segunda-feira, setembro 04, 2017

Um instante de amor, de Nicole Garcia ***

O título em português e o cartaz de “Um instante de amor” (2016) podem sugerir aqueles rotineiros e mofados melodramas exacerbados típicos de uma certa linguagem previsível de produções francesas de “qualidade”. Na prática, entretanto, ainda que o filme dirigido por Nicole Garcia tenha uma narrativa marcada por um classicismo acentuado, existem determinados fatores artísticos no longa que o afastam do estigma da irrelevância. Por trás de uma trama que valoriza elementos característicos dos melodramas românticos, há também uma arguta e sutil visão crítica sobre como a concepção de amor romântico pode ser opressor e alienante paras os indivíduos. Tal direcionamento existencial se vale de um engenhoso jogo de simbologias, além de uma abordagem emocional bastante sóbria e de uma atmosfera mista de ironia e morbidez. A caracterização de personagens e situações é muito bem delineada – nesse sentido, é fascinante como a construção dos três principais personagens da história se inter-relacionam com notável e fluida coerência, servindo como metáfora precisa do espectro sócio-político-cultural da Europa da primeira metade do século XX. Mesma o aparente tom novelesco do filme guarda em sua essência uma melancólica e resignada constatação sobre as relações humanas dentro de um contexto de hipócrita idealização romântica e preconceito social.

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