Depois da obra-prima “A bruxa” (2016), o diretor norte-americano Robert Eggers volta a investir no horror calcado em fortes simbologias em “O farol” (2019). Se o resultado final não é tão expressivo quanto a obra anterior, é de se convir que ainda assim o filme em questão tem momentos memoráveis. O cineasta abdica de facilidades narrativas e investe em um formalismo de notável rigor estético e em uma encenação que funde sem cerimônias o naturalismo e o delirante, às vezes resvalando até em uma concepção teatral desconcertante (nesse sentido, a interpretação possessa de William Dafoe é um enfático indicativo). A tenebrosa fotografia em preto e branco, o grafismo brutal de algumas sequências e a soturna ambientação da obra claramente sugerem o uso de alguns preceitos básicos do gênero horror, mas com o desenvolver da trama tais quesitos se distorcem a favor de um intrincado jogo cênico e textual em que os limites da realidade e da fantasia se mostram cada vez mais tênues, jogando o filme em uma bizarra e perturbadora área artística-existencial que evoca tanto uma jornada devastadora sobre a natureza humana quanto um conto a expor de maneira visceral o atávico conflito entre o homem e a natureza.
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