quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Sem amor, de Andrey Zvyagintsev **1/2


Em “Leviatã” (2014), o diretor russo Andrey Zvyagintsev mostrava a desintegração existencial de seu país através de uma história envolvendo o massacre econômico e moral de um indivíduo promovido por poderosos grupos financeiros em uma aldeia. “Sem amor” (2017), obra mais recente do cineasta, dá prosseguimento nessa dissecação da Mãe Rússia diante da realidade de capitalismo selvagem após o fim da era do socialismo soviético, só que agora tendo como história principal o processo de desagregação de uma família que culmina no desaparecimento do filho adolescente. Na teoria, essa ideia de subtexto em que intimismo e política se confundem é interessante e até bastante pertinente, isso sem contar que a rigorosa abordagem estética habitual de Zvyagintsev impediria que o filme caísse no mero sentimentalismo. Na prática, contudo, as coisas desandam de maneira fragorosa em “Sem amor”. Em sua crítica aos hábitos consumistas e desumanizados da sociedade russa contemporânea, a produção investe em truques narrativos e textuais que cansam pela repetição e obviedade, além de evidenciar um roteiro que peca por uma lógica moralista simplória. É de se reparar, por exemplo, que logo após duas sequências de sexo extraconjugal envolvendo o casal de protagonista, em encenações que beira a estilização, é que ocorre o fato principal da trama, ou seja, o desaparecimento do garoto Alyosha (Matvey Novikov). Não que a elaboração de uma narrativa em formato de conto moral seja um pecado imperdoável – diretores extraordinários como Eric Rohmer e Robert Bresson criaram obras-primas enveredando por esse tipo de narrativa. O problema é que as soluções formais e de roteiros encontradas por Zvyagintsev redundam em um resultado final marcado pelo enfado e pelo banal.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Estou louco para ver o filme desde que eu li a matéria sobre ele na revista Teorema