sexta-feira, agosto 17, 2007

Capote, de Bennett Miller **1/2


“Capote” é o tipo de filme em que a sinopse desperta curiosidade logo de cara. Afinal, a intenção seria a de mostrar todo o processo de busca de dados e elaboração do antológico livro “À Sangue Frio”, de Truman Capote, em que o escritor narra os fatos anteriores e posteriores à chacina de uma família interiorana, crime que provocou uma grande comoção na sociedade norte-americana em 1959. O livro de Capote é um verdadeiro primor literário: numa combinação estupenda de jornalismo e linguagem literária, a prosa do livro tem uma fluência admirável pela fluência e vitalidade. Além disso, o autor deu para o caso real uma aura ambígua, evitando julgamento morais ou sensacionalismo, fazendo uma espécie de raio x do outro lado do sonho americano que na maioria das vezes a sociedade gosta de esconder.

Todas as qualidades acima descritas de “À Sangue Frio”, entretanto, estão ausentes em “Capote”, uma produção cinematográfica apenas correta e sem maiores brilhos. Bennett Miller se revela um cineasta pouco afeito a ousadias formais, preferindo apenas “contar uma história”, não conseguindo extrair do seu roteiro aquelas nuances captadas de forma tão engenhosa por Capote em “À Sangue Frio”. Somando a essa anemia criativa por parte de Miller, a interpretação de Philip Seymour Hoffman para o personagem título não colabora muito para melhorar as coisas. Aliás, toda essa babação de ovo em cima de Hoffman por esse filme é inexplicável. O ator se limita a macaquear os trejeitos afetados de Capote, não dando profundidade e interesse para o personagem. E o brabo é saber que Hoffman pode fazer muito melhor, vide interpretações antológicas que o mesmo teve em filmes como “O Talentoso Ripley” ou “Quase Famosos”.

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