segunda-feira, agosto 03, 2009

Canções de Amor, de Christophe Honoré ****


“Canções de Amor” (2007) parece começar justamente de onde parou “Em Paris” (2006), produção também dirigida por Christophe Honoré. O cineasta aprofunda as suas experimentações formais, pendendo ainda mais para a linguagem irreal do musical. Mas as intenções estéticas de Honoré não são simplesmente escapistas. Seu objetivo é justamente fazer o confronto do anti-naturalismo do gênero musical com a pungência e a dureza emocional que emanam de um roteiro que fala sobre perdas e paixões desencontradas. É como se o “cinema total” de Jean-Luc Godard encontrasse o intimismo romântico dolorido e desiludido típico da obra de Truffaut. Essa conexão com a Nouvelle Vague está presente de forma marcante em várias seqüências de “Canções de Amor”, mas Honoré está bem distante do mero revivalismo. Seu filme transpira vivacidade e naturalidade impressionantes, embalado por uma trilha sonora repleta de canções memoráveis. É extraordinária a maneira fluida com que a música irrompe em cenas de alto teor dramático. A sensação inicial em tais momentos é de estranhamento, mas ao poucos essa insólita combinação começa a fazer totalmente sentido. A grande força criativa de “Canções de Amor” está justamente nessa conjugação entre o estranho e o encantador.

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