingênuo, o que acaba resultando em uma das atuações mais memoráveis de Mastroianni e que dá o complemento ideal para o espírito do filme.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

O Cerro do Jarau, de Beto de Souza (zero)

O biênio 2005-2006 foi impressionante para o cinema brasileiro na quantidade de filmes que oscilaram entre a mediocridade e a ruindade mesmo. Nesse panorama nada abonador, “O Cerro do Jarau” talvez seja o ponto mais baixo atingido (pelo menos de tudo que eu vi no referido período). A tentativa de conciliar uma lenda gaúcha com uma trama contemporânea podia até ter parecido interessante num projeto de roteiro, mas o resultado em si é pífio e sem vida. Não há fluência narrativa e nem mesmo uma linguagem cinematográfica de maior elaboração. A câmera simplesmente está ali registrando, da forma mais sem graça e burocrática possível. Outro “destaque” é o trabalho do elenco que em vários momentos resvala no simplesmente constrangedor. Tarcísio Filho passa boa parte do filme com um ar de canastrão que não sabe exatamente o que está fazendo ali, chegando ao máximo do ridículo quando começa a dançar punk rock em um show. O restante dos atores logram “interpretações” do mesmo naipe, com a exceção do apenas correto Miguel Ramos.

Uma coisa que me irrita geralmente em críticas ou conversas sobre cinema é o uso indevido e indiscriminado da expressão “trash”, aplicando-se o mesmo de forma equivocada, por exemplo, para qualquer filme de terror com uma queda para o irônico. Considero que “trash” é essencialmente qualquer filme mal-feito, incompetente mesmo, independente do gênero ao qual pertença. Nessa lógica, considero “O Cerro do Jarau” um perfeito exemplo dessa corrente cinematográfica. E se levarmos para esse lado, podemos até apreciar o filme pelo ridículo de algumas seqüências, que chegam até a ser engraçadas. O momento da trama, por exemplo, em que o Padre Martim, em uma mesma noite, é torturado, transa com sua prima Rebeca e depois se envolve em uma perseguição automobilística é um primor da cretinice. Pena que tenha faltado maior traquejo no filmar tais seqüências: poderíamos até ter alguns momentos antológicos... Hilária ainda é a apresentação de Toco: o cara sai de forma meio desajeitada detrás de uma pedra e a narração em off fala algo do tipo “Toco, o maior especialista da lenda da Salamanca do Jarau”. Putz, é quase digno de um Ed Wood!!

A impressão geral que tenho sobre “O Cerro do Jarau” é que nem o pessoal da produção do filme esperava receber uma grana para que o mesmo saísse do papel. Quando eles viram que alguém foi “corajoso” o suficiente para investir grana, ficaram desesperados e pensaram: “Putz, vamos ter de fazer o filme!!”. E daí fizeram de qualquer jeito mesmo. E mais engraçado ainda é que depois de meses o filme voltou a cartaz, estando dentro de um projeto de cinema para as escolas. Será que esse pessoal não percebe que podem fazer com que pobres criancinhas e adolescentes nunca mais tenham coragem de ver um filme depois de passar por uma experiência traumática como essa??

terça-feira, dezembro 26, 2006

A Casa dos 1000 Corpos, de Rob Zombie ***1/2

Esta produção norte-americana de 2002 é a obra de estréia como cineasta do cantor Rob Zombie. Para quem conhece os seus discos solos e dos tempos do White Zombie, “A Casa dos 1000 Corpos”, em um primeiro momento, parece uma continuação natural do lado musical da carreira de Zombie: uma série de referências apaixonadas da cultura B dos EUA. Em um olhar mais atento, entretanto, revela-se alguns detalhes que ajudam a diferenciar Zombie de outros diretores estreantes recentes e ajudam a compreender porque seu filme seu filme seguinte, o monumental “Rejeitados Pelo Diabo”, é uma puta obra-prima.

O maior barato de “A Casa dos 1000 Corpos” é a ótima revitalização que faz do melhor do cinema underground de horror dos anos 70, principalmente da filmografia de Wes Craven desse período e da clássica primeira versão de “O Massacre da Serra Elétrica”. A narrativa seca e angustiante, a fotografia de tons áridos, a direção de arte de uma brilhante feiúra estilizada e a ótima caracterização dos personagens (principalmente da carismática família de psicopatas) compõem uma obra visceral e sem receios de se mostrar devidamente escrota. Todas essas boas qualidades foram posteriormente retomadas e elevadas a enésima potência em “Rejeitados Pelo Diabo”, e sem aquelas seqüências de edição estilo video-clip que em alguns poucos momentos diminuem o brilho desse excelente “A Casa dos 1000 Corpos”.
Cotações da Semana (de 0 a 4 estrelas)

007 – Cassino Royale, de Martin Campbell ****
Eragon, de Stefen Fangmeier *
Happy Feet, de Judy Morris, Warren Coleman e George Miller ***1/2
Foi Deus Quem Mandou, de Larry Cohen ****
Soldado de Laranja, de Paul Verhoeven ****
Renaissance, de Christian Volckman **
Consciências Mortas, de William Wellman ****

sexta-feira, dezembro 22, 2006

O Fim e o Princípio, de Eduardo Coutinho ***1/2

Um dos maiores lugares comuns que se tem dito atualmente entre críticos e público em geral é que a produção de documentários no Brasil está em alta e que os mesmos têm tido uma média de qualidade muito mais elevada que os longas de ficção. Considero tal afirmação discutível. Boa parte dos filmes desse gênero que assisti nos últimos anos carece de maiores ousadias. Com algumas raras e boas exceções, os mesmos parecem obedecer a uma fórmula bem estabelecida: câmera sem maiores movimentos, na maioria com um enquadramento direto em alguma pessoa falando, e temática com algum fundo social relevante. E é isso que acho mais irritante: é como se o fato de discutir alguma mazela da nossa sociedade já desse para o filme legitimidade artística. Diante de um quadro como esse, é extremamente salutar assistir a uma obra como “O Fim e o Princípio”, de Eduardo Coutinho, o melhor cineasta documentarista brasileiro em atividade.

Mesmo não atingindo a perfeição de obras-primas anteriores de Coutinho como “Cabra Marcado Para Morrer” e “Edifício Máster”, essa produção de 2005 têm grandes momentos, mostrando que um documentário não é apenas um simples registro da “realidade”. O cineasta tem um senso estético apurado no filmar. Mesmo quando sua lente só foca uma pessoa falando, ele consegue obter enquadramentos que criam um clima adequado para os seus “personagens”, fazendo do próprio ambiente uma entidade que interage com o que está sendo dito. Isso fica evidente ainda mais quando Coutinho entrevista pessoas que mal conseguem articular alguma frase coerente: a maneira como a câmera enquadra tais indivíduos, aproveitando de forma magnífica a iluminação natural do sertão nordestino, torna o mutismo dos mesmos fortemente eloqüentes. E aí é que está talvez o grande mérito de Eduardo Coutinho: pegar um tema aparentemente árido em idéias (afinal, o que se ainda poderia falar sobre o tão decantado sertão nordestino e a pobreza de seus habitantes?) e dar um enfoque renovado e até mesmo bem-humorado, oferecendo a um grupo de pessoas que vivem praticamente no meio do nada uma dignidade quase épica.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Os Eternos Desconhecidos, de Mario Monicelli ****

Essa produção de 1958 é um dos grandes pontos altos tanto da carreira de Mario Monicelli como do próprio cinema italiano. O que acho de mais fascinante no filme é a forma simplesmente mágica que Monicelli consegue combinar uma comédia de tom quase anedótico com tintas neo-realistas. Os principais personagens de “Os Eternos Desconhecidos” são pessoas pobres e simples, sendo que os seus problemas diários são mostrados numa forma quase crua. O genial é que apesar disso a mão do cineasta nunca pesa. A narrativa mantém sempre um tom leve e bem-humorado, mesmo que não percamos durante todo o filme a noção da realidade dura das pessoas. O próprio crime a ser praticado pelos personagens é retratado de forma tão carinhosa e patética que dificilmente conseguimos levar a sério o grau de periculosidade dos mesmos. E é claro que vale destacar as brilhantes e hilárias atuações de Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni.

“Os Eternos Desconhecidos” é de um tempo em que o cinema italiano não confundia sentimentalismo com a manipulação emocional excessiva típica dos filmes recentes de Giuseppe Tornatore e assemelhados, além de ter ajudado a forjar uma linguagem própria da cinematografia de seu país.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Caché, de Michael Haneke ****

“Caché” é uma das experiências cinematográficas mais radicais exibidas nas telas nesse ano. O diretor Michael Haneke, autor de outras obras ousadas como “Funny Games” e “Professora de Piano”, utiliza-se bastante do recurso de uma câmera fixa, que aparentemente parece estar filmando atos e fatos meramente cotidianos, num registro fortemente naturalista, mas a medida que o tempo vai passando tais enquadramentos vão se tornando cada vez mais reveladores. Haneke não está nem um pouco disposto a facilitar a vida do expectador, sendo que “Cachê” exige do mesmo uma absorção plena para que entenda a visão sombria do cineasta sobre as relações humanas.

A trama de “Cachê” é simples como premissa inicial: uma família começa a receber vídeos que mostram que a mesma está sendo vigiada. Essa simplicidade, entretanto, é ilusória. O que Haneke faz é simplesmente desconstruir o gênero suspense. Tanto que logo descobrimos quem está fazendo essa vigília ameaçadora. O que acaba interessando ao cineasta é aos poucos revelar os motivos que levaram o “vilão” a tomar a sua estranha atitude. Quanto mais a trama do filme avança nessa direção de explicitar as causas, mais perturbador “Caché” se torna, mergulhando numa amarga demonstração da indiferença e crueldade humana na figura de Georges (Daniel Auteill, num brilhante trabalho dramático repleto de sutilezas), o pai da família e aparente “vítima” da situação. Haneke, contudo, não cai em maniqueísmo no sentido de caracterizar heróis e vilões para o seu filme. Os seus personagens são muito mais aprofundados ao se mostrarem como indivíduos capazes de ações extremas devido a sentimentos como egoísmo, inveja e ressentimentos diversos. O resultado desse rigoroso trabalho do cineasta é uma obra que gera um tremendo desconforto para quem assiste, mas que ao mesmo tem uma força inegável em prender o expectador.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Os Eleitos, de Philip Kaufman ****

O motivo principal que leva “Os Eleitos” a ser um magnífico filme é o fato de que o diretor Philip Kaufman conseguiu captar com precisão o espírito do livro original de Tom Wolfe e traduziu todo esse rico material literário num conjunto de cenas e seqüências inesquecíveis.

“Os Eleitos” tem como tema o início da corrida espacial norte-americana, indo das primeiras reuniões entre os políticos em Washington até chegar às primeiras missões de sucesso. O enfoque utilizado por Kaufman é fascinante: ao mesmo tempo que se tem uma visão ácida e irônica sobre o “american way of life” e as politicagens inerentes ao assunto, tem-se também uma abordagem apaixonada e admiradora dos primeiros homens a se aventurar no espaço. A forma com que a coragem e a sagacidade dos astronautas é mostrada remete diretamente os mesmos à figura dos velhos cowboys. Nesse sentido, em vários momentos de “Os Eleitos” temos a impressão de estar assistindo a um clássico faroeste reatualizado nas nuvens ou em pleno espaço.

Apesar de “Os Eleitos” justamente mostrar todo o trabalho de preparação dos astronautas e as suas primeiras aventuras nos espaço, o personagem mais forte e simbólico das intenções dos filme seja Chuck Yeager (Sam Shepard), um piloto de testes carrancudo e obcecado em atingir as maiores velocidades possíveis em seus vôos. Yeager representa o ideal de herói no nosso imaginário: pouco ligando para a posteridade, seu desejo é romper todos os limites imagináveis só para saciar a curiosidade de ver no que vai dar. E é justamente a sua rebeldia e ousadia que impedem que seja escolhido entre os pilotos selecionados para o programa espacial. Mas é aí que reside mais um dos aspectos geniais do filme: os aparentemente fáceis de controlar astronautas ao longo do seu treinamento e primeiras missões mostram trazer dentro de si a chama da bravura indômita de Yeager e provam ao mundo não serem apenas cobaias dos cientistas nas viagens espaciais. Poucas vezes o heroísmo foi retratado de forma tão sublime nas telas.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Cotações da Semana (de 0 a 4 estrelas)

Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón ****
Caminho Para Guantanamo, de Michael Winterbottom ***1/2
O Céu de Suely, de Karim Aïnouz ***1/2
Warriors – Os Selvagens da Noite, de Walter Hill ****
Aguirre, A Cólera dos Deuses, de Werner Herzog ****
Lutador de Rua, de Walter Hill ****
Apache, de Robert Aldrich ***1/2

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Cotações da Semana (de 0 a 4 estrelas)

Amarás a Deus Sobre Todas as Coisas, de Krzysztof Kieslowski ***1/2
Não Tomarás Seu Santo Nome em Vão, de Krzysztof Kieslowski ***1/2
Guardarás Domingos e Festas, de Krzysztof Kieslowski ***
Honrarás Pai e Mãe, de Krzysztof Kieslowski ****
Não Matarás, de Krzysztof Kieslowski ****
Não Amarás, de Krzysztof Kieslowski ****
Não Furtarás, de Krzysztof Kieslowski ***1/2
Não Levantarás Falso Testemunho, de Krzysztof Kieslowski ***
Quadrophenia, deFranc Roddam ****
Não Desejarás A Mulher do Próximo, de Krzysztof Kieslowski ***1/2
Não Cobiçarás As Coisas Alheias, de Krzysztof Kieslowski ****
O Ilusionista, de Neil Burger **1/2
Parceiros da Morte, de Sam Peckinpah ****
Montenegro, de Dudan Makavejev ****
Tropas Estelares, de Paul Verhoeven ****

quarta-feira, dezembro 06, 2006

O Veneno da Madrugada, de Ruy Guerra ***

A produção mais recente do veterano cineasta Ruy Guerra é uma versão para a tela grande de um romance de Gabriel Garcia Márquez. E como acontece em algumas adaptações semelhantes, acaba caindo em algumas armadilhas, principalmente pelos diálogos empostados e pela caracterização excessivamente teatral de alguns personagens. Apesar disso, “O Veneno da Madrugada” traz um frescor e uma inventividade que são artigos raros no atual panorama do cinema brasileiro, fazendo com que o filme se destaque nessa recente safra nacional. Um dos grandes pontos altos do filme é a magnífica fotografia de Walter Carvalho: a sua câmera percorre a pequena cidadezinha onde se passa a trama com uma desenvoltura admirável, obtendo ângulos de forte impacto visual e que acentuam ainda mais o clima opressivo imposto pela narrativa de Guerra. Os enquadramentos de Carvalho conseguem aproveitar com habilidade detalhes como a arquitetura decadente do cenário e a chuva incessante que paira durante praticamente todo o filme. Fascinante também é a forma com que Guerra abandona em alguns momentos a linearidade da narrativa e faz com que a mesma retroceda no tempo apresentando diferentes pontos de vista ou até mesmo soluções diferentes para o roteiro.

Por mais irregular que possa ser, “O Veneno da Madrugada” é uma obra instigante como poucas dentro do cinema nacional. Dentro de uma conjuntura em que os filmes brasileiros parecem procurar cada vez mais um padrão estético pasteurizado e próximo à televisão, é extremamente salutar que haja alguém como Ruy Guerra disposto a levar a linguagem cinematográfica a rumos mais interessantes e originais.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Godspell, de David Greene e John Michael Tebelak****

A história do cinema é repleta de adaptações para as telas da trajetória de Jesus Cristo. Poucas, entretanto, conseguiram realmente se destacar. Isso ocorreu geralmente pelo fato da maioria delas caírem para uma visão mais conservadora e convencional e também por não apresentarem maiores ousadias formais. As brilhantes exceções dentro desse panorama se dão justamente pela procura de uma abordagem menos óbvia da temática, ao mesmo tempo em que há uma procura em se desenvolver uma linguagem cinematográfica mais apurada. Nessa linha, vale mencionar os magníficos “O Evangelho Segundo João Mateus”, onde o provocador cineasta italiano Pasolini mostra Cristo como um revolucionário e utiliza um estilo naturalista de filmar, e “A Última Tentação de Cristo”, obra em que Scorsese destilou sua particularíssima noção de religiosidade e de concepção cinematográfica. E é claro que nessa galeria de obras singulares não poderíamos esquecer “Godspell”.

Originalmente, “Godspell” era um musical de sucesso da Broadway, em que passagens do Novo Testamento foram formatadas em coreografias e canções belíssimas, além do fato de enquadrar parte da história de Cristo em plena Nova Iorque contemporânea. O grande mérito dos diretores David Greene e John Michael Telebak foi pegar esse material de forte conteúdo teatral e conseguir transformar o mesmo em um filme que tem uma fluência impressionante. Conseguiu-se preservar com fidelidade o espírito da obra, que é o de fazer a conexão da figura de Cristo com o espírito libertário típico dos anos 60 e 70, ao mesmo tempo que se ofereceu ao musical uma dinâmica cinematográfica fantástica. Dessa forma, “Godspell” nunca resvala para o teatro filmado.

Impressiona ainda o fato do filme ter uma diversidade incrível nos números musicais, em que cada um dos mesmos tem uma variação admirável tanto nos estilo musical das canções como na própria forma em que são filmadas. Os cineastas têm o feeling certo para saber alternar seqüências de um tremendo bom humor para outras de alta carga dramática. O resultado disso é um filme de forte empatia com a platéia repleto de cenas marcantes e canções inesquecíveis, e que também consegue oferecer uma visão renovada e atemporal para um tema que geralmente cai no lugar comum.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

Um Bom Ano, de Ridley Scott ***
A Fonte da Vida, de Darren Aronofsky ***1/2
Amigas Com Dinheiro, de Nicole Holofcener ***
Tudo Bem, de Arnaldo Jabor **1/2
Os Infiltrados, de Martin Scorsese ****
O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro ***1/2
007 Um Novo Dia Para Morrer, de Lee Tamahori ****
O Demônio da Noite, de Alfred L. Werker ****

quinta-feira, novembro 30, 2006

Match Point, de Woody Allen ****

O fato da trama de “Match Point” se ambientar em Londres pode fazer supor que algo tenha mudado no mundo de Woody Allen. Pura ilusão. Um dos grandes baratos desse genial cineasta é justamente não mudar. O que Allen sempre fez e sempre vai fazer é retrabalhar os seus assuntos favoritos e recriar brilhantemente suas fórmulas. Talvez ele seja o exemplo perfeito da máxima de Nelson Rodrigues: o homem é a soma de suas obsessões.

Nessa produção de 2005, o diretor traz a tona novamente a questão da culpa e expiação, temática essa que com a qual ele já havia trabalhado de forma inesquecível no impecável “Crimes e Pecados”. Isso não quer dizer, entretanto, que ele apenas troque os personagens para fazer o mesmo filme. Muito pelo contrário. Em “Match Point”, Allen vai ainda mais longe, chegando ao ponto de fazer uma homenagem às avessas ao clássico da literatura “Crime e Castigo”, de Dostoiewiski. Na verdade, o que vemos é uma tiração de sarro com o livro: na visão desiludida e cruel do diretor, em um mundo impiedoso e cínico como o que vivemos, já não há mais espaço para sentimentos típicos de uma visão romântica como culpa ou desejo de redenção.

Um dos traços mais típicos da obra de Woody Allen é o fato de que nos seus filmes os limites entre a comédia e o drama são tremendamente difusos, o que faz com que quem assiste aos mesmos fique desconcertado ao não saber precisar onde termina o drama e começa o riso. O próprio diretor brincou com essa sua característica particular em uma das suas produções mais recentes, “Melinda e Melinda”. Em “Match Point”, essa dualidade entre o cômico e o dramático é novamente retomada com maestria. Há seqüências que impressionam pela densidade dramática e pela tensão gerada pela expectativa em se saber como o protagonista Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers) vai se safar de uma teia de problemas que vai ficando cada vez mais intrincada, ao mesmo tempo em se têm momentos marcados por uma sutil ironia em relação ao ridículo das situações expostas.

É de se destacar ainda as intensas atuações que Allen consegue extrair do seu elenco, principalmente do casal de personagens principais. Jonathan Rhys-Meyers oferece uma interpretação cheia de sutilezas e nuances, conseguindo uma incrível empatia para o seu Chris Wilton: mesmo com ele sendo um puta de um canalha, chegamos até a ter pena do cara e torcemos para o nosso anti-herói saia das enrascadas em que se meteu. Em relação a Scarlett Johansson o resultado não é menos impressionante: Nola Rice, personagem da atriz no filme, vai sofrendo durante a trama uma transformação notável, começando como uma doce e dissimulada garota de beleza quase etérea até chegar a uma verdadeira megera enfurecida.

Por tudo isso, “Match Point” é uma obra-prima que pode figurar tranqüilamente nos pontos altos da respeitável cinematografia de Woody Allen, um dos diretores de visão e estilo mais singulares da história do cinema.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Elsa e Fred - Um Amor de Paixão, de Marcos Carnevale *

Um dia desses me perguntaram por que eu considero “Elsa e Fred” um filme medíocre e o que seria medíocre na minha concepção. É simples. O que considero medíocre em tal filme não tem a ver com roteiro ou produção, até porque geralmente não é isso que determina que um filme seja medíocre ou não. Há filmes com roteiros cretinos, mas que são magníficos, como "Com a Bola Toda" ou "Debi e Lóide", assim como existem outros de produção precária, mas que são altamente criativos e bem feitos como "El Mariachi" e o primeiro "Mad Max". "Elsa e Fred" é até bem produzido, mas não passa disso. Não há um pingo de tesão no filme. Tudo é tão mecânico que parece que em nenhum momento o mesmo respira. Eu considero que a temática do amor na terceira idade é realmente bem interessante, mas o jeito que o diretor Marcos Carnevale trata é da forma mais trouxa possível. Transforma o casal de idosos em um par de velhinhos bonitinhos, engraçadinhos e fofinhos, ou seja, parecem figuras pouco humanas e muito caricatas. A verdade é que é um filme onde tudo é bem digerido, para agradar o público mesmo. Não há espontaneidade, não há preocupação em fazer cinema. Há apenas a preocupação em ser edificante e dar uma lição de vida simplória. E a pretensa homenagem que se faz a "Doce Vida", do Fellini, é patética, pois não tem nada a ver com o espírito original de tal obra-prima. A impressão que se tem é que Carnevale nunca viu esse clássico da história do cinema.

terça-feira, novembro 28, 2006


Adorável Mr. Holand, de Stephen Herek **1/2

“Adorável Mr. Holand” é aquele tipo de filme agradável que a gente assiste na boa, mas que no final se tem a frustrante sensação que faltou algo. Talvez isso venha do fato de que durante a sua metragem não há maiores ousadias ou arroubos criativos por parte do diretor Stephen Herek. O cineasta se preocupou mais em contar de forma linear a trajetória do personagem título (interpretado de forma competente por Richard Dreyfuss), um professor de música que durante 30 anos trabalhou em uma escola pública, mostrando a sua participação decisiva na formação cultural e moral de uma série de jovens. Só esse breve resumo já dá uma boa idéia do que é o filme: uma obra edificante e repleta de lições de vida. Dentro dessa linha, pode-se até dizer que “Adorável Mr. Holand” é bem sucedido. Falta, entretanto, aquele brilho que faria o filme trilhar caminhos menos óbvios e enfadonhos. Isso fica evidente na forma tremendamente acadêmica e superficial que o filme retrata o período histórico de 1965 a 1995 e até mesmo os gêneros musicais típicos desses anos, não se conseguindo resgatar devidamente o espírito tanto da época quanto da música. Nesse sentido, vale assistir uma obra-prima como “Velvet Goldmine”, por exemplo, que traduz com perfeição o que foi toda uma geração justamente por não se prender em visões reducionistas e simplórias.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

Dias de Abandono, de Roberto Faenza **1/2
Deu A Louca na Chapeuzinho, de Cory Edwards ***1/2
A Última Noite, de Robert Altman ***1/2
100 Escovadas Antes de Dormir, de Luca Guadagnino **1/2
Deu Pra Ti Anos 70, de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti *1/2
Inverno, de Carlos Gerbase **1/2
Aqueles Dois, de Sérgio Amon ***1/2
O Diabo Riu Por Último, de John Huston ***
Matei Jesse James, de Samuel Fuller ***1/2
Rififi, de Jules Dassin ****

quinta-feira, novembro 23, 2006


O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee ****

O que mais se ouviu falar sobre “O Segredo de Brokeback Mountain” é que o mesmo se trata de um “faroeste gay”. Tal definição certamente é reducionista, mas traz a tona alguns aspectos interessantes.

Para começar, essa produção norte-americana de 2005 dirigida pelo cineasta chinês Ang Lee realmente pode ser enquadrada, pelo menos em parte, no gênero western, mesmo que temporão. O tom de sua narrativa é mais intimista, fazendo lembrar, nessa linha, obras como “Quando os Homens São Homens”, de Robert Altman, e “Mais Forte Que a Vingaça”, de Sidney Pollack. Como em tais filmes, Lee optou por uma visão mais naturalista e humana do mito do cowboy. Outro ponto de coincidências com esses filmes citados é a forma com que a natureza é registrada. Ao mesmo tempo que é realçada a beleza das paisagens, há um forte teor naturalista, em que o ambiente é visto de forma crua e selvagem. Vemos a natureza de uma forma majestosa e ao mesmo tempo assustadora. Esse paradoxo parece ser uma metáfora para a própria relação apaixonada e tempestuosa dos vaqueiros Ennie (Heath Ledger) e Jake (Jake Gyllenhaal).

Dizer que “O Segredo de Brokeback Mountain” tem como tema simplesmente um romance gay seria apenas enxergar a ponta do iceberg. É claro que o fato de uma relação homossexual ocorrer no meio do rústico e preconceituoso interior norte-americano faz surgir uma série de conflitos e dilemas para os personagens. Acredito, entretanto, que o tema principal do filme é ainda mais amplo. O que vemos em cena é um tema universal: a impossibilidade e a covardia dos indivíduos em romperem com aquilo que os oprimem. O que causa a infelicidade para Ennie não é o fato de ser gay, mas sim a sua incapacidade de tentar realmente fazer o que quer. O personagem passa todo o filme abrindo mão do que realmente deseja em nome do conforto de uma dita “normalidade” e de valores em que nem mesmo ele sabe se acredita. E quando finalmente percebe todo o mal que causou a si, já é tarde demais para remediar. Essa falta de redenção para o protagonista faz com que “O Segredo de Brokeback Mountain” tenha um dos finais mais tristes dos últimos anos. Aliás, a melancolia permeia toda a duração do filme e é ainda mais acentuada pela melodramática e magnífica trilha sonora.

A se destacar ainda o excelente trabalho de atuação de Heath Ledger. A caracterização que faz para Ennie é sensacional, chegando a lembrar em alguns momentos um John Wayne preste a explodir de frustração e raiva, mas que na maioria das vezes fica contido numa máscara de durão. As poucas cenas em que ele consegue desabafar emocionalmente são algumas das seqüências dramáticas mais impactantes de “O Segredo de Brokeback Mountain”.

segunda-feira, novembro 20, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

As Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo *1/2
Succubus, de Jesus Franco ***1/2
Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio ***1/2
Powaqqatsi, de Godfrey Regio ***1/2
Johnny Vai à Guerra, de Dalton Trumbo ****
Serenity, de Joss Whedon ****
Tomara Que Seja Mulher, de Mario Monicelli ***1/2

sexta-feira, novembro 17, 2006

Top Gun, de Tony Scott ***1/2

Essa produção norte-americana de 1986 acabou ficando estigmatizada por uma série de acusações: seria apenas um veículo para o estrelismo de Tom Cruise, a música datada repleta de canções bregas dos anos 80, a edição em ritmo de video-clip, etc. Uma revisão mais cuidadosa de “Top Gun”, entretanto, faz constatar que boa parte desses argumentos é pura bobagem.

Para começar, talvez essa seja um dos filmes de Tony Scott em que o mesmo está mais controlado na sua propensão para cortes rápidos. Isso acaba valorizando ainda mais as belas tomadas áreas e realçando o ótimo trabalho de fotografia. Apesar de realmente ter uma certa estética clipeira em alguns momentos, a montagem de “Top Gun” também é um dos seus trunfos, dando ao filme um ritmo preciso, indo de seqüências de ação intensas (principalmente aquelas que envolvem batalhas aéreas) e chegando até a cenas quase contemplativas.
Ainda sobre a edição de “Top Gun”, é exemplar a forma como a música é utilizada em algumas seqüências. Talvez separada das imagens, boa parte dos temas incidentais e canções presentes no filme fiquem frágeis ou até mesmo xaropes (inclusive a conhecida “Take My Breathe Away”). Dentro do contexto do filme, entretanto, essa trilha sonora faz todo o sentido, dando para “Top Gun” uma dimensão épica e romântica memorável

quinta-feira, novembro 16, 2006

Memórias de Uma Gueixa, de Rob Marshall ***1/2

O grande barato de “Memórias de Uma Gueixa” é a dinâmica diferenciada que o diretor Rob Marshall oferece para uma trama oriental. Quem vai assistir ao filme esperando um ritmo narrativo contemplativo típico de certas produções asiáticas vai acabar se decepcionando. A trajetória de Chiyo (Zhang Ziyi) para se tornar uma gueixa de prestígio é mostrada de uma forma que lembra até mesmo “Rocky, Um Lutador”.

Impressiona também no filme o ótimo trabalho de edição e fotografia, que acentuam ainda mais a concepção épica que Marshall dá para a sua trama e que rendem algumas seqüências de rara beleza. A minha favorita é quando Chiyo apresenta uma coreografia embasbacante para uma grande platéia, em que tradição e modernidade se misturam de forma brilhante fazendo que a cena tenha um tom estranhamente atemporal. De se destacar também a magnífica trilha sonora composta por John Williams, com temas que evocam músicas japonesas, mas com um toque ocidental, o que dá um efeito fortemente original e marcante para os mesmos.

O que joga contra “Memórias de Uma Gueixa” são os seus vinte minutos finais, que dão uma dimensão de puro novelão e tiram bastante da sua força. Mesmo assim, é um filme que todo apreciador de cinema deve assistir, nem que seja só para ficar relaxando os olhos com as suas belas imagens.

terça-feira, novembro 14, 2006


Gummo, de Harmony Korine ***1/2

Uma primeira impressão mais superficial ao assistir “Gummo”, de Harmony Korine, faz supor que essa produção norte-americana de 1997 é apenas um derivado de “Kids”, de Larry Clark. Essa comparação até faz um pouco mais de sentido quando se fica sabendo que Korine foi colaborador de Clark em “Ken Park” e no próprio “Kids”. A verdade, entretanto, é que em um olhar mais atento se pode constatar que “Gumo” é uma experiência cinematográfica muito mais ousada e satisfatória que “Kids”.

Para começar, Korine tem muito mais traquejo para a direção do que Clark. Isso fica evidente de cara em algumas seqüências de “Gummo” que impressionam pela criativa concepção visual. A seqüência em que Solomon (Jacob Reynolds) e Tummler (Nick Sutton) andam de bicicleta no meio da rua à caça de gatos, por exemplo, tem um estranho senso épico. Em outros momentos, o cineasta evoca David Lynch ao conseguir obter cenas quase surreais pela sua esquisitice, como aquela em que as meninas Dot (Chloe Sevigny) e Helen (Carisa Bara) dançam ao som da singela “Every Day” de Buddy Holly ou em qualquer um dos momentos em que aparece o enigmático Bunny Boy (Jacob Sewell).

Outro aspecto que chama atenção em “Gummo” é a visão que Korine tem de seus personagens. É mostrada uma galeria de “losers” típicos de uma cidadezinha interiorana dos EUA, em todo o esplendor de suas bizarrias. Só que não se cai na armadilha fácil de simplesmente filmar tudo isso com a intenção única de chocar. Apesar da sordidez em que as suas criaturas vivem, Korine oferece um olhar carinhoso e irônico em relação às mesmas, o que dá um efeito ainda mais perturbador. Isso fica evidente quando Solomon e Tummler “visitam” uma prostituta com Síndrome de Down. Em um primeiro momento se pode até ficar espantado com a idéia doentia da situação. Mas logo depois se fica ainda mais desconcertado com a piscadela terna que Solomon dá para a garota. Esse paradoxo de reações e sensações é um dos maiores trunfos de “Gummo”.
Algo que me chamou atenção mais particularmente no filme de Korine é a participação de Linda Manz, a eterna C.J. do magnífico “Anos de Rebeldia”. A sua atuação como a mãe de Solomon rende algumas dos momentos mais marcantes de “Gummo”, principalmente na seqüência do banho, quando o menino está comendo macarrão e chocolate dentro de uma banheira com uma água imunda e sua mãe esfregando seus cabelos com shampo. Tem-se a impressão que a jovem C.J. conseguiu sobreviver àquela explosão do final de “Anos de Rebeldia” e acabou se tornando uma mãe ainda mais enlouquecida.

segunda-feira, novembro 13, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

A Última Noite, de Robert Altman ***1/2
Os Infiltrados, de Martin Scorsese ****
Matador, de Pedro Almodovar ****
Jogos Mortais III, de Darren Lynn Bousman ***1/2
O Homem Que Ri, de Paul Leni ****
Volver, de Pedro Almodovar ***1/2
A Morte Num Beijo, de Robert Aldrich ****

sexta-feira, novembro 10, 2006


Wolf Creek, de Greg MacLean ***1/2

Assim como os recentes “Rejeitados Pelo Diabo” e “Viagem Maldita”, “Wolf Creek”, produção australiana de 2004, é uma volta a estética dos filmes de horror B dos anos 70 cujos maiores expoentes foram Tobe Hooper e Wes Craven. O diretor Greg MacLean se revela como um aplicado discípulo dessa escola, ao mesmo tempo que acrescenta elementos próprios. Mesmo não tendo o status de obra prima das obras mencionadas de Rob Zombie e Alexandre Aja, “Wolf Creek” é um trabalho de impacto, com vários momentos eletrizantes.

Fortemente inspirado em clássicos do horror como “O Massacre da Serra Elétrica” e “Quadrilha de Sádicos”, o filme de MacLean mostra alguns fatores diferenciais que lhe dão uma cara própria. Para começar, há um muito bem elaborado cuidado estético em termos de fotografia. As paisagens selvagens e áridas dos desertos australianos são aproveitadas de forma criativa, com os enquadramentos dando um tom até mesmo épico em algumas oportunidades. Impressiona também a forma como as cores são captadas: as mesmas são fortes e quentes, acentuando ainda mais o clima de descida aos infernos proposto pela direção de MacLean.

O cineasta mostra ainda domínio da sua narrativa. Ele nos apresenta o trio de “vítimas” na primeira meia-hora de filme, fazendo com que nos identificamos com os mesmos, acompanhando com interesse a sua viagem rumo a tragédia. Tal preparação faz total sentido quando o banho de sangue começa, o que faz com que a trama de “Wolf Creek” fique cada vez mais tensa com o passar do tempo. Ao serem perseguidos pelo psicopata Mick (John Jarrat), acabamos realmente nos importando com o destino da sua “caça”.

Aliás, é se destacar também a forma como Mick se insere na narrativa. Inicialmente, enxerga-se o personagem como um interiorano simpático e carismático. Pouco depois, quando o mesmo revela sua verdadeira natureza, fica-se atordoado com o seu sadismo e a sua fúria homicida. Um vilão efetivamente de peso e assustador, item fundamental para que um filme como esse seja atinja as suas intenções. MacLean dá a impressão ao expectador em algumas seqüências de que os jovens perseguidos e torturados por Mick parecem estar em uma outra dimensão inóspita e em que as regras normais da civilização foram para o espaço. Um mundo em que reina soberana a figura de um caipira enlouquecido.

“Wolf Creek” só não ganha a cotação máxima desse blog devido ao seu final altamente broxante. Fica-se com a impressão de que MacLean não quis levar o seu filme até às últimas conseqüências, ficando preso no formato “baseado em fatos reais”, o que acaba sendo frustrante ante tudo o que havia sido mostrado anteriormente. Mesmo assim, “Wolf Creek” é um ótimo a filme a ser apreciado não só pelos fãs do gênero, mas também por qualquer pessoa que goste de cinema.

quinta-feira, novembro 09, 2006


Jackass, O Filme, de Jeff Tremaine ***

Essa versão cinematográfica do original televisivo em termos formais e temáticos não apresenta algo de muito diferente do que nos acostumamos a ver na telinha das estrepulias extremas da Johnny Knoxville e sua turma de dementes. O que realmente muda é que as brincadeiras suicidas e de mau gosto ficam um pouco mais radicais e perigosas. E esse é justamente o grande mérito de “Jackass, O Filme”: por mais idiotas que possam ser as idéias desses dementes, o impacto visual de algumas seqüências do filme tem um certo encanto perverso e que resvalam para o puro humor negro. E é isso justamente que diferencia tanto o filme quanto a série original de outros “reality shows” babacas: a turma de dublês realmente se diverte fazendo todas aquelas merdas e têm perfeita consciência do ridículo das situações absurdas em que se metem. E no meio de vários episódios que beiram o surreal, o destaque disparado vai para aquele em que Ryann Dunn coloca um carrinho de ferro no reto e vai para um pronto socorro fazer um exame de raio x. A cara de perplexo do médico ao enxergar na chapa o singelo brinquedinho já valeria por si só assistir esse “Jackass – O Filme”.

quarta-feira, novembro 08, 2006


Munique, de Steven Spielberg ****

O que mais me frustrou em relação a “Munique”, produção de 2005 de Steven Spielberg, é que pouquíssimo se falou sobre os inúmeros méritos cinematográficos da obra. A grande maioria de artigos e resenhas preferiu se concentrar em imprecisões históricas e discussões políticas. Na minha opinião, Spielberg não teve como grande preocupação uma rigorosa fidelidade aos fatos, usando os eventos em questão (o atentado terrorista nas Olimpíadas de Munique e suas conseqüências) como pano de fundo para um tenso filme de ação. Tanto que logo no início de “Munique” somos avisados de que o roteiro é “inspirado” em fatos reais. Vale mencionar que Spielberg tão pouco teve a pretensão de oferecer uma visão definitiva sobre o conflito entre árabes e judeus. O seu tema é mais universal, concentrando-se mais sobre a situação de um indivíduo em poder conviver com a idéia de que é um assassino, mesmo que por motivos aparentemente “justificáveis”.

Em termos formais, “Munique” representa mais um dos auges criativos de Spielberg. O cineasta, que já vinha de uma brilhante versão para “Guerra dos Mundos”, parece revitalizar o que melhor se fez no cinema norte-americano dos anos 70, período esse em que se consagrou definitivamente e foi um dos maiores expoentes. Lembramos principalmente do Willian Friedkin de “Operação França” nas seqüências de ação, assim como o Scorsese de “Táxi Driver” e “Caminhos Perigosos” nas cenas marcadas por uma admirável intensidade e crueza dramática. Spielberg mostra a sua genialidade ao saber criar climas tensos e soturnos, filmando inúmeras reuniões e discussões que criam a expectativa na medida certa para o expectador até que os breves, mas memoráveis, momentos de violência irrompam em seqüências de forte impacto (impossível não lembrar daqueles inesquecíveis massacres finais da trilogia “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola, voltando novamente às referências setentistas).

E já que estamos falando em grandes seqüências, isso é algo que há em profusão em “Munique”. A começar pelo sensacional trabalho de montagem, em que passado (o seqüestro e assassinato de atletas judeus, em um rigoroso registro quase documental) e presente (a perseguição de terroristas árabes por parte de agentes secretos israelenses, em tom de puro thriller) se entrelaçam com perfeição. As cenas de ação também revelam a maestria de Spielberg, com o mesmo evocando o grande Sam Peckinpah na exatidão de suas verdadeiras coreografias de violência. Nesse sentido, o ápice é a execução com silenciadores de uma espiã holandesa: os sinuosos movimentos dos assassinos e sua vítima chegam a lembrar uma sombria dança de morte.

Impressiona também em “Munique” a forma nada maniqueísta mostrada da relação entre judeus e árabes. Evita-se a conotação de “mocinhos e bandidos”, fazendo com que se questione se os métodos usados pelos agentes do Mossad são tão diferentes daqueles utilizados pelos terroristas. Essa visão de mundo, em que nada é tão preto no branco, dá uma dimensão humana admirável para o filme, pois acentua ainda mais o dilema moral do líder da missão Avner (Eric Bana) e seus companheiros. O que vemos não são esteriótipos de super agentes secretos, mas sim de indivíduos normais, alguns até mesmo pais de família, que são colocados em situações extremas que os fazem questionar tudo o que acreditavam.

E já que tocamos no assunto, vale mencionar que “Munique” talvez seja a obra mais bem acabada de Spielberg em termos de construção de personagens e interpretações. A começar pelo próprio protagonista, Avner, um indivíduo rico em contradições e dúvidas, mas que ao mesmo tempo é obrigado a agir de forma automática e fria no cumprimento de sua missão. Eric Bana oferece uma interpretação cheia de nuances, ressaltando a dubiedade do personagem e das situações em que o mesmo está envolvido, acabando por tornar Avner próximo do expectador. Já Daniel Craig é o contraponto perfeito para a sutileza de Bana: o seu Steve é pura brutalidade e fúria, um judeu pronto a exterminar o maior número possível de árabes e não sentir um pingo de remorso por isso. E é claro que não dá para esquecer dos franceses Michel Lonsdale e Mathieu Amalri, primorosos na sua canalhice como dois contraventores que vendem informações para Avner.

Enfim, independente dos ideais políticos de quem assiste, “Munique” é um programa imperdível para aqueles que apreciam cinema. Não só por trazer um Steven Spielberg em ótima forma, mas também por trazer muito das melhores qualidades que o cinema norte-americano tem a oferecer.

segunda-feira, novembro 06, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

O Grande Truque, de Christopher Nolan ***1/2
Crônica de Uma Fuga, de Adrián Caetano ***1/2
O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger **
Flyboys, de Tony Bill **1/2
A Rainha dos Condenados, de Michael Rymer *
Os Sete Amores, de Buster Keaton ****
Fudoh, de Takashi Miike****
Boxe Por Amor, de Buster Keaton ****

segunda-feira, outubro 30, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

Da Cama Para A Fama, de Pablo Berger ***1/2
A Noiva Síria, de Eran Riklis ***1/2
Menina Má.Com, de David Slade ***1/2
Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris ***
Dália Negra, de Brian De Palma ***1/2
Carga Explosiva 2, de Louis Leterrier *1/2

sexta-feira, outubro 27, 2006


O Feitiço de Áquila, de Richard Donner ***1/2

Uma das coisas que mais impressiona nessa fantasia de 1985 é o fato do diretor Richard Donner conseguir deixar a sua marca de mestre do cinema de aventura moderna mesmo dentro do contexto histórico medieval. A direção de arte de “O Feitiço de Áquila” é bem cuidada, mas não tem a pretensão da fidelidade temporal. Na verdade, o fato do filme se passar na Idade Média é apenas um eficiente pano de fundo para uma eletrizante produção de ação típica de Donner. E nisso o cara é tremendamente competente: o ritmo da narrativa é frenético, com seqüências de ação na medida certa, com Donner sabendo o momento certo de tirar o pé do acelerador, enfocando na dose precisa a bela e mágica história de amor entre o casal amaldiçoado (Michelle Pfeiffer e Rutger Hauer). Além disso, o cineasta mostra mão cheia na comédia ao conseguir ótimas seqüências cômicas com o então astro em ascensão Matthew Broderick que interpreta um ladrão desastrado que ajuda o casal protagonista.

Outro aspecto bem interessante de “O Feitiço de Áquila” é a sua trilha sonora. A música composta por Andrew Powell não lembra em nada temas referentes à Idade Média, estando muito mais para o pop dos anos 80. O que poderia causar estranhamento na verdade casa com perfeição com a proposta estética de Donner de fazer um filme de época modernizado. O resultado da combinação música e imagem acaba tendo um efeito bem singular.

“O Feitiço de Áquila” não está no meu Top 5 Richard Donner, mas mesmo assim considero como um belo exemplar do estilo Donner de filmar.

quinta-feira, outubro 26, 2006


Edison, de David J. Burke (zero estrela)

Sou um cara que em termos cinematográficos procura não ter preconceitos. Procuro assistir de tudo, pois tenho a opinião de que em algumas oportunidades podemos encontrar pérolas de onde menos se espera. Ao mesmo tempo, confesso que tenho um carinho especial por certos gêneros, no sentido de que geralmente quando aparece alguma obra numa dessas áreas preferenciais acabo indo assistir, mesmo não tendo muitas referências. Dentro desses meus gêneros favoritos, os policiais ocupam um lugar muito especial. Afinal, um filme dessa linha lida bastante com elementos primordiais da linguagem cinematográfica como movimentos de câmera, fotografia e edição. Esse apuro estético nos filmes policiais pode ser constatado em obras primas do gênero como “Operação França”, “Viver e Morrer em Los Angeles” e “Bullit”.

Bem, toda essa breve digressão sobre o cinema policial serve para mostrar que me sinto totalmente à vontade para dizer que “Edison”, produção norte-americana de 2005, é uma das coisas mais constrangedoras já feitas no gênero e certamente o pior filme que assisti nesse ano de 2006 no cinema. O diretor David J. Burke parece nunca ter assistido alguma obra do gênero. A dinâmica narrativa de “Edison” é truncada e sem vida. Para Burke, algo básico como montagem se limita a truques de video clip. O roteiro também é um caso a parte em termos de ruindade. Vários clichês são regurgitados (corrupção na polícia, jornalistas e corretores em busca da verdade, represálias contra os “mocinhos”), mas são trabalhados da forma mais mecânica possível. Não há aquela naturalidade e paixão que faz com que até os elementos previsíveis possam ser causadores de tensão e interesse (coisa que o mestre Michael Mann ensina com brilhantismo nos magníficos “Colateral” e “Miami Vice”).

O que também ajuda “Edison” a naufragar é o péssimo trabalho de caracterização de personagens e de atuação dramáticas do elenco. Morgan Freeman repete de forma piorada o seu eterno papel de “amigo do mocinho que dá conselhos sábios”, enquanto que Kevin Spacey tem um trabalho quase nulo de interpretação, dedicando-se mais a olhares canastrões e fazer caras e bocas (sério, mas a impressão que se tem é que o cara está mais preocupado em mostrar o seu corte de cabelo). Já em relação a Justin Tinberlake e LL. Cool J é aquela coisa: Tinberlake é um cantor pop legal e Cool J já fez belos discos de rap, mas como atores são risíveis.

Eu tenho uma certa filosofia em relação a filmes: nunca recomendo que uma pessoa não assista a um filme. Afinal, seria meio injusto que é uma impressão ruim minha tivesse a possibilidade de fazer com que alguém deixasse de ver uma obra que pudesse gostar. Por isso, assistam “Edison” e vejam como fazer tudo errado em uma produção cinematográfica. E aqui também caio naquele velho lugar comum: em alguns momentos a incompetência é tanta que chega a ser engraçado!!

quarta-feira, outubro 25, 2006


Evil Dead – A Morte do Demônio, de Sam Raimi ****

Lembro-me que quando finalmente compraram um vídeo cassete lá em casa, por volta de 1989, um dos primeiros filmes que peguei na locadora para assistir foi “Evil Dead – A Morte do Demônio”, de Sam Raimi. Eu já tinha assistido à sua magnífica seqüência “Uma Noite Alucinante” no cinema, e que me tinha deixado curioso para assistir a primeira parte. Apesar de terem tramas bem parecidas, os filmes se diferenciam bastante pelo enfoque. Enquanto que na continuação existe uma forte tendência para a comédia de humor negro, em “A Morte do Demônio” temos uma pura obra de horror com momentos de tensão fortíssimos.

Numa revisão recente que fiz que de “A Morte do Demônio”, fiquei impressionado ao constatar que o filme conservou de forma irretocável o seu poderoso impacto visual e narrativo. Mesmo que alguns truques de maquiagem pareçam um pouco mais toscos comparados ao que se faz hoje, é de cair o queixo assistir o que Sam Raimi aprontou com tão poucos recursos. Ele abusa do terror explícito, cheio de violência, sangue e pus, mas consegue ao mesmo tempo realizar seqüências em que o suspense chega perto do insuportável. O expectador fica com a constante impressão de estar fazendo uma verdadeira descida ao inferno ao acompanhar a angustiante história de Ash (Bruce Campbell) e seus amigos que vão sendo dizimados um a um de forma pavorosa por cruéis demônios.

Sam Raimi também já se mostrava nesse seu trabalho de estréia como um tremendo cineasta ao revelar aguçado apuro técnico, mesmo não tendo muita grana a disposição. Os movimentos de câmera são ágeis e intensos, oferecendo ângulos insólitos e que dão uma dinâmica fascinante para “A Morte do Demônio”. Dessa forma as seqüências antológicas vão se sucedendo de forma fantástica. A começar pela sugestão dos espíritos maléficos correndo pela floresta em direção à cabana em que os personagens estão refugiados, movimento esse que é evidenciado pelo frenético travelling da câmera. Inesquecível também é o momento em que uma das vítimas corre pela floresta e acaba sendo presa e estuprada pelas árvores, num trabalho de trucagem perfeito.

Depois de “Uma Noite Alucinante”, Sam Raimi dirigiu um terceiro segmento da série “Evil Dead”, o fabuloso “Army of Darkness”, uma mistura inacreditável de aventura épica, horror e comédia, fechando de forma brilhante a sua trilogia. É claro que Raimi dirigiu outros filmes maravilhosos (“Darkman”, “Um Plano Simples”, “Homem Aranha 2”), mas o seu grande pico criativo continua sendo “A Morte do Demônio” e suas inspiradas seqüências.

terça-feira, outubro 24, 2006


Quase Um Segredo, de Jacob Aaron Estes ***

Essa produção norte-americana de 2003 é um típico exemplar do cinema independente dos EUA na atualidade. Não há grandes preocupações com arroubos virtuosísticos, dedicando-se um cuidado maior no contar uma história e na caracterização psicológica dos personagens. Na história de um grupo de adolescentes que mata sem querer um menino gordo e xarope que sempre encheu o saco dos mesmos, há a intenção por parte do diretor Jacob Aaron Estes em mostrar uma realidade que não é tão preto no branco, evitando-se julgamentos maniqueístas e se buscando mais uma visão madura sobre a questão da culpa e redenção. E ele até consegue ser bem sucedido nessa intenção, sendo que é notável a forma com que a personalidade e reações de cada um dos envolvidos no crime são diversas, dando a “Quase Um Segredo” uma perspectiva bem humana para a sua trama e personagens. Aliado a isso, há também um competente trabalho de direção de fotografia, que valoriza muito a beleza grandiosa e sinistra da floresta onde se passa a grande maioria das externas do filme.

segunda-feira, outubro 23, 2006


Stargate, de Roland Emmerich **

Essa ficção científica de 1994 até que tem uma produção bem cuidada, mas o seu resultado final é frustrante. Apesar do capricho nos efeitos especiais e na direção de arte, não há nenhuma seqüência em “Stargate” que realmente empolgue. Assistimos ao filme impassíveis tamanha a falta de uma direção mais consistente por parte do diretor Roland Emmerich. Colabora ainda para o marasmo um elenco completamente no piloto automático. A começar por um James Spader inexpressivo, além do grande Kurt Russell parecer não estar muito a vontade num papel que normalmente ele tiraria de letra (não lembrando nada os viscerais e carismáticos heróis que ele interpretou em alguns belos clássicos de John Carpenter). Mas a grande burrada mesmo foi colocar Jaye Davidson no papel do vilão. Como é que um cara com pinta de travesti anêmico vai meter medo em alguém? Podia funcionar no sensacional “Traídos Pelo Desejo”, mas em um filme de ficção científica...

Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

O Grito 2, de Takashi Shimizu ***
Pânico na Montanha, de Don Coscarelli ***
Sonhos na Casa da Bruxa, de Stuart Gordon ***
Condenados a Viver, de Joquín Romero Marchent ****
A Grande Guerra Yokai, de Takashi Miike ***1/2
Dança dos Mortos, de Tobe Hooper ***
Jenifer, de Dario Argento ****
Vyi – O Espírito do Mal, de Georgi Kropachyov e Konstantin Yershov ****
Chocolate, de Mick Garris **1/2
Candidato Maldito, de Joe Dante ****
Os Olhos da Cidade São Meus, de Bigas Luna ****
Lenda Assassina, de John Landis ***1/2
Pacto com o Demônio, de William Malone **1/2
Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, de José Mojica Marins ****
O Despertar da Besta, de José Mojica Marins ****
Criatura Maligna, de Luke McKee ***1/2
Estrada da Morte, de Larry Cohen ***
Conheça os Feebles, de Peter Jackson ****
A Terrível História de Haeckel, de John McNaughton ***
Marcas do Terror, de Takashi Miike ****
Quem Pode Matar Uma Criança, de Narciso Ibáñez Serrador ****
A Cura, de Kiyoshi Kurosawa ***1/2
Planeta Proibido, de Fred M. Wilcox ***1/2
Zombie – A Volta dos Mortos, de Lucio Fulci ****
Dinheiro Sujo, de Jean-Pierre Melville ****

segunda-feira, outubro 16, 2006

Paradise Now, de Hany Abu-Assad ***

É claro que tematicamente “Paradise Now” é uma obra que chama atenção logo de cara. Afinal, não é todo dia que se vê um filme que foca a questão do conflito entre Israel e Palestina pelo ângulo muçulmano, mais especificamente ainda, na visão de um homem-bomba. Tira-se bastante daquele caráter maniqueísta e simplório em que indivíduos como esse são simplesmente retratados como fanáticos religiosos. O diretor Hany Abu-Assad consegue oferecer para o expectador um contexto que esmiúça algumas das razões que levam uma pessoa a tomar uma decisão tão radical em favor de uma causa. Em termos formais, entretanto, “Paradise Now” é apenas correto, não apresentando maiores ousadias. A tensão que permeia o filme decorre da própria trama, por si só explosiva, e não da sua construção narrativa. Abu-Assad se preocupou mais em contar uma história do que arriscar em vôos virtuoses, ao contrário do extraordinário “Munique” de Steven Spielberg, obra essa com temática semelhante a “Paradise Now”.

Cotações da Semana (de 0 a 4 estrelas)

Canibal Holocausto, de Ruggero Deodato ***1/2
O Diabo Veste Prada, de David Frankel **1/2
À Meia Noite Levarei Sua Alma, de José Mojica Martins ****
Madame Bovary, de Claude Chabrol ***1/2
Claude Chabrol, o Entomologista, de André S. Labarthe e Janine Bazin ***
Adeus Meninos, de Louis Malle ****
O Bicho Vai Pegar, de Roger Alles, Jill Culton e Anthony Stacchi **1/2
A Nouvelle Vague Por Si Mesma, de Robert Valley ***
Uma Abordagem de Alan Resnais, de Michel Leclec ***
Aniversário Macabro, de Wes Craven ***1/2
Conspiradores do Prazer, de Jan Svankmajer ***1/2
O Samurai do Entardecer, de Yôji Yamada ***1/2
Ghost World, de Terry Zwigoff ****
Madagascar, de Eric Darnell e Tom McGrath ***1/2
Ensina-me a Viver, de Hal Ashby ****

domingo, outubro 15, 2006


A Dama de Vermelho, de Gene Wilder **1/2

Alguns filmes, independentes de suas qualidades, acabam ficando registrados no imaginário cinematográfico devido a algum acaso feliz. Esse é o caso de “A Dama de Vermelho”. Para quem já gostava de cinema nos anos 80 é impossível não lembrar da seqüência em que a gostosa (e atualmente sumida) Kelly Le Brock evoca Marilyn Monroe com o seu vestido esvoaçante. Fora isso, temos aquele tipo de filme que fica pelo caminho, ao não conseguir se definir como uma abordagem irônica sobre o adultério ou como pastelão rasgado.

Vale mencionar ainda um detalhe que particularmente me irrita em “A Dama de Vermelho”: esse é o filme que fez com que boa parte de uma geração pensasse em Stevie Wonder como o tiozinho cego que canta “I Just Called To Say I Love You”, uma musiquinha bonita, mas ordinária. Por isso, aproveito o espaço desse blog e recomendo: senhores, ouçam obras primas como “Talking Book” e “Innervisions” e comprovem que Stevie Wonder é gênio.

segunda-feira, outubro 09, 2006


Cotações da Semana (de zero a quatro estrelas)

A Dália Negra, de Brian De Palma ***1/2
Maldição, de **1/2 de Courtney Salomon
Feel Like Going Home, de Martin Scorsese ****
Red, White & Blues, de Mike Figgis ***
Warming By The Devil’s Fire, de Charles Burnett ***1/2
A Marca do Assassino, de Seijun Suzuki ****
Tóquio Violenta, de Seijun Suzuki ****

quinta-feira, outubro 05, 2006


O Operário, de Brad Anderson ***1/2

O que achei muito interessante nessa produção norte-americana de 2003 é que a mesma possui uma trama em que realidade e delírio se misturam de uma forma que a gente dificilmente consegue distinguir uma da outra (ao contrário de filmes medíocres como "Em Busca da Terra do Nunca", que gostam de deixar tudo bem mastigadinho para o expectador). É claro que percebemos que Trevor Reznik (Christian Bale), o protagonista do filme, está num processo de loucura, mas como enxergamos tudo da perspectiva do personagem em questão, essa visão acaba sendo bem nebulosa. Decepciona um pouco em “O Operário” o seu final, onde se procurou amarrar as coisas demais, indo contra a proposta geral do filme. É o oposto do que faz o David Lynch, por exemplo, que está andando se o público vai entender ou não os absurdos de seus filmes. Mas mesmo assim vale muito assistir o filme, até pela atuação magnífica do Chistian Bale, que emagreceu 30 quilos para fazer o seu papel.

terça-feira, outubro 03, 2006


Ghost World, de Terry Zwigoff ****

Se em “Feel Like Going Home” o blues é a tônica dominante por todo o filme, em “Ghost World”, adaptação para as telas da série de quadrinhos de mesmo nome, ele é apenas um dos elementos que compõe o amplo panorama de personagens e situações fantasticamente caracterizadas pelo diretor Terry Zwigoff. Mesmo assim, o impacto da presença do blues é marcante nessa inquietante obra cinematográfica ao nos depararmos com o desajustado Seymour (Steve Buscemi em atuação soberba), um sujeito esquisitão cujos hobbys são garimpar velhos vinis de blues em feiras domésticas e assistir shows de velhos bluesmen (impossível nesses momentos não lembrar do divertido ranzinza Harvey Pekar de “Anti-Herói Americano”). Mas “Ghost World” vai ainda mais além desse aspecto cômico, sendo que Zwigoff destila ácido na sua visão irônica e cruel do american way of life ao retratar o quotidiano de duas amigas adolescentes, Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson), que procuram inutilmente fugir da mesmice da cidadezinha onde vivem. O cineasta já havia demonstrado o seu apego pelos desajustados no fantástico “Crumb” (1994), maravilhoso documentário sobre a vida, obra e pensamento do cartunista Robert Crumb, figura tarimbada do underground dos EUA. A ironia melancólica e inconformista de Zwigoff faz de “Ghost World” uma verdadeira pérola a ser descoberta pelos amantes do cinema.

P.S.: “Ghost World” sera exibido pelo Clube de Cinema de Porto Alegre em 15/10/2006, às 10:15 da manhã, lá no Santander Cultural. Os leitores desse blog estão convidados. E é de graça!!

segunda-feira, outubro 02, 2006


Cotações da semana (de zero a quatro estrelas)

As Torres Gêmeas, de Oliver Stone ***
Elsa e Fred – Um Amor de Paixão, de Marcos Carnevale *
O Abismo do Medo, de Neil Marshall ***1/2
O Arco, de Kim Ki-Duk ***
Plataforma, de Jia Zhang-Ke **1/2
Paixões Que Alucinam, de Samuel Fuller ****
Almas Perversas, de Fritz Lang ****
Grand Prix, de John Frankenheimer ****
E A Festa Acabou, de Bill L. Norton ***1/2
Feel Like Going Home, de Martin Scorsese ****

sexta-feira, setembro 29, 2006


Feel Like Going Home, de Martin Scorsese ****

A relação apaixonada de Martin Scorsese com a parte musical de seus filmes nunca foi novidade. Afinal, as trilhas sonoras recheadas de canções maravilhosas de obras como “Alice Não Mora Mais Aqui” (1974), “Cassino” (1995) e “O Aviador” (2004) são exemplares nessa obsessão do cineasta. Isso sem contar os ótimos documentários “O Último Concerto de Rock” (1978) e “No Direction Home” (2005), que são verdadeiros tributos aos seus ídolos The Band e Bob Dylan, respectivamente. Dessa forma, não é surpresa que Scorsese tenha sido o produtor da série de documentários “The Blues”, projeto esse de onde se originou “Feel Like Going Home”, dirigido pelo próprio Scorsese, obra extremamente bem sucedida na sua pretensão de busca das raízes do blues. Essa procura é realizada com uma minúcia didática e tremendamente amorosa, partindo-se de um caminho que na realidade começa pelo fim, ou seja, inicia pelo blues eletrificado de Chicago, passa pelo rincões rurais do interior norte-americano e chega por fim às origens primitivas na África. Aos fazermos essa viagem junto com Scorsese, não conhecemos apenas a gênese de um estilo musical, mas também a própria identidade cultural de um país.

Obs.: "Feel Like Going Home" será exibido pelo Clube de Cinema no dia 08/10/2006, às 10:15, no Santander Cultural. Os leitores deste blog estão convidados a comparecer.

quinta-feira, setembro 28, 2006


Depois Daquele Beijo - Blow Up, de Michelangelo Antonioni ****

Dentro de uma carreira recheada de grandes filmes como a de Michelangelo Antonioni, destacar um deles como sua obra-prima máxima pode ser perigoso. Entretanto, na minha modesta opinião, não hesito em dizer que “Depois Daquele Beijo – Blow Up” ocupa essa privilegiada posição. Para começar, Antonioni retrata brilhantemente a louca Londres dos anos 66 e 67 que estava totalmente mergulhada no psicodelismo. A trama gira em torno da obsessão do fotógrafo Thomas (David Hemmings) com uma série de fotos que ele tirou em um parque londrino. Nesse processo, ele descobre, meio que sem querer, que nessas fotos está registrado um assassinato. “Blow Up” tem um certo teor niilista ao mostrar que para o protagonista mais interessa o processo de desvendar o crime do que o próprio assassinato em si. Justamente esse processo de descoberta resulta em um incrível trabalho de edição, em que as fotografias vão se sobrepondo até comporem uma ação completa. É como Antonioni misturasse fotografia e cinema e buscasse o seu denominador comum.

E para quem gosta de música, o filme tem dois acréscimos imperdíveis: a trilha sonora genial, uma fusão muito bem engedrada de jazz e rock por Herbie Hancock, além da antológica seqüência de um show do Yardbirds com Jimmy Page e Jeff Beck arrasando nas guitarras (esse último, aliás, literalmente destrói o seu instrumento no palco).

quarta-feira, setembro 27, 2006


Destinos Sentimentais, de Olivier Assayas *

Essa produção francesa 2000 é incrivelmente enfadonha e dirigida da forma mais medíocre possível (nem parece que o diretor Olivier Assayas é o mesmo do vigoroso “Clean”). Tudo aquilo que se costuma falar de mal de um filme francês está nesse filme. A impressão que se tem é que Assayas achou que fazendo uma reconstituição de época caprichada e tendo alguns bons atores seria suficiente para ter um bom filme em mãos. "Destinos Sentimentais" tem três horas em que não acontece praticamente nada! Existem personagens que aparecem e desaparecem sem mais ou nem menos (e a intenção não era de fazer um filme não-linear...), e a quantidade de diálogos e situações inúteis é impressionante. Acho que as únicas coisas boas do filme são uma seqüência de baile (que lembra um pouco alguns filmes do Visconti) e a Emanuele Beart (que sempre é um colírio para os olhos).

terça-feira, setembro 26, 2006


Amor em Jogo, de Bobby e Peter Farrelly *1/2

Essa comédia romântica de 2005 é frustrante por dois bons motivos. O primeiro é que esse é provavelmente o pior filme dos irmãos Farrelly, sendo que em nenhum momento lembra o humor alucinado e escroto de filmaços como "Debi e Lóide" e "Quem Vai Ficar Com Mary?". Sem estilo e personalidade, os Farrelys tornaram-se dois diretores quaisquer. E o segundo motivo, mais grave ainda, é que o filme não tem absolutamente nada a ver com o espírito real do livro em que se baseia, "Febre de Bola", de Nick Hornby. E eu não digo isso pelo fato de se passar nos EUA ou pelo futebol ter sido trocado nessa adaptação pelo beisebol. O problema é tirar o foco do protagonista louco pelo esporte para que ele divida as atenções com a sua parceira romântica. Dessa forma, toda aquelas observações irônicas e incômodas sobre adultos que se recusam a crescer que há no livro original perdem-se em "Amor em Jogo", ficando a trama reduzida a uma comédia sem graça e cheia de "lições de vida".

segunda-feira, setembro 25, 2006

Filmes da Semana (cotação de 0 a 4 estrelas)

Xeque-Mate, de Paul McGuigan ***
Café da Manhã em Plutão, de Neil Jordan ****
O Tempo Que Resta, de François Ozon ***1/2
Três Homens Em Conflito, de Sergio Leone ****
Sherlock Jr, de Buster Keaton ****

terça-feira, setembro 19, 2006


Hotel Ruanda, de Terry George ***1/2

O trailer ou a sinopse dessa produção norte-americana de 2004 faz supor ser algo do tipo "o grande herói que se sacrifica pelos seus semelhantes". É claro que "Hotel Ruanda" obedece a parte desse padrão, mas ao mesmo tempo também é muito mais que isso. O roteiro retrata com considerável crueza o episódio histórico ocorrido em Ruanda do genocídio dos tutsis promovido pelos hutus. Para começar, o protagonista Paul Rusesabagina (Don Cheadle) não é apresentado de forma santificada, sendo que todo o processo que o leva a ajudar os tutsis é muito bem esmiuçado no desenvolvimento da trama. Méritos também para o cineasta Terry George no sentido de que o mesmo procura não atenuar as cenas mais violentas para se tornar o seu filme mais “família”. Pelo contrário: toda a brutalidade e loucura do que houve em Ruanda são passadas durante algumas seqüências impressionantes, principalmente naquela em que a caminhonete de Paul roda em uma estrada sob os cadáveres de tutsis assassinados.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Aprendendo a Mentir, de Hendrik Handlogten***1/2

O ponto forte dessa produção alemã de 2003 é o seu roteiro, que sabe desenvolver com desenvoltura uma trama aparentemente simples. Tem-se uma visão crua e pouco superficial sobre relacionamentos amorosos e com personagens bem construídos. O jogo que se estabelece entre o protagonista e quem assiste ao filme é tremendamente interessante, pois o primeiro age como um babaca por boa parte do filme e parece não se dar muito conta disso, parecendo questionar ao expectador por que os seus relacionamentos são um desastre (e os motivos ficam bem evidentes para quem assiste). De se destacar ainda a bela trilha sonora (que consegue demarcar com precisão o aspecto temporal) e a maneira discreta com que o filme chega a abordar questões políticas e sociais, mas com muito mais propriedade e ironia do que "Edukators", filme alemão fortemente superestimado. Deixa a desejar em “Aprendendo a Mentir” apenas o seu inexplicável final feliz, que é muito forçado ao fechar todas as pontas da trama e vai contra o próprio espírito irônico e sutil da obra.

Filmes da Semana (cotações de 0 a 4 estrelas)
Vôo 93, de Paul Greengrass **1/2
Almas Reencarnadas, de Takashi Shimizu ***1/2
Casa Monstro, de Gil Kenan ***
Seytan, de Metin Eksan – zero estrela
Vamos Todos Dançar, de Marilyn Agrelo ***1/2
Pele de Asno, de Jacques Demy ****
O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston ****
O Limite da Traição, de Lee Tamahori ****
Nossa Hospitalidade, de Buster Keaton ***1/2

sexta-feira, setembro 15, 2006


Ninguém Pode Saber, de Hirokazu Kore-Eda****

Essa produção japonesa de 2004 dirigida por Hirokazu Kore-Eda, o mesmo do magnífico “Depois da Vida” é um dos mais impressionantes filmes orientais dos últimos anos e também uma das obras mais tristes a aparecer nas telas. A trama é cruel: uma mãe abandona seus quatro filhos pequenos em um apartamento, sendo que acompanhamos a inexorável degradação das crianças. Kore-Eda não abre concessões, retratando o calvário de seus personagens com poderosa força dramática, mas ao mesmo tempo consegue grandes momentos de pura poesia visual. Além do mais, fica evidente o seu grande trabalho de direção no aspecto do rigor dos enquadramentos: o filme é basicamente composto de seqüências com a câmera parada, mas a composição das cenas é expressiva, registrando apenas o necessário e fazendo com que as imagens contem a história ou expressem sentimentos sem precisar de narração ou diálogos. Ou seja: puro cinema!! A trilha sonora também revela uma grande sensibilidade, ao evocar um clima infantil que contrasta fortemente com a crueza da história que é mostrada. Por fim, o trabalho de atuação das crianças é fantástico, em que o cuidadoso trabalho de direção de atores consegue obter um resultado impressionante, fazendo com as quatro crianças desenvolvam personalidades muito próprias.

quinta-feira, setembro 14, 2006


O Álamo, de John Wayne ***1/2

Este é um filme que geralmente é visto com um certo ranço por boa parte do público e crítica. Afinal, o que se poderia esperar de uma obra dirigida por um cineasta bissexto e que é uma espécie de visão fantasiosa de fatos e personagens históricos? Mesmo não tendo a densidade dramática de um John Ford ou cenas de grande impacto visual como as de Sam Peckinpah, Wayne, que também protagoniza "O Álamo", conseguiu realizar um eficiente faroeste, mostrando pulso firme ao conduzir uma trama de longa duração (quase três horas) que raramente dispersa o expectador, e que tem evidentemente como ponto alto as seqüências de batalhas onde americanos rebeldes defendem o seu forte de um exército mexicano muito mais numeroso.

quarta-feira, setembro 13, 2006


O Último dos Moicanos, de Michael Mann ****

Sem querer parecer exagerado, mas se trata basicamente de um dos melhores exemplares do cinema de aventura de todos os tempos. Michael Mann mostra com tranqüilidade por que é um dos grandes cineastas da atualidade, impressionando com a tremenda exatidão com que realizou "O Último dos Moicanos". Não há pontos mortos durante toda a sua duração. Mann sabe criar tensão para que as seqüências de ação irrompam de forma majestosa, fazendo com que as mesmas tenham um impacto visual e sonoro ainda maior. Fica até difícil destacar alguma cena em especial no filme tamanha a homogeneidade do mesmo, sendo que a fotografia e trilha sonora poderosas realçam de forma acentuada a beleza visual dessa obra-prima. Interessante notar também a economia do cineasta ao retratar o romance entre Hawkeye (Daniel Day Lewis) e Cora Munro (Madeleine Stowe): os momentos entre os dois juntos são breves, mas sempre memoráveis. Enfim, um clássico absoluto!!

terça-feira, setembro 12, 2006


Os Deuses Vencidos, de Edward Dmytryk ***

Confesso que não li o livro de Irwin Shaw no qual “Os Deuses Vencidos”, produção norte-americana de 1958, é baseada. No entanto, imagino que a obra literária deve ser mais interessante que o filme. Digo isso porque fica evidente assistindo ao filme que certas seqüências do mesmo carecem de um melhor desenvolvimento dramático, evidenciando uma certa inconsistência do seu roteiro. Isso não quer dizer, entretanto, que essa obra de Edward Dmytryk seja ruim. As seqüências de batalha são bem dirigidas, revelando qualidades de Dmytryk em saber criar momentos realmente tensos. Pena que ele não tenha se concentrado mais nas cenas de ação, fazendo com que boa parte das quase três horas de filmes ele fique retratando os dramas pessoais mal costurados dos protagonistas. Os personagens de Montgomery Clift e Dean Martin não estão bem delineados, sendo que mesmo as interpretações dos mesmos chegam a ser insossas. Só Marlon Brando consegue oferecer alguma intensidade emocional na pele do oficial nazista atormentando Christian Diesti.