segunda-feira, julho 01, 2019

Vidas duplas, de Olivier Assayas ***


Por vezes, a produção francesa “Vidas duplas” (2018) passa a impressão que o seu diretor Olivier Assayas estava mais interessado no filme como um veículo para impressões culturais-políticas-existenciais sobre o mundo contemporâneo do que propriamente entregar uma obra perfeitamente acabada em termos narrativos. Não que o filme padeça de alguma indigência formal – na realidade, é até um trabalho bem envolvente para espectador em alguns momentos. Pesa no filme, entretanto, uma prolixidade nos diálogos, que aparentam uma necessidade urgente em abarcar vários dilemas da pós-modernidade que nos afligem. Nessa ânsia, dá para dizer que há um exagero em discussões tecnológicas e econômicas que fazem com que o longa tenha um certo ar datado, distante, dessa forma, da beleza atemporal de obras como “Depois de maio” (2012) e “Personal shopper” (2016), primorosos trabalhos anteriores de Assayas. Ainda assim, a sobriedade da encenação e o desempenho dramático preciso do elenco fazem com que o filme adquira em algumas sequências uma frequência sensorial algo hipnotizante, em que a profundidade dos diálogos e situações do roteiro e uma interessante atmosfera mista de ironia e melancolia levam o espectador para uma serena zona entre o encanto e a reflexão.

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