Ler a pequena sinopse de “Ninho Vazio”, produção argentina de 2008, que tem saído nos jornais não dá a menor idéia do que o mesmo representa. A descrição é algo como “casal na meia-idade é obrigado a reestruturar a sua rotina após os filhos saírem de casa”, o que faz pensar em algo numa linha melodramática, o que está muito longe do que assistimos na tela. O diretor Daniel Burman utiliza um recurso narrativo muito interessante. Ao longo do filme, situações vão se sucedendo de forma quase aleatória, às vezes quase vaga, em outras oportunidades até francamente inconsistente, beirando um insólito surrealismo. Os personagens parecem ter uma propensão para o caricato. Aos poucos, entretanto, essa trama aparentemente desfocada vai adquirindo um estranho sentido até um ponto que o que se enxerga é o processo criativo do protagonista, um veterano escritor (Oscar Martinez) que vai compondo a sua obra de acordo com o quotidiano e as suas próprias impressões. É como se ele testasse possibilidades dramáticas até chegar a um ponto que considere o ideal. Por mais que tal solução narrativa possa parecer forçada, em “Ninho Vazio” ela se mostra uma opção muito bem delineada, mostrando como cinema e literatura são, em sua essência, jogos de ilusões e impressões pessoais.
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