Em um primeiro momento, “Mamute” (2010) é uma obra que se apresenta com um registro visual cru, quase de tinturas documentais, ao focalizar a rotina de Serge (Gerard Depardieu), açougueiro recém aposentado que se vê envolvido em questões burocráticas e que o obrigam a fazer uma viagem para lugares onde viveu sua infância e juventude. É claro que tal viagem acaba ganhando contornos de uma jornada de reminiscências e auto-descoberta para o tipo bruto. Ocorre que à medida que esse processo de reflexão se sucede, o filme vai enveredando para pequenos toques de cinema fantástico, indo de figuras excêntricas até aparições fantasmagóricas de um antigo amor do protagonista. A força do filme está em justamente contrapor dois universos distintos, o real e o delirante, e fazer com que essa relação soe natural, quase como se configurasse na tela um “cinema verdade onírico”. No mais, “Mamute” serve também como alegoria da própria persona de Depardieu, cuja figura destoante e desajeitada possui uma conotação que oscila entre o anacrônico e o desafiador.
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