segunda-feira, março 19, 2018

Projeto Flórida, de Sean Baker ***1/2


Junto à “Tangerine” (2015), “Projeto Flórida” (2017) faz com que o diretor Sean Baker possa ser caracterizado como um cronista dos deserdados dos Estados Unidos. Se no filme anterior o foco da trama se concentrava em um dia agitado na vida de dois travestis, nessa obra mais recente é mostrada a história de Halley (Bria Vinaite), uma mãe solteira desempregada, tentando criar a filha Moonee (Brooklynn Prince) em um subúrbio da Flórida. A diferença agora é que a abordagem formal e narrativa de Baker apresenta um maior grau de refinamento. Vale ressaltar, entretanto, que isso não faz com que ele perca aquela crueza contundente que era parte dos encantos artísticos de “Tangerine”. A história se alterna entre as brincadeiras endiabradas de Moonee com amigos por conjuntos residenciais fuleiros, sua relação carinhosa com a mãe e os percalços sócios econômicos de Halley para garantir a subsistência da família envolvendo pequenos trambiques e prostituição. Em termos temáticos, pode-se perceber que não há grandes surpresas em “Projeto Flórida”. O segredo do filme está na encenação vigorosa concebida por Baker e por uma beleza imagética insólita que por vezes faz com que certos aspectos banais do cotidiano ganhem um inesperado tom épico. Além disso, há uma sobriedade emocional na forma que os temas intimistas e sociais da história são tratados – por mais que as atitudes inconsequentes de Moonee levem a previsíveis consequências desagradáveis, não há um viés moralista em tais soluções do roteiro. A constatação passa mais por algo considerado inexorável de acordo com uma sociedade moralista e hipócrita em que as personagens estão inseridas.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Um pequeno grande filme e que deveria ter tido maior visibilidade