Sou um grande apreciador da obra de Neil Gaiman, mas confesso que não li o romance ilustrado “Coraline”. Mas assistindo a versão cinematográfica dessa obra se pode sentir a aura de conto de fada doentio e perverso tão característico do universo de Gaiman. E isso é perfeitamente explicável quando vemos que nos créditos que o cineasta responsável por tal adaptação é Henry Selick, o mesmo da obra-prima da animação de stop-motion “O Estranho Mundo de Jack” (1993), filme esse que já trazia esse tom onírico e assustador de “Coraline”. Nesse último, Selick preserva a sua técnica impecável de stop-motion, além de desenvolver uma narrativa tensa e eletrizante recheada de tipos que oscilam entre o encantador e o assustador. Aliás, essa ambigüidade permeia toda a trama. O visual arrebatador e colorido que predomina no mundo de fantasia que a menina Coraline adentra também traz dentro de si um ambiente repleto de obscuridades e atos cruéis. Gaiman e Selick ousaram colocar num filme infanto-juvenil aquele que é o maior medo de uma criança ou adolescente: a perda dos pais. E no caso de Coraline, a situação ainda é pior, pois essa possibilidade pode ocorrer por um ato dela mesma. Não é a toa que na sessão em que assisti à “Coraline” não se ouvia um pio por parte da gurizada, sendo que inclusive ouvi comentários que em outras sessões do filme havia até criança chorando. Eu mesmo achei essa a produção mais assustadora que assisti nos cinemas nesses últimos dois anos, pelo menos. E essa constatação só comprova uma posição mais que saudável e corajosa de Selick em preservar a atmosfera original e sombria da literatura de Gaiman, fazendo a gente sonhar com a hipótese de uma adaptação mais que decente para a magnífica série “Sandman”, a obra máxima do referido autor inglês.
Um comentário:
Excelente filme. Na minha opinião, bem superior à maior parte dos filmes da Disney pós "Enrolados", que se tornaram artificiais demais, na pretensão de serem "perfeitos".
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