segunda-feira, fevereiro 04, 2019

Asako I & II, de Ryusuke Hamaquchi ***


O melodrama é um gênero cinematográfico complicado. As produções realizadas nesse estilo sempre andarão em uma fronteira tênue entre a sobriedade narrativa e o novelesco “mexicano”. Essa linha divisória é frágil e fazer com que um filme não descambe para o equívoco artístico exige um senso cênico e textual marcado pela sutileza e precisão. E esse é justamente o caso do longa japonês “Asako I & II” (2018). A história da protagonista-título que se envolve em momentos diversos de sua vida com dois homens iguais fisicamente e de personalidades opostas pode até aparentar em um primeiro momento um caráter rocambolesco e exagerado digno dos romances água-com-açucar estilo “Sabrina”. A concepção estética-temática do diretor Ryusuke Hamaquchi é decisiva para que essa trama ganhe consistência e interesse. O fluxo da narrativa é sereno e melancólico, valorizando detalhes visuais marcados pela simplicidade, fatos banais do cotidiano, gestos e silêncios dos personagens e diálogos repletos de pequenas nuances dramáticas, compondo um todo formal-existencial que seduz de maneira quase imperceptível o espectador. Dentro de tal direcionamento artístico, mesmo as situações de potencial mais exagerado do terço final da narrativa acabam ganhando uma naturalidade desconcertante e bastante pungente.

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