terça-feira, setembro 12, 2017

Uma mulher fantástica, de Sebastián Lelio ***

O diretor chileno Sebastián Lelio já havia demonstrado competente domínio narrativo para o drama intimista em “Gloria” (2013). Em “Uma mulher fantástica” (2017), ele até amplia o seu direcionamento artístico, combinando uma temática repleta de questões tabus e uma abordagem estética que transita com notável desenvoltura entre o realismo sóbrio e sutis elementos fantásticos. Dentro de tal abordagem, sequências que tinham tudo para cair no sentimentalismo excessivo ou mesmo na polêmica gratuita acabam demonstrando uma densidade dramática perturbadora, além de revelarem uma forte riqueza simbólica na caracterização de personagens e situações. Lelio sempre contrapõe no roteiro do filme uma delicada visão de mundo libertária e humanista a uma postura repressora e hipócrita de manutenção de valores patriarcais – nesse processo, por vezes sua obra cai em um certo maniqueísmo, principalmente no que diz respeito a uma encenação que remete ao caricatural quando entra em cena aqueles personagens de índole preconceituosa. Ainda assim, pode-se dizer que geralmente as ações moralistas na vida real têm uma carga de ridículo e caricatural (vide a patética e reacionária postura de direitistas fascistas no recente fechamento de uma exposição de temática “queer” no Santander Cultural em Porto Alegre). Nesse contexto, “Uma mulher fantástica” ganha ainda mais ressonância artística e existencial diante os conflitos sócio-políticos-culturais típicos da sociedade contemporânea.

Nenhum comentário: