terça-feira, março 12, 2019

A balada de Buster Scruggs, de Ethan e Joel Coen ****


Enveredar para o faroeste não é exatamente uma novidade para os irmãos Coen. Os cineastas já haviam realizados releituras bem autorais e particulares do gênero, tanto na atualização contemporânea de “Onde os fracos não têm vez” (2007) quanto no tom crepuscular de “Bravura indômita” (2010). Em “A balada de Buster Scruggs” (2018), entretanto, esse processo de recriação se mostra mais radical e desconcertante, em uma abordagem artística e existencial que talvez só encontre paralelos recentes com a reconstrução “tarantinesca” do gênero no sensacional “Os oitos odiados” (2015). Ao dividir a narrativa em seis episódios, os Coen buscam caminhos estéticos e temáticos diferentes para cada segmento, mas sem nunca perder a unidade artística-conceitual. Indo do musical estilizado até o horror gótico, e passando pelo realismo e a comédia de erros, o filme nunca perde o prumo a partir de uma impecável síntese formal-textual, com destaque para a fotografia de plasticidade arrebatadora, um roteiro lapidado à beira da perfeição e um elenco repleto de atuações memoráveis. “A balada de Buster Scruggs” é uma obra que reflete uma das grandes marcas autorais dos Coen – a capacidade de entrelaçar com naturalidade elementos do cinema clássico norte-americano com algumas nuances perversas de renovação.

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